Capítulo 7

Assim que saio da ala pediátrica da UTI meu corpo parece ceder, pois as minhas pernas já não suportam mais, então vou escorregando lentamente pela parede, até sentar no corredor e, quietinha e de cabeça baixa, deixo as lágrimas molharem meu rosto, levando toda a minha dor.

Como pode? Um ser tão frágil, tão pequeno e indefeso, passar por tanta dor?!

Será que foi meu erro querer realizar um sonho de ter um bebê? Será que foi algo que eu fiz de errado durante a gestação? Ou o doador tinha algum problema?

Em meio à tantos questionamentos, eu só consigo me apegar às lembranças dos dias em que amamentei o meu menino, quantas vezes eu orei por ele enquanto ainda estava no meu ventre, quantas vezes pedi à Deus para me permitir segurá-lo nos braços, e Deus me ouviu, pois eu o segurei, passei noites acordada enquanto ele sentia cólicas, mas sempre agradecendo por tê-lo comigo, vi seu primeiro sorriso, seus dentinhos, seus primeiros passinhos... ah meu Deus!

Com o coração sangrando por receber a notícia da incompatibilidade de mais um doador, eu elevo meu pensamento ao meu Deus...

"Senhor... eu sei que eu sou falha e pecadora, sei dos meus erros, mas nessa hora eu venho te pedir, tenha misericórdia meu Deus... assim como o Senhor ouviu a minha oração quando eu ainda estava grávida, e permitiu que o meu filho viesse a este mundo, eu te peço, salva o meu menino! Envia meu Deus,alguém, um doador que seja compatível com o meu Leon, e se for da tua vontade, opera o milagre e cura o meu filho. O Senhor é o médico dos médicos e tudo podes, então em tuas mãos eu entrego o meu Leon, pois a última palavra é Tua, meu pai, e eu só aceito a tua vontade! Obrigada por me sustentar e me dar força, e por dar forças ao meu pequeno guerreiro. Eu creio em ti. Amém!"

Ainda em meio aos meus pensamento, escuto a voz do Dr.Patrick que segura a minha mão e fala...

- Diana, eu sei que é difícil. Nós realmente estamos tentando...

- Eu sei, Dr. Patrick... eu sei que vão conseguir, eu não posso desistir…

Elevo o meu olhar, e ele sorri, carinhoso.

Suspiro pesado e ele me ajuda a levantar.

- Sei que é difícil ouvir o que vou te falar... - ele suspira. - Mas você sabe que a condição do Leon é delicada, ainda mais por se tratar de um bebê ainda.

- Eu sei, doutor. - tiro a máscara e seco o meu rosto, respirando fundo. - Mas eu não vou desistir, se o meu filho não desistiu, eu também não vou!

- Admiro a sua garra, você é uma mulher de fibra. - ele olha nos meus olhos. - Feliz o homem que tiver a sorte de te conquistar.

- Não tenho cabeça para esse tipo de pensamento agora, doutor. - digo, firme.- Meu único objetivo agora é ver o meu filho receber a medula óssea e, depois do pós operatório, sair totalmente curado desse hospital e voltar a me encher de alegria com cada sorriso dele.

- Eu entendo. - sorri meio sem jeito.

Dr. Patrick tem sido um bom amigo e me ajudado muito, mas não quero misturar as coisas.

Não sou ingênua, sei que ele tem interesse em mim, mas já descartei qualquer possibilidade ou esperanças de ter algum relacionamento com ele. Meu foco é a saúde e bem estar do meu filho, e no momento, eu não quero e nem vou pensar em mais nada.

- Bom, obrigada doutor. Sei que o senhor pode se encrencar por ter me deixado ver o Leon, mas acredite, o senhor não imagina o bem que fez ao coração de uma mãe aflita.

- Eu entendo, Diana. Sou médico mas sou humano, imagino sua dor em ter que ficar longe do seu filho há mais de um mês sem nem sequer poder vê-lo. Mas saiba que, infelizmente, não vou poder fazer isso novamente, já que o quadro dele se agravou nesses últimos dias.

Ouvir essas palavras aperta o meu coração, e eu sinto um nó na garganta.

- Nossa equipe está fazendo o possível, mas como eu te disse, um doador compatível é difícil. Poderíamos testar o pai, já que você e sua família não são compatíveis, mas como você optou por reprodução independente e os doadores são anônimos, fica difícil... - ele respira fundo.

- Eu entendo, doutor. E agradeço o empenho de vocês. - sorrio fraco. - Bom, eu preciso ir, já que não posso mais ver o meu pequeno. Mesmo assim, volto amanhã à tarde, e por favor, me avisem se tiverem alguma novidade.

- Pode ficar tranquila, eu mesmo aviso se algo mudar. - ele aperta as minhas mãos levemente e eu sorrio, solto as mãos dele e saio cabisbaixa pelo corredor.

Passo por algumas pessoas, mas não presto atenção em nenhuma. Tudo o que eu queria era uma luz, uma boa notícia.... só um alguém que pudesse me dizer que vai salvar o meu bebê!

《••••》

Davi Blake

Meu pai me encara, confuso.

- Davi, como você pode dizer que conhece alguém só pela forma de olhar, meu filho?!

- Eu não sei, pai... - vejo a moça tirando a máscara e enxugando as lágrimas e isso, de certa forma, me incomoda.

- Filho, para de encarar a moça! - meu pai resmunga.

- Pai, vamos chegar mais perto. - ando lentamente, fingindo estar mexendo no celular.

- Ah, mas é só o que me faltava! Vai dar uma de Maria fuxiqueira e ficar escutando a conversa dos outros, garoto?! - ele resmunga baixo, indo ao meu lado.

- O senhor pode ir, se quiser, me espera no carro. Mas se for ficar, fala baixo, senão eu não consigo ouvir a conversa. - murmuro.

- Depois de velho, sou obrigado a ouvir fofoca, era só o que me faltava! - ele reclama, mas entra na onda, pega o telefone e finge atender uma ligação... depois fala que não gosta de fofoca!

Ouço a conversa e a dor dessa mulher me comove de uma forma profunda, ao mesmo tempo que a força que ela demonstra me faz admirá-la.

Que estranho... sinto uma afinidade com alguém que nunca vi!

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