CAPÍTULO 5

Dormi e acordei, e tive a felicidade de não vê-la ali deitada ao meu lado, se eu pudesse, eu não a veria nunca mais.

   No quarto, pela primeira vez, não havia nenhum segurança e eu agradeci aos céus por não ter que ver aqueles rostos insignificantes e enjoativos.

   Me levantei e em uma tentativa inútil, fui até a porta, girei a maçaneta e a porta estava destrancada. Me animei apenas por um segundo, porque logo ouvi vozes de zoação de James e Jones do outro lado, eles estavam zoando um ao outro, como se fossem dois adolescentes inúteis.

   Voltei para a cama e me encolhi em minha solidão. Respirei fundo e dei uma olhada rápida na mesa de cabeceira. Não era nenhum móvel significativo, mas prendeu a minha atenção por um instante. Fora dela, que Megan tirou as algemas que me fizeram cativa por um momento, um momento perturbador.

   Abri a gaveta e me deparei com um celular. Meu coração saltou de surpresa e eu o agarrei em minhas mãos, com pressa. Com aquele aparelho eu poderia fazer uma ligação.

   Tentei ligar o celular, mas o mesmo não deu nenhum sinal. Óbvio. Nenhum aparelho comunicável ela deixaria ao meu dispor. Joguei na gaveta aborrecida e fui para a janela, empurrei a cortina e quando olhei para o jardim, vi Mercier do outro lado do jardim com um revólver em punho, mirando para um ponto.

   Me arrepiei e tomei um susto quando um tiro foi disparado por Mercier e o mesmo sorria se gabando, possivelmente tinha acertado o alvo.

   De repente vi Megan surgir ao lado dele, também com um revólver. Observei a sua postura ereta e um pouco sexy e o seu maxilar erguido, estava de regata cinza e de jeans branca. O seu sorriso era largo para Mercier, totalmente o oposto do maléfico que me deu na noite passada. Ela parecia possuir várias personalidades e aquela dela que eu estava vendo, era uma que eu não esperava ver. Eu não tinha a capacidade de esperar que ela agisse ou fosse gentil comigo.

   Eu estava ali contra a minha vontade.

   Bateram na porta, como se fossem três socos de mão fechada seguidos e eu me assustei, corri para a cama e me sentei e um segundo depois, James o barbudo ruivo de olhos azuis claros surgiu, já dizendo, sem expressão...

— Bom dia, senhorita Armstrong.

   Ignorei todas as suas palavras e principalmente aquele sobrenome que insistiam em usar ao se referir a mim.

— Como ordem de Armstrong, levarei a senhorita para tomar o café da manhã ao ar livre. Em uma hora venho buscá-la.

— Não venha... eu não vou pra lugar algum!

— Então morrerá de fome!

— O que? — me levantei furiosa e fui em sua direção, mas ele puxou os dois lados da porta na minha cara.

   Por ordem de Megan, aquela escrota.

   Agora teria de fazer as minhas refeições ao lado dela, certamente porque eu não iria ficar sem me alimentar e “ morrer de fome ”, palavras de James ou de Megan.

   Sem tanta pressa, entrei no banheiro e me enfiei embaixo da água quente do chuveiro, depois de enrolar os meus cachos em um coque e tirar a minha vestimenta.

   Embaixo do chuveiro era um bom lugar para pensar em tudo, mas o que insistia em me perturbar vinha de minuto em minuto para atormentar a minha mente.

   Como o meu pai pôde me vender e assinar um documento onde me tornava a esposa de uma mulher? Como pôde papai?

   Mamãe jamais permitiria se estivesse viva e muito menos a minha tia Geórgia — que com certeza estava muito preocupada pelo meu sumiço —. Obviamente já teria ido na delegacia informar as autoridades sobre o meu desaparecimento, e agora, ela estava sozinha vivendo solitária naquele apartamento no Brooklyn.

   Fechei os olhos para lavar o meu rosto e depois de fazê-lo, senti braços me abraçando por trás, juntando meu corpo nú a outro, eu sabia que era ela somente pelo cheiro do seu perfume. Ela se aproveitou daquilo e agora já tinha me visto totalmente nua.

   Não fiz nada, mas o meu coração começou a acelerar gradativamente quando uma de suas mãos espalmou aberta em minha barriga e o seu nariz tocou a minha orelha. Sua mão deslizou em minha barriga e se aproximou da minha boceta, de uma maneira nervosa e eu comecei a pensar nas palavras que saíram da boca dela na noite passada, onde disse que não obrigava nenhuma mulher a ter relações com ela, mas daquela forma que nos víamos naquele banheiro, mostrava claramente que ela era uma mentirosa da pior qualidade.

   Sua mão deslizou para cima dando pequenos apertos e eu apenas continuei imóvel, sentindo a sua respiração em minha orelha. Sua mão chegou na altura dos meus seios e um de seus dedos começou a circular o meu mamilo, onde tive a certeza de que o meu corpo era o meu maior traidor. Eu comecei a ceder a aquele prazer, mas eu não podia, eu não queria sentir aquilo, não com ela me tocando. Eu não podia deixar ela vencer.

   Ela apertou o meu seio e eu tremi e uma onda saliente desceu até o meu ventre, o que me fez perder o controle das minhas pernas por um momento, no entanto, o sorriso dela e a sua força em me manter de pé, não me deixaram cair. Ela estava gostando daquilo, ela estava provocando.

— Sentiu o que eu posso te dar? Posso te dar um prazer que você nunca sentiu.

   Permaneci calada, mas sentindo aquelas sensações que eu não queria sentir, eu não queria.

— Cumpra o seu papel para com a sua esposa, Stella... não me deixe só no desejo — disse e deslizou a mão para a minha bunda, onde apertou e me fez suspirar, aquele suspiro filho da puta, que ela certamente escutou — posso te fazer suspirar assim muitas vezes... é só dizer sim ou não.

   Não!

— Você é perfeitamente linda... — sussurrou na minha orelha e eu me segurei — você tem uma pele maravilhosa, merecedora de mordidas... deixa eu...

— Não! — enfim falei o que estava instalado na minha garganta.

   Houve um silêncio e ela suspirou fundo, onde desligou o chuveiro, mas continuou ali comigo em seus braços.

— Quero que aceite as minhas desculpas e...

— Jamais!

— E comecemos novamente.

— Não!

— Certo, então eu vou...

— Está bem — cedi, já imaginando o que ela poderia causar ao meu pai. Peguei sua mão e a coloquei no meio das minhas pernas, envolvida pelo breve desespero — faça o que quiser.

— Por que você fez isso, Stella? — pareceu surpresa.

— Porque senão você vai mandar matar o meu pai.

— Eu já disse que não obrigo nenhuma mulher a ter relações comigo, Stella!

— Mas você vai matar o meu pai.

  Megan tirou a mão e me abraçou carinhosamente e eu não pude evitar sentir um estranho sentimento vindo dela.

— O seu pai merece morrer! — falou claramente e com dureza.

— Não o machuque... por favor — implorei encolhida.

— Merece morrer por ter te vendido por míseros dólares.

   Houve um silêncio...

— Mesmo depois do que ele fez... você ainda o ama?

— Sim... ele é o meu pai e mesmo ele tendo feito algo tão desprezível, eu nunca vou deixar de amar ele.

— Vejo que realmente o ama.

— Sim!

   Nos calamos e ela continuou ali me abraçando e me fazendo sentir a sua respiração, como também o calor do seu corpo. Imaginei brevemente que aquele assunto sobre amor já tinha chegado longe demais.

— Você o perdoaria se ele te pedisse o perdão?

— É... — pensei...

   O que o meu pai fez era imperdoável.

— Por que essa pergunta?

— Só me responda!

— Prefiro não responder... ainda preciso pensar sobre tudo.

— Ok. — ela disse e tirou os seus braços de mim.

   Senti que ela se afastou e me virei para encará-la e não, ela se afastou, porém próxima ao box do banheiro.

    Vi quase toda a sua nudez, suas costas, seus ombros, suas pernas, coxas e sua bunda, e os seus cabelos estavam amarrados em um coque, ela era uma linda mulher.

— Isso que você está olhando pode ser todo seu.

   Abaixei o rosto e cruzei os braços, escondendo a nudez dos meus seios. O que ela disse me arrepiou.

— Se estiver disposta, pode tê-lo agora... só diga sim ou não.

   Engoli em seco...

— Sim ou não, Stella?

— Não!

   E enfim ela se foi, me deixando ali, porém, pensativa.

   Um momento depois...

— A senhorita pode seguir este corredor e lá no fim, encontrará a piscina. Armstrong à espera lá. — disse James, enquanto caminhavamos por um piso negro e rodeados por paredes brancas.

   Me vesti com um vestido vermelho e acima dos joelhos que encontrei no closet, e soltei os meus cachos, uma sandália em meus pés e uma fome monstra judiando do meu estômago.

— E por que você não me leva até lá?

— Porque não é necessário e também porque a senhorita deve conhecer todos os lugares da mansão, já que vai passar muito tempo aqui... creio que não vai querer um homem como eu a perseguindo como se fosse uma ladrona.

— E o que a sua chefe fala sobre isso?

— Tudo o que acabou de ouvir foi o que Armstrong me mandou falar.

— Você é um inútil.

— E estou muito bem com isso, senhorita Armstrong.

— Não me chame de senhorita Armstrong... eu sou Stella D' Angelo!

— Só sigo ordens de Armstrong.

— Foda-se James!

— Siga em frente e vire à esquerda — disse ele e parou.

   Parei e o encarei por um segundo. Ele não iria mesmo me acompanhar, era até melhor estar sozinha. Então segui em frente...

   Seria um milagre poder caminhar por toda a mansão sem um brutamonte me seguindo. Mas eu queria mesmo era ir embora dali.

   Segui, segui e segui e no final, encontrei Megan juntamente com uma outra mulher muito bonita. Dei passos para trás para que elas não me vissem e acabei escutando tudo. Megan estava empurrando a mulher na parede e sua mão estava bem ocupada por dentro do vestido da mulher, que lutava entre suspiros para não gemer enquanto sua boca estava tomada pelos lábios de Megan. Ouvi estalos e gemidos abafados.

   Megan armou tudo para que eu visse e escutasse?

   Eu tinha certeza.

   Ouvi tudo, ouvi todo o barulho daquela perversão no meio do corredor, até que a voz de Armstrong foi ouvida.

— Obrigada por isso, Lola — ela disse e parecia ofegante — e como das outras vezes... guarde isso que aconteceu só pra você.

— Ok. — a voz baixa de Lola estava abafada, ela ainda se recuperava do momento comprometedor que teve com Megan — e não me agradeça, Armstrong, é sempre um prazer sentir você.

   Chocante.

— Perfeito. Agora sirva o café da manhã, está bem?

— Como desejar, Armstrong. Com licença... em alguns minutos servirei o café da manhã.

— Se recupere, não tenha pressa. — Megan demonstrou preocupação e aquilo me intrigou.

  Houve um silêncio após um barulho de lábios se tocando, como em um beijo de despedida e logo ouvi passos vindo em minha direção.

   Tive que pensar em algo para não parecer que eu estava ouvindo, então quando a tal de Lola virou o corredor da parede, eu tropecei de propósito nela, que tombou um pouco, mas não caímos e no momento do nosso atrito, eu senti o cheiro do perfume de Megan exalando dela e a dona daquele cheiro não estava mais presente.

— Me desculpe, senhorita Armstrong — ela pediu um tanto repelida. Ela ainda ofegava buscando lugares para onde olhar. Ela estava um pouco constrangida.

— Não se desculpe, eu que fui a distraída.

— Mas senhorita...

— Já disse para não se preocupar... onde está a sua chefe, já estou procurando ela há algum tempo.

— É... é... eu acho que poderá encontrá-la na piscina.

— Ah... então devo seguir por aqui? — apontei para o corredor onde elas estavam transando.

— Exato.

— Gracias — e segui porque não me agradou nada olhar para a situação dela.

“ Obrigada ”

   Pude ver nos olhos de Lola o seu nervosismo. E pelo que entendi de toda a conversa que ambas tiveram, ela e Megan já tinham feito aquilo várias vezes.

   Cheguei enfim na piscina, onde senti o calor do sol quando tocou o meu rosto. Aquele calor era necessitado por mim a dias, meu coração esquentou e eu pude sorrir.

   Depois daquele momento, eu avistei Megan sentada à mesa no jardim tomando um suco que parecia ser de laranja.

   Como eu iria olhar para ela depois de vê-la no corredor fodendo a empregada? Bem, resolvido. Eu não iria olhar para ela, só comeria e voltaria para o quarto, como se não tivesse visto nada.

   Fui em sua direção e quando parei ao lado dela, seus olhos subiram desde as minhas coxas até o meu rosto. Via-se desejo em seus olhos, mas não, aquele olhar não me afetaria.

— Buenos días... esposa?

“ Bom dia... esposa ”

   Me sentei à mesa do outro lado e ela me ofereceu o seu suco, o qual eu recusei. Não troquei palavras com ela, nem mesmo o famoso “ Bom dia ”. E não a olhei, encarei os seguranças e eles me olhavam com sorrisos inapropriados.

   Momentos antes de vê-la ali com a empregada, ela estava lá no meu pé querendo me tocar, mas como a rejeitei, ela conseguiu matar a sua tesão e o seu desejo da forma mais fácil.

— Pedi para Lola preparar biscoitos, frutas e suco para você e também ovos e bacon.

   Apenas assenti.

— Coma bem... não fique com fome por não gostar de mim. O que pedi para ela preparar, é tudo do meu mais bom gosto.

— Já sei que você tem um apetite bem diversificado — falei e a encarei, não conseguindo manter os meus olhares para os seguranças e ela não escondeu a perversão no seu olhar.

— Apetite para muitas coisas, mas... o que eu mais desejo comer, não está pronto para ser servido.

   Megan referiu-se a mim, obviamente e eu não me afetei.

— Stella... — nos olhamos — a partir de hoje comeremos juntas, café da manhã, almoço, lanche da tarde e o jantar.

— Senão vou morrer de fome? — retruquei e ela sorriu ironicamente.

— E você poderá conhecer os lugares da mansão, mas não quero você na cozinha... lá tem facas e eu não desejo ser esfaqueada novamente por uma mulher. — disse ela, seriamente.

— A cozinha e nada nessa mansão me interessa, o que me interessa é o amor da minha tia, a minha cama, e os meus amigos!

— Umm.

   Megan não demonstrou expressão, ela voltou a tomar o suco, porém mantendo o seu olhar sobre mim. Era como se tudo o que eu dizia não lhe importava.

   Talvez seria interessante jogar o mesmo jogo.

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