CAPÍTULO 2

                             D' ANGELO

   Nos três primeiros dias longe de tudo que eu conhecia, eu não pude sequer fechar os olhos para dormir. Fui sequestrada, fui dopada e aqueles que fizeram tal dureza comigo, não tiveram sequer a ideia de esconderem os seus rostos. Vi claramente cada um dos rostos dos homens enquanto eles me cercavam. Não tive forças para lutar contra aqueles brutamontes porque eu estava a ponto de desabar em lágrimas — lágrimas de arrependimento, de ódio e de um amor frustrado.

   Naquela mesma madrugada, antes de ser sequestrada na ponte do Brooklyn por homens fortes em um carro preto, eu tive que suportar a dor, uma dor que era capaz de acabar com a alegria de qualquer um.

   Eu tinha sido convidada para uma festa onde me encontraria com alguns amigos e colegas da escola, mas também, me encontraria com a minha namorada, tal que sempre me dizia todos os dias, que me amava. Eu tinha dezessete anos e já sabia que o amor que sentia por ela era real e que era o meu desejo tê-la ao meu lado para sempre. E naquela madrugada, enquanto procurava por ela em todos os cômodos da casa do amigo que nos convidou, eu a encontrei em um momento totalmente comprometedor juntamente com a que se dizia ser a minha melhor amiga. Eu chorei quando as vi e a única coisa em que pensei foi em fugir e me afastar. Minha agora ex-namorada que se chamava Ariana, me seguiu, tentando explicar como tinham sido as coisas, mas a única resposta que teve de mim, foi um tapa merecido e dado contra o seu rosto pálido.

   Eu saí sem rumo, topando em quem não tinha culpa de nada e decidi percorrer as ruas de Manhattan.

   Ariana entristeceu o meu coração e todo o meu ser, ela não devia ter feito aquilo na mesma noite em que comemoramos o fim do ensino médio e também em uma semana importante para mim porque os meus 18 anos já estavam batendo na porta.

   No carro com os punhos amarrados e com os meus cachos bagunçados que caíam sobre o meu rosto o escondendo completamente, ouvi o senhor de cabelos pretos ao meu lado dialogando com o outro senhor que dirigia o veículo. O meu coração estava acelerado desde o momento em que fui pega, amarrada e jogada dentro daquele carro. Eu só imaginava o meu fim e nas maneiras que eles usariam para me matar. Eles não foram piedosos, mas também não me disseram nada, mesmo eu tentando dialogar com eles, e aquele seria o meu destino.

   Em apenas uma madrugada, eu tinha sido traída, sequestrada, magoada e a única coisa que faltava era ser morta e estuprada. Sei que não estava raciocinando direito, o medo me consumia por inteiro, o desespero não me deixava respirar.

   Um som de chamada soou ao meu lado e a voz rouca do homem começou a ser ouvida. Ele parecia estar falando com alguém de uma posição mais alta que a dele, um alguém de nome Armstrong. Ambos falaram de mim.

“ Já estamos com ela, Armstrong. ”

   A ligação foi encerrada.

   Armstrong com toda certeza seria um homem, o homem pelo qual ordenou os seus homens para me sequestrar. Com certeza era um tremendo hijo de puta, sádico do caralho e bastardo prepotente.

   Aqueles homens estavam me levando para ele, alguém que eu comecei a temer e a odiar muito antes de conhecer.

   Depois que senti ligeiramente algo como uma agulha me perfurando, eu comecei a me debater, mesmo presa ao cinto de segurança. Chutei o banco da frente e fiz um escândalo com gritos e xingamentos. O homem ao meu lado me segurou fortemente e tudo o que fiz, não valeu o esforço, e de pouco a pouco fui perdendo as forças e uma sonolência absurda tomou conta de mim... apaguei.

   Quando acordei, vi que estava na companhia de homens vestidos de preto, com revólveres na cintura e seriedade em seus rostos e ambos olhavam para mim, o que me deixou enojada. Percebi que eu estava deitada em uma grande cama de lençóis vermelhos cor de sangue e com mesas de cabeceira ao redor, e abajures desligados. Já era dia e o sol clareava através da janela de vidro, com cortinas que desciam desde o teto.

   Me movimentei na cama luxuosa e os homens tomaram prontidão, como se eu fosse uma inimiga do estado ou uma terrorista de merda, logo eu, que nem sabia o porquê fui sequestrada ou o porquê de estar em um lugar diferente.

   Puxei o cobertor e me cobri completamente quando notei que a minha vestimenta, uma roupa totalmente diferente da que eu estava quando fui sequestrada, era um tanto saliente e eu não queria os olhos daqueles escrotos em mim, me encarando como pervertidos.

   Respirei fundo, enquanto observava todo o quarto de paredes feitas de pedra negras e me deparei com uma lareira que havia sido apagada a pouco. Havia uma poltrona próxima da janela, como também uma mesinha de centro com garrafas de bourbon e uísque — os gostos alcoólicos de um homem — e onde o tal Armstrong estava?

   Tinha medo de olhar ou se encontrar com a garota de 17 anos que mandou sequestrar?

   A minha única vontade era de matar aquele que se dizia ser Armstrong, mas seguranças armados eram o meu impedimento.

   Uma fome absurda tomou conta de mim e eu me levantei, ainda com o cobertor e pisei sob o piso negro e frio. Olhei para um dos seguranças e ele não era um dos que participou do meu sequestro.

   O segurança de cabelos negros me encarou e eu fiquei pensando se dirigia a palavra à ele ou se esperava pela bondade de Armstrong para levar algo para eu comer. Eu pensei de tal maneira porque se fosse para me matar, com certeza eu já estaria a sete palmos abaixo do chão dentro de um saco preto.

   Trocamos eu e o tal segurança olhares nervosos e quando dei um passo em sua direção, o mesmo se afastou como se tivesse sido repelido como um spray fazia a um mosquito. Dei mais um passo em sua direção, enquanto o outro segurança de barba e cabelos ruivos somente observava e o de cabelos negros se afastou novamente, onde acabou sacando o revólver e apontando para mim. Era um momento tenso e silencioso.

   Por que eles estavam agindo daquela forma, se eu obviamente não era capaz de lutar contra eles? Por que não abriam a boca para me repreender? Por que ficaram mudos?

   Aquele silêncio estava me atormentando...

   Me sentei na ponta da cama e o segurança devolveu o revólver a cintura, ficando ali como um dos soldados da rainha.

   Encarei o barbudo ruivo e ele não era tão feio e pensei no tal Armstrong e em como ele poderia ser fisicamente.

    Será que era um daqueles chefes barrigudos nojentos dos filmes?

    Será que era um chefão da máfia?

    Ou será que era um gostoso irresistível que sequestrava garotas para serem suas escravas sexuais?

   Eu, no meu mais puro coraçãozinho, escolheria a terceira opção, mesmo não tendo interesse algum nos indivíduos de cromossomo Y.

   Acabei rindo daquele pensamento inútil e quando notei um sorriso duro sendo retribuído pelo ruivo, eu o ignorei e corri rapidamente para a janela, soltando o cobertor que caiu no chão, mas o segurança dos cabelos negros me segurou pelo antebraço, me paralisando.

   O encarei furiosa, ignorando a posse do revólver que ele tinha na cintura e o empurrei para que ele mantivesse aquelas mãos imundas longe de mim. Em seguida, ele se afastou, se tornando como o barbudo.

   Ali já estava óbvio que eles não podiam me tocar ou trocar palavras comigo e permaneci com aquele pensamento na cabeça. Daí, olhei para fora e vi através da janela, uma piscina rodeada por um grande jardim de rosas vermelhas e brancas.

   Desde a margem da piscina, ao fim do jardim, podia encontrar um segurança andando de um lado para o outro, sendo atento e vigilante. Eu estava em um lugar onde as coisas não eram brincadeira e a ficha caiu, onde me entristeci. Nunca mais eu sairia daquele lugar, nunca mais veria o rosto da minha tia Geórgia e nunca mais falaria com o meu pai através de ligações. A minha vida já tinha mudado e ninguém seria capaz de me encontrar ou me resgatar dali. Só faltava acontecer um inferno no dia do meu aniversário, o qual estava próximo.

   O meu estômago reclamou de fome e nisso andei para a cama. Quando me sentei e pensei em falar com o barbudo, a porta de madeira que se abria para os lados, foi aberta e o senhor de cabelos pretos que participou do meu sequestro, entrou trazendo consigo uma bandeja com o que me parecia ser o café da manhã desejado por todos. Frutas, biscoitos, suco, café ou chá. Meus olhos viram e o meu estômago desejou. Mas também viram aquele homem bruto que eu aprendi a odiar.

   O senhor caminhou até a mesinha e colocou a bandeja, em seguida, se virou me olhando com um sorriso no rosto, como se fosse um mordomo sorrindo para um hóspede. Ele não era feio, tinha uma aparência agradável.

— Bom dia, senhora D' Angelo? — disse gentilmente.

   Senhora D' Angelo?

— Bom dia é o cara...

— Insultos ou palavras de baixo calão não são permitidos nesta mansão, a não ser que Armstrong permita! — me interrompeu e eu tremia de ódio — deve estar com fome?!

— Diga ao tal Armstrong que ele é um bastardo desprezível e que vocês todos são uns hijos de puta de mierda! ( filhos da puta de merda! ).

— Ela é bravinha... — sussurrou o de cabelos pretos — mal sabe ela que o tal Armstrong é...

— Calado, Jones! — gritou ele e aquele grito me fez estremecer.

— Sim, senhor Mercier. — o tal Jones se calou, totalmente fraco e abaixou a cabeça.

   Sorri daquela situação e me levantei indo na direção do tal Mercier. Ele ajeitou a sua postura, cruzando as mãos atrás de suas costas.

   Pensei no que o tal Armstrong poderia ser... Por que Mercier o interrompeu logo na melhor parte? Intrigante.

— E quando Armstrong terá coragem de falar com a garota inofensiva que ele mandou sequestrar? — confrontei Mercier e ele se manteve calado, somente me observando.

   Caminhei até a mesinha e tomei para mim uns morangos, os quais comi calmamente, mesmo estando desesperada para saciar a minha fome. Aqueles morangos eram deliciosos e só me deixavam com mais fome.

    Sem me importar com os olhares dos três ali, peguei a bandeja e me sentei na poltrona, e comecei a comer de tudo normalmente porque não queria ver os sorrisos dos que me mantinham presa ali. A paisagem do lado de fora era agradável e eu não podia negar.

    Vi por sobre os ombros, uma movimentação no quarto e quando me virei um tanto espantada e curiosa, vi que haviam somente eu e o tal Mercier. O Jones e o barbudo ruivo não estavam mais presentes.

   Um instante depois, Mercier se aproximou e parou ao lado da poltrona, olhando para o jardim e eu somente saciava a minha fome.

   Senti que ele desejava falar comigo e não estava confiante para fazê-lo, então com a boca cheia por biscoitos, perguntei:

— Que quieres? — não fui nada gentil, nenhum deles foi comigo.

   Ela não respondeu. Não sabia se ele era fluente em espanhol, porque ele não possuía nenhum sotaque.

— O que você quer?

— Somente dar-te as boas vindas à mansão Armstrong, senhora e dizer-lhe que...

— Não me chame de senhora! — briguei — eu não sou casada... eu só tenho 17 anos, mas isso você obviamente já deve saber!

— E dizer-lhe que Armstrong se encontrará com você em breve. — ele disse aquilo, ignorando tudo o que eu tinha dito antes.

   Me levantei já um tanto impaciente e a bandeja com tudo caiu no piso negro, onde o copo com o suco pela metade, como também a xícara vazia, caíram e se quebraram.

— Eu não quero conhecer Armstrong... — me sai dos cacos cuidadosamente — quero que você me deixe ir embora. Eu tenho uma vida, tenho família... tengo um padre!

— Pai? — disse ele ironicamente e sorriu secamente, o que acabou me interrompendo — o seu querido padre, senhora D' Angelo, não está nem aí pra você!

— Isso não é verdade! Ele virá me procurar, seu... seu...

— Em outras circunstâncias talvez... — me interrompeu novamente e eu notei lágrimas se formarem nos cantos de meus olhos — mas nessa, isso é uma coisa impossível!

— Você é um mentiroso, desprezível...

— E você é uma moeda de troca!

   Paralisei...

   Meu coração apertou e meu sangue ferveu mais ainda...

   Como assim, moeda de troca?

— De qué estás hablando?

      — Do que você está falando?

— Bem... Armstrong tem o dever de te responder... já falei demais — ele disse totalmente maléfico e se virou para sair — mandarei a faxineira limpar a merda que você fez! — referiu-se aos cacos no piso negro.

   Cacos? — pensei e de imediato reagi, sem pensar nas consequências...

   Peguei um dos cacos e corri na direção dele, que parecia estar distraído e quando cheguei perto para perfurar qualquer parte do seu corpo musculoso, ele se virou e me parou com aquelas mãos grandes e fortes, onde fiquei completamente presa.

    Ele me tomou o caco ligeiramente e me empurrou, me fazendo cair e o seu sorriso irônico se fez presente novamente.

— Armstrong terá um grande trabalho para te domar!

   Domar?

   Mercier saiu, me deixando ali trancada, sozinha e sem esperança de um dia poder voltar a viver a minha antiga vida.

   Moeda de troca? Eu realmente era uma moeda de troca?

   O que o meu pai fez?

   Acordei de um pesadelo, olhei para tudo ao meu redor e notei que o pesadelo era real. Eu ainda estava naquela cama, sendo monitorada por seguranças.

    A minha vida agora era o total oposto do que sempre desejei do meu destino.

Mais populares

Comments

Erca Tovela

Erca Tovela

lendo pela segunda vez amo essa

2024-10-21

0

Clesiane Paulino

Clesiane Paulino

de pai assim eu quero distância 🤨

2024-03-23

3

Fabricia Santos De Abreu Pereira

Fabricia Santos De Abreu Pereira

amei todos os livros.

2023-10-15

6

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!