capítulo 7

Igor, chegou no meio da noite. Foi até o escritório, e encontrou um desenho da filha sobre a mesa.

Papai, Helena e Luiza.

Ele guardou numa pasta com os outros desenhos. Serviu um pouco de whiskey, e sentou-se na sua cadeira.

Abriu o notebook, e deu uma olhada nos e-mails. Desligou tudo, pegou a mala e foi direto para o quarto. Assim que acendeu a luz, viu que elas estavam na cama dele. Se renegou no começo, até se aproximar delas. Helena dormia virada para Luiza, estava agarrada a ela. Já Luiza, tinha Helena entre os seus braços.

Ele preferiu não acordar elas, apesar de terem invadido o espaço dele. Igor pegou o pijama, e foi para o banho. Depois, deitou ao lado da filha. Queria abraçá-la, mas ela havia grudado na Luiza. Acabou dormindo logo em seguida.

Na manhã seguinte, Helena acordou primeiro que a Luiza. Precisava ir ao banheiro. Quando virou para o outro lado, sentiu tocar em alguém. E como estava escuro, ela gritou. Acordando a Luiza, e ao Igor, que acendeu o abajur.

- Que foi meu amor? -perguntou ele, olhando para a menina que estava assustada.

- Pai, é você? - pergunta ela, muito ofegante.

- Sou eu sim, vem aqui, você se assustou? - ele fala, enquanto puxa a menina para um abraço.

Luiza olhou para ele sem entender nada. Mas, sentiu que haveria uma discussão, por ela ter invadido o quarto dele.

- Sim, não sabia que estava aqui. - disse ela, voltando a respirar normalmente.

- Cheguei no meio da noite, não quis acordar vocês. - ele falou, e olhou para a Luiza. Que baixou a cabeça.

- Eu convidei a Lu para dormir aqui, o senhor não está bravo por isso, não é mesmo pai? - ela pergunta, mas no fundo estava com medo de que ele estivesse bravo.

- Não meu amor, não me importo que durma no meu quarto. Desde que não mexa nas minhas coisas de trabalho.

- Eu vou ao banheiro. - Helena saiu da cama. Luiza já ia levantar.

- Onde vai? - pergunta ele, ao perceber que ela está quase saindo da cama.

- Eu vou deitar em outro lugar. - Ela fala sem olhar para ele.

- Não precisa, pode ficar. Não estou bravo com vocês por virem dormir aqui. Não agora, quando cheguei pensei em acordar as duas. - disse ele olhando para ela.

- Já está no meu horário de acordar. - disse ela um pouco sem graça.

- São 6h, e hoje é domingo. - ela já estava ali mesmo, que diferença faria agora.

Helena voltou para a cama, e deitou no meio dos dois. Ela olhou para a Luiza, e depois para O pai. Não sabia qual dos dois iria abraçar. Igor apagou a luz do abajur, e abracou a filha. Helena pegou a mão da Luiza, e colocou sobre o peito dela, perto da mão do pai.

Luiza ficou sem graça, mas tirar a mão estaria fora de cogitaçao, já que a Helena segurou os dois com aquelas pequenas mãozinhas.

Igor, no começo não gostou muito, mas deixou. A filha já estava dividindo o amor, e o carinho dele, com aquela estranha inconveniente. Luiza ficou imóvel, e não conseguiu mais dormir. Ela esperou, achou que a Helena estava dormindo, beijou a cabeça dela e retirou a mão com cuidado.

- Lu, onde você vai? - perguntou ela, assim que sentiu Luiza retirar a mão.

- Eu vou levantar, não fico muito tempo na cama, depois que acordo.

- Eu vou levantar com você.

- Fica deitada com o seu pai, ele deve estar cansado. Dorme mais um pouquinho com ele. Vou fazer leite para você, e quando tudo estiver pronto eu chamo você. - ela sussurrava para não acordar o Igor. Que não estava dormindo, apenas escutando a conversa das duas.

- Você vai esperar para tomar café comigo? - ela pergunta segurando a mão da Luiza.

- Claro que sim meu amor, vou fazer uma coisa bem gostosa para o seu café.

- Meu pai vai poder comer também? - ela pensou que seria somente para ela.

- Se ele quiser, vai sim. Mas vão ser feitos especialmente para você. - Luiza beijou a testa dela, e levantou.

Helena, acomodou-se nos braços do pai, e o abraçou.

Luiza, foi até o outro quarto para pegar as suas coisas. Aproveitou para fazer uma ligação. Chamou o montador para montar o quarto da Helena. Com o Igor ali, as coisas não seriam tão fáceis.

Ela avisou a uma das empregadas que iria chegar um montador, e que levassem ele até o quarto da Helena.

Foi para a cozinha da casa, e conheceu a cozinheira.

- Bom dia!

- Bom dia senhorita. - disse a senhora de meia idade, cozinheira a mais de dez anos na casa.

- A senhora me permite usar a cozinha, queria fazer uns biscoitos para a Helena. - Luiza, falou com cautela, pois não sabia como era a mulher.

- Claro que sim, fique a vontade. Acredito que vai ter tudo o que precisa nos armários. As tigelas ficam aqui, as formas nessa parte, ovos ali, os utensílios aqui e aqui. Se precisar de mais alguma coisa, estarei por aqui. - a cozinheira falava e ia apontando os lugares.

- Obrigada, eu sou a Luiza, pode me chamar de Lu. - Luiza estendeu a mão para cumprimentá-la.

- Eu sou a Ina, muito prazer. - apertou a mão da Luiza, e lhe deu um rápido sorriso.

Luiza começou a pegar as coisas que usaria. Ina continuou o serviço dela. Quando ela colocou os biscoitos no forno. Foi avisada de que o montador havia chegado. Ela foi até lá, conversou com ele, e o ajudou levar as caixas para o quarto. Ela mostrou onde queria que as coisas fossem colocadas. Voltou para a cozinha novamente. Colocou leite no fogo, e retirou os biscoitos do forno. Colocou a forma sobre a bancada, para esfriar.

- Ficaram lindos. - disse a cozinheira.

- Espero que estejam bons também. Vou chamar a Helena para tomar café, e depois ver o que podemos fazer.

- Bom, não quero me meter, mas deveria saber o que vai dizer ao senhor Guerra, em relação a mudança drástica do quarto da filha. - Ina demonstrou preocupação.

- Eu me resolvo com o senhor Guerra, não fique preocupada. Não é possivel, que ele seja tão insensível, de não perceber que aquilo não era um bom quarto para uma menina de cinco anos.

- Tem quatro anos que as coisas são dessa forma, mas não julgue o senhor Guerra sem o conhecer. Ele ama a filha, mais do que você pode imaginar. - disse Ina, com toda cautela.

- Mas, ele precisa entender, que a Helena não pode continuar num mundo assim.

- Luiza, você não entenderia a dor dele. Então, tenha empatia. - aquelas foram as últimas palavras da Ina.

Igor entrou na cozinha, e olhou enfurecido para ela. Atrás dele vinha Helena.

- Quero falar com você agora, no escritório. - disse ele fechando o punho, e batendo na bancada.

- Pai fica calmo por favor. - Helena estava agarrada a perna dele.

- Helena meu amor, vai ficar tudo bem. Vou conversar com o seu pai, enquanto você senta aqui e toma o seu leite. Eu acho que os biscoitos já estão frios. Depois, eu volto para fazer algo bem legal com você. - Luiza falou com muita calma, olhando fixamente para ela. - Vem aqui minha querida, vou servir leite a você, e preciso que fique aqui com a Ina. Vai ficar tudo bem, eu prometo isso a você.

- Pai, o senhor não vai machucar a Luiza, não é? - ela falou aos prantos.

- Helena, seu pai e eu, só vamos conversar. Não se preocupe, só teremos uma conversa. - Igor, não conseguia nem responder a filha de tanta raiva que estava.

Luiza estendeu a mão para a Helena. Ela foi até lá. Luiza colocou ela na cadeira, e serviu leite e alguns biscoitos para ela. Beijou a cabeça da menina, e saiu. Quando passou pelo Igor, olhou para ele.

- O senhor vem agora, ou vai tomar café primeiro? - perguntou ela, sem ao menos olhar para ele. Igor a olhou, e saiu com ela pelo braço.

Ela soltou-se, e o encarou.

- Conheço o caminho, não precisa me conduzir delicadamente. -fala enquanto o olha.

- Você conhece bem até demais. - retruca ele, tentando controlar a irritação.

Eles entram no escritório, e Igor tranca a porta.

- Qual o seu problema? Você vêm para a minha casa, faz o que quer, manda pintar o quarto da minha filha, troca os móveis, contrata pessoas estranhas para entrarem aqui. E acha que está tudo bem! - Igor fala aos gritos, totalmente descontrolado. - Você tem o que nessa sua cabeça? Eu não deixei minha filha com você para transformar a vida dela, a única coisa que era para fazer, era cuidar dela. Mas você fica alimentando ilusões na cabeça dela. Helena precisa ter noção da realidade.

- Quem precisa ter noção da realidade é você...

- Você não pode fazer tudo o que deseja. Ainda mais quando não pertence a esse lugar. Essa não é a sua casa, a minha filha não é nada sua. Será que entende isso, será que tem consciência do quanto afeta a cabeça dela...

- Estou ciente de tudo isso, mas o fato de não...

- O culpado sou eu, dei passe livre para você fazer o que quisesse. Mas não imaginei que teria toda essa ousadia. Você não vai fazer bem para a minha filha dessa forma. Está prejudicando ela, sempre impus regras, e todas as regras tem uma finalidade. Você não vai distorcer as coisas na cabeça dela.

- Não estou distorcendo, você tem que entender que ela é apenas uma criança, e ela precisa de muito mais que regras. Viver dessa forma não é o correto...

- O dia que tiver seus filhos, faça da forma que quiser. Se você quiser plantar um mundo imaginário na cabeça deles, para ser destruído depois, carregue você as consequências disso tudo. Não tente fazer isso com a minha filha. - Igor encheu os olhos de lágrimas, e acabou baixando o tom de voz. - Você não sabe o sofrimento que pode causar nela. Eu não vou permitir que você, faça isso. Não conhece a dor das pessoas, mantenha a minha filha longe dessas suas fantasias.

- A minha intenção não é iludir ela com um mundo cor de rosas, acha mesmo que é somente você que carrega dores? Todas as pessoas sofrem por algum motivo, apenas cabe a elas saberem lidar com a dor. Meu mundo não é cor de rosa, mas não preciso transformar ele numa escuridão total. Proibir a sua filha de ter pequenas coisas que a façam feliz, não é ensinar a ela a maldade das pessoas. E sim deixar ela excluída de um tempo que jamais voltará atrás. Ela vai crescer, e tudo que ela poderia ter vivido agora, não terá uma segunda oportunidade. Eu sei como você deve se sentir, posso até tentar entender a sua dor. Só não posso permitir que passe ela para a Helena. Você tem uma filha de ouro, educada, inteligente, tem sonhos pequenos de criança, e para o bem dela deveria alimentá-los. Não estou falando para mudar a sua vida toda, mas permita a ela ter um lugar adequado, onde ela vai poder manter a rotina dela, mas também vai poder brincar. É o mínimo que hoje pode fazer por ela. Todos nós crescemos, e a melhor parte e a que sempre gravamos, é todas as coisas boas que fizemos na infância. Muitas coisas não são fáceis, mas precisa fazer por ela. Se o resto da sua casa vai se manter dessa forma, a escolha é toda sua. É muito triste, ver um lugar como esse ficar esquecido e sem vida. Mas não deixe que isso tudo entre na vida da Helena. Eu sei que não sou ninguém, e não tenho nenhum parentesco com a sua família. Mas acredite tenho um carinho enorme pela Helena, e só quero proteger ela. - Luiza falou com toda calma do mundo, não entendia os motivos dele, mas assim como ele, faria tudo para proteger o seu filho. Luiza aproximou-se dele, e o abraçou. - Por favor, não destrua a infância dela. É só o que estou pedindo a você.

Igor recebeu o abraço dela, mas não retribuiu. Não queria manter um contato tão próximo. Luiza afastou-se, e o olhou. Não imaginou que o veria chorar alguma vez. Mas ao mesmo tempo que parecia sensível, se demonstrava apático a solidariedade dela. Luiza ia sair, quando escutou ele dizer.

- Eu não gosto de você.

- Sem problemas, você não é o único, tenho certeza de que não será o último. - Luiza saiu assim que destrancou a porta.

Igor, não acreditou que chorou na frente dela. Mas não tirava da cabeça que aquilo estava errado, e ela não podia fazer o que quisesse. Ele sentou e procurou ficar tranquilo.

Luiza, voltou para a cozinha, beijou a cabeça da Helena. Sentou-se para tomar café, e provar os biscoitos. Ela não comentou nada sobre o que foi falado no escritório. Apenas falou sobre os biscoitos.

Ina, a cozinheira, a olhava, tentando adivinhar o que havia acontecido naquele escritório.

- Senhorita, o montador pediu para avisar que já está tudo pronto. - fala a governanta, a olhando com desprezo. Nada de novo para Luiza.

- Bom, vamos até lá Helena. Já podemos colocar as coisas que busquei no lugar. Vai me ajudar? - Luiza, pergunta empolgada, por poder deixar um quarto digno a pequena Helena.

A pequena desceu da cadeira, e estendeu a mão para ela. Luiza pegou a mão da Helena, e foram até o quarto da menina.

Elas abriram a porta,e os móveis estavam da forma que a Helena havia descrito a Luiza. Elas apenas se olharam, e parecia que já sabiam o que fazer. Luiza levou as sacolas para o quarto, e colocou as embalagens sobre o colchão. Helena começou abrindo uma caixa.

- O que é isso?

- É um projetor, a noite vamos ligá-lo. Tenho certeza de que você irá gostar.

Helena deixou ele ali, e abriu o restante das embalagens. Luiza, colocou as belas cortinas brancas com detalhes de borboletas e flores. O jogo de cama todo em rosa e branco. Objetos de decoração, davam mais vida ao quarto da menina. Assim que colocaram tudo em ordem, elas juntaram as embalagens e desceram para colocar no lixo.

Igor saiu do escritório, depois de finalmente sentir-se tranquilo. Eles estavam reunidos na hora do almoço. Helena sentou ao lado da Luiza. Igor, por mais que odiasse o que ela fez. Podia notar um brilho diferente na filha.

Após o almoço, Helena aproximou-se do pai.

- Pai ainda esta bravo? - pergunta a pequena, ao abraça-lo.

- Não meu amor. Agora eu quero saber o que vai fazer a tarde? - disse ele, olhando para o rosto angelical da sua pequena filha.

- Eu não sei.

- Podemos olhar um filme, somente nós dois. O que acha?

- Mas, e a Lu? Ela pode olhar com a gente? - perguntou a menina olhando para o pai.

- Acho que deveríamos deixar a Luiza ir para casa. Podemos passar o restante do dia somente nós dois.

- Pai, por favor. Vamos ficar nós três juntos, e olhamos o filme. - Igor, não podia negar um pedido tão simples a filha. Mas, não queria ter que assistir um filme com a Luiza.

- Acho que o seu pai quer ficar um pouquinho com você. Acho melhor eu ir. - disse Luiza, já levantando.

- Fica por favor. - a menina quase implorou.

- Meu amor, você deveria passar o restante do dia com o seu pai. Eu volto no próximo fim de semana. Eu já vou, se comporte bem durante a semana. - Luiza beijou o rosto da Helena, levantou e saiu.

Helena ficou triste, mas sabia que veria Luiza no fim de semana.

Igor pegou a filha no colo, e a levou até o escritório. Pegou o notebook e o levou para o quarto.

- Então princesa, o que quer assistir?

- Qualquer coisa. - disse ela, sem tanto entusiasmo.

- O que foi meu amor?

- Eu queria que a Luiza estivesse aqui. - disse ela baixinho.

- Por que não podemos fazer isso somente nós dois? - ele ficou um pouco incomodado.

- Podíamos fazer coisas juntos. Assim o senhor não fica sozinho.

- Mas não estou sozinho, tenho você.

- Mas, seria melhor se fosse nós três.

- Hoje vamos ser apenas nós dois. Outro dia, eu convido a Luiza e nós três olhamos um filme. Agora só quero terminar o meu domingo com a minha amada, e linda filha. - disse ele, enquanto fazia cócegas e beijava a filha.

Helena acabou escolhendo um filme, e os dois assistiram juntos.

Luiza chegou em casa, e foi direto ao banho. Arrumou-Se, e foi para a sala conversar com a Sônia.

Ela contou tudo o que havia acontecido, não deixou nenhum simples detalhe escapar.

Elas combinaram de sair a noite. Luiza precisava esquecer um pouco a discussão de mais cedo com o Igor. Aquilo estava incomodando ela. Por algum motivo, estava perturbando a mente dela.

A noite as duas saíram.

Igor, foi levar a Helena para jantar fora. Ela vestiu uma roupa preta como de costume. Assim o pai não ficaria chateado.

Quando voltaram para casa, ele levou ela até o quarto. Quando entrou percebeu o quanto estava claro. Havia ficado bonito, mas ele irritou-se por ela ter feito aquilo.

Após cobrir a filha, e beijá-la. Ele saiu, e foi para o seu quarto. Lá nada havia sido modificado por ela. Quando ele deitou, e puxou o outro travesseiro, percebeu que havia o cheiro dela ali. Ele soltou o travesseiro, e virou para o lado contrário. Não poderia deixar, uma mulher, igual aquela fazer o que quisesse com ele.

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Comments

Katia Soares

Katia Soares

Espero que não demore pra descobrir que aconteceu com Igor pra ficar tão amargo

2024-10-12

0

Hanah Oliveira

Hanah Oliveira

Então....será que a mulher abandonou a casa?

2024-07-15

2

Mary Lima

Mary Lima

será que.amulher não moreuuuu/CoolGuy/

2024-07-14

3

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