Sonia sai para o trabalho todas as manhãs. Ela tem uma pequena boutique no centro da cidade. Trabalha com roupas sob medida, normalmente ela é quem faz os uniformes, para os empregados de algumas casas. Alguns escolares, ela trabalha com mais duas senhoras. Além de ternos, e vestidos.
Antigamente ela fazia pequenas costuras, mas aos poucos resolveu abrir o próprio negócio. E desde então dedica-se para que ele prospere.
Luiza, aproveitou para limpar a casa, e cuidar das flores.
Não se preocupem, ela deixou tudo explicadinho num papel. Caso contrário, certamente ela ficaria sem flores.
Levou almoço para a Sonia, na boutique, e almoçaram juntas. Depois sai para passear pela cidade. O lugar é simplesmente fantástico.
Passou aquela semana apenas aproveitando.
Sonia estava com um pedido, de novos uniformes para o senhor Guerra. Nunca vi tantas pessoas vestindo preto. Pensei que haviam saído de um velório. Algumas eram simpáticas, outras nem tanto.
- Sonia, eles vieram da casa da familia Addans? - Não segurou o riso. Sonia apenas a olhou seriamente.
Luiza, vê parado na porta um homem alto, vestindo uma roupa completamente preta. E trazia com ele uma menina. Vestindo também preto. Nesse momento pensou que alguém havia falecido, e ela fazendo piada. Ele encarou-lhe, e desviou o olhar assim que a Sonia o cumprimentou.
- Senhor Guerra, boa tarde.
- Boa tarde, viemos tirar as medidas para as nossas roupas.
- Claro senhor, poderia acompanhar-me. Luiza poderia cuidar um pouquinho da filha do senhor Guerra?
- Claro que sim, será um prazer. - Aquele homem olhou-lhe mais uma vez, e depois para a menina. Que apenas assentiu positivamente com a cabeça.
Esperou ele sair, e aproximou-se da menina.
- Como você se chama?
- Helena Guerra. - disse a menina quase sussurrando.
- É um prazer conhece-lá Helena Guerra. Eu sou a Luiza, mas pode me chamar apenas de Lu. - Aqueles olhinhos, me olharam de forma intrigada. - Você quer sentar?
- Sim, por favor. - creio que ela estava muito envergonhada. Peguei a mão dela, e a levei para sentar em um puff todo rosa. Ela olhava timidamente para as cores, e baixava a cabeça.
- Quantos anos você tem?
- Tenho cinco.
- Qual cor você mais gosta?
- Eu não sei. - Sentiu que ela falou de uma forma triste.
- Eu gosto de azul, aqui tem muitas cores, e é tudo bem colorido. Gostaria de ver alguns vestidos?
- Eu não posso.
- Porque? - Perguntou curiosa.
- Não posso vestir outra cor.
Antes que Luiza pudesse perguntar o motivo, o pai da Helena apareceu.
Ele não parecia ser uma pessoa fria, mas era um pouco assustador, a forma como olhava para ela.
- Sua vez Helena. - falou enquanto olhava a menina nos olhos.
- Vamos pequena, eu vou com você. Tenho certeza de que a Sonia fará um belo vestido florido para você. - Naquele momento Luiza sentiu que havia cometido um crime. Ele fechou a cara por completo.
- O mesmo de sempre senhora Stevens. - Ele olhou para Luiza com um olhar acusador.
- Sim senhor Guerra. Luiza minha querida, se quiser ir para casa. - senti que ela estava me dizendo para sair e voltar depois que eles saíssem.
- Vou para casa então, já vou preparando o jantar.
- Por favor coloque as minhas flores na área. - Sonia piscou o olho.
- Foi um prazer conhecer você Helena Guerra. É muito bonita, tenho algo para você. - Luiza pegou um pirulito da bolsa e deu a ela. Imediatamente olhou para o pai, e depois olhou para ela.
- Obrigada, Luiza. - ela o segurou, e guardou no bolso do casaco.
- Licença. - não perdi a oportunidade de encará-lo da mesma forma que ele fez comigo.
Sai da boutique e fui para casa. Aquela piscadinha da Sonia, significava uma coisa apenas. Vamos comer fora. Mas, realmente precisava colocar as flores dela na área.
Aquela menina era tão educada, tão tímida, e precisava da autorização dele para tudo.
Procurei esquecer aquilo, não tinha motivos para me preocupar.
Quando Sonia chegou em casa, já havia arrumado todas as flores no seu devido lugar, e estava pronta a espera dela.
Sonia tomou banho, arrumou-se e saímos para caminhar um pouco, depois sentamos num restaurante perto do porto.
- Você chegou bem em casa? - ela pergunta com um sorriso estranho.
- Sim, porque esse sorriso estranho?
- Nada, achei que o senhor Guerra iria atrás de você. - fiquei um pouco perdida com o que ela disse.
- Atrás de mim, porque?
- Você falou em um vestido florido para a filha dele.
- E qual crime cometi?
- Desde que comecei a fazer as roupas dela, sempre foi usada a cor preta. Nunca vendi, ou fiz algo De outra cor, para qualquer pessoa daquela casa.
- Nossa, eles estão de luto?
- A história não sei ao certo, uns dizem que ele enlouqueceu após a morte da mulher e obriga a todos usarem preto. Todos os funcionários, e até mesmo a filha.
- Coitada da menina, não merecia passar por isso. Ele praticamente me condenou quando falei aquilo.
- Ela quase não fala, sempre olha para ele, antes de responder.
- Isso é triste, mas ela não tem mais ninguém além do pai?
- Não sei muito sobre eles, apenas faço o que ele me pede, paga sempre a vista, não mora no centro da cidade, a filha estuda numa escola particular. Sei disso pois já fiz o uniforme dela.
- Bom vamos esquecer isso. Vamos apenas aproveitar a noite.
Falar sobre aquilo ia acabar com a nossa noite. Mas, conseguimos aproveitar depois. Música ao vivo, algumas pessoas dançando. Aproveitamos antes de ir para casa. No sábado, e no domingo saímos para passear, e aproveitar alguns pontos turísticos da cidade. Alguns que ainda não havia explorado.
Sonia mostra-me um parque, muito bom para fazer caminhadas. Tem algumas trilhas que levam até um lago. Algumas pessoas acampam por ali, mas não é sempre. Jovens frequentam o lugar, gostei de saber que há uma caverna ali por perto. Mas, Sonia não levou-me até o local. Não gostava desse tipo de atividade. Outro dia iria descobrir como chegar até lá. Voltamos para casa, e terminamos nosso domingo com uma bela cerveja.
Na semana seguinte, comprei um jornal, talvez houvesse alguma oferta de trabalho, ou algum curso que pudesse fazer. Li as notícias da cidade, e os eventos que iriam acontecer. A festa da primavera estava prestes a acontecer.
Encontrei uma oportunidade de emprego, o salário era muito bom, precisaria ficar no serviço, deveria saber falar francês, e espanhol, disponibilidade de horário, apresentar um bom currículo, era para ser tutora de uma menina de cinco anos. O único problema desse trabalho, é que era para a família Guerra.
Questionei a mim mesma se deveria tentar essa vaga. Existem pessoas mais capacitadas, mas, por um instante pensei naquela menina. Deveria sofrer nas mãos daquele pai. Não permitir que ela use outro tipo de roupa.
Achei melhor falar com a Sônia, para saber o que ela pensa sobre o assunto.
Arrumei-me e fui até a boutique. Quando cheguei ela estava recebendo uma mercadoria.
Para a minha surpresa o senhor Guerra estava por lá. A Helena não o acompanhava.
- Boa tarde senhor Guerra! - Ele olhou-me, com a mesma cara seria de antes.
- Boa tarde.
- Vi no jornal que estão a procura de uma tutora, é para sua filha? -Ele nem olhou-me para responder.
- Se leu o jornal, deve saber onde deve largar seu currículo. Aliás, está atrasada para entrevista. Seria as 9h, mas já notei que não é pontual. - Que homem mais Abusado.
- Eu apenas pensei em fazer um currículo, mas foi somente por causa da sua filha. Não pense que me agradaria trabalhar para alguém com essa cara. - Aquele olhar que ele lançou-me, pensei que naquele momento ele iria perder a classe, e gritar comigo. Mas perguntou calmamente.
- Que tipo de cara tenho? - O vontade de responder.
- Está sempre muito sério, e me olha como se tivesse cometido um crime. - Ele apenas me esnobou.
Sonia atendeu ele em seguida. Entregou-lhe o dinheiro, olhou-me novamente com aquela cara, e saiu.
- O que aconteceu?
- Nada demais, vim até aqui para saber o que você pensa sobre o anuncio de tutora que tem no jornal, é para a família Guerra.
- Você está pensando em se candidatar para esse trabalho?
- Estava, por causa da menina. Vai saber o tipo de pessoa que irá cuidar dela.
- Bom, eu não sei se você conseguiria, não quero dizer que você não tem capacidade, mas ele é muito exigente.
- Eu li o jornal, realmente tem algumas exigências, acredito que posso cumprir os requisitos. Poderia, se ele não tivesse dito que estou atrasada, pois a entrevista era hoje pela manhã.
- Então era sobre isso que estavam falando?
- Sim.
- Se ele não conseguir ninguém o anúncio irá permanecer. Dificilmente ele encontra alguém daqui.
- Vamos esperar então, depois veremos.
- Quer me ajudar por aqui?
- Claro.
Ajudei a Sonia com os tecidos. Mas, não parei de pensar na Helena. Por algum motivo ela não saia da minha cabeça.
Terminei de ajudar a Sonia, sentei no puff, e pesquisei sobre a família Guerra.
Parece que são muito discretos. Nada de muito interessante.
Quando suspirei profundamente, Sonia foi falar comigo.
- Porque esse suspiro, e essa carinha de preocupada?
- Estou pensando na Helena.
- Lu, você conheceu a menina semana Passada, viu ela apenas uma vez.
- Você não sente pena dela. Ela é uma criança, não acredito que ela seja feliz. - falo aquilo com muita tristeza. Realmente não conheço eles, e nem sei nada sobre a vida da família Guerra, mas, sinto pena da Helena.
- O que vai fazer a respeito? - Sonia pergunta, enquanto olha fixamente para mim.
- Vou esperar, se o anúncio permanecer no jornal, levarei meu currículo até o senhor Guerra.
- Você quem sabe, só não esquece que vai ter que usar preto. - Sonia falou, e voltou para os afazeres dela.
Pensei por alguns minutos,levantei e saí. Caminhei até o parque, talvez lá conseguisse pensar melhor.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Rejane Azambuja
Iniciando 😜 curiosidade mata 🤣🤣🤣 12/01/25🙌10:50 h 🙌❤️🌹
2025-01-12
0
Mary Lima
Estou gostando e louca para saber o fundamento de tanto preto./CoolGuy//Sly/
2024-07-14
4
Imaculada Abreu
.muito boa a estória
2023-10-27
3