Grávida

Chegando na casa à beira de um lago, com uma paisagem solitária sobre os pés da montanha, no fundo de uma reserva que pertence a gerações da família.

O lugar mais afastado que encontrei da cidade, isolado da vida agitada dos carros, barulhos de trânsito e da correria.

Originalmente este era o local que queria passar o resto da vida com Anabela, ainda lembro do seu olhar insatisfeito. Reclamou do barulho dos animais, da pouca iluminação, como era longe do trabalho.

Odiou, os treze segundos que chegou antes de implorar para irmos embora.

Este lugar era o favorito da minha mãe, os únicos minutos em família que tive na infância antes da sua morte. Meu pai pescando, minha mãe num avental preparando o jantar, éramos uma família como as outras nesse lugar longe de tudo.

Respirei fundo, mando os seguranças se afastarem da casa para ter um momento íntimo só nosso. Era estranho entrar na casa onde fui feliz com minha família para fazer minha mulher pagar por ter me deixado.

Senti o passo pesado, ouvindo a voz gentil de minha mãe me reprovando. Tentei ignorar, mas ouvi entre os corredores a voz do meu pai dizendo o quanto deveria tratar bem minha futura esposa.

Trazer ela para passeios de barco e a amar incondicionalmente .

Chego na porta do quarto e as lembranças se tornaram fortes, parada como uma linda boneca de frente para porta totalmente nua.

Como é forte meu desejo.

Em pensar que entreguei esse corpo tão belo para outro de boa vontade. Lembrei da noite de núpcias, seus gritos e choro implorando pra não cometer esse pecado.

Fiquei paralisado como se mãos estivessem me enforcando, seus olhos gelados como a morte me condena ao inferno.

— Por favor se cubra.

Ela o fez.

Queria lhe humilhar, esmagar seu coração e pisar no seu orgulho, porém, sou o único que está sofrendo. Consegui a matar em vida, tirei o brilho de seus olhos e agora estava sendo condenado por meus crimes.

— Não voltarei... nunca mais vou te ferir, mas não posso te libertar.

— Isso não me importa.

No fundo da garganta ,aperta o choro agudo, escuto a frieza da sua voz.

— Não precisamos ser inimigos.

— O que está tentando fazer?

Fui pego pela pergunta numa surpresa inesperado.

— Sei que me odeia, mereço seu ódio por isso...

— Pare, por favor.

Ela não demonstra nada de emoção, começo a entender a causa do seu pedido e a promessa que seria minha.

— Não podemos recomeçar?

Ela franze o rosto totalmente em desgosto.

— Se é o que quer.

— Não. Digo, quero tentar te conhecer.

— Se é o que quer, farei. — Diz odiando a ideia de passar o tempo comigo.

Está expresso no rosto o quanto me repulsa.

— Com o tempo, será capaz de me perdoar.

— Senhor Boris nunca conseguirá meu coração ou perdão, abstenha-se de fazer coisas desnecessárias, cumprirei meu papel e, é tudo que terá de mim.

Fiquei sem palavras, deixando o quarto para que descanse em paz. Fui verificar o conforto da sua mãe, ordenando dar o melhor tratamento para que se cure.

O único motivo de Andreia ter voltado é a mãe, devo manter com vida se quero ela do meu lado.

Depois de falar com os médicos e enfermeiros, descubro que ela tem menos de um ano de vida. Todo o tratamento que recebeu foi para lhe matar.

Produtos proibidos pelo departamento de saúde, remédios para causar danos no coração, venenos em grandes quantidades no sangue.

— Não há nada que possa fazer? Vocês são mesmo os melhores médicos?

— Sinto muito.

Grito e brigo com a equipe acordando a senhora debilitada

— Senhora, perdão. — Sento na cadeira tocando sua mão trêmulo.

Ela não se afastou ou gritou comigo, virando seu rosto pedindo por sua filha.

— Por favor, deixe minha criança. Ela já sofreu tanto por está mãe inútil.

— Não posso, perco tudo sem ela.

— Um homem poderoso como você, dará um jeito de recuperar tudo. Não use minha criança para se vingar deles, sua vida sempre foi de muita luta. Fugindo dos homens de seu pai que tentou me matar.

— Por que meu avô a escolheu, entre tantas mulheres? Foi eles que a condenaram.

— E que culpa ela tem?

— Descanse.

Me levanto para sair do quarto quando vejo as lágrimas dela.

— Não posso dar a liberdade dela, entretanto, vou garantir que ninguém a machuque, dou minha palavra.

— E quanto a criança?

— Criança?

— Não foi por isso que a mandou buscar? Por causa do seu filho?

Filho.

Filho!

Serei pai!

Talvez tudo possa ser consertado com o nascimento dessa criança, cuidar dela com paciência e carinho para receber seu perdão.

Essa notícia fez ter uma nova esperança, pedi para os médicos ficarem de olho nas condições dela e fazer o pré-natal discretamente.

Busquei nos sites todos artigos sobre adaptar a casa para a chegada do bebê. Crescendo a ideia de ser pai, brotando a emoção, alegria e felicidade.

Vendo fotos de outros bebês, imagino como seria linda ver como sua barriga cresce. O rostinho que teria nosso filho, queria uma menina que fosse como a mãe; ela me amaria da mesma maneira que minha mulher ama a mãe?

Pensei naquela criança e se me odiaria por tudo que fiz de ruim, não queria ser odiado pelo meu filho que não nasceu. Teria de esconder minha relação com Anabela, a retirar da minha vida completamente.

Conquistar o perdão de Andreia, ter seu amor e viver a vida que queria antes da morte de meus pais.

Pela primeira vez na vida quis largar tudo, renunciar esse ódio e viver ao lado de Andreia e meu filho.

Não será fácil obter o perdão dela depois de tanta lágrimas derrubadas, porém farei tudo o que tiver ao meu alcance.

Ninguém pode descobrir a gravidez, isso as colocaria em perigo. Mesmo que seja impossível, devo manter a mãe dela com vida até o bebê nascer.

Anabela não ficará quieta assistindo seu lugar ser ocupado por outra mulher. Devo fazer, se render em primeiro lugar, para o bem da minha criança.

Foi por isso que me dediquei ao trabalho, cuidando da empresa com atenção, levando a descobrir coisas que me faria arrepender por toda a vida.

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