Queda Livre

Eu analisei os vinte e cinco degraus da escada e dei um suspiro. É o jeito, né? Fechei os olhos e abri um dando uma espiada. Não. Eu… não consigo. Não consigo. Que ideia idiota. Quem em sã consciência se jogaria de uma escada alta dessas? 

Contudo, tenho outra alternativa para me livrar dessa criança sem conseguir a vingança do demônio? 

É preciso que seja arriscado e ponha minha vida em risco também para que eu seja vista como a vítima

 

Dane-se. Lá vou eu. Adeus sanguessugas nojentos e manipuladores. Caso eu morra, foi um prazer poder lutar pelo menos um pouco por Evangelina. 

 É morrer  ou ficar presa para sempre nessa família com o anticristo versão feminina crescendo em mim e sugando minha essência vital e magia. Eu preciso me libertar. 

— Deus se o Senhor existir… me ajuda. Quer dizer, qualquer coisa que existir dentro dessa casa e odiar aquele demônio e aquela bruxa vadia que causou só desgraças nessa casa… me ajuda a sobreviver e a perder essa coisa crescendo em mim. Por favor. Por favor! 

Fechei os olhos e pisei em falso. Escutei o baque do meu próprio corpo rolando várias vezes. 

 Senti meu corpo rolando escada abaixo e a dor foi excruciante. Nada escapou ileso. Me ralei inteira e senti as feridas se abrindo. Quebrei algumas coisas com toda certeza. Gritei de agonia pura e foi um guincho de um porco que sabe que vai pro abate.  Acho que quebrei a perna, as costelas e a coluna  Seja o que for… eu sinto que vou morrer ou ficar paraplégica. E isso não acontecer é porque realmente tem algo maior do meu lado.

Abri e fechei os olhos já no chão sentindo que bati a cabeça e havia aberto uma ferida nela e aos poucos estava inundada numa poça de sangue. Murmurei um pedido de ajuda abrindo e fechando os lábios . Perdi a consciência por um tempo. Acordei da letargia e torpor  com gritos assustados de Elizabeth que soaram bem reais para quem tinha combinado tudo comigo e com os gritos de Grace. 

— Meu Deus! Acudam ela. Socorro!

Elas gritaram pelo jardineiro e pelos homens que trabalhavam na cozinha para me acudir.

….

Abri os olhos com a claridade  do hospital com paredes brancas de azulejos, lâmpadas com a luz laranja horrenda alimentadas com energia elétrica que era algo novo para a época que se passa o livro. 

 E notei que entre minhas pernas estava sujo de sangue com sinistra e mórbida felicidade. É macabro estar feliz por ter hemorragia interna, eu sei,  mas é que cientificamente  um feto não sobreviveria a isso. Nem mesmo uma filha do diabo. 

Elizabeth estava no quarto particular me olhando como se surpresa por algo. O médico entrou na sala junto a Grace. 

Ele me estudou parecendo pensar na melhor forma de informar algo: 

— No exame do toque… Notei que a senhora estava grávida. Sofreu uma hemorragia.  Infelizmente o feto não sobreviveu. Era minúsculo ainda, um grão de mostarda. Eu o guardei para pesquisas. Mas se o quiser…

Respirei fundo. 

Deixei lágrimas virem aos meus olhos para Grace não desconfiar de que foi de propósito. Ela acha que é só ela que sabe manipular? Posso não ser inteligente como a real Lina. Mas quando se trata de manipular eu sou a filha que ficava calada e assistia meus irmãos e meus pais tentarem impor sua vontade sobre mim. Fingia realizar, mas só fazia o que beneficiava a mim mesma os fazendo acreditar que era submissa. 

Grace parecia sem ar e fala. Ela começou a dizer: 

— Preciso avisar Thomas. Ele precisa voltar para casa e…

Se ela chamar ele, eu vou ter risco de transar de novo porque não posso começar a negar sexo do nada  e posso ter risco de engravidar. Não quero isso. Parece que é exatamente isso que ela quer. 

— Grace, não. — Pedi tentando soar delicada e agitada. — Eu… não saberia como contar a ele isso. Eu….— Solucei fingindo estar atordoada. — Ele nunca vai me perdoar por perder nosso filho.

— Oh querida. — Falou ela acariciando minhas costas. — Sempre podem ter mais  filhos. Ainda é jovem. Tudo bem, não vou contar.

Troquei um olhar com Elizabeth. 

— A senhora terá alta em duas semanas. Houve contusão na cabeça, quebrou duas costelas e fraturou o osso da perna. — Informou o médico. — Mas só uma de vocês pode ficar com minha paciente. — O médico informou mirando Grace e Elizabeth. — Decidam. A pessoa que vai ficar, ficará todos os dias até ela ter alta para que não haja doenças sendo trazidas de fora.

— Eu sou mais nova. Ela requer muitos cuidados nessa situação. Eu cuido dela. — Informou Elizabeth a Grace. — Vá para casa, Grace. Cuidarei bem dela. Eu entendo essa perda. Vá para casa e descanse. — Disse Elizabeth como um anjo. 

E beijou Grace no rosto muito amável. Mas é uma máscara. 

Grace assentiu ainda parecendo abalada. Essa vadia imunda usando Evangelina para se livrar da maldição. Respirei fundo. É preciso ter sangue de barata para não dar na cara dela. 

Grace se retirou junto ao médico. 

Confrontei a loira que se sentou na poltrona ao lado da cama. 

— Eu vou te pagar. — Murmurei para Elizabeth. 

— Não. Eu não tive que pagar o médico. Você perdeu mesmo a coisa. 

— Verdade? — Perguntei feliz.

— A queda foi feia, Evangelina . Estou surpresa de você estar viva. Não achei que fosse se jogar bem do topo da escada. 

— Tinha que parecer o mais realista possível. 

— Acredite foi bem realista. Até agora estou assustada. — Comentou massageando as temporas. — Mas o importante é que Grace acreditou. E que você é dura na queda.

— Estou livre pelo menos por enquanto— A informei. — Obrigada. 

Ela respirou fundo. 

— Daniel Montgomery me pediu em casamento no baile da Lillyanna. Eu não vou informar a ninguém da família, mas vou aceitar. — Confessou ela. — Quais os seus planos? 

— divórcio? — Testei. 

— Você se escuta falando? — Falou ela exasperada. — Uma mulher divorciada viraria pária para esse mundo. E acha que Thomas obcecado como é por você vai te deixar ir assim? 

— O que sugere que eu faça? 

— Forje sua morte. — Sugeriu ela. arregalei os olhos. — Era o que Ivan e eu íamos fazer para fugir dessa família amaldiçoada por Deus. Eu amei mesmo ele. 

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