MANUELA

Merda. Eu não sabia se ele ficava mais lindo sorrindo ou agora, com cara de bravo, cara de quem me daria uma

lição bem gostosa.

Não. Eu sabia sim. Sua cara mais linda, era de quando estava fodendo.

- Me desculpa Leandro\, não foi minha intenção eu... eu estava procurando o banheiro.

- O banheiro era bem antes da cozinha\, Manuela. Bem fácil de achar. Você quis ficar nos espiando\, confessa.

- A porta estava aberta\, eu não sabia!

- Então já que viu o que não podia devia ter saído. Mas não. Preferiu ficar me olhando comer a Marina até vê-la

gozar. Qual é a sua hein, Manu? Me explica para eu entender melhor.

Meu Deus. meu coração palpitava de nervoso, de desejo.

Aonde essa conversa iria dar? Vontade de deixa-lo falando sozinho e sair correndo. Olhei para trás, Humberto estava de longe sentado num banco distraído, esperando por mim.

- Eu... eu não sei o que deu em mim\, Leandro. Me desculpa mesmo\, não quis invadir a sua privacidade.

- Mas invadiu. Agora eu já até sei. Você vai lá contar para o Humberto\, e segunda cedinho o Cláudio já vai chegar

pronto para me matar lá na empresa. O escândalo já está formado.

Ele apertou os olhos com força, passou a mão pelo rosto e desgrenhou os cabelos.

- Caralho!

- Eu não vou contar pra ninguém\, Leandro... calma...

- É o mínimo que eu peço\, Manuela. Se você tem alguma consideração por mim\, aliás\, nem deveria porque não me conhece\, mas pelo Humberto\, que está satisfeito pra burro nesse emprego. E ele é foda demais para a gente o perder.

- Não vou contar.

- Entenda. Não estou ameaçando-o\, OK? Nada vai acontecer a ele\, fica tranquila.

- Fico triste que você pense que eu possa te prejudicar. Nossa\, prejudicar logo você...

Ai meu Deus não vou chorar, não vou chorar...

- Olha Manu\, eu sei que não devo satisfação alguma a você\, mas o que eu fiz foi um erro\, e não vai mais se

repetir, garanto a você. Fui um cretino com o Cláudio. Um filho da puta. Bebida na cabeça só traz merda mesmo.

Engoli em seco, meu coração estava na boca, minhas pernas tremiam, era tanto sentimento junto que a minha vontade de chorar começava a ficar insuportável.

Mas vê-lo tão de perto, a ponto de sentir o cheiro adocicado da colônia cara, do suor da pele dele, ter seus olhos

cravados em mim, suas mãos macias passeando pelos meus braços, aquela atenção toda, o desejo por ele era desesperador! E eu decidi que era hora de agir, eu não teria outra oportunidade, nunca mais. O não eu já tinha, e não me importava se viesse a humilhação.

Tomei coragem e o encarei, minha boca a um passo de tocar os lábios carnudos.

- Eu quero ganhar a mesma coisa que ela.

- O quê?!

Mantive-me firme, séria. Para ele não pensar que era alguma brincadeira de mau gosto.

- Eu quero ganhar a mesma coisa da Marina.

Ele riu, mas seus dentes cerrados entregaram sua preocupação com o absurdo que acabara de ouvir.

- Você só pode estar de brincadeira.

- Não estou.

Ficamos mudos. Uma tensão deliciosa se formou, eu tenho certeza que ele sentiu. Sua expressão mudou. Ficou quente, seus olhos me encararam como os de um predador. Comecei a tremer, ansiosa pela resposta dele.

Eu o queria, eu estava morrendo de raiva e de ciúme dele! Impregnada pelo seu cheiro, tomada pelo seu olhar, minha pele esquentava a cada mísero toque dos dedos longos e grossos. Ele exalava sexo.

Leandro arfou, olhou para todos os cantos, atônito. Nem eu mesma acreditei que aquela situação estava ocorrendo

entre nós. Mas era isso ou nada, eu não podia perder mais tempo, ainda mais depois do que eu presenciara. Insisti mais uma vez.

- Isso mesmo que você ouviu. Sexo. Quero que faça comigo o mesmo que fez com a Marina.

- Manuela.... Não fala uma coisa dessa\, Manuela\, você é casada... – Havia lamento em sua voz\, carregada de

culpa.

- E a Marina\, não é?

- Mas é o Humberto\, caralho!

- Ah\, tá. Entendi!

Ele olhou para os lados e não havia ninguém, a não ser um ou outro segurança fazendo a ronda da propriedade, o

Humberto cochilava num banco.

Leandro segurou minhas mãos e nos entrelaçou, seu corpo colou no meu, e eu pensei que fosse desfalecer.

- Manu\, você é linda\, inteligente\, meiga\, gostosa pra caralho\, mas eu não posso fazer isso.

Certo. Era humilhação demais para um só dia.

- Então Leandro\, você me dá licença!

Eu me soltei dele e saí correndo para o carro com as sandálias na mão, sem dar tempo para que ele falasse nada.

Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto mas eu as sequei antes que o Humberto visse, se bem que no estado em que ele se encontrava, duvido que perceberia alguma coisa.

 Fomos para casa.

Eu estava arrasada, me sentindo sei lá, uma ninguém. Para piorar, Humberto ficou enchendo o meu saco enquanto eu dirigia, rindo de tudo igual um bobo, paramos na beira do asfalto para ele vomitar.

- Manu do céu\, que festão hein... você comeu muito? Espero que tenha aproveitado viu\, o buffet foi caríssimo! Festa igual a essa nós nunca mais vamos participar! Pegou muito docinho pra mim?

Ai, ai.! Além da chatice, eu ainda tinha que aguentar a mania de pobreza do Humberto.

- Cuidado Manu\, dirige direito! Vai acabar atravessando o canteiro\, olha aí!

Liguei o som no último volume e coloquei um rock pesado para tocar. O Humberto fez uma cara feia mas eu comecei a gritar, cantar, dei uma de doida, e ele rapidinho encostou no banco e ficou quieto.

E assim nós fomos até chegar em casa.

Quando paramos no estacionamento segurei no braço dele, ajudando-o a descer do carro. Subimos para o apartamento com dificuldade, Humberto tirou a roupa e eu o coloquei debaixo do chuveiro frio. Tomou um banho rápido, se secou e foi direto para a cama, deitou pelado mesmo, apaguei a luz e encostei a porta, e por lá ele ficou, roncando que nem um porco selvagem.

Tirei minha roupa, tomei um banho, lavei o cabelo e escovei os dentes. Vesti pijama, estava sem fome, tomei um

leite com chocolate gelado, peguei meu celular e sentei no sofá. Nem liguei a televisão, estava sem cabeça para nada.

Meu Deus, como eu era estúpida, o que eu tinha a ver com a vida dele? Eu era casada, uma mulher casada! E

o Leandro era um homem livre! A vida sexual dele não devia me interessar, nem que envolvesse a esposa de um colega do Humberto!

Mas eu não conseguia parar de pensar, de onde os dois se conheciam? Será que a iludiu, a tratou bem como fez

comigo, fazendo-a sentir-se tão especial, desejável e importante como fez comigo naquele dia no escritório?

Eu ficava ainda mais nervosa à medida que os pensamentos me invadiam.

Por que não eu? Por que não poderia ser comigo? Porque era o Humberto?

Peguei o celular, abri o Instagram, não tinha nada de novo. Olhei no WhatsApp, a última vez que ele havia visto o

celular fora há duas horas. Decerto emendaria a noite com outra daquelas piriguetes convidadas dele.

Eu não falaria nada para ninguém,não era da minha índole.

E pelo visto jamais aconteceria algo entre nós dois, e eu sabia que o Humberto era só uma desculpa. A verdade era que eu não o atraía, e ele não queria me magoar, era isso.

Só sei que amanhã era outro dia, e eu certamente me arrependeria do que fiz. Me acabaria numa caixa de bombons sentada no sofá com o controle remoto na mão, escolhendo algum romance para assistir debaixo das cobertas, tentando esquecer da humilhação que senti ao ser rejeitada.

E o mais importante: torcendo para que o emprego do meu marido não tivesse ido para o espaço junto com o meu bom senso.

Fui para a cama e larguei o celular no criado-mudo, adormeci sem ver.

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