CAPÍTULO 17

    Já era noite…

— Quer saber o que eu estava pensando em fazer agora?

    Escutei tais palavras pronunciadas por Megan e dei a minha atenção a ela, que entrou no banheiro com as mãos atrás das costas parecendo estar escondendo algo. Segundos antes, eu estava admirando as luzes dos outros prédios através da janela de vidro, enquanto massageava o meu joelho que estava coberto pela água quente e espumada da banheira.

     Depois que saímos do jatinho, um carro preto de vidros fumê nos levou para um prédio no centro. Megan ordenou que alguns homens fizessem a nossa guarda. Mercier teve que ir a um lugar e James o acompanhou, mas eu não soube nada sobre esse tal lugar. Estavam sérios quando trocavam palavras silenciosas com Megan, parecia ser um assunto sigiloso.

     Estávamos na Espanha, mas Megan não falou qual era o motivo de estarmos ali.

     Antes da noite chegar, eu me deitei para descansar na grande cama daquele quarto naquele aparthotel, tudo do mais puro luxo. Todas as paredes dali eram da cor amadeirada, porém de madeira escura. O gosto de Megan pelo “ Dark ” era imensa, todo o seu estilo era incrível, na verdade.

     Encarei a postura de Megan, me sentindo curiosa para saber o que tinha ou não nas suas mãos. Seu olhar era misterioso e isso me deixava mais curiosa.

— No que está pensando, Megan? — perguntei, colocando uma das mãos para fora da banheira.

— Bem… — disse ela, puxando as mangas de sua blusa social, revelando para mim que suas mãos estavam vazias. Minha curiosidade morreu de um jeito tão trágico, tão lamentável — estou pensando em tirar as minhas roupas e entrar nessa banheira.

    Continuei a encarando, porém escondendo a surpresa que ela me causou assim que se calou.

— Não posso impedir. — afirmei e seus olhos ficaram semicerrados, desconfiados, eu não ousei, somente falei o que eu pensava.

     Megan andou no banheiro, me olhando e me senti estranha, porém um estranho bom, nunca entendi o sentido desse sentimento.

     Parou…

— Há quanto tempo você não corta as suas unhas?

      No mesmo segundo, olhei para a minha mão. Já fazia quase um mês.

— Acho que 1 mês. — respondi e vi ela se ajoelhando ao lado da banheira, onde se sentou e encostou, virada completamente para mim.

— Você está precisando de uma manicure, mas como não estamos em Londres e não quero colocar você em risco… eu serei a sua manicure.

— O que? — perguntei em meio a um sorriso surpresa.

— Isso mesmo! — disse ela, mostrando tranquilidade no olhar.

— Não é necessário que seja… eu não pretendo, é… — parei, acabei me lembrando da nossa quase noite de amor. Megan sorriu de mim e agarrou a minha mão em seguida.

— Nós usamos as mãos para muitas coisas, Stella… — houve uma inocência inesperada em sua voz mansa. — coisas do tipo… vamos pensar…

    Enquanto ela pensava, eu observava o que ela começou a fazer na minha mão com o seu polegar. Era uma simples carícia, porém boa.

— Você também está pensando, não é?! — disse ela quando percebeu que eu estava olhando para as nossas mãos. Não pude esconder o sorriso por ter sido pega no flagra — Stella! — se aborreceu, juntando as sobrancelhas e do jeito que ficou, me pareceu fofa.

— Desculpe?

— Ok… Mas quando eu disse “ vamos pensar ” era para nós duas fazermos o mesmo!

— Desculpe é que… que… bem, esqueça. Agora vamos pensar juntas.

— Uhmm — me olhou desconfiada e eu me segurei para não sorrir, enquanto que por dentro, eu falhei — certo.

— Podemos acender velas ou abrir caixas de chocolate. — disse e ela sorriu.

— Ou massagear os nossos ombros, como também os pés ou as têmporas.

— Isso é tão bom. — afirmei de um jeito embriagado, como se alguém estivesse massageando alguma parte do meu corpo.

— Não quero me gabar, mas… eu sou boa em massagens e principalmente… com as mãos.

    E principalmente com as mãos, obviamente.

— Se eu fosse boa em massagens, eu também me gabaria. — disse, esquecendo o modo presunçoso que algumas das últimas palavras dela saíram de sua boca.

— Faça uma massagem em mim e eu te direi se você passou no teste.

    Megan não perdia tempo para usar insinuações, seria mais fácil ignorar.

— O que me diz?

— Não… eu só quero terminar o meu banho. — puxei a mão, mas ela a segurou.

— Não precisa ter pressa no banho, Stella… já disse que vou ser a sua manicure!

— Megan, não…

— Megan, sim! — disse e enfiou uma mão no bolso da calça, e tirou de lá um cortador de unhas.

       Agora eu não podia mais fugir, ela realmente faria aquilo.

— Se não quiser, é só dizer não, Stella!

— Já que quer tanto fazer isso… pode fazer.

     O seu sorriso se alargou.

— Prometo que quando eu terminar, eu deixo você em paz. Em alguns minutos, vou resolver um assunto, então não vou demorar.

    Fiquei interessada em saber sobre o tal assunto e então, me aproximei mais de Megan, que acabou olhando para os meus seios que haviam ficado sem a proteção fajuta da espuma. Ela não parou de olhar e eu muito menos me importei em escondê-los.

— Que assunto, Megan? — perguntei, dando a minha outra mão para ela, a qual ela pegou e deu um breve sorriso.

— Um assunto importante, Stella.

    Era notável que ela não iria falar sobre tal assunto abertamente.

— E posso saber do que se trata?

     Megan me olhou sem expressão.

— Diga, Megan.

— Stella… eu devo punir alguém.

    O pesadelo veio à tona, meu pai. Seria o meu pai quem ela iria punir? Estávamos na Espanha e o meu pai também.

     Fiquei pensativa e Megan começou a cortar as minhas unhas.

     Qual seria o tipo de punição que ela usaria? Quem seria o seu alvo?

     Momentos depois…

— Assim está melhor, veja! — disse ela e fez eu ver as mesmas, ficaram bem curtas, iguais a dela.

— Gostei.

— Gracias.

    Megan ficou ali me observando, enquanto eu enfiava a mão na banheira.

— Quem você irá punir? Como a pessoa se chama? — tomei coragem e perguntei. Me recordei da longa conversa que tivemos sobre ela mudar, mas com essa nova punição, ela demoraria para cumprir o que disse.

— Ele se chama Posner.

     Posner era o homem pelo qual ela disse que seria o próximo a perder a cabeça.

— E o que ele fez?

— Ele ousou me roubar! — respondeu e o seu maxilar trincou.

— Roubar? — É chocante, Posner não ter amor a vida.

— Sim. Ele estava desviando dinheiro dos ganhos e acúmulos milionários do meu cassino.

    Roubo era diferente de dívida. Pela primeira vez, eu a entendi.

— E o que você fará com ele depois de punir?

— Nada.

— Nada? — tive que enfatizar porque não acreditei.

— Nada… porque a punição dele será a morte.

    Morte?

    Me encolhi na banheira…

— Stella. — chamou e ela voltou a se ajoelhar, agora ficando com o corpo elevado e com o rosto próximo do meu, um rosto sem expressão que evitei olhar. A beleza dos prédios iluminados do lado de fora da janela era mais formidável.

    Houve um silêncio entre nós… Mas os meus pensamentos não paravam. Ela mataria um homem.

    Tomei coragem e perguntei…

— Quantos você já matou por terem te roubado?

— Dois.

    Duas mortes. Duas vidas que ela tirou.

— Você mesma os matou?

— Sim.

— E não tem nada que você possa fazer para mudar essa sua decisão?

    Um silêncio voltou a preencher o espaço entre nós, os míseros centímetros.

— Será injusto se eu o fizer.

— Será injusto… porque você não decidiu o certo no passado.

— No passado eu decidi certo, Stella. Tentaram roubar a coisa mais preciosa que eu possuía. — disse ela, já com uma tristeza na voz e então eu a olhei comovida.

— E o que aconteceu no passado, Megan?

— Eu não posso falar sobre isso… me dói muito lembrar.

— Megan… eu preciso te entender.

— Mas eu não quero revelar tal… é um segredo.

— Certo, Megan. — desisti.

    Houve mais um pequeno silêncio…

— Stella?

    Nos olhamos…

— Maté a mi papá.

    “ Eu matei o meu pai. ”

— Como? — surpresa, engoli em seco e senti um medo me envolver. Ela matou o próprio pai.

— Não me julgue antes de saber, e antes de tudo… peço que mantenha isso em segredo porque é isso que ele é… um segredo.

— Megan, mas… como assim? — Me movi e a água se agitou na banheira.

— É… eu o matei com a ajuda do meu guarda costas… o Mercier.

— Sim?

— Porque o meu pai tentou… tentou… — ela travou, as palavras ficaram presas em sua garganta.

— Megan, não tenha pressa. — falei e acariciei o seu rosto, onde ela deu um sorriso fraco.

— Aos meus 19 anos, eu quase fui abusada pelo meu pai… aquele que só vivia me desprezando.

— Um abuso? — meu coração apertou e eu senti que a qualquer momento iria chorar, só de imaginar o sofrimento que Megan quase passou.

— Um abuso, mas… o Mercier como o meu melhor amigo e guarda costas, apareceu quando o meu pai estava prestes a cometer o ato e o segurou… No meio de tudo, meu pai sacou uma arma e atirou contra o peito direito de Mercier que mesmo ferido continuou de pé. Em meio a distração que ele provocou no meu pai, eu consegui derrubá-lo… Tomei o revólver e apertei o gatilho, como se eu tivesse nascido para fazer aquilo, para pôr um fim naquele homem que transbordava maldade e destruição. Afundei uma bala no meio do crânio dele… Minha mãe nos encontrou quando aquela adrenalina toda passou e depois de termos contado tudo, do Mercier ter se recuperado do tiro que levou, ela tomou as providências e passou todos os títulos, propriedades e toda a herança para o meu nome. Não muito tempo depois, a mamãe foi alvo de um ataque e tiraram a vida dela.

    Eu somente a ouvia, agora tudo fazia sentido.

— Puni os responsáveis, mas o mandante eu fiz questão de torturá-lo e matá-lo da pior forma que você possa imaginar. Depois que eu usei um canivete e cortei cada pedaço de pele que aquele miserável tinha no corpo e ele ficou em carne viva, parecendo um pedaço de carne bovina, eu o joguei dentro de um poço com ácido e soda cáustica.

    Megan se vingou brutalmente.

    Eu não tinha argumentos. As palavras que saíram de sua boca não surtiram diferença alguma no seu rosto, não demonstrou expressão, não demonstrou nada.

— E depois que eu fiz isso, Stella… eu simplesmente comecei a punir todos com torturas e punições. Eu sentia prazer todas as vezes que eu assistia às torturas, sentia mais… quando eu mesma fazia o trabalho.

— Megan. — consegui falar o seu nome, assim que um momento de silêncio se passou.

— E agora, Stella… você já sabe o porquê sou assim, mas não quero que sinta medo de mim… Posner já me roubava há anos e nunca se prontificou a parar. Depois de uma auditoria sigilosa no cassino e nas contas de Posner, foi confirmado, agora ele sofrerá as consequências, pagará por ter me roubado como os outros roubaram… Aquele miserável roubou a vida da minha mãe quando a matou, o meu pai tentou roubar a minha virtude e teve o que merecia e agora será a vez de Posner… — Megan se levantou e se curvou, e então me beijou na testa — eu voltarei para você porque sei que tudo a partir de agora irá mudar.

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Comments

Clesiane Paulino

Clesiane Paulino

não julgo ... prq não sei até onde minha raiva e desespero possam me levar 😮‍💨😮‍💨😮‍💨😮‍💨

2024-03-24

2

Dorinha Roque

Dorinha Roque

NA MÁFIA É ASSIM: OLHO POR OLHO DENTE POR DENTE!

2023-11-04

3

Elizabete Silva Alves

Elizabete Silva Alves

chocada também. mas acho justo isso que ela fez

2023-10-23

1

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