Capítulo 9

Maya

Acordei com uma quantidade absurda de mensagens em meu celular. Respondi a do Ben, que ignorei na noite passada, porque não queria falar sobre a Sabrina e nem sobre o Breno. E por falar em Breno, também tinha uma mensagem dele, que começava se desculpando por ter pego meu número no grupo da escola, ele queria saber se eu ia aparecer no treino, como quase sempre faço, porque se fosse, poderíamos fazer alguma coisa juntos quando terminasse.

Eu até estava disposta a ir, mas desisti ao ler sua mensagem. Ele é legal, mas não quero que crie expectativas, não vou entrar nessa. Só falta meio ano para completar minha meta de não me envolver com ninguém e, não quero ser mais uma na lista do Breno. Dei uma resposta mentirosa, disse que tinha compromisso e me despedi com um, “até segunda!”, para vetar qualquer convite para sair à noite.

Depois abri o grupo da escola e, não dei conta de ler todas as mensagens, mas o assunto era um só, o "namoro" do Benjamin e da Sabrina, até o link da página dela colocaram. Eu não a sigo nas redes sociais, mas cliquei no link por curiosidade e... parece que o Ben andou bem ocupado na festa.

Saí do quarto para tomar meu café, embora não estivesse com fome, e vi minha mãe tão feliz por ter o Bruno o dia inteiro em casa... e os dois estavam tão grudentos... que terminei o café e resolvi deixar os dois um pouco mais à vontade. Peguei meus patins e desci para a área de esportes do condomínio, patinar, assim como a dança, funciona como terapia para mim, me ajuda a pôr meus pensamentos em ordem.

Deslizo e rodopio pela pista diversas vezes, sentindo o vento em meus cabelos e a sensação de liberdade que eu amo.

— Deveria se tornar profissional! — Uma voz me assusta e faz com que eu me desequilibre, e meu traseiro encontre o chão.

— Desculpe, não foi minha intenção te assustar! — Benjamin diz, segurando meus braços para me levantar do chão, e vejo que veio direto do ginásio, continua com o uniforme de basquete e a mochila pendurada no ombro.

— Sem problema! — Digo espanando a poeira do meu short com a palma das mãos, quando já estou de pé.

— Machucou? — Ele pergunta e faço que não com a cabeça, antes de patinar até um dos bancos duplos de madeira e sentar para tirar os patins.

— Eu subi, e sua mãe disse que estava aqui... Por que não foi ao treino hoje? — Pergunta sentando ao meu lado.

— Estava cansada, quis dormir um pouco mais. — Minto, mas ele parece acreditar.

— É, hoje foi difícil mesmo levantar da cama, depois da festa de ontem. — Fala de cabeça baixa, encarando a madeira do banco enquanto passa o polegar sobre ela.  Um muro feito de silêncio se constrói entre nós, e não posso permitir isso, não existe silencio entre nós, nunca precisamos disso, sempre falamos tudo que estamos pensando para o outro, ou, quase tudo.

— Caramba! Com quem você aprendeu a beijar daquele jeito? — Brinco para quebrar o silêncio, mas ele não ri, apenas me fita com seus olhos azuis.

— Ei, relaxa! Só estou brincando com o futuro astro do basquete! — Faço uma referência à legenda da foto publicada pela Sabrina. Passando uma das mãos pelo cabelo louro bagunçado, ele franze a testa encarando

o céu azul sobre nós.

— Ainda estava lá na hora do beijo... tinha esquecido disso. — Comenta ainda encarando o céu.

— É, eu estava. Tinha acabado de me afastar da barraca para entregar um cartão do... — Respondo e me calo com um breve sorriso em meus lábios, ao lembrar que o cartão era para mim. Seu olhar deixa o céu e passa a estudar meu rosto.

— Está feliz? Afinal, faz tempo que você a espera. — Pergunto e ele dá de ombros.

— Não sei.

Foi bom, mas acho que estou um pouco assustado com toda essa exposição. — Deixando sua cabeça cair entre os ombros.

— Você acostuma, sua namorada gosta desse tipo de coisa. — Digo, dou de ombros e ele me olha.

— Você também?

Não somos namorados, foi só um... alguns beijos. — Diz e se curva, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e o queixo em seus punhos.

— Então... continuaram depois que sai? — Pergunto, sentindo um aperto estranho em meu peito, e ele afirma movimentando a cabeça.

— Olha, se está incomodado com essa coisa de namorado, deveria dizer isso a ela. Porque só estamos repetindo o que ela mesma publicou. — Ele fica em silêncio por alguns segundos e se ajeita no banco, ficando de frente para mim, abrindo e fechando a boca algumas vezes, como se estivesse tomando coragem para dizer algo.

— E você, por que não me esperou para voltarmos juntos?

Por que preferiu vir com o Breno, está rolando alguma coisa entre vocês? — Pergunta, meio

sem jeito. Solto o ar e não contenho um sorriso, ao lembrar da sinceridade do grandalhão que me trouxe para casa ontem.

— Eu não preferi vir com o Breno, ele quis me acompanhar, e foi uma ótima companhia. 

E, não, não rolou nada com o Breno.— Respondo e ele franze o cenho, mas logo sua postura parece relaxar.

— Vamos lá para casa?

Almoçamos e passamos a tarde inteira jogando, o que acha? — Pergunta, mas quando vou responder, seu telefone toca.

— A Sabrina me ligando?­— Diz ao tirar o celular da mochila, olhando surpreso para a tela, se levantando e se afastando para atender. Mas ouço quando responde que só vai passar em casa para tomar um banho rápido.

— Desculpe, vou ter que retirar o convite. A Sabrina quer me encontrar e, acho que precisamos mesmo conversar. — Vejo em seu olhar a ansiedade de encontrá-la, o que é frustrante.

— Está tudo bem, fica para próxima! — Respondo, forçando um sorriso. Pois, prevejo que a Sabrina não nos dará muito espaço.

Continua...

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