Benjamin
Eu sempre fui uma criança muito esperta, e cresci cercado de
amor e carinho, mas, aos cinco anos, pedi aos meus pais um irmão. Eu sentia
falta de outra criança para brincar em casa, e a maioria dos meus colegas da
escolinha tinha um irmão ou irmã mais velha. Meus pais não tinham a intenção de
ter outro filho, mas eu era tão insistente, que meu pai acabou me contando que
eu já tinha um irmão, quinze anos mais velho que eu. Claro que não entendi muita
coisa na época, a única informação que guardei, foi que eu já tinha um irmão, e
achei aquilo fantástico.
Fiz muitas perguntas ao meu pai sobre ele, perguntas que nem
mesmo meu pai sabia responder. Insistia que queria conhecê-lo, mas meu pai
explicou que ele estudava em outro país, e que quando ele voltasse, eu o
conheceria. Os anos foram passando e, tudo que eu tinha do meu irmão, era uma
foto de quando ele era criança, bem parecido comigo, ou melhor, nós dois somos
parecidos com o meu pai, e a informação de que ele era guitarrista.
Eu sempre gostei de música, mas queria ter algum assunto em
comum para conversar com ele quando nos encontrássemos, ele virou minha
obsessão. Quase todo menino tem seu super-herói favorito, e ele era o meu,
mesmo sem nem saber como ele era.
Por coincidência, recebi um panfleto na porta da minha escola sobre uma escola de música, dança e vários outros tipos de atividades. Na mesma hora, pedi a minha mãe para me matricular, e comecei a
fazer aulas de guitarra aos nove anos, me empenhei tanto que, já não era mais
só pelo meu irmão, era por mim, me apaixonei pela sensação que o som da guitarra me causava.
Até que um dia, eu não sabia o motivo na época, mas depois
eu soube, depois de uma aula, meu pai foi me buscar e paramos no meio do
caminho de casa para tomarmos um sorvete. Lembro que era um dia muito quente,
mas estranhei, porque não faltava muito para o jantar, e meus pais,
normalmente, não me deixariam tomar um sorvete antes de comer. Mas, quando
sentamos em uma das mesas da sorveteria, meu pai ficou pensativo por um tempo
e, após achar as palavras corretas, me contou que meu irmão já estava de volta
a cidade a algum tempo, mas que nunca me contou, porque não sabia se ele ia querer me conhecer.
Lembro que segurei as lagrimas na hora, foi difícil de ouvir, achei que o problema
era comigo, mas meu pai me tranquilizou, ou, tentou, me contando que a culpa
era dele. Disse que foi casado por dezesseis anos com a mãe do meu irmão, e eu
nunca nem tinha pensado a respeito, só salvei a informação de que tinha um
irmão, e que o nome dele era Igor.
E, lacrimejando, me contou sua história. Disse que não tinha sido um bom marido para ela, e nem um bom pai. Que ele fazia de tudo para passar o máximo de tempo fora de casa, porque toda vez que voltava, tudo que ele e a esposa faziam, era brigar. E que eles eram tão egoístas na época, que
nem se importavam se meu irmão estava ouvindo as brigas ou se precisava de um
pouco de atenção. Até que um dia, minha mãe começou a trabalhar na mesma
empresa que ele e os dois se envolveram, e meses depois, minha mãe descobriu
que estava grávida e meu pai decidiu pedir o divórcio do seu casamento, “falido”,
e foi morar com a minha mãe.
Até aquele momento, eu não fazia ideia de que essa era a
minha história, que eu era fruto de uma traição. Mas ele diz que não se orgulha
do seu passado, e que sabia que não podia voltar no tempo e consertar as coisas
com o meu irmão, mas que poderia ser melhor para mim e para a minha mãe, e ele realmente é.
Algumas semanas depois, eu entendi o motivo dele ter
escolhido aquele momento para me contar toda sua história. No dia em que foi me
buscar, eu o apresentei uma amiga mais velha, que, na verdade, trabalhava lá e é
filha do dono do Espaço Cultural, e também o namorado dela. O que eu não sabia,
é que se tratavam do meu irmão e a namorada dele, que hoje é minha cunhada, são
casados e me deram uma sobrinha linda, a Rana.
Meu irmão soube quem eu era antes que eu soubesse dele, mas
resistiu um pouco, por não querer uma aproximação com o meu pai, e eu juro que
entendo. Mas minha cunhada o fez entender que eu não tinha culpa de nada, e que
ele deveria nos dar uma chance, e foi o que ele fez. E hoje, é meu melhor
amigo, a pessoa que me aconselha quando preciso... ta bom, só às vezes, porque
os conselhos da minha cunhada são muito melhores que os dele.
Também tenho uma melhor amiga, a Maya, nos conhecemos aos
onze anos e não nos desgrudamos mais. A Maya é do tipo de garota sem frescuras,
que me deixa a vontade para falar sobre qualquer coisa, e foi quem me ajudou
por um período complicado da minha vida.
No meu aniversário de dez anos, meu irmão fez uma apresentação surpresa com sua banda, eu fiquei muito feliz, porque muitos dos meus amigos não acreditavam que eu tinha um irmão famoso, por várias vezes fizeram piadas com isso. Mas depois que ficou comprovado que não estava
mentindo, meu número de “amigos”, aumentou absurdamente. No começo achei legal,
mas depois entendi que não era por mim, todos queriam fazer perguntas sobre o
meu irmão, pedir autógrafos e fotos... Aquilo estava ficando tão
desconfortável, que pedi a minha mãe para que me trocasse de horário na escola,
e foi assim que fui parar na mesma turma da Maya.
Já nos falávamos no Espaço Cultural, onde ela fazia aulas de
dança e eu de guitarra, mas foi na escola que nos aproximamos de verdade. Ela
era a única que eu conhecia na turma e, estava precisando de ajuda com as
notas... juntamos o útil ao agradável e… foi uma das melhores coisas que já
me aconteceu.
Continua...
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Atualizado até capítulo 81
Comments
User123456
Adoro esta conexão que você faz , com as outras obras, assim matamos a saudade dos personagens.
2024-05-21
0
Disandra Azevedo Dos Santos Barboza
Que lindo 😍😍😍
2023-10-01
4
b3ars_parasempre
adorei essa obra, ler isso é como uma terapia para mim, como uma história pode ser tão legal de chegar no ponto de me fazer tão bem?
2023-09-25
3