Dois anos e três meses

Dois anos e três meses se passaram, e nesse período minha vida foi transformada por uma série de eventos dolorosos e desafiadores. Após o terrível acidente que sofri, passei três longos meses no hospital, lutando pela minha recuperação física e mental. Cada dia era uma batalha árdua, com dores intensas e uma sensação de desamparo que parecia não ter fim. Após receber alta, iniciei um longo processo de reabilitação. Durante seis meses, passei por diversas terapias, buscando recuperar minha força e mobilidade. Cada sessão era um desafio emocional, enfrentando minhas limitações e lutando para superá-las. Era uma montanha-russa de emoções, com momentos de desespero, frustração e, às vezes, pequenas vitórias que me impulsionavam a continuar.

Depois desse período intenso de terapias, meu pai decidiu que seria melhor eu me mudar para a Suíça, onde poderia ter acesso aos melhores tratamentos e especialistas na área. Foram quatro meses intensos no país alpino, dedicados a mais terapias e reabilitação. Foi lá que descobri que havia sofrido uma lesão na medula espinhal, o que explicava a complexidade e a necessidade de tantos cuidados. Essa nova realidade me inundou de emoções contraditórias. Havia momentos de tristeza profunda, quando a realidade da minha condição se tornava esmagadora. Mas também havia momentos de esperança e determinação, nos quais eu me recusava a deixar que minha lesão definisse quem eu era. A cada sessão de terapia, eu lutava com todas as minhas forças para recuperar o máximo de mobilidade possível e aprender a viver uma nova vida.

Durante esse período turbulento, meu pai tomou uma decisão que me deixou perplexa e desapontada. Ele decidiu entregar o controle da empresa ao marido da minha irmã, Tomas. Foi uma escolha que me deixou preocupada, pois conhecia pouco sobre suas habilidades e experiência no mundo dos negócios. Com essa mudança, muitas coisas se transformaram na empresa. Novas diretrizes foram estabelecidas e a dinâmica da equipe sofreu alterações significativas. Infelizmente, uma das mudanças mais impactantes foi a ausência do Miguel, que desempenhava um papel fundamental na empresa.

Preocupada com o paradeiro do Miguel, pedi à minha irmã que fizesse algumas pesquisas para descobrir seu paradeiro. Infelizmente, não recebemos notícias positivas ou informações concretas sobre o que aconteceu com ele. Essa incerteza me deixava inquieta, pois sentia falta de sua presença e valorizava sua contribuição para a empresa. Enquanto isso, a empresa do João e da Yara prosperava rapidamente. Sua ascensão meteórica no mundo dos negócios era notável e me causava sentimentos contraditórios. Porém, a notícia de que Yara havia se casado com Vicenzo, o mesmo homem que havia tentado prejudicar a empresa no passado, foi um golpe duro. Receber convites de casamento da parte deles foi um lembrete doloroso das traições e dos desafios que enfrentei no passado.

Essas mudanças na empresa e na minha vida pessoal me deixaram com um sentimento de incerteza e desconfiança. Eu sabia que precisava encontrar uma maneira de retomar o controle da situação e lutar pelo que era justo. Mas, no momento, tudo o que eu podia fazer era enfrentar as adversidades e manter a esperança de que o futuro pudesse trazer mudanças positivas.

Após tanto tempo afastada, finalmente retornei à minha cidade natal. Enquanto observava as pessoas passando pela janela do carro, uma parte de mim ainda nutria a esperança de encontrar o Miguel novamente, mas no fundo sabia que era uma possibilidade remota. Ao chegar na casa dos meus pais, fui recebida com alegria e entusiasmo. Meus sobrinhos correram em minha direção, gritando de felicidade.

-Tia! - Eles exclamaram, cheios de empolgação.

Minha irmã, percebendo a empolgação das crianças, rapidamente interveio.

-Cuidado, crianças! - Ela alertou, preocupada com a agitação.

Desço do carro lentamente e sou envolvida por abraços calorosos de todos os presentes meus sobrinhos, minha irmã, meu cunhado e meus pais. É uma sensação indescritível estar cercada pelo amor e pela presença da minha família novamente.

-Que bom ter você de volta - diz minha irmã, com um sorriso sincero nos lábios.

Sinto uma mistura de emoções preencher meu coração naquele momento. A saudade que senti durante todo o tempo longe de casa agora se dissolve na alegria desse reencontro. É um lembrete do quão importante é ter a família por perto, um porto seguro em meio às tempestades da vida.

Enquanto olho para cada rosto familiar, sinto-me grata por ter a oportunidade de estar ali, rodeada pelo amor e apoio incondicional daqueles que sempre estiveram ao meu lado. É uma lembrança de que, não importa o que tenha acontecido no passado, tenho um lugar onde sempre serei bem-vinda e amada.

Durante as primeiras semanas na minha cidade, fiquei empenhado em descobrir mais informações sobre Miguel. Sabia apenas que ele vinha do interior, mas não tinha conhecimento da cidade específica de onde ele era. Depois de muita pesquisa e investigação, descobri que ele havia morado em três cidades diferentes ao longo de sua vida. Uma dessas cidades estava localizada a uma distância de 425 km da minha. Essa revelação deixou claro que o lugar era consideravelmente distante, mas isso não me desencorajou em minha determinação de visitá-lo. Decidi explorar todas as três cidades para tentar encontrá-lo ou obter mais pistas sobre sua atual localização. Ao longo da minha jornada por essas cidades, percebi que nenhuma delas parecia conhecer Miguel. Conversando com moradores locais e buscando informações em estabelecimentos públicos, não encontrei nenhuma referência ou conhecimento sobre ele.

Essa descoberta deixou-me intrigado e curioso. Miguel parecia ser um personagem enigmático, cuja presença nessas cidades permanecia um mistério. No entanto, minha busca por informações sobre ele não terminou ali. Decidi expandir minha pesquisa para outras fontes, como amigos em comum, registros públicos e redes sociais, na esperança de desvendar mais detalhes sobre a vida de Miguel e, eventualmente, encontrá-lo.

Você não vai cansar, né? - Disse minha irmã, se aproximando de mim enquanto eu estava na varanda.

-É difícil dizer. Eu já investi tanto tempo e energia na busca por Miguel, mas até agora não consegui encontrá-lo em lugar nenhum. Começo a me questionar se ele realmente existiu ou se talvez seja apenas uma história inventada.

-Ah, para! Eu tenho certeza de que ele existe. Até o pai mencionou conhecer o Miguel. Não podemos simplesmente desconsiderar isso.

-Eu entendo, mas é frustrante. Já vasculhei todos os cantos, fiz pesquisas online, perguntei a pessoas que poderiam ter informações, mas até agora não obtive nenhum resultado concreto. Começo a duvidar se o endereço que encontrei está correto.

-É possível que haja algum equívoco, mas também pode ser que Miguel simplesmente não queira ser encontrado. Talvez ele tenha razões pessoais para se afastar e prefira manter-se distante.

-Você acha? Não consigo entender por que alguém iria querer desaparecer assim, especialmente se tivemos uma conexão tão forte no passado.

-As pessoas têm seus motivos, mesmo que não os compreendamos completamente. Pode ser que Miguel esteja passando por algo difícil ou queira ter um tempo só para si. Não podemos controlar as escolhas dos outros.

É verdade, talvez eu precise aceitar que não vou encontrá-lo tão cedo. Mas ainda assim, a dúvida continua me incomodando. Será que algum dia terei as respostas que procuro?

-Só o tempo dirá, minha irmã. Por enquanto, tente se concentrar em cuidar de si mesmo e seguir em frente. Se Miguel quiser entrar em contato, ele saberá como fazê-lo. Não adianta gastar toda sua energia em uma busca que parece não ter fim.

-O Ariel, Pietro, Patrícia e Rodrigo ainda estão na empresa?

-Sim, eles continuam aqui. O Tomas não fez nenhuma mudança nesse sentido, pois sabia que você não iria gostar de grandes alterações quando voltasse.

-E por que o Miguel foi demitido?

-Bem, o Miguel deixou de aparecer na empresa depois do seu acidente, então o Tomas acabou tomando a decisão de demiti-lo.

-Mas por que ele não voltou mais? - Perguntei a Beatriz, que apenas deu de ombros, indicando que não sabia.

Decidi ir até a empresa em busca de informações sobre Miguel. Quando cheguei lá, notei que todos estavam perplexos e muitos me questionaram se eu voltaria à empresa. Ao chegar na sala dos meninos, eles me olharam com expressões de surpresa e até um pouco de medo. Ariel, em um misto de alívio e alegria, veio correndo em minha direção e me abraçou.

-Achei que nunca mais ia te ver! - disse Ariel, ainda me abraçando com emoção.

-Jamais, ainda tenho muitas coisas para cuidar e supervisionar por aqui - respondi, sorrindo para eles.

Continuamos conversando por alguns segundos até que decidi perguntar sobre Miguel.

-O que aconteceu com o Miguel? - questionei.

-Bem, presidente, não temos certeza. Ele simplesmente parou de vir trabalhar e toda vez que tentávamos entrar em contato, ele rejeitava nossas ligações - explicou Pietro.

-Eu também tentei falar com ele, mas não obtive sucesso - acrescentou Rodrigo.

Ficamos em silêncio por alguns momentos, absorvendo essa informação, até que Pietro falou novamente:

-No dia do seu acidente, quando ele soube da notícia, ele ficou arrasado. Ele saiu correndo da empresa em completo desespero porque recebeu a notícia de que você havia falecido.

Após ouvir a explicação de Pietro, compreendi a razão por trás do comportamento de Miguel. A notícia equivocada sobre minha morte deve ter sido um golpe terrível para ele, levando-o a entrar em um estado de desespero e afastamento. Sentindo uma mistura de tristeza e culpa, percebi que precisava encontrar uma maneira de entrar em contato com Miguel e esclarecer a situação. Ele não merecia carregar o fardo de acreditar que eu havia falecido, e eu precisava explicar o mal-entendido.

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