Capítulo 10

Maya

— Como foi ontem com a Sabrina, conversaram? — Pergunto ao Ben, a caminho da escola, já que não nos falamos desde que saiu apressado lá do condomínio ontem.

— Não sei se foi bem uma conversa, mas... — Ele hesita em continuar por alguns segundos.

— Ela está certa, nos conhecemos há muito tempo e, não temos motivos para ficar enrolando... Estamos namorando. — Conta com a voz baixa, parecendo inseguro. E confesso que esperava outra resposta, tipo: “Disse a ela que estamos indo rápido demais e que precisamos ir com mais calma”.

— Parabéns então! — Digo e ele passa o braço em volta dos meus ombros, me puxando mais para perto do seu corpo, como de costume.

— Sei o que está pensando, conheço você. — Diz e beija o topo da minha cabeça.

— Ela não é a megera que você pensa, vocês vão se dar bem. — Forço um sorriso como resposta. Porque qualquer coisa que eu diga nesse momento, será invalidada pela antipatia que ele sabe que sempre tive por ela.

Tem alguma coisa muito errada nessa história! O Ben é lindo, e chama a atenção de várias garotas, mas nunca chamou a atenção da Sabrina, pelo menos não até dois dias atrás. A sala de aula dela fica em frente a nossa, já nos esbarramos milhares de vezes pelo corredor e nos intervalos, e os olhares dele para ela nunca foram correspondidos. Aí, agora, do nada, ela está com toda essa urgência em se tornar sua namorada... está difícil de engolir, e juro que não é ciúme.

— Bom dia casal! — Samira nos cumprimenta do mesmo jeito de sempre, ao chegarmos na entrada da escola. Arqueio minhas sobrancelhas para ela, ao ver a Sabrina se aproximando, e seus olhos se arregalam sob seus óculos de grau.

— Desculpe, acho que não posso mais brincar assim. — Sussurra, e eu seguro o riso ao ver sua expressão constrangida. Sinto o olhar da Sabrina queimar meus ombros, ao ver o braço do namorado sobre eles, mas quando encara o Ben, um sorriso forçado e uma expressão doce surge em seu rosto.

— Bom dia, meninas! — Cumprimenta com a voz suave ao se aproximar, fazendo eu e a Sam trocarmos olhares antes de responder ao cumprimento, essa garota nunca nem nos disse “oi”.

— Bom dia, amor! — Diz antes de se pendurar no pescoço do Ben, fazendo com que ele me solte.

— Amor? Isso é sério? Só estão juntos a quarenta e oito horas! — Penso.

— Vejo vocês na sala! — Benjamin nos dispensa e gruda os lábios na namorada. O que me conforta, é saber que tenho alguém que compartilha da mesma opinião a respeito da Sabrina, a Samira a vê do mesmo jeito que eu vejo. Enlaço meu braço no da Sam e entramos na escola.

— Bom dia, docinhos! — Breno diz ao nos encontrar no corredor, próximo à sala de aula, onde conversa com alguns amigos. Respondemos educadamente e entramos na sala, ocupando nossos lugares.

— Que fim de semana foi esse?

Primeiro, eu beijo o Benjamin, tudo bem que paguei por isso... — Contraio uma risada.

— Depois, a entojada da Sabrina o beijou e mostrou isso ao vivo na internet, e ainda anunciou que estão namorando. — Reviro meus olhos.

— Você foi para casa com o Breno... E agora, vai me contar tudo que aconteceu entre vocês para

ele nos chamar de docinho, porque não é possível ter sido só o que me

contou por mensagem. Teve beijo, não teve? — Nego com a cabeça, ao ver o Breno passar por nós para sentar em seu lugar, e ela ainda demonstra desconfiança. Mas se vira para frente com a chegada da diretora da escola, que traz junto todos os alunos que ainda estavam fora da sala, menos o Benjamin.

— Bom dia crianças! — D. Meire, nossa diretora, nos cumprimenta.

— Não vou me demorar! — Diz ao nosso professor de biologia que acaba de entrar na sala.

— Fiz questão de vir aqui para parabenizá-los pelo sucesso da nossa festa e, se não conseguir passar por aqui até o fim da semana, lhes desejo boas férias! — Os burburinhos e comemorações pela proximidade das férias começam e deixam a sala completamente barulhenta, assim que D. Meire se ausenta.

— Ela tem razão, a festa foi um sucesso! — Samira diz ao ver o Ben entrar na sala atrasado e com os lábios borrados de batom. Ele me olha meio sem jeito e eu faço um gesto discreto para que ele limpe os vestígios do motivo do seu atraso, antes de voltar minha atenção para o professor.

****

— Te encontro lá no pátio, preciso usar o banheiro. — Digo a Samira quando saímos da sala na hora no nosso intervalo, e vou apressada até o banheiro, passei o último tempo inteiro segurando minha vontade de urinar. E, após usar o banheiro, lavava as mãos, quando a Sabrina passou pela porta, e vi pelo reflexo do espelho como me olhou dos pés à cabeça com insignificância.

— Olha quem está aqui!

Como é mesmo o seu nome? — Pergunta com um tom arrogante. Seco minhas mãos e me viro para encará-la.

— Maya. — Respondo, mesmo tendo certeza que ela já sabe, nos conhecemos desde o primário.

— Então, Maya, estava mesmo querendo falar com você. Notei o quanto você e meu namorado são íntimos e... — Interrompo-a.

— Somos amigos há anos. — Digo ao perceber seu tom insinuante, ela arqueia uma das sobrancelhas e se aproxima, e preciso erguer meu queixo para que meus olhos encontrem o seus, porque ela deve ter, no

mínimo, uns dez centímetros a mais que eu.

— Querida, eu vou direto ao ponto.

Não quero mais ver a cena que vi hoje no portão, não quero ver os braços do meu namorado em volta de outro corpo que não seja o meu, estamos entendidas? — Cruzo meus braços a frente do meu corpo e gargalho debochadamente.

— Querida, eu até entendo que você não tenha gostado de nos ver abraçados, mas não acho que sou eu quem tenho que ouvir sua reclamação. Até porque, eu não forço o Ben a nada, e é sempre ele quem me abraça, e se alguém deve algum respeito a você, esse alguém é ele. — Sei que ela tem alguma razão, acho que também não gostaria de ver meu namorado andando abraçado a outra pela rua, mas, mesmo assim, fico irritada com sua arrogância e tento passar por ela para sair do banheiro, mas sua mão segura meu braço.

— Você, quem sabe, se prefere passar a vergonha de posar de “a outra” ... — Tenho certeza que estou completamente vermelha neste momento, de tanta raiva dessa garota, ela não faz ideia do quanto esse tipo de coisa mexe comigo, tanto que paraliso e não consigo dizer mais nada.

— Ah, espero que essa conversinha fique só entre nós, não quero ter que pedir ao Benzinho, para se afastar de vez da amiguinha dele, mas se for necessário… — Diz ao soltar meu braço, antes de passar pela porta do banheiro.

Finalmente consigo me mover e espalmo minhas mãos na pia do banheiro, enquanto controlo minha respiração e seguro as lágrimas que estão tentando escorrer por meus olhos. Sei que essa garota não me conhece o suficiente para saber o quando eu abomino traição e tudo que vem junto, mas no momento, tudo que consigo sentir é raiva do Benjamin, por ter deixado essa garota ficar entre a nossa amizade.

Continua...

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