Parte dois: Como posso obter seu perdão?

Papeladas sobre a mesa e o "project" das armas ficou na minha frente, Benedicto entrando e saindo com garras de café e chás me mantendo desperto.

Perdi a noção do tempo desvendando os segredos que ninguém conseguiu. Meu avô está lidando com os insatisfeitos que querem a nomeação do meu tio para ser o herdeiro.

A situação financeira piorou tanto que tivemos de demitir vários empregados. Diminuir a jornada de trabalho e fazer algumas tarefas domésticas.

A empresa entrou em crise e os credores bateram na porta exigindo o pagamento dos empréstimos que fizemos.

Meu tio comemora minha queda num jantar de noivado anunciando a quarta futura esposa. Anabela vestida elegantemente num vestido vermelho , aberto atrás decote que chega no seu córtex, o modelo desenhado pelo melhor estilista do mundo, a sandália cheia de diamantes num salto elegante fino, seus lábios com batom marcante no vermelho ruche, brincos e colar encrustado pedras preciosas.

Apesar de estar ocupado com o trabalho e saber tudo que fizeram, me doeu ver pela televisão os repórteres correndo atrás deles para obter uma foto.

Cobrindo o evento do ano com a presença ilustre de deputados e famosos.

Todos querem uma fatia desse modelo de casal, assim chamado pelos repórteres.

— Boris, está bem? — Benedicto entra com uma garrafa de vinho.

— Lógico que estou. — Meus olhos ainda estavam na televisão vendo sorrir a mulher que amei para outro homem.

— Não precisa ser forte comigo. Nunca pensei que Anabela fosse ir tão longe por dinheiro.

— O que você sabe? — Pergunto ansioso, grudando em sua roupa.

Pelo reflexo dos seus olhos pude ver a patética figura que sou. Um homem infeliz, usado por todos em sua volta, indefeso e sozinho.

— Deixe-me só. — Soltei sua roupa indo trabalhar que é a única coisa que sei fazer.

— Vamos beber um pouco.

— Acha que tenho tempo para isso? Se eu não conseguir resolver isso, irei perder tudo.

— De cabeça quente não vai conseguir fazer nada.

—Disse para sair. — Falo sem paciência.

— Sabe que é isso que querem de você, te desestabilizar, por isso anunciaram o noivado.

— BENEDICTO.

— Beba.

Olhei para ele com o copo na mão, no meu rumo e me desmanchei. Um fracassado em frente ao amigo que traí, magoei tanto, mesmo assim permaneceu do meu lado quando precisei.

Sua lealdade nunca foi comprada por dinheiro, um irmão que jamais deveria ter metido na cama da minha esposa.

Ficamos sentados bebendo em silêncio, vendo a televisão e o jantar glamouroso transmitido ao vivo. Vários parceiros de comércio presentes, homens que sabiam do meu relacionamento com Anabela lhe parabenizando.

No meio do discurso dela, um dos repórteres perguntou sobre o nosso caso. No clima meio desagradável, ela sorriu dizendo que alguém tão imaturo, não poderia ser seu marido.

Todos riram da sua declaração.

Meu tio satisfeito com sua prova de amor, seus pais e irmãos presentes declarando publicamente o apoio deles.

Por anos tentei os convencer de me aceitarem, fiz tudo para provar minha capacidade para fazer feliz e seu genro querido, líder da família.

Nada disso importa para eles.

Me sinto um cordeiro no meio de lobos selvagens, devorando meu frágil corpo.

Nesse pensamento depressivo, olhei para BENEDICTO querendo saber a causa dele no passado ter me ajudado, mesmo depois do que fiz.

— Por que você está comigo? Todos apoiam meu tio.

— Sério que me pergunta isso?

— Sou patético para eles.

— Burro também. Avisei que aquela serpente não era confiável, nunca gostei da forma que ela tentava me seduzir quando estávamos sozinhos.

— Ela fez o quê?

— Por que a surpresa? Havia lhe dito várias vezes e você sempre negava dizendo que era o jeito dela.

Suspirei ficando com a cabeça para trás, querendo me bater do quanto fui burro.

— Minha noiva, como ela está?

Coloco a mão na cabeça, desfiando covardemente da conversa que me machuca.

— tão pouco confio nessa mulher.

O rosto dele estava sério, mordiscando os lábios inconformados de ter Andreia ao meu lado. Se ele soubesse do grande pecador que sou, talvez estaria me tratando da mesma forma que ela.

— Ela é maravilhosa. Está com raiva somente pelo mal que fiz.

— O que fez para ela ser tão arrogante e ainda lhe defender?

— Não sabe como era louco por Anabela?

— Nem consigo imaginar o que fez. Você era tão cego por Anabela que mesmo vendo ela com outro inventaria qualquer desculpas para a proteger.

— Então é assim que me vêem?

— Pode nos julgar?

Respirei fundo tomando um gole grande de bebida.

— Argggh... Pelo amor de Deus. Continuo tão burro que estou deprimido por uma mulher que nunca me amou, ao invés de reconquistar minha mulher.

— Aquela é sua ex ?

— Pior do que isso. — Coço a cabeça aflito. — O que faria para ser perdoado?

— Está falando sério?

— Lógico que estou idiota.

— Qual foi o tamanho da sua burrada?

— Diria que causei dor o suficiente para ser odiado por duas vidas.

— Desiste.

— Como assim desiste? É meu amigo ou não?

— Uma burrada tão grande não vai ser esquecida.

— Não posso aceitar isso. E por isso que estou lutando tanto.

Benedicto riu, um sorriso doce de um parente orgulhoso da mudança de seu irmão mais novo.

— Finalmente!

Fiquei bravo com a reação e acabamos lutando como na nossa infância onde o seguia por todos os lados. Sempre o admirei e segui seu exemplo, isso antes de Anabela entrar em minha vida, antes de perder meus pais.

Éramos puros e não conhecia a dor.

— Se fez tanta besteira deve pagar em dobro. Compensar por tudo o que fez de ruim.

— Ela nem deixa eu me aproximar.

— Lógico, foi tu que a fez sofrer.— Riu de mim.

Continuamos assistindo o noivado e todos os presentes pela televisão, sumindo aquele aperto de dentro.

Olhei a beleza de Anabela e senti pena por estar vendendo para alguém tão inescrupuloso, capaz de lhe jogar a frente de tiros só para se salvar.

— Sabe?

— O quê?

— Tenho algo que vai destruir esse sorriso deles e trazer todos esses idiotas pra o meu lado.

Benedicto olhou para a mesa cheia de equipamentos e papéis, então acenou com a cabeça, levantou do chão pegando no meu ombro me dando seu apoio.

— Faça o que tiver de fazer.

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