Capítulo 5

Chegamos em casa já estava anoitecendo e meu pequeno choramingava de sono.

- O que o neném da vovó tem? Está com sono, meu amor? - minha mãe pegou o Dani no colo, assim que entramos em casa. - Pelo jeito se divertiram muito, não é?

- Bastante, mãe. Esse pequeno aí se acabou de tanto brincar, fez até uns amiguinhos no parquinho.

- Foi meu amor, você brincou muito? - meu filho deita no ombro da minha mãe. - Ah, gente! Assim derrete o coração da vovó. - ela fica toda encantada. - Deixa que eu cuido dele, meu filho. Seu pai quer falar com você, está te esperando no escritório.

- Tudo bem, obrigado mãe! - dou um beijo na testa dela e beijo o meu pequeno. - Bom soninho meu pequeno, papai te ama! - ele dá um sorrisinho sonolento e minha mãe o leva para dar banho e a mamadeira... acho que antes de mamar ele apaga.

Sigo até o escritório e bato na porta.

- Entra! - ouço o meu pai falar e logo entro e fecho a porta.

- A mamãe disse que o senhor queria falar comigo, pai.

- Quero sim, meu filho. Senta aí..- ele aponta a cadeira e eu me sento.

- Aconteceu alguma coisa, pai? O senhor está com uma cara estranha. - digo, desconfiado.

Meu pai tira os óculos de grau e suspira.

- Antes de mais nada, quero que essa conversa fique apenas entre eu e você, entendeu? - assinto, mas fico apreensivo. - Eu estou sentindo umas dores no peito, no inicio pensei que era coisa a toa, mas hoje a tarde essas dores ficaram mais fortes.

- Pai, o senhor sabe que com saúde não se brinca. Porque não me disse isso antes?

- Exatamente por que sabia que ficaria desse jeito, todo nervoso. - ele bufa. - Eu só preciso que você me acompanhe amanhã em alguns exames, pode ser?

- Pode, claro que pode. Mas, e se a Isis estiver no hospital? Ela vai nos ver, pai.

- Por isso nós vamos em um outro hospital. - diz, pensativo. - São exames um pouco mais detalhados e talvez eu possa me sentir mal, por isso estou te pedindo para me acompanhar, e porque não quero preocupar a sua mãe. Mariana é uma fortaleza, uma mulher de muita fé, mas ela sempre se preocupa comigo, então acho melhor só contar depois que os resultados dos exames ficarem prontos.

- Eu concordo em não alarmar a mamãe, mas ainda que fossem exames simples e de rotina, eu faria questão de ir com o senhor. - olho para ele. - Vai que o grande Nicollas Blake tem medo de agulhas e resolve fugir, eu tenho que estar lá para segurar sua mão e passar segurança.

- Moleque, você toma jeito! - ele bufa, bravo.

- Relaxa pai, eu não conto que o senhor quase desmaiou nos partos da mamãe... - sorrio de lado.

- Como você sabe disso?! - me olha, surpreso.

- A-ha! - digo, rindo. - Eu não sabia, mas o senhor acaba de se entregar. Caramba, pai!

- Não vou te zoar porque você não passou por isso, mas espera só para ver, quando você se casar com uma mulher que preste e que te ame de verdade, você vai sentir tantas emoções quando ver seu filho pela primeira vez, que suas pernas vão fraquejar.

Sorrio levemente, e suspiro.

Eu não pude fazer tantas coisas durante a gestação do Daniel. Tantas coisas que eu queria ter feito, o carinho, sentir o bebê mexer, assistir ao parto.

Das poucas vezes em que consegui sentir o bebê, a Naomi estava dormindo, e quando ela acordava e percebia, se irritava e me afastava.

E eu? Eu aceitava, porque não queria vê-la irritada ou nervosa, para não fazer mal ao meu filho, meu pequeno Daniel.

Terminei a conversa com o meu pai e confesso que fiquei preocupado. Senhor Nicollas não é de reclamar e detesta consultas e exames, e se ele próprio foi ao médico sozinho, é porque deve ser algo sério.

Agora eu preciso pensar numa desculpa muito boa para sair com o meu pai, deixar o Daniel, sem que a minha mãe desconfie... essa é a parte difícil.

《••••》

- Presente de aniversário de casamento surpresa?! - minha mãe franze a testa. - Não sei não hen... - dona Mariana parece que tem um radar, não é possível.

Estávamos na empresa e eu tentava convencer a minha mãe de que meu pai queria comprar um presente surpresa para o aniversário de casamento deles, e ainda disse que ela tinha que fazer cara de realmente surpresa quando recebesse.

- Mãe, se a senhora ficar toda desconfiada, o meu pai vai perceber, e aí vai descobrir que eu acabei dando com a língua nos dentes sem querer. - detesto mentir, principalmente para ela, mas é por um motivo justo.

- Tudo bem, tudo bem! - resmunga. - Deixa o Daniel comigo, então. Pelo menos eu me distraio e não fico pensando no que vocês vão comprar... - ela fica pensativa. - Não deixa o seu pai exagerar, está bem? Ele anda bem cansado ultimamente, estou notando isso, e não quero que ele fique muito ancioso com o nosso aniversário de casamento.

Sorrio e assinto.

Meu pai tentando esconder da minha mãe algo que ela notou bem antes dele mesmo. Essa cumplicidade deles, o cuidado, o carinho, isso é lindo de ver, e deve ser incrível ter alguém assim ao nosso lado.

《••••》

- Sr. Blake, segundo os resultados iniciais, o senhor teve o que chamamos de um pré - infarto, o que nos deixa em alerta, pois em muitos casos, esses sintomas antecedem ao infarto.

Encaramos o médico, que olhava atentamente o resultado dos exames.

- Preciso que o senhor refaça alguns testes, e vou pedir urgência no resultado dos exames complementares, mas desde já recomendo que diminua sua carga horária de trabalho, evite ao máximo estresse, aborrecimentos, exercícios físicos intensos, pegar peso, diminua o consumo de sal ou alimentos que aumentem a pressão arterial, já que sua pressão está alta. Também vou receitar alguns medicamentos que o senhor deve tomar diariamente, e caso sinta tonturas, enjoos, suor frio e excessivo, dores nas costas, ou no peito que irradiam para o braço, procure imediatamente uma emergência médica.

Ouço tudo atentamente, pois quero garantir que o senhor teimoso Blake siga à risca todas as recomendações do médico.

- Tudo bem doutor. - meu pai responde. - Muito obrigado!

Nos despedimos do médico e saímos do consultório.

Assim que entramos no corredor, vejo uma moça vestindo uma espécie de roupa usada em centro cirúrgico, sentada no chão, de cabeça baixa, mas dava para perceber que estava chorando.

Logo um médico vem e se abaixa na frente dela, segurando em sua mão e falando...

- Diana, eu sei que é difícil. Nós realmente estamos tentando...

- Eu sei, dr. Patrick... eu sei que vão conseguir, eu não posso desistir...

Quando ela ergue a cabeça, posso ver seus olhos...

- Pai... - Seguro o braço do meu pai e o faço parar. - Eu não sei de onde... mas eu acho que conheço essa moça!

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