CAPÍTULO 6

— Venha comigo, Stella!

   Megan me chamou assim que abriu a porta do banheiro e saiu, onde me encontrou próxima da janela. Eu estava ali há algum momento, assistindo os sorrisos dos seguranças, enquanto eles bebiam e conversavam. O dia tinha passado e a noite já se fazia presente.

Aquele dia após o café da manhã, nos encontramos no almoço, no lanche da tarde e também na janta, mas Megan só abriu a boca para comer, porém seus olhos continuavam sobre mim, me analisando com seu olhar frio e a sua cabeça certamente estava cheia de pensamentos, pensamentos perversos. Ela confessou que me desejava e agora, eu sabia que ela só queria ir pra cama comigo.

— Vou dormir... vá sozinha. — disse simplesmente.

   Senti o vento de sua chegada atrás de mim e gelei.

— Eu não pedi... — sussurrou na minha orelha e eu me afastei, mas ela me segurou pelos antebraços fortemente — eu ordenei!

— Estou com sono, Megan... me deixe em paz! — me sai de suas mãos e fui para a cama, mas ela me seguiu e não permitiu que eu me sentasse.

— Você não vai se impor, esposa!

— Não me chame assim! — esbravejei, encarando seus azuis escuros, que transbordavam irritação.

— Chamarei você assim pelo tempo que eu quiser!

— Você não pode me manter presa aqui sendo algo que eu não sou!

— Posso e já estou fazendo. Ninguém em Londres é capaz de te ajudar, então nunca sairá daqui, esposa!

— Londres? — meu coração apertou e não, eu não podia estar tão longe de casa.

— Exato, Londres. Agora você mora a quilômetros de distância de sua tiazinha Geórgia.

— Não fale assim dela!

— Falo como bem quiser... ela é outra interesseira.

   Interesseira?

— Do que você está falando, sua cretina? — me sai dela, mas não me afastei.

   Trocaria palavras com ela estando ali frente a frente, mesmo eu sendo amedrontada por sua superioridade e prepotência.

— Achou mesmo que a tia Geórgia não sabia de nada?

— Não seja...

— A sua tia sempre soube da dívida do seu papá... ela iria denunciar para as autoridades e eu tive que silenciá-la com dinheiro.

— Não! A tia Geórgia nunca...

— Como você acha que ela adquiriu aquele apartamento no Brooklyn, sendo que ela trabalha em um serviço mixuruca?

— Não, não, não... você está falando isso porque quer me fazer odiar aqueles que eu amo, mas isso não vai acontecer! — gritei aquelas palavras.

   Megan sorriu ironicamente e me empurrou, assim eu caí sentada na cama, levando comigo o seu olhar maléfico.

— Escute, Stella... — colocou as mãos nos bolsos da jeans preta que usava — nunca mais levante a voz para mim... eu gosto de obediência!

— Obediência você jamais terá de mim... isso você não merece!

— Era esse tipo de obediência que você dava para a sua tia?

— Não, jamais a desobedeci, então não a difame... você não conseguirá fazer com que eu a odeie.

— Não quero que você a odeie.

— Você quer sim... você não presta.

— Eu sei que não presto, mas, jamais venderia uma raridade como você, Stella.

— Ah — ignorei.

— Eu só quero abrir os seus olhos... todos temos um preço e a tia Geórgia não é diferente.

— Não... — eu me negava a acreditar, tia Geórgia? — não, não.

   Megan respirou fundo como se tivesse entediada com todo aquele nosso diálogo.

— Quando você quebrar a cara... não diga que eu não te avisei.

— Não! — me levantei para me afastar dela, eu precisava pensar.

   Não seria possível que as duas pessoas que eu mais amava tivessem feito parte de uma negociação tão suja.

   Megan em meio a difamação que fez sobre a tia Geórgia, teve um pouco de razão. Tia Geórgia não tinha dinheiro suficiente para pagar por um apartamento no Brooklyn, não com o seu salário de empregada doméstica ou com a ajuda mínima que o meu pai mandava todos os meses, além do meu emprego na cafeteria — emprego esse que custou muito tempo para encontrar por ainda ser menor de idade — Quando nos mudamos para o novo apartamento, estranhei por uns dias, em meio a pensamentos. Tia Geórgia simplesmente fugia das minhas perguntas a respeito do imóvel, com desculpas fajutas e nunca me respondia. Será que era mesmo verdade tudo o que ela, Armstrong dissera?

— Vamos conversar bem aqui! — ela disse e segurou o meu braço. Não pude fugir de sua força — eu só estou dizendo a verdade, mas não tenho a intenção de te fazer odiar aqueles que dizem que te ama.

— Você também não é uma santa!

— Reconheço que não sou, mas você também deve abrir os olhos para a verdade.

— Não!

— Você está comigo, uma mulher que até agora só quis te tratar bem... reconheço que o meu desejo por você me fez agir um tanto agressiva no primeiro momento que te vi. Ver você dormindo como um anjo ali, protegida pelos lençóis me deixou com o coração queimando porque finalmente eu teria você para mim.

— Você não foi nada gentil.

— Eu sei, mas... — me puxou para o seu corpo e ergueu o meu maxilar, onde os nossos olhos se encontraram — você já parou pra pensar que você poderia estar muito pior, sofrendo, chorando ou talvez em um lugar onde as mulheres só servem de brinquedinhos aos homens.

— Não! Eles não fariam isso comigo.

— Se eles tivessem te vendido ao dono de um prostíbulo, você agora estaria sendo estrupada por homens escrotos e sujos... você não poderia falar nada, estariam te maltratando e te obrigando a fazer nojeiras.

   Em meio as palavras dela, eu me perdi em seus olhos sérios e preocupados e aquele tipo de preocupação, eu só via quando mamãe ainda estava viva, aquele olhar enquanto me aconselhava era algo inesquecível.

   Acabei pensando no que Megan disse e sim, se eu tivesse em um prostíbulo, eu nem saberia o que pensar, eu morreria de angústia e ainda mais por saber que os responsáveis eram aqueles do meu próprio sangue.

— Então, por favor, Stella... — ela disse e eu me libertei daquele olhar, mas o seu rosto estava mais próximo do meu — torne as coisas mais fáceis para nós duas, me aceite... eu posso te fazer feliz, posso te dar o que você quiser ou até mesmo... — me olhou profundamente — até mesmo deixar você ir.

   Me deixar ir?

   Ela seria mesmo capaz de me deixar ir sem querer nada em troca? Ela me comprou, me sequestrou e joga uma dessa?

— Você realmente me deixaria ir, Megan? — perguntei e toquei o seu rosto, o que a fez sorrir com o canto da boca. Nem sei o porquê fiz aquilo. Mas logo vi tristeza em seus olhos.

— Sim, Stella... eu tenho poder, sou milionária, posso ter quem eu quiser, mas algo que eu me recuso a ter é um amor comprado... não posso comprar o seu amor.

— Megan, eu... — vi ela umedecer os lábios e aproximar a boca da minha...

— Não posso comprar o seu amor, mas sou capaz de fazer você se apaixonar por mim.

— É...

— Deixa eu fazer.

— Não! — disse e virei o rosto, e senti os seus lábios na minha bochecha — não posso me apaixonar por alguém como você.

   Ela roçou os lábios na minha bochecha e eu fechei os olhos com a sensação, não podia permitir que o meu corpo tivesse aquelas sensações, não nos braços dela.

— E por que não, Stella? Eu te desejo tanto.

— Porque eu gosto de outra pessoa. — confessei, mas ela obviamente já sabia daquilo, ela sabia praticamente tudo sobre mim.

   Megan me deixou livre hesitante e eu caminhei cabisbaixa para a janela.

— Posso fazer você esquecer de Ariana.

— Nem vou perguntar como você a conhece... você bisbilhotou toda a minha vida.

— Exato e sei que Ariana não merece o seu amor...

— Realmente... ela me traiu, mas mesmo assim... eu ainda sinto algo por ela.

— Você deveria esquecê-la. Ela te traiu. Você deve abrir os olhos para o que tem ao seu redor... eu não estarei disponível por muito tempo... tenho necessidades.

   Trinquei o maxilar e me lembrei da empregada, aquela que cedia facilmente à sua chefe.

— Necessidades essas que você pode... — me interrompi de rompante.

— Diga! — senti ela se aproximando — ponha as letrinhas para fora, esposa.

— Você tem uma empregada muito bonita e obediente.

   Ela sorriu atrás de mim e me virou para ela, então sem que eu pudesse evitar, senti o peso de seus lábios nos meus, me forçando a ceder ao beijo. Mas eu consegui me afastar e tudo o que ela me fez passar, me deixou furiosa. Megan lambeu os cantos da boca e eu limpei a minha com as costas da minha mão ligeiramente.

— Então já sabe sobre a empregada?! — tornou-se surpresa.

Tive a certeza de que ela não armou para mim.

— É, sei... felizmente vi vocês duas no corredor.

— E o que você sentiu?

— Sentiu? Não senti nada!

— Se não sentiu... por que trouxe este assunto a nossa conversa?

— Porque, porque... — me desesperei, não tinha argumentos para usar.

— Por acaso você gostou do que viu?

— Não seja indecente!

— Umm... — veio se aproximando e eu fui me afastando.

— Pare aí mesmo!

— Tem medo de mim?

— Não! Tenho medo de você tentar me beijar de novo.

— Por acaso eu sou tão ruim assim no beijo?

— É... este não é o ponto! — parei assim que ela parou.

— Stella... espero que pense em tudo o que conversamos a pouco... o seu pai e a sua tia não merecem o seu amor e muito menos, Ariana.

— E você é digna de ser amada por mim?

— Não sei. Essa resposta é sua... já te contei toda a verdade, já te mostrei o meu desejo por você, já te disse que poderia deixar você ir e...

— Então me deixe ir... deixe-me voltar para a minha vida?!

— Se você voltasse agora mesmo... pense... você teria nojo, raiva, ódio ou amor quando visse o rosto da sua tia Geórgia?

   Pensei...

   E eu não olharia jamais para tia Geórgia com olhar de amor, mas com outros sim, depois de tudo o que ela fez.

— Qual é a sua resposta? — perguntou e foi para a porta e a abriu, porém se virou e olhou para mim.

— Eu olharia com qualquer tipo de olhar, menos de amor... ela não tinha o direito de armar juntamente com o meu pai, eles erraram e isto é imperdoável.

— Verdade. E onde você moraria? Como faria para viver a sua vida, sem dinheiro, emprego ou o apoio de alguém?

   Minhas mãos estavam atadas.

— Eu não sei, mas daria um jeito.

   Houve um silêncio entre a distância que nos separava e ela piscou algumas vezes, parecia pensativa...

— Sabe, Stella... eu não vou mais esperar por você... seja a minha esposa ou não seja.

— O que quer dizer?

— Viva aqui como uma hóspede, mas espero que reconheça o que eu fiz por você... eu sou o que muitos desejam e não perco tempo quando se trata do meu prazer.

— Isso quer dizer que eu não sou mais a sua esposa? — perguntei, já esperançosa porque ansiava que a resposta dela fosse um sim e que finalmente o meu pesadelo iria acabar.

— Pense como quiser... ah e pode ir dormir — apontou para a cama — não pretendo mais te levar comigo.

— Então essa conversa já se encerrou, certo?

— Sim... vou ver se consigo me distrair com alguma diversão.

— Diversão? Que tipo de diversão?

— Qualquer tipo. Só não vou levá-la comigo porque você ainda não me aceitou como a sua esposa.

   Que?

— E nunca vou aceitar.

— Ótimo! Boa noite e até amanhã... talvez.

— Divirta-se...

— Tentarei... apesar de desejar estar aqui com você. — ela disse ternamente e eu me arrepiei.

— É... — tentei falar, mas ela saiu fechando a porta, me deixando ali, com pensamentos e mais pensamentos.

   Eu tentaria dormir e esperava não ter pesadelos. Depois da conversa que tivemos, eu me entristeci, eu estava sozinha no mundo e totalmente perdida.

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Comments

Clesiane Paulino

Clesiane Paulino

é Stella as coisas não tão boas pra vc😢

2024-03-24

2

San

San

Adorando o enredo que prende nossa atenção e amando esse novo casal.

2023-08-29

4

A.Maysa

A.Maysa

Mude as suas atitudes com a Stella, Megan seja mais compreensiva, carinhosa e gentil que ela vai te enxergar com outros olhos

2023-08-29

2

Ver todos

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