Está na porta...

Depois daquela noite maravilhosa, eu precisava descansar e colocar minhas energias no lugar. Porém, na segunda-feira, meu tornozelo estava tão inchado que mal conseguia andar. Liguei para Roger e pedi que ele me acompanhasse até o médico. O médico recomendou que eu ficasse em casa por pelo menos 15 dias para me recuperar. No começo, relutei um pouco, mas não tive outra alternativa além de seguir suas instruções. Assim, a única forma viável de continuar trabalhando era de casa. Pedi a Roger que trouxesse todas as pendências do escritório e também todas as questões que envolviam a aposta feita pela Coreia do Sul. Enquanto me acomodava em meu escritório improvisado em casa, com uma pilha de documentos e um laptop à minha frente, percebi que essa pausa forçada poderia ser uma oportunidade para colocar em dia algumas tarefas que haviam sido negligenciadas devido à minha rotina agitada.

Por mais que eu estivesse em casa, percebi que minha manhã passou bem agitada. Roger, como sempre, me ajudou em inúmeras tarefas, e estava quase chegando a hora do almoço quando alguém tocou a campainha. Olhei para Roger assustada, pois não esperava ninguém naquele momento. Quando Roger abriu a porta, era Miguel, segurando várias sacolas nas mãos.

-O que faz aqui? - Perguntei, surpresa, quando ele entrou em casa.

-Primeiramente, bom dia, senhor Roger! - Miguel cumprimentou, recebendo um sorriso e aceno de cabeça de Roger. - Bom dia, senhora presidente.

Fiquei curiosa e um pouco confusa com a visita inesperada de Miguel. Ele se aproximou com um sorriso encantador.

- Ellen, eu sabia que você estava trabalhando de casa e pensei em trazer o almoço para nós. Afinal, você precisa descansar e se recuperar plenamente. - Ele explicou, mostrando as sacolas que continham refeições prontas.

- Não precisava disso senhor, Lwis.

- Não há de que senhora presidenta.

Roger, que até então observava a cena, saiu de fininho, deixando-me sozinha com Miguel. Ele começou a arrumar a mesa com uma habilidade que mostrava familiaridade, organizando os pratos, talheres e copos com precisão. Enquanto o observava, percebi como ele era detalhista e atento aos pequenos detalhes. Depois de alguns segundos, Miguel se aproximou de mim e estendeu a mão para ajudar-me a levantar da cadeira. Senti um leve arrepio percorrer minha pele quando nossas mãos se tocaram, mas logo me recompus e me ergui com seu auxílio. Sentamos à mesa e começamos a desfrutar da refeição. No início, havia um silêncio confortável entre nós enquanto apreciávamos cada sabor delicioso que Miguel havia preparado. A comida estava incrível, e eu não pude deixar de elogiar seus talentos culinários.

- É a primeira vez que tenho um jantar romântico com alguém. – Ele diz isso e eu engasgo, ele me ajuda a desengasgar dando gargalhadas. – Calma presidenta eu estou brincando com sua cara.

-Nunca mais faça isso. – Digo brava. – Mas é sério, você nunca teve um jantar romântico?

-Acho que eu fiquei tanto tempo focando nos estudos que acabei deixando de aproveitar a vida. – Disse ele, dando uma pausa. - E você já teve vários, sem ser os de negócios.

-Eu namorei apenas uma vez, e era raro termos uma refeição assim, sem ser para tratar de assuntos profissionais.

-Então você já namorou?

-Já.

-E você ainda gosta dele? – Miguel me olhava profundamente, buscando uma resposta que ele talvez não quisesse ouvir. Fiquei em silêncio, sentindo o peso da pergunta em minha consciência. Ele abaixou a cabeça, parecendo tentar afastar qualquer pensamento negativo. Mas então ele perguntou novamente. – Era o Vicenzo, não é?

Senti um aperto no peito ao mencionar o nome do meu ex-namorado. Olhei nos olhos de Miguel e percebi que ele estava lutando contra seus próprios sentimentos.

-Sim, era o Vicenzo. Mas isso faz parte do passado, Miguel. Nós não estamos mais juntos, e eu não sinto o mesmo por ele.

-Ellen, eu... - Miguel começou a dizer, mas foi interrompido pelo som do meu celular tocando.

Suspirei, desviando meu olhar e pegando o celular para atender a ligação. Era um assunto urgente relacionado aos negócios, que exigia minha atenção imediata. Enquanto me desculpava e começava a lidar com a situação, senti uma mistura de frustração e gratidão por ter Miguel ali, ao meu lado, mesmo que por um breve momento.

Sabia que aquela ligação inesperada adiava a conversa importante que estávamos prestes a ter, mas também entendia que minha posição como presidente exigia responsabilidades e decisões rápidas. Após encerrar a ligação, olhei para Miguel com um sorriso triste.

-Desculpe por interromper o momento, Miguel. É um assunto urgente, relacionado à empresa. Parece que o trabalho nunca descansa. – Digo olhando para ver se avistava o Roger no jardim, Miguel percebendo de levantou para arrumar as coisas.

Miguel assentiu compreensivamente, mas seu olhar revelava uma ponta de decepção. Sabia que precisávamos conversar sobre nossos sentimentos, mas agora não era o momento adequado.

- Eu posso voltar? – Disse Miguel arrumando as coisas da mesa.

- Claro, Miguel.

Não demorou muito para Miguel sair da minha casa, pois recebi a ligação de que meu pai estava a caminho. A relação entre meu pai e eu é bastante peculiar. Ele raramente me visita, mas quando o faz, é porque algo importante está acontecendo. Pedi a Roger que organizasse e esperasse meu pai no portão, enquanto eu me preparava para recebê-lo. Meu coração estava acelerado, pois não sabia o que esperar dessa visita inesperada.

Não demorou muito para meu pai chegar. Ele entrou em casa com uma expressão séria, e cumprimentamos-nos de forma formal.

-Ellen, precisamos conversar - disse meu pai, sua voz denotando seriedade.

-Claro, pai. O que está acontecendo? - perguntei, preocupada com a gravidade de sua expressão.

Ele se sentou e fez uma pausa antes de começar a falar.

-Recebi algumas informações sobre um possível problema financeiro na empresa da família. Parece que enfrentamos alguns desafios e preciso discutir isso com você - disse ele, olhando diretamente nos meus olhos.

Senti um arrepio percorrer minha espinha. Problemas financeiros na empresa familiar eram uma questão delicada, e eu estava ciente de que precisaria lidar com eles de maneira rápida e eficiente.

-Estou ouvindo, pai - respondi, tentando manter a calma.

Ele prosseguiu explicando os detalhes da situação, os desafios que enfrentávamos e as possíveis soluções que poderíamos considerar. Era evidente que ele estava preocupado, e meu papel como presidente da empresa era encontrar a melhor forma de superar esses obstáculos.

Antes de finalizar, meu pai me perguntou sobre o meu pé, demonstrando preocupação.

-Nada demais, pai. Logo estarei totalmente recuperada - respondi com um sorriso tranquilizador.

Ele suspirou aliviado, mas logo mudou de assunto, mencionando minhas recentes negociações com a França e a Inglaterra.

-Fico feliz em saber que você está fechando essas negociações, como sempre me deixando orgulhoso - disse ele, com um brilho de admiração nos olhos.

Agradeci seu apoio e sorri com humildade.

-Pai, eu só quero fazer o melhor para a nossa empresa. Estou trabalhando duro para garantir o seu sucesso, e tenho boas notícias em breve.

Ele me olhou com curiosidade, intrigado com a minha afirmação.

-Você sempre me surpreende, Ellen. Estou ansioso para ouvir essas boas notícias - disse ele, orgulhoso.

No entanto, ele não deixou de notar a presença de Miguel saindo da minha casa e questionou se ele era meu namorado.

-Ele é apenas um amigo, papai - respondi prontamente, tentando deixar claro que nossa relação era puramente amigável.

Meu pai fez uma pausa, absorvendo minhas palavras, e então deu um conselho firme.

-Neste momento, quero que você se concentre no trabalho, Ellen. É importante que você mantenha seu foco e dedicação ao sucesso da empresa.

Concordei com seu conselho, sabendo que ele tinha razão. Assenti em sinal de entendimento.

-Sim, senhor. Estou comprometida em fazer o melhor pelo nosso negócio.

Despedi-me do meu pai, agradecendo sua visita e sua confiança em mim. Assim que ele saiu, senti uma nova determinação tomar conta de mim. Era hora de focar no trabalho, enfrentar os desafios que estavam por vir e tornar a empresa ainda mais próspera.

Dei a ordem a Roger para avisar que não era para deixar o Miguel entrar. Sabia que essa atitude não era correta, mas eu estava determinada a não deixar nada me atrapalhar. Nada poderia interferir na minha concentração e foco nos desafios que enfrentava. Miguel aparecia na porta e dizia a Roger que não iria sair dali até que eu o atendesse. Essa cena se repetiu ao longo dos dias, e confesso que, mesmo com minha resistência inicial, comecei a sentir falta da presença de Miguel. Aqueles momentos de descontração e apoio mútuo que compartilhamos haviam se tornado parte da minha rotina.

No entanto, conforme os dias passavam, Miguel parou de ir à minha casa. Fiquei surpresa e, ao mesmo tempo, um pouco preocupada. Será que ele havia desistido de se aproximar de mim? Será que minhas atitudes o afastaram?

Aquela ausência deixou um vazio em minha rotina. Apesar de estar focada no trabalho, não pude deixar de sentir sua falta. Sua presença, mesmo que breve, trazia uma energia positiva e uma sensação de apoio que eu valorizava. Eu me peguei pensando em Miguel com mais frequência do que gostaria de admitir. A conexão que tínhamos, as conversas, os momentos compartilhados... tudo isso começou a ecoar em minha mente. Talvez, apenas talvez, houvesse algo mais entre nós.

Meu pé estava melhor e eu já conseguia andar com mais facilidade. Era uma noite tranquila e decidi dar uma volta pelo jardim da minha casa para aproveitar a brisa suave. O ambiente estava encantador, com o céu estrelado e uma sensação de serenidade ao meu redor.

No entanto, de repente, algo inesperado aconteceu. Um homem pulou o muro da minha casa, e assim que percebi essa cena assustadora, meus instintos de sobrevivência entraram em ação. Corri o mais rápido que conseguia, apesar de ainda sentir algumas agulhadas de dor no pé. O homem percebeu minha tentativa de fuga e começou a correr atrás de mim, aumentando minha aflição e desespero. Eu estava determinada a chegar à segurança da minha casa, mas a dor no pé dificultava meus movimentos. Finalmente, consegui chegar à sala, mas antes que pudesse trancar a porta, o homem me alcançou, segurando meu braço com firmeza e tampando minha boca para evitar que eu gritasse. Nesse momento de pânico, minha mente demorou um instante para processar o que estava acontecendo. Porém, quando ouvi a voz conhecida e reconheci o rosto do homem, minha angústia se transformou em alívio instantâneo.

-Calma, sou eu! - disse Miguel, soltando-me rapidamente e retirando a mão que tampava minha boca.

Fiquei atordoada por um momento, tentando assimilar o que acabara de ocorrer. Eu comecei a chorar descontroladamente, as emoções da situação anterior se acumularam dentro de mim e a liberação das lágrimas foi inevitável. Miguel, vendo minha reação, se aproximou e me abraçou com ternura.

- Desculpe, Ellen - disse ele com a voz embargada. - Eu não queria assustá-la dessa forma. - Eu fiquei preocupado com você, eu queria saber o que foi que fiz para você não querer mais me ver, então tomei essa atitude, mas vi que não foi correta, me perdoe. – Continuou. – Eu não consigo ficar mais longe de você.

As palavras de Miguel me atingiram em cheio, um turbilhão de emoções percorreu meu ser. Meu coração acelerou e um sorriso tímido surgiu em meus lábios. Era uma mistura de surpresa, alegria e um pouco de medo. Nunca imaginei que alguém pudesse sentir algo tão forte por mim, e a ideia de explorar um relacionamento romântico com Miguel despertou uma sensação de excitação misturada com uma pontinha de apreensão. Minha mente se encheu de perguntas e possibilidades. Será que estávamos prontos para abrir nossos corações e nos permitir amar? Será que poderíamos superar nossos medos e inseguranças juntos? O sentimento de estar conectada com alguém de forma tão profunda era novo e desconhecido para mim, mas também despertava uma esperança e uma vontade de vivenciar algo especial.

Eu sabia que precisava dar um passo além da minha zona de conforto e enfrentar os desafios que vêm junto com o amor. Não seria fácil, mas a promessa de uma conexão verdadeira e de apoio mútuo era algo que eu ansiava em minha vida. Afinal, o amor é uma das experiências mais bonitas e transformadoras que podemos ter. Enquanto absorvia todas essas emoções, eu sentia um misto de gratidão e felicidade por ter alguém como Miguel ao meu lado, alguém que me entendia e estava disposto a caminhar ao meu lado nessa jornada incerta. Era reconfortante saber que não estaríamos sozinhos, que teríamos um ao outro para enfrentar os desafios que surgissem.

Não sabia se me permitiria viver esse amor, mesmo com todos os receios e incertezas. Era um momento de coragem e confiança, um momento de me entregar à possibilidade de construir algo bonito e significativo ao lado de alguém especial. Com um suspiro suave, eu senti a chama da esperança se acender em meu peito, depois de muito tempo, eu senti está segura do lado de alguém.

- O amor está na porta Ellen, deixe a porta destrancada... – Ele disse. 

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Comments

Acacia de Lourdes

Acacia de Lourdes

um abuso

2024-09-23

0

Acacia de Lourdes

Acacia de Lourdes

coisa feia que ela fez, não era melhor conversar e explicar?

2024-09-23

0

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