Capítulo 18

Dois dias depois...

Benjamin

— Posso entrar? — Pergunto parado na porta, entreaberta, do quarto da Maya. Ela me olha com surpresa, mas permite minha entrada, sentando-se em sua cama, encostada na cabeceira.

— O que faz aqui?

Sua namorada acabou de postar que estava a caminho da praia. — Pergunta, enquanto me sento a sua frente.

— Ela está mesmo, mas eu... eu preferi vir ver o que está acontecendo com uma das pessoas mais importantes da minha vida. — Seguro sua mão, e seus olhos marejados encontram os meus.

— Eu já estava colocando a mala no carro quando a tia Denise me ligou, perguntou se eu sabia o que estava acontecendo com você, porque você sempre me conta tudo, e tinha voltado triste da casa do seu pai. E quando eu respondi que não sabia, é que me dei conta do quanto estamos afastados, e que não sei muito a seu respeito ultimamente.

— Uau! Você desistiu de viajar com o seu irmão para viajar com a sua namorada, e agora desistiu de viajar com sua namorada por mim?

Agora mesmo é que a Sabrina vai me odiar!

E eu aqui achando que você não me amava mais! — Diz, sarcasticamente.

— Eu nunca vou deixar de amar você, você sabe disso. E não vamos falar da Sabrina, não agora.

Eu passei todos esses dias atormentado pelas coisas que te disse, mas estava envergonhado demais, e sem coragem para te procurar e pedir que me perdoe. — Digo e ela desvia o olhar para o colchão.

— Está tudo bem, você não é o motivo para eu estar assim, ou melhor, não é o único motivo. — Responde.

— Não está tudo bem, se estivesse, eu saberia qual é o outro motivo. Mas, me conta, o que aconteceu lá na casa do seu pai?

Sei que não é seu lugar preferido, mas voltar triste, é novidade. — Tirando sua mão da minha, ela cobre o rosto com as duas mãos e deixa sua cabeça cair para trás, entre seus ombros.

— Eu estou triste comigo... Estou me sentindo egoísta. — Responde e volta a me olhar.— Meu pai vai ter outro filho e eu não estou sabendo lidar com isso. Nem consegui contar para a minha mãe, fiquei com medo de ver algum sofrimento em seus olhos novamente. — Pego novamente sua mão e seguro entre as minhas.

— Eu entendo, mas, e se fosse ao contrário, se sua mãe estivesse grávida, acha que estaria desse jeito? — Pergunto, mas já sei a resposta, conheço bem essa garota.

— O Bruno nunca foi amante da minha mãe, Ben, a Verônica era amante do meu pai. Eu não consigo gostar da esposa do meu pai, como vou conseguir gostar do filho dela?

* Estou me sentindo péssima por isso. — Me aproximo e puxo-a para um abraço. Beijo o topo de sua cabeça e acaricio seus longos cabelos, enquanto ela chora em meu peito.*

— Maya, eu conheço a sua história, assim como você conhece a minha, e te entendo. Só que não é no seu lugar que consigo me colocar, é no lugar dessa criança, eu sou fruto de uma traição do meu pai, e tive muito medo do meu irmão não me aceitar por isso. No entanto, você sabe como nos tornamos amigos, porque ele sabe que eu não tive culpa de nada, assim como essa criança também não tem.

Eu conheço você, sei que vai amá-la no primeiro momento em que pôr os olhos nela. — Ergo seu queixo para que me olhe e seco suas lagrimas com meu polegar.

— Porque você não é linda só por fora, é ainda mais bonita por dentro. — Meu olhar percorre as sardas do seu rosto e me vejo sendo transportado para quase três anos atrás, enquanto dançávamos em sua festa de

quinze anos e senti uma vontade avassaladora de beijá-la.

Beijo a ponta de seu nariz, e seus olhos se fecham. Fecho meus olhos e roço meus lábios em seus lábios macios, que corresponde timidamente ao beijo, e já não consigo pensar em mais nada. Deslizo minha língua por seus lábios e sinto o mesmo sabor doce que senti no nosso primeiro beijo, e seguro seu rosto quando tenta se afastar, não quero que isso acabe, não quero parar de beijá-la nunca mais.

— Ben, não podemos fazer isso... — Sussurra entre nossos lábios, mas cubro novamente seus lábios com os meus.

— Benjamin... Você tem namorada! — Ela diz e se afasta bruscamente, me trazendo de volta a realidade.

— Por mais que ela seja uma megera e não mereça você, isso não é certo. — Diz ao se arrastar para fora da cama, e eu sei que está certa.

— Me desculpe, sei que não deveria ter feito isso... Mas meus sentimentos andam tão confusos...— Digo e me levanto da cama, carregando uma culpa imensa nas costas, e morrendo de medo de ter estragado de vez a nossa amizade.

— É melhor você ir agora, eu preciso ficar sozinha. Mas, muito obrigada por ter se preocupado comigo, e desculpe por ter atrapalhado sua viajem, com os meus problemas. — Diz encarando a janela com a respiração acelerada, evitando me olhar.

— Maya, eu vou, mas, eu sempre vou me preocupar com você e, não são os seus problemas, são os nossos problemas. Sempre foi assim, lembra? — Lembro-a, segurando minhas lágrimas, de que nenhum de nós dois resolve nada ou sofre sozinho, é assim desde que nos conhecemos, e não quero que isso mude.  Ela assente ainda encarando a janela, e dá um passo para trás quando me aproximo para me despedir, fazendo com que eu desista e saia do quarto, com a minha cabeça e o meu coração completamente bagunçados.

Continua...

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