Capítulo 6

Diana González

Sentada na cozinha do restaurante, eu termino de decorar as últimas tortas de chocolate do dia.

- Filha, que delícia! - minha mãe se aproxima e beija a minha cabeça. - Você tem mesmo o dom para fazer doces, mi hija!

- Obrigada, madre! - sorrio. - Já terminei os doces da tarde, vou aproveitar e dar um pulinho no hospital, o Dr. Patrick disse que hoje sairia o resultado sobre o teste de um possível doador.

- Isso mesmo, mi hija, não perca a fé!

- Jamais, mãezinha! - digo, firme. - É exatamente a fé que tem me mantido firme e não me deixou esmorecer, nem perder as esperanças. Eu tenho que ter fé, pelo nosso Leon!

- Isso mesmo, assim é que se fala! Cabeça erguida e fé em nosso Deus, que só Ele é que sabe todas as coisas, e com certeza, Ele tem cuidado de mi nieto! As mulheres da família González nunca baixam a cabeça diante das dificuldades, sejam elas quais forem.

- Eu sei disso, dona Lourdes! - sorrio e abraço ela de lado. - A senhora, por favor, não faça esforço enquanto eu estiver fora, entendeu? Peça ao Agustín se precisar pegar algo no depósito.

- Pode deixar, mocinha! E até parece que seu irmão me deixaria pegar peso, o Agustín se pudesse, carregaria nós duas no colo dia e noite.

- E carregaria mesmo, são minhas princesas! - meu irmão entra na cozinha, com uma camisa que marca os músculos, e as garçonetes ficam todas de olho comprido para dentro da cozinha.

- Hijo quantas vezes já te disse para não usar essas roupas apertadas desse jeito! As moças nem trabalham direito, de tanto que te olham! - nossa mãe reclama, brava.

- Calma, madrecita, eu não tenho culpa se a senhora fez um filho lindo e irresistível! - sorri de lado.

- E muito, muito convencido, né?! - meneio a cabeça.

Ele me olha e faz cara de deboche, mas logo vem bagunça meus cabelos... infantil!

- Vai ver meu pequeno guerreiro? - pergunta, pegando um morango e mordendo, virado para o balcão, onde as moças estão babando por ele... é muito oferecido!

- Vou sim, senhor conquistador!

- E como ele está? - ele fica sério e assume aquela postura de protetor que sempre teve conosco, apesar de ser apenas 6 anos mais velho, pois eu tenho 25 anos e ele tem 31.

- O Dr. Patrick me disse que hoje sairia os resultados de um possível doador, então estou esperançosa. - digo, animada.

- Vai dar tudo certo, hermanita. - ele beija a minha testa e acaricia meus cabelos. - Nosso Leon em breve vai estar correndo por esse restaurante, roubando doces na cozinha e te deixando de cabelos em pé, você vai ver.

- Deus te ouça, hermano! - suspiro. - Bom, eu já vou indo. Vou levar o carro, se precisar sair, pega a caminhonete.

- Pode deixar, dirige com cuidado! - diz, saindo da cozinha, mas antes rouba a ganache que sobrou na tigela. Esse não engorda de ruim!

- Madrecita, qualquer coisa me liga, tudo bem?

- Pode ir tranquila, minha princesa. Que Deus te abençoe e, confie, tudo vai dar certo!

- Amém, mãe! - me despeço dela, tiro o avental e vou até a nossa casa, que fica em cima do restaurante.

《••••》

Meu nome é Diana González, eu tenho 25 anos, sou confeiteira, e formada em gastronomia. Amo criar novos pratos, usar temperos e como boa filha de mexicana, não dispenso um tempero mais forte na minha comida.

Eu e a minha família moramos no México até os meus 15 anos, quando o meu pai faleceu, vítima de um acidente de carro.

Minha mãe entrou em depressão e foi difícil continuarmos no mesmo lugar. Então o Agustín conseguiu um emprego nos Estados Unidos, e nós decidimos vir também, recomeçar a nossa vida.

Vendemos a padaria que tínhamos no México e com o dinheiro que meus pais haviam juntado durante muitos anos, nos mudamos para Nova York, compramos esse prédio e abrimos o nosso Sabor González.

Aqui em nosso restaurante servimos pratos típicos mexicanos, alguns pratos que eu adaptei para agradar ao paladar dos americanos, e na lanchonete doces e salgados que os nova-iorquinos gostam, mas com o meu toque pessoal, que faz a diferença e nos garante muitos clientes que, graças a Deus, esvaziam as vitrines todos os dias.

*imagens de referência do restaurante.

Eu sei, é tudo muito colorido e vivo, assim como o povo mexicano, que gosta de cores!

E imagine unir o sangue mexicano, caliente por si só, ao sangue brasileiro, pois meu pai era do Ceará, então a mistura gerou dois González alegres e festivos, mas com um pavio curto!

Tanto Agustín quanto eu, puxanos o lado esquentado da nossa mãe, pois na nossa casa, meu pai era a calmaria que acalmava as três tempestades da vida dele... sinto tanta falta de seu abraço e conselhos, mas eu tive um pai maravilhoso, que me inspirou para escolher o nome do meu bem mais precioso, meu Leon!

Há dois anos atrás eu decidi ser mãe! Mas imaginem a loucura, uma moça de 23 anos, que teve um único relacionamento na vida, que estava solteira já há um bom tempo, e decide ser mãe.

Eu sempre quis ser mãe, sempre tive esse sonho, e porque não?

Ok, eu poderia esperar mais, talvez encontrar alguém, me relacionar de verdade, quem sabe né?! Mas eu fui tão machucada pelo Jefrey e pela família dele, uns esnobes metidos à besta que não aceitavam eu ter vindo de uma família humilde, não suportavam ver o filho ao lado de uma "mulher latina de sangue quente", como a mãe dele dizia. E depois de pouco mais de um ano juntos, ele cedeu à pressão e terminou comigo.

Eu sofri? Sim, e muito. Eu era realmente apaixonada por aquele homem, e ele era um cara incrível, mas não soube priorizar a nossa relação e deu no que deu.

Eu tinha 20 anos quando tudo terminamos, e depois disso eu preferi ficar sozinha, mas a vontade de ter um pedacinho meu, crescia dia após dia, até que eu decidi, quando completei 23 anos, que iria realizar o meu sonho, mas por meio de produção independente!

E foi o que eu fiz! Passei por todo o processo numa clínica com referências, tudo certinho.

E para minha surpresa, logo na primeira tentativa... eu engravidei! Mas hoje, o que era para ser só sorrisos e alegrias, virou o motivo de muitas lágrimas... porém eu nunca vou desistir!

《••••》

Chego ao hospital e, depois de ver o meu pequeno pelo vidro, meu coração se quebra em mil pedaços novamente.

- Não desiste meu guerreiro, meu Leon... A mamãe está aqui... eu te amo, meu filho!

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