A mulher de Provérbios

Nota da Autora: A expressão " Ouro negro" se refere a petróleo.

Thomas quando chegou a noite  e viu a mim e  as moças na sala  não nos cumprimentou parecendo consternado balbuciando algo para si mesmo. Ele foi direto à biblioteca  e não saiu dela nem para jantar. Eu me despedi de Diana e a levei até a carruagem de sua família. 

E quando ela partiu fui à biblioteca. 

Eu testei a maçaneta redonda dourada, a girando para a frente. Está trancada. Ouço o som de algo se quebrando por trás da porta. E eu ia entrar com a chave mestra da casa que ganhei no casamento. Só que bem na hora… Grace me impediu com seu pulso em minha mão e fazendo um não com a cabeça. 

Me puxou sutilmente de frente da porta dupla de madeira esculpida com detalhes de dragão da biblioteca. Eu queria protestar. Queria gritar para que me deixasse entrar antes que ele se machucasse com os cacos do que quebrava.

Minha sogra me guiou pelos ricos corredores com quadros dos ancestrais de Thomas, vasos, estátuas que imitavam o estilo grego e mesinhas com vasos de flores. 

Ela tem um belo cabelo escuro com alguns fios grisalhos. Usa um vestido preto severo. Usa jóias muito simples. Um mero cordão de ouro e brincos suaves de pérolas. 

— O que houve? Por que ele nem foi me ver e se trancou na biblioteca…— A interroguei. 

— Dois navios nossos que  levavam especiarias e nossos produtos à América naufragaram. E perdemos uma grande fortuna internacional e nossa reputação em ouro negro. As coisas vão ficar apertadas esse mês. Ele não quer ter que comunicá-la sobre isso porque agora teve seu primeiro brunch com Elizabeth e conversas com outras damas que só respeitam dinheiro. Pensa que falhou conosco.

É isso que o incomoda? Uma coisa tão superficial? O que diabos ele pensa de mim? Que sou uma dondoca esnobe que não sabe comer um prato simples ou abdicar de coisas fúteis? 

Me soltei de Grace. Ela me estudou um tanto surpresa.

— Tenho que falar com ele. — A notifiquei, desesperada. — ainda é um menino, meu Thomas. — Comecei atordoada. — A pressão disso nele, na responsabilidade que tem, deve estar o devastando. Ele é meu estimado marido  e não tem que passar por isso sozinho. E meu marido pensa que sou fútil assim para me importar com dinheiro? Dane-se o dinheiro, o que importa é ele aprender que ganhamos e perdemos na vida. Não podemos só ganhar o tempo todo. Eu posso cozinhar e fazer o que for dentro de uma casa. Ele não precisa se preocupar com algo tão simplório assim. Eu quero que ele partilhe dos problemas comigo também. Foi isso o que prometemos um ao outro na igreja. Na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza e até que a morte nos separe.

Grace apenas me estudou emotiva. 

Senti a presença atrás de mim e virei o vendo. Merda! Minhas bochechas esquentaram. O que ele escutou? Dane-se. Eu o abracei forte querendo passar conforto, o cheirei querendo que dividisse comigo sua angústia. Thomas me analisava distante, mas mexeu nos meus fios de cabelo enquanto eu beijava seu peito com devoção. 

Ele estremeceu contra meus lábios.

—Mamãe, pode nos deixar a sós…Preciso da minha bela esposa.

— Filho querido, minha nova filha querida… Essa idosa vai se retirar. — Grace informou e saiu. 

— Não foi me cumprimentar por uma tolice dessas, meu amor? — Perguntei irritada e o soquei no peito.

— Tolice? Tem ideia do que se perdeu no fundo do mar? O tanto de…

 — Sei que é muito dinheiro e ouro. Sei que sente que falhou. É lamentável, mas são coisas que acontecem, meu amado. — Tentei. 

— Casou comigo porque eu podia pagar sua dívida e porque prometi te dar uma vida confortável enquanto a bruxa não te levasse. — Acusou cruel. — Não negue. 

— Por que negaria fatos? — Admiti sem me ofender. — Mas esse contrato  de casamento tolo  foi destruído em meu coração no instante em que partilhei da minha alegria e dor com você. E que me entregou a pulseira para me proteger. Por favor, não se isole quando acontecer algo ruim. Sou sua maldita esposa. Isso deve significar algo. Confie mais em mim. Nisso também. Inclusive na dificuldade.

Ele tocou meu rosto e acariciou meu pescoço com o polegar. 

— Foi sua primeira interação com outras damas. Não queria dizer para não comprar vestidos, livros, jóias ou o que fosse. Não queria te tirar nada. Mas é preciso economizar esse mês para podermos ter dinheiro para pagar os empregados e comprar mantimentos depois de minha irresponsabilidade. -- Suspirou ele e me cheirou, passando o nariz na curva de meu pescoço. 

Quando ele me cheira assim, eu fico fora de mim. Mordi o pescoço dele e deslizei as mãos por seu peitoral. Senti o suspensório por cima da camisa branca. O puxei para um beijo ardente pela gola da camisa. Ele me jogou contra a parede. E continuamos nos beijando.

— Na saúde e na doença. Na riqueza e na pobreza. Até que a morte nos separe.— Repeti meus votos contra a boca dele. 

Ele me abraçou.

— Você é tão protetora, não é? — Perguntou e acariciou meu rosto. — Não pode ver ninguém que estima sofrer que vira um maldito poço de força infinita. Não é forte por si mesma, mas é forte quando alguém que ama se machuca.

— Eu não… — Eu tentei dizer algo, mas palavras dele me desarmaram. — Seu coração é frágil, meu menino. Não quero que se machuque assim por algo que nem estava no seu controle. O mar é traiçoeiro.

Ele ofegou e os olhos dele se encheram de lágrimas. 

— Você é uma mulher rara. — Falou ele e me cheirou. — É como a mulher provérbios. "Quem encontrará uma mulher virtuosa? Ela é mais preciosa que rubis. O marido tem plena confiança nela, e ela lhe enriquecerá a vida grandemente.Ela lhe faz bem, e não mal, todos os dias de sua vida"

— Eu sou uma bruxa. Isso não se encaixa comigo. — Resmunguei incomodada.

— Uma bruxa com alma de santa criada pela fúria e senso de justiça. Eu sou a vingança e você a justiça. É por isso que dá tão certo.

Ele soa como o demônio falando. Mas é Thomas.

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