Capítulo 17

Arrumei algumas coisas numa mochila, roupas leves e itens de higiene pessoal. Fui até o quarto da minha mãe e contei a ela sobre a ligação do Davi.

Não escondo absolutamente nada da dona Lourdes, ela sempre foi minha melhor amiga e eu não poderia omitir dela coisa alguma.

- Mi hija, como está seu coração em relação ao que sentiu pelo Jefrey? - suspira. - Foi difícil, eu sei, mas mesmo depois de anos eu não vi você se abrir com ninguém, mesmo que não tenham faltado pretendentes.

- Eu estou bem, mãe. - digo, sincera, pois realmente tenho essa história bem definida dentro de mim. - Jefrey foi meu primeiro amor de verdade, e não aquele amor platônico que senti pelo meu professor do sétimo ano. - nós duas damos risadas. - A senhora se lembra? Eu até repeti em História, só para ter mais atenção do professor.

- Ah, eu me lembro... - torce a boca. - Deveria ter levado umas boas palmadas por isso. - bufa.

- Madrecita, era uma amor de adolescente, coisa passageira, e veio da mesma forma que foi, rápido e sem deixar nada para trás, apenas a lembrança dos lindos olhos azuis do loiro... - movo os cílios rapidamente, e minha mãe meneia a cabeça.

- Deve ser por isso que se encantou pelo Jefrey. Alto, loiro, olhos claros, uma versão do tal professor de História. - torce a boca.

- Só se for uma versão melhorada, mãe. Porque o Jefrey era um espetáculo! Oh, homem bonito!

Minha mãe sorri levemente, enquanto meneia a cabeça em negação.

- Mas o que tinha de bonito, tinha de frouxo, porque bastou a mãe fingir um infarto, para ele desistir do noivado e voltar correndo para a Inglaterra.

- Mãe, ele fez o que julgou certo, e sinceramente hoje eu entendo. A duquesa é uma mulher amarga e de coração duro, ela jamais me aceitou como nora, pois como ela mesma dizia... - limpo a garganta e imito o tom pomposo da minha ex sogra. - Um Wisbeck não pode se casar com uma latina de sangue quente! Isso seria manchar a nossa linhagem nobre! - dou um sorriso fraco e um longo suspiro ao lembrar o quanto a duquesa Wisbeck me feriu naquela época. - Ela tanto fez que conseguiu, e eu perdi o homem que mais amei até hoje.

Sinto um nó na garganta. Fazia tempo que não tocava nesse assunto, e falar sobre isso, duas vezes no mesmo dia, me fez relembrar coisas até então, guardadas no fundo da minha memória.

- Minha filha... - minha mãe segura minhas mãos. - Eu sei que não deveria te dizer isso agora, mas você iria acabar descobrindo de qualquer jeito...

- O que Foi, mãe? Que cara é essa?! - ela parecia preocupada e tensa.

- Seu irmão me contou que saiu nos sites de esportes essa semana, sobre o fim do noivado do Jefrey. - ela suspira. - E ele deu uma entrevista, dizendo que foi contratado recentemente como treinador do Knicks, e está de volta a Nova York.

Ela me olha atentamente, e eu respiro fundo, dando um meio sorriso.

- Sinto muito por ele, pelo relacionamento imposto pela mãe não ter dado certo, e sinceramente me admira ele ter confrontado a duquesa e rompido o noivado, que se arrastou por tantos anos.

- Segundo seu irmão me contou, na entrevista ele disse que nunca a amou, e que o coração dele só foi ocupado por uma única mulher até hoje, mas ele não soube ser forte o suficiente na época, e acabou perdendo o amor da vida dele... E eu sei que ele estava se referindo a você, Diana. - ela me olha e suspira. - E agora eu te pergunto, o que você vai fazer se ele vier te procurar? Agora tem o Davi, que pelo que entendi e pelos olhares que vi, está interessado em você.

- Agora, madrecita, minha única preocupação é a cirurgia do meu Leon, e me aproximar e conquistar o amor do Daniel. Meu coração está ocupado e preenchido de amor pelos dois homens da minha vida, que tem pouco mais de um ano, tem um cheirinho gostoso de bebê, e um sorriso faltando dentes que é a coisa mais linda desse mundo! - sorrio. - Não vou me preocupar com nada além disso, porque meu coração está descansando em Deus, assim como a senhora me ensinou. Eu creio nos desígnios do Senhor para a minha vida, confio nos planos dEle, até porque, Ele me mostrou que está cuidando de tudo quando me permitiu encontrar o Davi naquele hospital, quando eu já estava ficando sem forças. Se for da vontade de Deus que eu e o Davi tenhamos uma relação, então vai acontecer naturalmente, sem pressa. Mas eu preciso manter os pés no chão mãe, porque o Davi não é só um Blake, eu estive pesquisando e ele é um Donartti, e essa família é multibilionária. Eles são donos de mais da metade dos empreendimentos, prédios e construtoras dos Estados Unidos, e eu já tive uma decepção muito grande com uma família rica e poderosa, então não quero criar nenhuma expectativa em relação a um futuro envolvimento amoroso com o Davi.

- Eu entendo, minha filha. Apesar de a família dele parecer bem educada e nada esnobes. Pelo menos os pais dele parecem ser pessoas simples e de bom coração.

- Também tive essa impressão minha mãe, mas não é bom baixar a guarda, afinal, eu já fui muito ferida por pessoas com o poder aquisitivo bem menor que o deles, mas que ostentam um título de nobreza e se acham superiores. Não quero ser humilhada e tratada como um lixo novamente. O Jefrey me defendeu o máximo que pôde, se colocou até contra a mãe, mas quando ela mentiu sobre a doença, ele acabou cedendo. Não culpo ele, nem consigo ter raiva ou mágoa dele, mas o que aquela mulher fez comigo, eu não consigo esquecer. - sinto meu coração apertar. - Doeu mãe, doeu fundo, doeu muito e ainda dói, todas as atrocidades que ela insinuou a meu respeito. Cada palavra dita no auditório daquela faculdade, enquanto meu coração sangrava por ter acabado de ver o homem da minha vida embarcando para nunca mais voltar para os meus braços. Doeu tão fundo e tão forte que eu pensei que nunca fosse me recuperar e sair daquele poço fundo e escuro onde aquele vídeo me jogou... - sinto as lágrimas rolarem pelo meu rosto, e minha mãe me abraça forte. - Eu não vou passar por tudo aquilo de novo, mãe. Então eu vou focar nos meus filhos!

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