Quando adentrei novamente o aposento como tínhamos combinado, Thomas estava com uma camisa de botões preta de seda com detalhes dourados de bordados de flores bonitos,uma calça de seda preta de pijama e pantufas.
Eu usava uma simplória camisola escura e segurava um candelabro com um toco de vela que depositei sobre a mesa de cabeceira do quarto já iluminado e apaguei a vela que não era mais necessária.
Thomas está pensativo, sentado sobre a cama com novos lençóis. E os criados haviam também trocado as cortinas de marrom para cinza. As lamparinas todas acesas, mas o lustre não. Sua expressão era descontraída e relaxada. Havia se banhado. O cabelo ainda estava para trás e molhado.
— A febre passou, esposa. — Informou com vigor visivelmente renovado após o banho
Ah, ótimo. Isso é bom. Não tenho motivos para ficar aqui se a criança em questão não tem mais febre.
— Imagino que estou dispensada, marido.
Ele me estudou por um tempo.
— Dormirá comigo. — Informou sem me dar escolha.
— Gosto de ter uma cama de casal só para mim. Me mexo muito a noite. — Protestei.
— Minha mãe disse que os criados estão criando rumores sobre a nova patroa deles dormir no quarto de hóspedes. — Justificou a solicitação. — Falou que foi por isso que se viu obrigada a enviar Elizabeth para os pais como uma mercadoria com defeito causadora de tal furor. Os criados comentam que rejeito você em prol dela. — Resmungou. — Mamãe prometeu que a traria de volta, mas que era para nós dois nos resolvermos e dormimos juntos primeiro para evitar falatórios torpes.
— Eu encontrei a vossa mãe na vinda para cá e ela não comentou nada a respeito disso comigo. — Reclamei, mas suspirei.
— Com todo respeito, a senhora não é a filha dela como ela considera Elizabeth. E muito menos a deu abertura para ela conversar sobre tais assuntos consigo. A senhora é emocionalmente distante, minha mãe é uma mulher sensível e notou isso. — Me notificou ele parecendo chateado.
— Certo. — Concordo.
Pessoas ricas sempre me irritaram. Mesmo que não fossem de fato ruins, eu as odiava porque meu pai nos deixava passar fome para parecer elegante para elas. Ele me tratava como uma reles criada, mas para a sociedade éramos felizes e ricos.
Resmunguei algo do tipo:
— Se é assim… Afinal, o senhor pagou um bom preço por uma esposa…
Thomas me estudou.
— Sim, paguei.
Esse fedelho inconsequente. Argh! Me pergunto quando o demônio dos Bloodmoon o possuirá novamente. Honestamente, até o demônio da maldição é mais humilde que esse garoto.
— Evangeline… — Começou Thomas, transtornado, passando a mão pelo cabelo dele quase arrancando os fios lisos e macios. Ele me mirou com os olhos azuis arregalados e quase chorosos. — Antes que eu desmaiasse hoje… Eu fiz ou falei algo estranho? Tem vezes que olho meu reflexo no espelho e não me reconheço. Eu… — Ele suspirou. — Estou com medo.
Ah, se ele soubesse da presença sombria e irresistível que habita seu corpo. Respiro fundo. Eu gosto mesmo do demônio. O fato de que ele protegeu Nott, a bruxa, e se vingou de toda uma dinastia por ela me excita e comove.
— Não percebi nada. — Me fiz de desentendida.
Thomas suspirou, fazendo careta como se tentasse recordar.
— Se tem tido momentos de dissociação e de não recordar certos períodos de tempo deveria procurar um desses médicos da cabeça. — Sugeri me fingindo de inocente. — Não acha? Seria o certo
— Talvez esteja certa. — Resmungou ele acatando a sugestão.
Ele se levantou da cama de mogno e com dossel. A colcha vermelha sangue e um detalhe dragão bordado na colcha. Thomas veio até mim como se buscasse consolo. Parou na minha frente. Eu dou em seu peito. Ele engoliu em seco, segurou meu queixo e selou os lábios nos meus.
Estremeci um pouco.
— Eu tenho um presente para a senhora.
— Ah… certo. — Consegui formular.
Isso foi agradável e surpreendente.
Ele tirou do bolso da calça do pijama uma estranha pulseira de prata com vários pingentes com símbolos usados por ocultistas e uma cruz que foi o único o qual eu reconhecia o significado.
— É forjada em prata e sal grosso.— Explicou colocando no meu pulso direito rápido como se o queimasse e o mais estranho é que notei mesmo a mão dele vermelha.
— O que é essa pulseira? Não me parece uma mera jóia. — Constatei a avaliando em meu pulso.
Respondeu:
— Foi forjada por um padre exorcista em água benta e fogo santo, banhada no sangue de um sacrifício feito a Cristo. Dizem que afasta demônios, vampiros e fantasmas. Os pingentes… o de cruz acho que não preciso explicar.
Notei que ele mantinha uma distância segura da pulseira.
— Mas este é um pentagrama…— Apontou com o dedo distante do pingente. — Apesar de alguns dizerem ser um símbolo que os ocultistas usam para invocar demônios… é para proteção. E esse aqui é a estrela de Davi. Não somos judeus, mas a estreia de Davi é eficaz como amuleto mágico. Esse pingente é o triskelion… é um símbolo de proteção de bruxas pagãs que invoca a sabedoria e o poder da deusa tríplice, proteção nunca é demais. E esse aqui é uma runa nórdica de proteção chamada Algiz.
— Marido…
Por acaso ele está tentando me proteger? Que mudança foi essa do nada?
— Eu comprei de uma cigana após a morte de Ivan. — Segredou e os olhos desesperados dele encontraram os meus. — Se ela contou a história do padre e dos pingentes para me vender a maldita pulseira porque eu parecia medroso e tentado a acreditar em qualquer coisa, bem, não sei, — riu ele— mas comprei porque estava desesperado… só que eu nunca usei, acho que tenho alergia a ela. Quando coloco queima minha pele. Quero que fique com ela. Amanhã mamãe vai trazer um padre para benzer essa casa e nos dar sua benção.
Ofeguei.
Algo dentro de mim perdeu o controle e eu o beijei e arranquei sua camisa, estourando os botões, acariciando seu peitoral com suaves músculos.
Thomas recebeu o beijo, surpreso, mas permitiu e correspondeu. Ele mordeu meu lábio arrancando sangue. Por que sempre sangue?
Ele me jogou contra a parede e mordeu meu pescoço como se quisesse rasgar minha pele e era animalesco. Senti suas mãos subirem minha camisola, desesperado, expondo minhas coxas e senti sua dura espada de carne deliciosa armada contra mim.
— Inferno, esposa… Tem ideia do quão quente e aconchegante é dentro de você?
Os olhos dele encontraram os meus sedentos.
Meu belo menino descobriu seus desejos. E o gelo dos olhos dele derreteu dando lugar ao mar da luxúria que se formava no azul lindo de seus olhos. Um olhar tão forte que penetrou em minha alma e chegou ao corpo me fazendo estremecer e me desarmar por inteiro da defesa que tinha pelo abuso que sofri. Era como se eu estivesse numa praia deserta e contemplasse o próprio mar em fúria e sempre achei o mar lindo. E eu queria me banhar e me entregar a esse mar.
— Seja só um pouco mais gentil dessa vez e tente se segurar mais. Para nós dois ficarmos saciados. — Pedi.
— Desculpa, eu… Estava com muita vontade naquele momento, só pensei em mim.
— Tudo bem. Não foi tão ruim depois que parou de agir como uma besta.— Admiti sem sentir que Deus me odiava agora.
Thomas sorriu gargalhando tímido para mim, escondendo o rosto em meu pescoço e me peguei acariciando seu cabelo macio, correspondendo seu sorriso com um pequeno.
Estranho. Eu nunca sorria em sentir Nicolas duro por mim. Eu me sentia suja e que devia morrer. Mas Thomas me abraçou e eu o abracei e começamos a beijar nossa pele ardente.
Senti seus dedos em meu cabelo, acariciando meu couro como eu ensinei e ele o puxou e foi firme no beijo. Hm… Ele aprende rápido o que eu gosto. Sua outra mão macia em minha cintura por baixo da camisola, encaixando nossas pélvis e me ajustando a sua aspereza em meu estômago.
— Assim?
— É. — Concordei. — Coloque dentro de mim devagar, marido.
— Hm… Gosta quando sou gentil?
— Sim. Mas podemos ser bestiais também. Deixa eu só me acostumar a você dentro de mim.
— Certo, esposa… Eu serei gentil.
Mas algo mudou no toque cruel e aquecedor que se tornou um pálido carinho gélido. Na própria atmosfera em si que ficou tão fria que quase apagou a lareira do quarto. Ele se afastou de mim e se curvou como se sentisse dor.
Na sombra dele originada pelo tremor das velas…Os chifres surgiram. A pulseira que tocou sem querer queimou a mão dele e ouvi um som de quando algo bem quente é colocado em água. Da mão dele saia fumaça.
— Tire rápido a maldita pulseira se quiser conversar comigo, Lina.
A voz dele era fria, mas aconchegante. A reconheci quando se colocou dignamente em pé depois da possessão. O tom muda. Fica mais grave quando é o demônio. A pose muda. E o demônio, ele é o único que sabe do meu apelido além de Nicolas.
Eu tirei a pulseira e a joguei bem longe de nós, mas a mantive na minha vista. Foi o primeiro presente de Thomas para mim. Eu usarei quando ele voltar.
O demônio me confrontou, mas parecia satisfeito por eu ter obedecido.
Abaixei a camisola que expunha minha intimidade, envergonhada.
— Não contou a Thomas sobre mim… — Falou suave, me arrodeando. — por que? Um exorcismo bem feito por um padre que não abuse de crianças como seu velho amigo e talvez a maldição se encerrasse…
— Não. Poderoso. — Me vi dizendo, transtornada. — Eu sinto… Muito poder. Antigo e poderoso.
— O que? — Exigiu ele.
— Poderoso ao extremo se rancor e vingança é o seu alimento. Está aqui há tempos. Prece e repetição não adiantaria. Nada adiantaria só o próprio Deus encarnado.— Repeti, insegura e tentando pateticamente parecer forte. Tentando mostrar que eu não o temia, mas eu sei o que ele é posso sentir nas entranhas, na alma. — Eu sei que o é. Outros devem ter tentado te exorcizar. Isso só iria te irritar e te faria me machucar. Não quero sua inimizade. Sei reconhecer minha fraqueza.
Ele me estudou pelo que pareceu um longo tempo e me cedeu um curvar de lábios conciliador, mas bem diplomata. É muito intrigante o jeito que toda a postura de Thomas muda. Ele fica mais…mais… diplomata, sensual, contudo, perigoso.
— A pulseira foi forjada por um raro homem com fé, iluminação e o mais raro em vocês humanos… muita bondade no coração. Um monge budista não um padre. É por isso que me machuca. Não os símbolos. — Me contou por algum motivo. — No seu coração há a certeza de matar Nicolas, só não sabe como…
— Não sei como. — admiti sem ar, me sentando na cama e ele sentou ao meu lado respeitando meu espaço. — Mas vou… Me dê um tempo para pensar em como. Juro que vou.
— Um mês. Na lua cheia.
— Certo. Um mês. Na lua cheia.
— Não se preocupe… Eu sei que vai conseguir matá-lo. Eu posso sentir sua convicção como senti a de Nott ao lançar a maldição nos Bloodmoon.— O demônio assegurou, tocando meu rosto e parecendo simpático. Estremeci. Até o modo que ele me toca mesmo usando o mesmo corpo muda. É firme e gentil, mas um eco distante. — Sua entrega a Thomas foi dolorosa também. Nojenta e torturante como…Se quiser eu… quando matar Nicolas e colocar seu nome no meu livro… Eu mato Thomas. Um nome a mais na vingança não me faz diferença..
— Não! — Respondi num grito quase.
Ele me estudou,intrigado, pelo arquear bonito da sobrancelha de Thomas. Ele dá uma maturidade a Thomas. E os olhos infantis, impetuosos, cruéis e mimados ganham uma maturidade e sombra que é muito muito atraente.
É através de Thomas que posso conversar com esse ser que me intriga e gosto de como ele habita esse corpo. E Thomas ter me dado a pulseira para me proteger ainda me comove. Não o quero morto.
— Thomas é só um garoto. E achou que eu não era mais virgem. Foi instintivo. — Argumentei.
— Não o defenda! — Raiou comigo muito perigoso. — Não para mim que sei cada pensamento lascivo e perverso dele. Ele não parou quando descobriu que era virgem. — O demônio me respondeu. — Ele gostou de saber, Lina… E ficou ainda mais violento por isso.
— Eu sei. — Conciliei não me entendendo e pela primeira vez não odiando o diminutivo do meu nome, não quando dito com tanto respeito e até mesmo carinho por esse ser das trevas.
Talvez eu me visse um pouco em Thomas quando comecei a notar que gostava dos toques abusivos e nojentos de Nicolas. Eu não sei porque mesmo ele tendo me violentado, não o quero morto.
— Mas ainda só um garoto com urgência carnal e eu quis no fim. — Argumentei.
— mas no começo não. — Sondou o ser protetor.
Eu estremeci. Essa proteção dele é marcante.
— Eu… — Não consegui responder. — Isso não é importante. O que deseja? Tem algo que…
— Não use a pulseira. Ela me fere como pode ver e consequentemente fere Thomas. Com ele o efeito é bem mais suave. — Explicou. Ele me analisou. — E Nott se sente sozinha. Ela simpatiza com você. Não conseguirá se comunicar com ela pelos seus sonhos se usar a pulseira. Por favor, converse com ela. Você consegue falar com os mortos nos sonhos desde que perdeu sua mãe e os ajuda e isso é muito sensível. Por favor, ajude ela. A pulseira anularia seu poder.
— Hm… certo. — Acatei comovida pelo modo que ele a protege.
— Pode me ofertar seu sangue? — Pediu ele. — Eu poderei me manter mais tempo no corpo dele se me fizer uma oferta…
— Posso. — Falei respeitosa.
— Não tem medo de mim?
— Homens que se escondem atrás de Deus são quem eu temo. — Respondi.— Eles são os piores demônios camuflados numa fachada santa.
— Justo. — Respondeu ele.
Eu peguei uma adaga de Thomas que vi uma vez ele guardar dentro do guarda-roupa e cortei a mão. Ofertei a mão sangrando ao ser dentro do corpo de Thomas.
Ele pegou minha mão e lambeu a ferida. Estremeci. Ele afastou minha mão ferida, rasgou o tecido da camisa de Thomas e fez uma faixa na minha mão cobrindo meu corte.
— Esse corpo te atrai muito. O jeito que me olha…— Acusou rindo educado e com os lábios rubros. — Agradeço a oferta.
Corei.
— É um corpo bonito sim. Mas o dono dele me irrita. — Consegui contar.
— Ah, mesmo assim… Eu sinto que interrompi algo entre vocês, não interrompi? — Brincou ele analisando a calça de Thomas.
— Gosto de conversar com você mais do que de ser tocada por um homem que não consegue saciar uma mulher e só pensa no próprio prazer. É um prazer te ouvir.
Os olhos dele encontraram os meus, parecendo lisonjeado. Na frieza da corrupção sombria de sua essência, havia uma pálida empatia.
— Sim, é uma bruxa. — Respondeu uma dúvida que eu tinha há muito tempo e nunca segredei a alguém. — Sua confiança foi destruída pelo seu pai e seus dons foram adormecendo, mas… é uma bruxa. E uma poderosa como Nott foi. Mas seu poder está bloqueado e agora por ter sido negligenciado se libera apenas em rompantes de forte emoção.
Senti uma inquietação.
— Minha mãe…— sondei.
— Também. Infelizmente, o poder de sua mãe era forte, mas seu pai tratou como loucura, E por nela não ter havido desenvolvimento dos dons e ela ter duvidado de si… Ela enlouqueceu e se matou, dominada por espíritos sofredores do umbral. Então, perceba o quanto você é forte porque mesmo tendo tanto poder, tanta sensibilidade e mesmo tão oprimida e abusada ainda está aqui.
— Não foram vocês que mataram a mamãe? — Exigi dele com a voz embargada.
— Nós demônios… Temos mais o que fazer do que impelir humanos ao suicídio. Queremos mais é que vocês provem a Deus o quão corruptos e nojentos são e só podem fazer isso nesse plano. Os outros planos são de aprimoramento das almas e não podemos mexer neles. Temos que trabalhar neles. Não, não fomos nós. Nós gostamos daqueles que têm dons espirituais, Lina. Eles são raros e nos entendem. Os protegemos desses espíritos menores e de outros quando esses sensitivos como você têm domínio próprio e nos procuram.
.— Entendo. Quando eu assinar meu nome no seu livro… O que vai acontecer?
— Serei seu protetor como fui o de Nott. E no fim da sua vida você trabalhará para mim no plano astral. O triste sobre minha amada Nott é que ela só assinou o livro depois de morta. Se não, ela não teria morrido. Eu não teria deixado.
Nossos olhos se encontraram.
— A ama, não ama?— Questionei sem medo.
— Ela foi incompreendida. Ela só queria ser aceita, mas a rejeitaram e machucaram por ser diferente. — Respondeu ele. — Quero cuidar dela. Vou vingá-la para sempre. Você e Elizabeth serão as únicas exceções a minha fúria contra os Bloodmoon.
Ele não respondeu com as palavras melosas, mas ainda sim eu tive sua resposta. E sim, ele ama Nott.
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Rosária 234 Fonseca
eu sabia que até os perversos sabem amar
2023-09-02
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