CAPÍTULO 4

JÁ ERA NOITE

— Diga ao Posner que se ele não resolver esse problema do cassino, ele será o próximo a perder a cabeça... seus inúteis miseráveis!

   A voz da tal Megan, a mulher que se considerava a minha esposa e dona de mim, soou irritada, totalmente aborrecida do outro lado da porta, porém parecia distante. Acabei ouvindo uma parte daquela conversa por ter tido que me locomover até a porta para pegar uma carta que já estava ali no piso há algum tempo. Certamente um dos seguranças havia jogado a mesma por baixo da porta.

   Depois da discussão pela manhã, a poderosa Armstrong não entrou no quarto e muito menos me deixou sair, mesmo eu implorando para Jones, que permanecia de prontidão do outro lado da porta. Eu queria poder sair daquele quadrado luxuoso e caminhar no jardim, tocar as rosas, sentir a grama ou fazer alguma coisa para tentar “ comemorar ” o meu meu aniversário de 18 anos, e aquela piscina parecia ser agradável para dar um mergulho ou colocar os pés, já que eu não sabia nadar.

   Aquela história de que eu era esposa de uma mulher milionária não entrava e possivelmente nunca iria entrar na minha cabeça. E por qual motivo, quando e por que ela me escolheria dentre tantas mulheres com mais beleza, mais prestígio ou mais poder? Eu não era ninguém.

   Ainda próxima da porta, abri a carta, a desenrolei e lá tinha uma escrita, um pequeno aviso, seguido de um “ Feliz cumpleaños ”. O aviso dizia: “ Está noite comemoraremos o seu aniversário, espero que esteja linda para a sua esposa. ”

   Linda para a sua esposa? Jamais!

   Amassei a carta e a joguei aborrecida.

   De repente a porta se abriu brutalmente e eu corri para longe, vendo assim que era Megan Armstrong. Havia fúria em seus olhos e a sua testa estava suada e as gotículas escorriam. O que ela estava fazendo que a deixou tão suada?

   Seus azuis escuros me captaram e ela trancou a porta, depois de bater os dois lados com força. A sua fúria me amedrontou. E se ela fizesse algo comigo? Ela estava tão explosiva.

   Meus braços ou a minha força não me ajudariam, ela era mais alta e mais forte, e pela manhã, eu soube que eu era fraca sobre a força dela.

   A fúria desapareceu quando um sorriso malicioso surgiu no canto de sua boca e ela veio em minha direção, lentamente, como se fosse uma leoa amedrontando a sua presa e eu não me movi, porque não iria adiantar de nada, já que a única saída estava trancada.

   Mantive o contato visual com ela, não desviei em nenhum segundo e ela acabou fazendo algo — algo que eu não pude evitar olhar — Ela simplesmente tirou a regata preta que estava usando e jogou no chão. Ali eu vi um curativo em seu abdômen trabalhado, era pálida, os seus seios escondidos por baixo do sutiã preto eram pequenos e uns centímetros acima do seu seio esquerdo tinha uma cicatriz. Curioso a habilidade de ferimentos que ela tinha espalhados por aquele corpo atraente.

   Enquanto pensava em como tais ferimentos surgiram no seu corpo, eu senti sua respiração forte em meu rosto e as suas mãos quentes agarraram-me pelo maxilar, onde tentei me afastar dela, no entanto, uma de suas mãos desceu para a minha cintura e me colidiu ao seu corpo, fazendo as minhas mãos pararem em seus ombros.

   Encarei seus azuis escuros, tremia em seus braços e rapidamente virei o rosto quando os seus lábios desceram para os meus.

   Megan tentou várias vezes me beijar e me xingava quando não tinha sucesso, eu somente desviava. Jamais deixaria ela me tocar sem o meu consentimento e também porque eu não a conhecia, ela era um lixo aos meus olhos, era uma mulher cruel.

— Já que não quer me beijar por bem... — disse ela e me puxou para a cama, onde me jogou — vai me beijar por mal, sua garota rebelde!

   Desci da cama pelo outro lado e vi Megan pegando uma algema da mesa de cabeceira. Corri sem pensar até ela e a empurrei, fazendo questão de tocar em seu curativo, para que ela sentisse dor e esquecesse de mim.

   Megan caiu na cama e levou as mãos ao abdômen, gritou dolorosamente, enquanto me encarava ainda mais furiosa.

   A porta foi aberta e Jones entrou com o revólver em punho. Via-se preocupação em seus olhos por sua chefe e ele apontou o revólver pra mim, que continuava ali, mas agora o encarando e com o coração palpitando, sentindo sensações parecidas de quando fui sequestrada

   Megan ergueu a cabeça, encarou Jones com ódio por um instante, apontou para fora e ele saiu, nos deixando novamente a sós. Por um momento, eu achei que ele iria atirar em mim.

   De repente Megan sorriu como os vilões dos filmes e eu gelei. Ela se levantou parecendo recuperada de sua dor e apertou a algema em sua mão.

   Ela só teria o seu desejo realizado se me prendesse ou abaixo de ameaça, porque era assim que ela era.

— Stella! — chamou por mim e cessou o seu sorriso maléfico.

   Não respondi, apenas observei ela, imaginando coisas ruins que ela poderia fazer comigo.

— Eu sou o seu presente de aniversário, chiquita.

— Eu não sou nenhuma garotinha e você não é o meu presente! — a confrontei.

— Sou e serei por muito tempo. — e a malícia tomou conta de seu rosto. Ela girou a algema nos dedos indicador e médio, enquanto me analisava dos pés a cabeça, como uma pervertida.

   Abaixei o olhar e os meus cachos cobriram o meu rosto por completo, enquanto eu olhava para os meus pés descalços.

— Stella?

   Não lhe dei importância, permaneci cabisbaixa, pensativa e com a respiração descompensada.

— Você é uma garota rebelde e eu sempre soube e foi isso que chamou a minha atenção.

   Escutei os passos dela no piso, ela caminhava no quarto.

— Há um ano atrás, eu tive o prazer de te ver pela primeira vez por meio de fotos, fotos que o seu pai me entregou — meu coração apertou, era impossível acreditar na merda que o meu pai fez, me vendendo como se eu não representasse nenhum valor em sua vida.

   Tudo fazia sentido, a última vez que ele esteve presente em minha vida, fora no meu aniversário de 17 anos, onde ele disse que viajaria para a Espanha, devido a um emprego, mas tudo não passou de uma grande mentira.

— Depois de um mês olhando e olhando você nas fotos, eu comecei a te desejar, mesmo tendo uma mulher ao meu lado... então aceitei o que o seu pai me ofereceu e em troca da dívida, ele se responsabilizou em me dar você. Eu posso ser uma pessoa ruim realmente... eu estava agora pouco surrando um miserável, mas isso não vem ao caso agora — quis olhar para a frieza dela que transbordava através de suas palavras, mas não consegui — Eu carrego um grande império em minhas costas, império esse que quase me fez perder a vida. Se eu pudesse, eu mudaria o meu estilo de vida, mas eu não posso. Sou a única herdeira e os meus pais me deixaram responsável por tudo. Se eu tivesse um irmão, com certeza eu teria seguido a minha vida como aventureira... Me encanta la adrenalina.

   Aventureira?

   Senti sua mão inesperada erguendo o meu pescoço e encarei os seus olhos e ali, senti borboletas no estômago.

   Nos olhamos e eu resolvi perguntar:

— Você é uma gângster?

   E Megan sorriu, me empurrando contra a parede mais próxima.

— Não, mas tenho inimigos e é por isso que tenho tantos seguranças e guarda costas.

   Sua boca estava bem próxima, mas eu encarava somente os seus olhos acima, enquanto ela começou a descer a mão pelo meu pescoço, ombro e braço. Parou no meu pulso e segurou fortemente, onde algemou ligeiramente e colocou o mesmo para trás, juntamente com a minha outra mão ainda solta. E em meio a isso, eu não pude fazer nada para impedir.

— Agora decida como vai se entregar a mim e se tornar mi mujer. — ela disse, enterrando a boca no meu pescoço e me prendendo na parede com o peso do seu corpo.

— Você é uma pessoa ruim... — murmurei e seus lábios, como também a sua língua, umedeceram o meu pescoço em beijos que não pude evitar sentir, mesmo tentando me afastar — então se é mesmo como diz ser... decida você, sua desgraçada do caralho!

— Continua! — disse e meu outro pulso foi envolvido pela algema, me deixando totalmente presa — me encanta tua forma de me insultar, com essa sua boca suja... sempre imaginei você assim, totalmente indefesa em meus braços.

— Bastarda!

   Ela sorriu presunçosa e...

— Deixe-me ver uma coisa, Stella — ela disse e desceu a mão para dentro da minha calcinha, onde me tocou e me massageou — sua boca mente, mas o seu corpo te entrega. Você me quer!

   Eu não tive argumentos, eu sempre tive um corpo traidor.

— Você só precisa relaxar... — soprou as palavras na minha boca — e verá que pode se tornar a mulher mais amada do mundo.

— Quero ser amada... mas não por quem me comprou como se eu fosse uma bijuteria!

— Realmente... você vale muito mais e eu estou disposta a pagar.

— Não!

   Megan trincou o maxilar e me entregou um olhar carnívoro.

— Está bem... você decidiu! Agora arque com as consequências — se afastou e foi pegar a regata do chão. Vestiu enquanto me encarava, agora possuindo um olhar demoníaco e chamou por Jones.

   Senti de imediato com apenas aquele olhar, que ela estava com intenções ruins. Era amedrontador seu jeito. O meu coração apertou.

   Jones entrou, onde deixou a porta entreaberta, então me olhou e vi espanto em seus olhos. Por seu olhar, ele obviamente já sabia o que o futuro me reservava.

— Armstrong? — disse de uma forma repelida.

— O senhor D' Angelo foi a escolha da minha esposa — ela disse apontando para mim, como se eu fosse um animal abandonado, enquanto que eu nem imaginava o que estava prestes a acontecer. Jones me olhou com dó.

— Eu...

— Cale-se! — ela ordenou e eu me calei, totalmente envergonhada.

— E o que eu devo fazer?

— Traga... — houve uma breve brecha de silêncio — traga a cabeça do pai dela e lhe dê de presente!

   Meu coração se derreteu em desespero...

— Mas... Armstrong?...

— Faça o que eu ordenei!

— Não Megan! — pedi já chorosa, imaginando toda a cena que envolvia o meu pai. — por favor — e me aproximei, caindo de joelhos aos pés dela, que acabou se afastando de mim, como se eu fosse nada.

— O seu pai merece morrer pelo que fez com você!

— Megan... por favor? — pedi olhando em seus olhos, ignorando o olhar de preocupação de Jones.

— Não!

— Por favor... Armstrong?

   O olhar de Megan mudou drasticamente...

— Aguarde lá fora até segunda ordem! — ela ordenou para Jones e o mesmo saiu fechando a porta.

   Megan andou ao redor de mim e eu não pude olhar mais para ela, eu estava fraca, sem esperança.

   Ela de repente me puxou pelo antebraço e me ergueu. Tirou as algemas dos meus pulsos, o que ajudou a aliviar a dor em meus ombros por ter estado por algum tempo para trás, e acariciou o meu rosto, como também os meus lábios possuindo um olhar de extremo desejo.

   Sua carícia me fez recordar do mesmo toque que eu recebia da minha agora ex-namorada. Carícias parecidas, toques parecidos, mas não eram a mesma pessoa. Mesmo depois de ser traída, eu ainda sentia algo por Ariana, saudade de vê-la, saudade de tocá-la, mas eu deveria esquecê-la, ela me magoou e feriu os meus sentimentos. Namorei com Ariana por mais de cinco meses então um sentimento ainda vivia presente em mim.

   Megan parou e me levou para a cama, onde me sentou e ficou me olhando de cima com malícia. Contra a minha vontade, ela iria fazer o que quisesse comigo, e eu “ aceitaria ” tristemente, com o único propósito de salvar a vida do meu pai, mesmo ele tendo errado, errado muito.

   Megan me levantou e foi tirando o meu vestido lentamente pelos meus braços e o jogou para qualquer lado. Somente de calcinha e sutiã, observei seus olhos e suas mãos me percorrendo por inteira e senti arrepios, mas eram arrepios de medo.

   Ela roçou os lábios no canto de minha boca e foi descendo e a sua língua acompanhou, e enquanto ela fazia aquilo, eu mantive o rosto virado, não queria ver no que aquilo acabaria. Eu comecei a chorar silenciosamente quando abri sua boca próxima do meu umbigo, aquele ponto onde ela ficou lambendo por um momento. Daí descendo e descendo lentamente e ela se ajoelhou.

   Megan tocou minha cintura, minha bunda e depositou um beijo no interior de minhas coxas, o que me arrepiou por inteira.

   De repente ela se levantou e virou o meu rosto para encará-la e viu o quanto o meu rosto estava molhado pelas minhas lágrimas.

   Megan tornou o olhar baixo e um silêncio tomou o quarto.

   O que ela estava pensando?

   Talvez se aquilo estava me torturando?

   Agora eu só queria que ela acabasse o que começou e sentisse o prazer com a minha angústia.

— Stella? — disse e encarou os meus olhos.

— Sim? — disse fracamente.

— Eu sou uma pessoa ruim, mas não a ponto de obrigar uma mulher a ter relações comigo.

   Por acaso ela só tentou me amedrontar todo esse tempo?

   Me tomei por surpresa porque as suas palavras foram capazes de tirar uma grande angústia, como também um grande medo do meu interior.

— O que quer dizer, Armstrong?

— Você é a minha esposa sim, mas eu não posso obrigá-la a ser a minha mulher. Eu te desejo como nunca desejei algo, mas eu não quero que você chore... eu só quero...

— Se não quer me ver chorando, então... deixe-me voltar para a minha vida de antes... eu era feliz! — pedi fracamente.

— Não!...

...

— Você agora pertence ao meu lar. Você me pertence!

   Pensou...

— E é melhor você esquecer a sua vidinha inútil... você jamais vai sair daqui!

— Megan... por favor... me deixe ir? — implorei com um nó na garganta.

— Já disse que não! Acostume-se a viver aqui — brigou e saiu do quarto, me deixando ali, com lágrimas.

   Ali sozinha, eu chorei novamente.

   Aquele foi o pior dia da minha vida, o dia que eu mais desejei comemorar.

   E os sorrisos que deveriam representar a minha felicidade, se transformaram em lágrimas angustiantes.

Mais populares

Comments

Clesiane Paulino

Clesiane Paulino

tadinha da Stella 😢

2024-03-24

1

Elizabete Silva Alves

Elizabete Silva Alves

Tá ficando Boa A história

2023-10-22

3

Maria Do Carmo Andrade

Maria Do Carmo Andrade

a história esta emocionante

2023-08-29

2

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!