Já estava perdendo as esperanças de encontrar Miguel. Eu queria vê-lo apenas para explicar a ele que estava bem, para tranquilizá-lo após tantos anos de separação e incerteza. Voltei para casa frustrada com a falta de pistas, sentando-me na varanda e permitindo que meus olhos vagassem pela paisagem que se estendia diante de mim.
A voz serena do meu pai quebrou o silêncio, trazendo consigo uma xícara de chá fumegante, uma tradição reconfortante que ele sempre mantinha.
-Você deve estar exausta - ele disse, sua voz carregempatia enquanto se sentava ao meu lado.
Aceitei a xícara com um sorriso terno e um aceno de cabeça agradecido. O calor do chá contrastava com a brisa suave da tarde, e o gesto simples era suficiente para me acalmar um pouco. Enquanto eu soprava o vapor.
-Estou frustrada, pois não acho Miguel - desabafei, sentindo-me aliviada por compartilhar minha agonia com alguém.
Meu pai olhou-me com compreensão, sua expressão gentil demonstrando que ele estava lá para ouvir e apoiar.
-Eu não compreendi esse rapaz - ele disse pensativamente. - Por um momento, achei que ele estivesse envolvido com Marques e o acidente.
Surpresa, franzi o cenho. A conexão entre Miguel e um acidente com Marques era algo que eu não esperava ouvir. Mas meu pai continuou a falar antes que eu pudesse perguntar.
-Isso é impossível, meu pai. O Miguel não faria algo assim - minha resposta foi rápida, fundamentada na confiança que eu tinha em meu amigo.
-Então, por que ele ficou tão desesperado? Por que ele não procurou você? - perguntou meu pai, preocupado.
Eu suspirei, lembrando das circunstâncias que me separaram de Miguel.
-Fiquei no hospital por três meses, pai. Não podia receber visitas durante esse tempo, e depois fui para a Suíça para meu tratamento - expliquei, sentindo-me obrigada a compartilhar detalhes que eu preferiria deixar enterrados.
Meu pai me olhou com compaixão e tocou levemente minha mão.
-Filha, deixe esse Miguel para lá e volte a cuidar da empresa. Você passou por muitas dificuldades, e é hora de se concentrar em sua vida aqui e agora.
-Pai, eu não posso deixar para lá - respondi, minha voz carregada de determinação. - Quando estava prestes a desvendar todo este mistério, aconteceu aquele acidente. Eu não posso simplesmente ignorar tudo e seguir em frente.
Meu pai suspirou, olhando-me nos olhos.
- Minha filha, eu entendo sua frustração e sua necessidade de respostas. Mas também me preocupa ver você tão envolvida nisso. Você já passou por tanto sofrimento, e a ideia de te perder de novo por causa disso me apavora.
Eu abaixei a cabeça por um momento, sentindo a gravidade das palavras do meu pai. Era verdade que as investigações sobre Miguel e o incidente haviam se tornado uma busca incessante para mim, quase uma obsessão. Mas cada pista, cada pedaço de informação, me aproximava de respostas que eu ansiava por entender.
-Pai, eu sei que você está preocupado, e eu também entendo que você quer me proteger. Mas essa busca por respostas é importante para mim. Não posso ignorar o que descobri até agora e fingir que nada disso importa. Eu não quero mais viver com dúvidas e incertezas - expliquei, olhando diretamente nos olhos dele.
- Eu entendo, filha. E não quero sufocar sua busca pela verdade. Só peço que tenha cuidado, que não deixe que isso a consuma completamente. A vida é preciosa, e você também merece encontrar paz e felicidade.
Toquei a mão do meu pai com carinho, sentindo a profundidade do amor e do apoio que ele sempre me ofereceu.
- Eu prometo, pai, que vou tomar cuidado. Vou continuar a cuidar da empresa e das minhas responsabilidades, mas não posso deixar de lado essa parte importante da minha vida também.
- Eu entendo minha filha, tome cuidado.
Os dias passaram e todas as minhas pesquisas em busca de Miguel continuavam sem resultados. Cada ligação para o número que ele havia deixado no currículo resultava em uma frustrante queda na caixa postal. Mesmo assim, eu não desistia e continuava tentando incessantemente. Até que, em um certo dia, para minha surpresa, alguém finalmente atendeu. No entanto, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, a pessoa do outro lado da linha abruptamente desligou na minha cara. Fiquei perplexa e confusa, tentando entender o que havia acontecido. Será que era Miguel? Será que ele estava evitando falar comigo? As perguntas continuavam a girar em minha mente.
Enquanto eu tentava resolver esse enigma, minha volta à empresa trouxe um furacão de agitação. A notícia se espalhou rapidamente, e minha história estava em todas as publicações. A empresa decidiu celebrar meu retorno de uma maneira magnífica. Uma festa enorme foi meticulosamente organizada para comemorar minha presença mais uma vez na liderança da empresa. As notícias sobre o evento ganharam destaque na mídia, com artigos e fotos destacando tanto o sucesso da empresa quanto o meu papel nele.
A festa estava sendo um verdadeiro espetáculo. O salão estava elegantemente decorado, e uma atmosfera de entusiasmo pairava no ar. O evento reuniu várias pessoas, incluindo aquelas que haviam deixado a empresa, e também aquelas que tinham sido parceiros de negócios no passado. A celebração foi uma mistura de reencontros, cumprimentos calorosos e negócios sendo discutidos em um ambiente festivo.
Enquanto circulava pelo salão, cumprimentando os convidados e agradecendo pelo apoio, percebi que, mesmo com toda a agitação e sucesso ao meu redor, a busca por Miguel ainda ocupava um espaço importante em minha mente. A voz que atendeu a ligação, o desligamento abrupto - tudo isso alimentava a curiosidade e o desejo de entender o que havia acontecido.
Observando as expressões alegres das pessoas e sentindo a energia positiva do ambiente, tomei uma decisão interna. Eu precisava encontrar um equilíbrio entre minha busca por respostas e a celebração do presente. Era hora de aproveitar a festa, de reconectar com pessoas importantes e de mostrar gratidão por tudo o que havia sido conquistado. Enquanto a música tocava e as conversas fluíam, eu sorri genuinamente, apreciando cada momento e mantendo a chama da esperança acesa, mesmo no meio das incertezas que me impulsionavam.
Até que meus olhos viram alguém familiar. Esse alguém carregava uma criança nos braços. Ele vinha na minha direção com o olhar surpreso. Miguel estava ali, parado diante de mim. Seus olhos estavam diferentes, mais tristes e com uma expressão que denotava cansaço. O tempo que havia passado desde a última vez que o vira havia deixado marcas visíveis em seu semblante.
Ficamos olhando um para o outro, ambos espantados. Miguel por me ver ali, e eu por vê-lo com uma criança nos braços. A surpresa estampada em seu rosto era palpável. O momento parecia suspenso no ar, enquanto nos encarávamos em silêncio. O passado, as memórias e os sentimentos se chocavam com o presente, formando uma teia complexa de emoções não ditas. O olhar triste nos olhos de Miguel era um reflexo do que havia acontecido durante todo esse tempo que estivemos separados. Eu não conseguia deixar de me perguntar o que ele havia enfrentado, o que o levou a se afastar e, agora, o que o trouxe de volta. Enquanto nos encarávamos, a criança adormecida em seus braços era um lembrete silencioso das mudanças que haviam ocorrido em nossas vidas. Miguel, uma figura que conheci na juventude, agora pelo visto era pai. A complexidade dessa realidade permeava o silêncio entre nós.
Não havia palavras que pudessem expressar o turbilhão de sentimentos que nos unia naquele momento. Minha mente corria pelas memórias compartilhadas, pelas conversas e risadas, pelo amor que talvez sentimos um pelo outro. Mas agora, diante dessa versão mais desgastada e triste de Miguel, era difícil reconciliar o passado com o presente.
O som da festa continuava a ecoar ao redor, as vozes e risadas das pessoas preenchendo o espaço. No entanto, para nós dois, havia um isolamento sutil, como se estivéssemos em nossa própria bolha de reconhecimento e nostalgia.
Enquanto eu observava Miguel, eu podia ver a luta em seus olhos, a batalha interna que ele enfrentava. O desejo de dizer algo, de abrir o véu do tempo que havia passado entre nós, era evidente em sua expressão. Mas as palavras não vinham fácil, e talvez, por ora, não fossem necessárias.
Os segundos se esticaram em minutos, e eu podia sentir que este reencontro, repleto de emoções, era apenas o começo de algo maior. Havia muito a ser explorado, muitas histórias a serem compartilhadas, e uma jornada a ser trilhada juntos, mesmo que fosse em silêncio.
A criança nos braços de Miguel se moveu levemente, e ele ajustou seu apoio com carinho. Aquele gesto simples parecia trazer um toque de normalidade a um momento que estava repleto de complexidade e significado.
Enquanto continuávamos a nos olhar, a compreensão crescia entre nós. Não precisávamos de palavras para saber que algo tinha mudado, que nosso reencontro havia aberto portas para um novo capítulo de nossas vidas. No silêncio compartilhado, eu sabia que ainda havia muito a ser dito, mas por enquanto, a presença um do outro era suficiente para preencher o vazio que a separação havia deixado.
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Acacia de Lourdes
evqto tempo ficaram separados?
2024-09-24
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Divina Santos
não fale q ele teve outra!!
2023-08-14
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