CAPÍTULO 9

Com o livro nas mãos, pensando em tudo o que tinha acontecido a pouco, senti uma mão forte me agarrando agressivamente pelo pulso.

O livro caiu e eu pude ver a fúria nos olhos de Megan. Ela continuava sem blusa e eu estava ali na cadeira próxima à piscina, ainda com a vestimenta dela.

Com sua força me puxou, como se eu fosse uma boneca e meu pulso foi apertado, me causando dor. Com sua fúria e agora possessiva, ela me deixou com um extremo medo.

Os seguranças do jardim pararam para ver o que estava acontecendo. Então vi Mercier distante assistindo calado toda a cena. Todos ali estavam do lado dela, não me ajudariam se eu pedisse por ajuda.

Megan segurou a minha nuca com as duas mãos ligeiramente e nossos olhos se encontraram, sendo aquela a primeira vez, foi um certo olhar intenso, profundo. Aquele olhar me prendeu, como nunca, nem mesmo quando eu ainda namorava Ariana jamais recebi um olhar que me deixou aérea e hipnotizada.

— Está vendo como me deixou? — ela sussurrou aquelas palavras próximas da minha boca, enquanto apertava a minha nuca e com o seu maxilar trincado a cada respiração.

Fechei os olhos, sentindo ali uma sensação conhecida, no entanto diferente, começando a percorrer o meu corpo desde a minha nuca até os meus joelhos.

— Eu não suporto que me ameacem ou que me desafiem!

— Megan... — tentei falar porque tremia, já temendo o que ela poderia fazer comigo.

— Cala essa boca! — gritou comigo e eu abaixei o olhar — da próxima vez que me ameaçar ou ir ao meu escritório sem o meu consentimento... você sofrerá as consequências. Sou eu quem mando e desarmando nessa porra toda e você não é nada!

Megan me largou e me empurrou na cadeira, onde vai sentada, mas não me machuquei. Em seguida, vi ela chutar o livro para dentro da piscina, ela simplesmente chutou.

Tentei impedir ao usar palavras que não saíram e já era tarde demais.

Ela se virou e se curvou sobre mim, me deitei e sua boca encostou no canto da minha orelha e suas palavras me encheram de pensamentos.

— A próxima a afundar será você!

Nos encaramos...

Eu engoli em seco com a sua resposta quente e meu corpo esquentou, onde acabei suspirando pesadamente.

Megan sorriu mostrando os dentes e os seus caninos me fizeram ver um tom de malícia.

— Você não vai conseguir aguentar por muito tempo!

— Não sei do que você está falando?! — enfim palavras surgiram.

— Você sabe muito bem... sabe que não conseguirá fugir de mim.

— Não tenha tanta certeza disso!

— É apenas a realidade do futuro!

Arrumou sua postura e me levantou, já me puxando para seguirmos para algum lugar, mas eu me soltei dela e me afastei quando ela tentou se aproximar novamente.

Mais alguns passos e desviando de suas mãos nervosas, eu caí na piscina e imediatamente fui envolvida por toda aquela água. Eu me debati, estava me afogando... até que senti mãos me envolvendo por trás e me levando de volta à superfície...

Respirava ofegante e meu coração saltava, a adrenalina percorria o meu corpo enquanto eu apenas pensava no que poderia ter acontecido, se eu estivesse ali sozinha...

— Calma, calma... — Megan repetiu e então eu soube que foram as suas mãos que não me deixaram afundar completamente.

Consegui me virar, ainda em seus braços e eu só quis abraçá-la, sentir o seu corpo junto do meu, mas antes, eu pude ver o tamanho da preocupação em seus olhos. Não tinha mais fúria neles, nem malícia, somente preocupação por mim.

Fiquei alguns minutos com a cabeça no seu ombro, só nós duas ali. Eu não vi seguranças, nem empregados, somente eu e ela.

...

— Sabe, Stella... — ela falou e enfim senti seu nariz cheirando o canto da minha orelha.

Ainda estávamos na mesma posição, então ela acabou colocando as minhas pernas em sua cintura e eu a abracei.

— Você me assustou.

Não disse nada a ela, só a abracei mais forte.

— Peço desculpas a você... tenho a culpa por você ter caído. Eu não queria que isso acontecesse com você porque desde que eu descobri a sua existência, eu soube que você não sabia nadar. Os meus homens não deveriam ter deixado você perto da piscina.

— Não culpe os seus homens... eu também tive a culpa.

— Mas a culpa é mais minha... eu estava com raiva e não soube me controlar.

— Eu perdoo você, Megan. — disse sinceramente.

Megan salvou a minha vida. A mulher que a pouco estava gritando comigo e me humilhando, agora estava me pedindo perdão. Eu senti que suas desculpas foram sinceras. Então a perdoei.

Senti Megan se movimentando e vi ondas se formando na piscina, então logo chegamos na borda da piscina, onde enfim nos olhamos. Foi intenso.

— Obrigada por me perdoar, Stella.

Assentiu com um sorriso de canto.

Megan moveu suas mãos para os meus cachos molhados e os tocou, desviando o olhar para o meu rosto e em seguida para a minha boca onde permaneceu.

Ela estava ali me desejando e eu estava hipnotizada, mas ainda com a lembrança da minha quase morte na piscina.

Vi o seu rosto se aproximando do meu, seus lábios tocaram os meus e eu me deixei sentir seu toque por um instante, aquele toque me deixou com borboletas no estômago e eu a impedi de continuar virando o meu rosto.

— Isso não está certo, Megan. — falei e vi uma tristeza tomar conta dos seus olhos.

Continuação...

— Por qual motivo apenas um beijo neste momento não seria certo? — ela perguntou, me fazendo encarar os seus azuis escuros — me dê apenas um motivo.

Pensei...

— Eu estou aqui pra você, Stella e eu sou quero você... me deseje ou sei lá — pensou — me dê a chance de te fazer sentir algo por mim, algo que não seja raiva, ódio ou rancor.

— O motivo é simples, Megan — disse, ignorando todas as suas palavras ou aquilo que se parecia mais com um pedido desesperado.

— Qual?

— Eu não sinto nada por você.

— Vejo que tudo o que eu digo... você simplesmente ignora. Quero uma única chance de fazer você sentir algo por mim.

— Essa chance você perdeu quanto simplesmente pensou que era deus e me arrancou da minha vida — disse, jogando o rancor para fora — mesmo sendo parte de um acordo... você não tinha o direito...

— Stella... por favor, não traga esse assunto à nossa conversa.

— Por que não?

— Porque eu odeio quando julgam os meus erros ou escolhas.

— Qualquer um odiaria, Megan.

— Não, Stella... quando isso acontece, eu volto no passado e me lembro do jugo dos meus pais e principalmente do meu pai — ela parou e respirou fundo — todas as vezes que eu errava, ele dizia que eu deveria ter nascido homem e que só assim, eu seria um filho perfeito. Isso sempre me machucou e então, este meu sofrimento teve um fim.

Eu não soube o que falar, nem pensar, eu somente a abracei mais forte. Senti que a sua emoção tomou conta de mim. Ela não se moveu, mas o silêncio permaneceu entre nós até que...

— Nunca mais falarei algo que te magoe.

— Tanto faz, agora vá. — nos virou e me impulsionou para cima, onde me deixou sentada — espero que essa nossa conversa tenha valido a pena para você.

— Megan...

— James te levará para onde você quiser... na mansão. — ela disse e em seguida assobiou...

James se aproximou com uma toalha nas mãos e repousou sobre o meu corpo molhado, porém, mantendo os seus olhos longe.

— James.... — ela disse com seriedade — cuide para que a senhorita D'Angelo fique segura.

Senhorita D'Angelo? Onde foi parar o “ Senhorita Armstrong? ”

— Assim farei, Armstrong. — disse ele e me ajudou a levantar.

Segui pela borda da piscina olhando para a mulher ainda envolvida pela água e James me acompanhou. Quando olhei para frente, eu senti um aperto no peito, senti como se algo estivesse sendo tomado de mim.

Megan me fez sentir aquilo.

Mas o que seria aquilo?

James seguiu e no corredor mais a frente, já próximos do quarto, nos encontramos com Lola. A mesma passou por nós de cabeça baixa e eu a odiei, sim, o meu coração apertou novamente quando eu a vi.

Não consegui suportar e parei. Chamei pelo nome de Lola e ela parou. James também, porém permaneceu calado nos observando.

Me aproximei dela e a mesma ergueu os olhos para me olhar, pode ver que os mesmos eram castanhos escuros e atraentes. Agora eu entendia o porquê de Megan procurar consolo nos braços de sua empregada. Ela era bonita, bastante atraente e o uniforme não era capaz de esconder as curvas do seu corpo.

— ¡Quiero hablar contigo!

— Diga, senhorita Armstrong... no que posso servi-la?

Me aproximei mais e cheguei bem perto da sua orelha, onde ela tentou se afastar, mas a agarrei pelo braço e apertei fortemente.

— Não faça isso, senhorita! — disse ela com confiança em suas palavras.

— Se não quiser que eu faça algo a você... siga o que eu vou te dizer!

— Diga?!

— Nunca mais permita que Megan toque em você.

— Umm... — murmurou e sorriu de canto, com um sorriso desafiador.

— Isso é sério, Lola!

— Está bem, senhorita, mas devo deixar claro que... Megan não suporta ficar tanto tempo sem tocar uma mulher.

— Isso é notável.

— E mais uma coisa!

— Sim?

— Se Armstrong não encontrar prazer aqui... ela encontrará em outro lugar! — disse atrevidamente e se foi, assim que eu a soltei e trocamos um olhar matador.

Parada ali, pensei em toda a conversa que tive com Lola. Ela tinha razão. Megan sempre procuraria o próprio prazer, não importava onde.

— Podemos seguir, senhorita? — James perguntou e me tirou dos meus pensamentos.

— Sim, James, mas antes... é... há quanto tempo a Lola trabalha aqui na mansão?

— Há três anos.

Isso queria dizer então que Megan já tinha um relacionamento com Lola a anos, por fora do relacionamento chefe e empregada, mas... será que sempre fora assim?

— E mais uma coisa, James!

— Estou às ordens, senhorita.

— Não sei se você ou os outros empregados tem a permissão de falar sobre a chefe de vocês, mas eu queria saber...

— Não, senhorita... esse assunto é proibido.

— Por que proibido? Por acaso vocês não fofocam entre si?

— Não, senhorita, não... fofocamos.

— E o que tanto vocês conversam no jardim, do que sorriem?

— Ah. — ficou um pouco surpreso e sem graça.

— Vocês homens fofocam e muito, agora só basta você me dizer o que eu quero saber!

James abaixou a cabeça pensativo, parecia estar olhando para os sapatos em seus pés.

— Eu só quero saber se... se antes de mim, a Armstrong tinha uma outra mulher?!

— É... sim. Ela tinha, mas por você... ela a dispensou.

— Por mim? — eu fiquei atônita. Não acreditaria em tais palavras tão cedo.

— Sim, mas a partir deste ponto... eu não abro mais a minha boca. — falou e tampou a boca, se virando para seguir em frente.

— Espera aí, qual é?! — Corri e o segurei e, no mesmo momento, a toalha caiu e James se apressou para pegar a mesma do chão.

Assim que me cobriu, nós nos olhamos e sorrimos juntos do nosso desastre. Aquele foi um sorriso sincero e divertido, o que a dias eu não via na face de um ser humano.

Em segundos, ele fechou a cara, ficando sério e ergueu a cabeça.

Sorri dele e o mesmo manteve o seu jeito.

Fomos para o quarto e assim que ele segurou os dois lado da porta para sair, ele disse:

— Creio que você deve conversar com a chefe... dê uma chance a ela.

— E por que, James? — perguntei pensativa.

— Porque sei que é o certo, senhorita... com licença.

— Toda, James... obrigado.

— Estou às ordens, senhorita.

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