MANUELA

Aquela tarde parecia que eu tinha vivido um sonho...

E nem no melhor deles eu achei que ganharia de verdade um beijo na boca daquele homem, e muito menos que almoçaríamos juntos naquele restaurante caríssimo, e menos ainda que ele me falaria aquelas sacanagens deliciosas e mandaria seu motorista me levar em casa.

Cheguei no apartamento flutuando, nas nuvens... Minhas pernas estavam trêmulas, minha calcinha toda melada. Não dava para esperar mais, a gente estava muito a fim um do outro, e pelo amor de Deus, o Beto nunca falou comigo do jeito que o Leandro falou hoje, o Beto ele... ele nunca, jamais me tratou daquele jeito! Meu Deus, o que eu estava fazendo da minha vida?

Era certo? Era muito errado!

Mas eu tinha que fazer alguma coisa, e rápido! Meu coração palpitava, não havia uma gota de saliva na boca, entrei em parafuso. Eu sabia que era uma sacanagem com o Beto, mas e eu? O que eu estava fazendo a mim mesma durante todos esses anos?

Que droga de crise de consciência! Era a chegada dos 30, só podia ser.

Bastava.

Inventei para o Humberto que iria jantar na casa de uma amiga. De tanto meu marido contar casos, eu sabia que o Leandro ficava até mais tarde na empresa na segunda. Até isso o Humberto fazia questão de contar.

Tomei coragem, resolvi ir atrás do Leandro. Deixei tudo pronto em casa para não ouvir reclamação do meu marido depois, de que eu não havia feito nenhum serviço doméstico, como era minha obrigação.

Fiz uma massa que o Humberto gostava e deixei no forno pronta para assar, tinha vinho aberto na geladeira e

mousse de maracujá no freezer.

Mandei mensagem por escrito comunicando-o dos afazeres feitos antes de ele chegar. Fiquei com medo de não conseguir disfarçar quando ele olhasse para a minha cara. Além de tudo, Humberto me conhecia muito bem, e eu estava arrumada demais para alguém que iria encontrar uma amiga.

Coração na boca, pernas bambas, e assim que pedi um Uber meu marido botou os pés em casa.

Droga.

- Nossa Manu\, que exagero... vocês duas vão jantar fora?

Foi a primeira coisa que ele perguntou quando me viu, nem um elogio recebi.

- Vamos sim.

- Qual restaurante?

- Ah... não decidimos ainda...

- E vai encontrar com ela onde?

Merda.

- Nossa\, que interrogatório\, Humberto! – Minha paciência começou a esgotar.

- Por que não posso saber?

- Não é questão disso! Parece desconfiança! Você sai toda semana e eu não fico te questionando.

- Engano seu. Não é desconfiança\, só acho que tenho o direito de saber.

- Olha\, meu Uber já chegou e daqui a pouco vai embora\, tenho que ir! Tchau!

- Com que dinheiro você vai\, Manuela?

- A Pri vai pagar tudo. Ela sabe que estou dura.

Humberto morreu de rir.

- Você sempre está dura. É isso que dá não trabalhar fora. E vê se não vai beber\, hein!

- Tchau\, Humberto!

Saí e bati a porta, irritada. Apertei várias vezes o botão do elevador, pensei em ligar para o Leandro, avisar que eu

estava indo, pedir para que me esperasse, mas ia estragar a surpresa. Deixei nas mãos do destino, se fosse para termos o nosso encontro, então que ele ainda estivesse na empresa.

 Com o coração aos pulos, parei em frente ao edifício para tomar fôlego antes de entrar. Àquela hora só havia dois

seguranças e o porteiro, e talvez o motorista dele ainda estivesse lá o aguardando.

Não dei meu nome, aquele funcionário já me conhecia e acenou de longe. Não sei o que pensariam, eles sabiam

que o Humberto já havia ido embora, mas poderiam muito bem achar que seria alguma reunião, alguma coisa importante. Que se danasse também, não era da conta deles, e o Leandro poderia demiti-los em um piscar de olhos se eles ficassem de fofoca.

Quando o elevador abriu a porta no quinto andar, achei que eu não teria forças para caminhar até a sala dele. As

luzes estavam quase todas apagadas, mas pela fresta das portas duplas consegui ver que a dele estava acesa. E um péssimo pensamento me veio à cabeça: aquela secretária assanhada estaria lá dentro fazendo hora extra também?

Isso me deu coragem para continuar, e eu ia descobrir dentro de instantes o que estava acontecendo. Bati na porta e escutei um xingo dele, a voz brava, grossa, imponente. Parecia que estava tendo problemas.

Abri a porta devagar, coloquei um pé primeiro e depois enfiei a cabeça no vão.

- Leandro?

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!