Renascer. Versão Boris.

Abri meus olhos esperando estar no inferno, onde mereço ficar após tudo o que fiz. Acordando no dia do meu noivado forçado, no mesmo sol quente, cantando os passarinhos pela janela.

Anabela dormindo ao meu lado tranquilamente, confuso, olhei para o celular procurando entender o que estava acontecendo.

Como poderia esquecer o dia da minha humilhação? O dia que determinei um lado, sendo enganado pelas colchas macias de uma mulher vaidosa.

Quis matá-la bem ali, tirar essa vida estúpida. Agradecido por ter tido uma nova oportunidade de concertar o passado. Pontualmente como sempre, Benedicto entrou no quarto. Surpreso por estar de pé, sempre tive dificuldade para acordar sozinho de manhã.

— Teve algum pesadelo? — Perguntou brincando.

— Daqueles reais. — Respondi com nojo de estar ao lado de Anabela.

— Mande preparar um banho.

— Não tem tempo, seu avô quer falar contigo.

— Diga ao velho que preciso desse banho, não suporto meu cheiro.

Benedicto reparou que estou diferente, sombrio e enojado. Suspirando, indo convencer meu avô a esperar, me dando um pouco de espaço.

Tomei o banho mais demorado de toda a minha vida, esfregando meu corpo para sair a essência de Anabela, furioso por ter sido cego durante tanto tempo.

Saindo após ter certeza que nenhum cheiro dela ficou em mim. Vesti meu paletó antigo que comprei com meu próprio dinheiro quando fui expulso de casa, não queria utilizar as peças que Anabela comprou.

Todos ficaram confusos ao me verem com um traje tão simples feito com retalhos de segunda mão.

Caminhei pelos corredores vendo os rostos dos seguranças que me traiu, sempre os ignorei ao passar, então se sentiram desconfortáveis com a encarada.

Cada rosto marquei na memória para nunca esquecer quem está contra mim.

— Benedicto.

— Sim, meu senhor.

— Vou lhe entregar uma lista e quero que despida os nomes que estiverem neles.

— Quer trocar nosso pessoal? Por quê?

— Porque acordei de um terrível pesadelo e não quero voltar a sonhar com meu fim.

Benedicto não compreendeu tentando argumentar para manter o emprego de seus homens.

Fomos interrompidos pela porta se abrindo com o perfume afrodisíaco preenchendo meu corpo, parada com o olhar sério num sorriso afrontoso de lado, numa roupa que nunca havia visto, está é minha mulher.

Que saudades!

Quis a tocar, beijar e implorar para me perdoar, seria estranho demais fazer isso no nosso primeiro encontro.

Fiquei nervoso e tímido diante dessa mulher tão linda deixando de notar sua postura diferente do passado. Pelas minhas memórias, ela foi sequestrada e obrigada a se casar comigo, então o que está fazendo aqui?

Comecei a ficar ansioso, talvez ela se lembre do que lhe fiz, todas as loucuras e pecados cometidos por minha cegueira.

Entrei em pânico e não consegui me manter firme diante desse rosto tão distante que me olha em repulsa.

— Este é o seu neto? — Disse me encarando de cima para baixo, alisando como um objeto inútil.

Benedicto não gostou de sua atitude, querendo lhe punir, mas lhe impediu.

Ao ver o rosto dele ficou ainda mais contorcido de desprazer, chegando a cuspir no chão.

Para todos foi um gesto ofensivo e queriam machucar, meu avô em silêncio só observou tudo.

— Senhor Armando, faça assinar o contrato com todas as cláusulas presentes. Além disso, estou indo hoje mesmo para a casa que me prometeu.

— QUEM É VOCÊ PRA CHAMAR SENHOR, MEU MESTRE? — Benedicto disse não suportando a falta de respeito dela que riu da sua cara.

Os outros seguranças olharam para o velho querendo sua ordem para acabar com a mulher.

Fui para a proteger deles, pego de surpresa assim como os outros pela postura dela, sem medo enfrentou o homem de 1,90 de altura, o intimidando pior do que qualquer assassino treinado por eles.

Não continha medo nos seus olhos, sorrindo como uma loba.

— Fique quietinho como se fosse um fantasma, se possível nem respire perto de mim.

Olhou para meu avô e os homens que nos capturaram para a morte, os mesmos que torturaram sua mãe.

— Quanto esses cretinos espero que se livre deles.

Naquele momento percebi que ela se lembra de tudo, cai nos meus próprios pés, assustado como um gato de rua.

Um vira-lata que acabou de perder sua casa por ter feito besteira.

— Farei o que deseja. — Meu avô concordou.

Benedicto não compreendeu porque estava sem reação, aceitando ela mandar sem protestar. Em outro tempo teria mandado lhe matar ou a assustado, entretanto sou eu o assustado caído no chão.

— Andreia. — Sussurrei seu nome, o que fez ele se contrair de nojo.

— NUNCA DIGA MEU NOME, SEU IMUNDO! — Ela gritou jogando o cinzeiro em minha cabeça.

— Sinto muito por tudo.

Todos estavam incompreendidos, apenas ela sabe do que estou falando, me olhando com sangue e morte, querendo me esfolar vivo.

— Se puder me dar uma chance. — Abaixei a cabeça para o susto de todos e o mínimo que posso fazer depois de lhe humilhar tanto.

Ela se aproximou com os lábios de serpentes pronto para destilar seu veneno.

— Se sabe o que fez, sabe o que deve fazer. — Puxou meu cabelo pra trás, logo cuspindo no meu rosto.

Soltando com tudo a cabeça ao chão pisando no meus dedos das mãos da mesma forma que fiz no nosso casamento.

Benedicto não suportou ver tudo isso, indo a pegar pelo braço levando um tapa de estralar seu rosto e o curvar para o lado. O barulho alto assustou meu avô que assistiu tudo calado.

— Nunca ouse colocar essas mãos imundas em mim, da próxima vez será cortada. — Diz em ameaça.

Perplexo ninguém da sala sabia como reagir, deixando-a sair do local com os olhos esbugalhados.

— QUEM É ESTÁ VACA? — Gritou Benedicto.

Levantei do chão enquanto meu avô ainda não sabia o que dizer disso tudo.

— Assinarei o que for, porém não tenho intenção de morar longe de minha mulher.

— Boris? — Benedicto me olhou Incrédulo.

Meu avô Suspirou longamente.

— Ela não pediu distância de você, leia você mesmo o contrato.

Contanto que possa estar com ela vou suportar tudo que tiver preparado para me humilhar.

Então comecei a ler o contrato sentindo vergonha e raiva da minha existência.

— ELA ENLOUQUECEU?

— Se não for dessa forma, vai propor casamento ao seu tio.

Me embrulhou o estômago ouvindo essas palavras.

— ELA ACHA QUE VOU DEIXAR?

—Boris, o que aconteceu entre vocês dois?

Nem sequer ouvi sua pergunta, indo furioso com o contrato atrás de minha esposa.

— ANDREIA!

Ao descer as escadas vi Anabela sorrindo com aquele sorriso nojento vindo para minha direção.

— Querido.

Explodi de ódio e a empurrei para o lado puxando o braço de Andreia levando o mesmo tapa de Benedicto.

— Vocês todos são surdos?

— ENLOUQUECEU? QUER QUE SEJA SEU ANIMAL DE ESTIMAÇÃO? SOU SEU MARIDO!

— Você não é nada pra mim, nunca foi.

— Sei que me odeia, mereço seu ódio, mas por favor me dê uma oportunidade. — Pedi gentilmente.

Ela se aproximou de mim num abraço que fez minha alma estremecer, sentir seu perfume, o toque de suas mãos delicadas, como a quero de volta.

Ouvi um estalar do eixo do colar fechando e meu sonho de verão terminou. No meu pescoço um colar barato de coleira de cachorro.

— ANDREIA!

Paralisado por suas mãos que deslizou na minha cintura e a respiração perto dos meus ouvidos, ouvindo a voz aveludada.

— Seja meu cachorro, Boris.

Faria qualquer coisa por um beijo naquele momento e assim pedi. Vendendo minha alma ao demônio para poder lhe possuir, uma ilusão criada por mim da fantasia de ser amado por está mulher.

— Me deixe tocar.

Coloquei minhas mãos na sua nuca para lhe puxar num beijo que tanto almejo, mas, fui puxado pelas garras de Anabela que assistia tudo.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***