Capítulo 3

...*Eros*...

Eu estava indo muito bem no curso de artes visuais, as minhas pinturas assim como esculturas eram as melhores de todas as turmas, até fui elogiado por pintores renomados.

Eu era uma grande aposta de Harvard para entrar com o pé direito na Europa fazendo exposições com colegas já estabelecidos, as críticas eram positivas, pela primeira vez na vida eu deixei de ser um preguiçoso e estava realmente me dedicando a algo, apesar de aproveitar bem mais as festas das fraternidades do que as aulas.

Faltava uma semana para minha exposição, menos de dois anos para me formar e eu já tinha um nome conhecido entre os artistas da minha área, era fácil, eu tinha o dom, então não precisava me esforçar.

Certo dia sonhei com um anjo, eu estava de porrë depois de uma festa dos KT (Kappa Tau Gamma) a fraternidade das ovelhas negras de Harvard, no meu sonho o anjo vinha até mim e dizia que por fim eu encontraria a minha alma, na hora eu não entendi, mas depois disso acordei animado, ele foi minha inspiração, eu quis retratar o Deus Eros que era o anjo e Psiquê o seu amor mortal, foram semanas exaustivas, minha maior e melhor obra de arte, a maior escultura que eu já tinha feito na vida, dei o meu suor e lágrimas por esse trabalho.

Foi a primeira vez que me esforcei e eu estava realmente feliz.

Os desenhos sempre foram minha paixão, aprendi outras formas de arte a partir deles e então, criar se tornou uma necessidade.

Talvez continuar sendo um preguiçoso fosse mais fácil, até então eu era só o filho rebelde, mas bastou o meu pai ir em uma exposição na França e ouvir o meu nome sendo comentado e elogiado entre os meus mestres, que tudo foi ralo a baixo.

Até aquele momento eu era um rebelde que tomaria jeito em algum momento, a partir dali ele entendeu que se não cortasse as minhas asas, seria um caminho sem volta.

E foi o que ele fez.

O meu pai entrou no meu estúdio e quebrou lateralmente as asas de Eros, o meu trabalho inteiro foi arruinado, dias antes da entrega.

Fui forçado a fazer escolhas que não queria.

Eu perderia toda a minha boa vida, a mordomia que sempre almejei e tive, o luxo de vida que eu levava tranquilamente com o dinheiro dele, até então eu nunca tinha lavado uma cueca na vida e não sabia fritar um ovo ou esquentar uma água.

E de uma hora para outra eu iria perder tudo.

Minha infantilidade falou mais alto que a minha paixão pela arte, decidi que não estava disposto a perder a vida fácil que tinha.

Frustrado, fui chorar em um canto qualquer da cidade após encher a cara de cerveja quente e barata da fraternidade, mas ali naquele lugar improvável foi onde eu vi que não tinha problemas de verdade.

Minha irmã Selene é uma menina linda, mas extremamente introspectiva, ela passou por alguns traumas que a deixaram assim e sempre fomos nós dois, os gêmeos contra o mundo.

Conforme crescemos eu me tornei popular, sempre tive facilidade em aprender tudo e me entrosar com todos, primeiro na academia de Jiu-jitsu, depois nas aulas de violão, piano, no football (futebol americano) e então inevitavelmente a popularidade me achou, sempre tem muitos caras, mas principalmente garotas na minha volta e a Selene é o oposto de mim, ela realmente não sabe lidar com muitas pessoas.

Minha irmã ficou fora da caixa quando entramos na faculdade e nós dois nos afastamos mais do que eu gostaria, eu entrei para o Harvard Crimson Football, me tornei o Quaterback e consequentemente o líder do time por ser o cérebro em campo, ela amava o curso de engenharia, não curtia nenhuma fraternidade ou qualquer lance social, já eu era disputado nos times, nas fraternidades, assim como nos cursos, Selene nem com a própria turma do curso conseguia formar um grupo.

Era eu me aproximar e Selene fugir, afinal eu sempre tenho alguém na cola para encher o saco, minha sorte foi quando descobri que o wide receiver do meu time era do mesmo curso que ela, nós dois viramos amigos e ele a sombra protetora da minha irmã antissocial.

Mas a real preocupação com a vida social da minha irmã sumiu igual fumaça quando do nada ela começou a falar todos os dias da tal amiga que trabalha no café, fiquei sabendo cada detalhe da vida da Cate, conheci o pai dela por coincidência e os meus dias ao lado da minha irmã foram repletos de Cate isso, Cate aquilo...

Isso me aliviou, até me deixar com ciúmes.

A questão é, a Cate é tudo o que eu não sou.

Ela é esforçada e eu meio que peguei um ranço da garota por ela ser tão incrivelmente perfeita como filha, amiga, trabalhadora, estudiosa e tudo mais.

Sério, minha irmã precisa de mais amizades.

Então fui chorar sob uma árvore no escuro, contemplando a solidão e me frustrar pelo primeiro não que ouvi na vida e quando percebi, estava desenhando uma garota desengonçada, chorando como criança por não poder escolher ter um futuro, mesmo se esforçando e merecendo um.

Tão lindinha...Porrä, que isso Eros?

Um grande merdä que eu sou, eu a odeio por me fazer sentir tão mal com as minhas escolhas egoístas.

Caterina é um tapa na minha cara, a sua existência confronta a minha, ela é a consciência ambulante de que eu sou um preguiçoso sustentado pelo pai que não quer nada com a vida, eu simplesmente não levo nada a sério, até mesmo o football é algo que faço para descontar a raiva, nunca fui muito ligado a qualquer responsabilidade e eu me mantenho como líder do time por ser competitivo de mais para aceitar perder e nada mais.

Mas ela é tão fofa ...Droga.

Por que diabos essa garota tem que ser tão ridiculamente correta e altruísta? E aquele narizinho vermelho do choro empinado e tão delicado, não me deixa abertura para ver ela como a inimiga que deveria ser... Que raiva do cassëte.

Juro que fui até ela com uma vontade de mandá-la a merdä por ser tão perfeita, mas eu simplesmente fui gentil por vê-la tão frágil, pequena, pálida, tão fácil de quebrar e droga, a menina é linda...Eu tava muito bêbado também, travei quando vi as lágrimas dela saindo, fazer uma garota ridiculamente frágil como ela chorar devia ser um crime.

Percebi então que ela estava no meu desenho por um motivo, eu a retratei exatamente como me sinto... Afogando cada vez mais.

Como diabos somos tão parecidos em dor?

Droga de garota que estampa a preguiça que eu tenho de viver, bem na minha fuça.

Como esse pedaço de gente pode mexer com o meu emocional sem nunca ter falado comigo antes? Isso é culpa da tagarela da Selene, que não para com o seu maldito Cate para cá...Cate para lá...

Droga, inferno, desgraça de gente, essa maldita Caterina que é linda demais para ser verdade...

...Caterina que chora, que sente, que sofre e está se afogando assim como eu... Tão diferente e tão igual.

Droooooooga, por que eu quero consolar essa garota? Quero tanto secar essas lágrimas e dizer que vai ficar tudo bem.

Por que eu tenho vontade de ajudar? vontade de lutar por ela se não faço isso nem por mim?

Eu quero abraçar ela e droga eu dei um beijo no rosto dela sem pensar, que merdä é essa cara?

Mil vezes droga de garota que me faz sentir pena e culpa, droga de garota que me deixa tão confuso.

Entreguei o meu último desenho para ela tomando uma decisão que não faz parte de mim, essa garota é como uma doença contagiosa.

La vamos nós Eros Arvenitis, virar um engomadinho herdeiro e futuro Ceo da grande Better World Company.

Coragem Eros, para estudar algo que odeia, entrar para a fraternidade Ômega e se misturar com os outros filhos de papai que irão herdar as suas merdäs.

Coragem cara, para liderar um time de trogloditas enraivecidos com responsabilidade, apenas por pensar que é o mínimo que posso fazer de esforço, diante de todos os esforços dela, desse serzinho minúsculo e mil vezes mais forte que eu.

Droga de garota que me faz sentir culpa por ser assim tão mimado e egoísta.

...****************...

— A bolsa é integral, não pago nada, acredita? Mas eu preciso fazer estágio em alguma empresa, é uma parceria da faculdade, algo como patrocínio ou coisa do tipo, o sorteio é amanhã, a empresa que eu estagiar é a que vai pagar os meus estudos, assim como plano de saúde completo e um abono para me ajudar com os gastos durante os quatro anos. — Caterina conta animada, quase pulando na cadeira.

— Nunca ouvi falar sobre esse tipo de coisa, são benefícios de mais. —

 Selene fala muito intrigada com a repentina bolsa de estudos e mais intrigada ainda comigo, xeretando os seus assuntos.

— Na verdade, são várias bolsas, Caterina não é a única que conseguiu, tem se tornado bem comum, o nosso pai é um dos patrocinadores. —

Falo já um pouco irritado, Selene precisa fechar a maldita boca.

Olho para minha irmã como sinal de advertência, afinal, vim até aqui para sondar se ela desconfiaria de algo, Selene é muito ligeira para preencher lacunas em branco, assim que a repreendo com o olhar, ela entende rapidamente o que está acontecendo e dou graças pelo seu silêncio.

Caterina segue falando desenfreadamente quase sem respirar, os pais dela estão radiantes, assim como ela, o plano completo de saúde que abrange a família inteira será mais que suficiente para eles não precisarem viver tão mal, Caterina não vai precisar trabalhar fora o estágio, já que não terão gastos médicos.

A secretaria de Harvard simplesmente ligou no dia seguinte ao seu desabafo comigo, dizendo que ela tinha sido sorteada para uma bolsa de estudos integral e remunerada.

— Espero que eu consiga o estágio com o pai de vocês, seria incrível. — Ela diz eufórica.

Mal sabe ela que é com ele mesmo que vai trabalhar, afinal foi ele que pagou por tudo isso.

— Você rapidamente mudará de ideia, o nosso pai é um sádico lunático. — A minha irmã fala já azedando o seu humor só de lembrar do velho desgraçado que chamamos de pai.

— Vamos ser colegas Eros, parece que vou impedir o seu suicídio até nos formarmos, estou muito feliz, de verdade, principalmente por ter alguém que conheço no curso, soube que também entrou na Ômega, a fraternidade dos maiorais, quem te segura agora em?— Cate diz brincando e aperta a minha bochecha.

Essa garota é assim, falou comigo uma vez e parece me conhecer a anos, menina maluca e sem limites, é tão invasiva que eu apenas reviro os olhos com suas doidices.

Caterina conversa mais um pouco e se despede quando o seu horário de intervalo do trabalho termina, estamos na cafeteria que ela trabalha ouvindo atentamente a sua felicidade por poder estudar.

Assim que ela se afasta, eu fico prestes a colocar o meu plano de fuga em ação, mas Selene já está me encarando com acusações silenciosas.

— Nada a declarar. — Digo e me levanto, tentando cortar assunto antes mesmo que ele começe.

Minha irmã agarra o meu pulso cravando as unhas em mim.

— Auuuuuuu, isso dói. — Reclamo fazendo careta.

— Prefere que eu ligue para o papai e descubra sozinha? — Ela pergunta, me desafiando.

— Tudo bem, mas vai ter que me prometer segredo. — Falo de uma forma séria.

Ela concorda com a cabeça e eu sento novamente, respiro fundo e começo a falar.

— Fiz um trato com o nosso pai, faço o que ele quer, sabe, ser lider do time de football de forma séria, entrar para a Ômega e os cursos, enfim, em troca ele segue bancando as minhas mordomias e ajuda a Cate, essa foi a forma que encontramos para ela não descobrir que o nosso pai está pagando tudo porque eu pedi. —

 — Não existe bolsa de estudos alguma, pelo menos não dessa forma e obviamente não tão encima da hora, o nosso pai vai investir uma pequena fortuna no futuro da sua amiga e em troca me ganha.—

Minha irmã me olha sem acreditar.

— Não entendo, pensei que você não gostasse da Cate.—

Selene fala, me analisando como um gavião.

— Eu odeio o fato dela ser uma pobre garota sem chances para o futuro por ser boa de mais como filha, isso me irrita muito, se ela não for alguém no futuro, será por conta própria e não por culpa dessa vida injusta de merdä.— Digo enraivecido.

— Você se compadece pela dor dela. — Selene diz chocada, deixando sua boca cair tão aberta quanto consegue.

— Não é isso.— Eu tento negar.

Droga Caterina.

— Não foi uma pergunta, sei que você gosta do pai dela, sei também que é grato por eu ter finalmente uma amiga, no fundo, você gosta da Cate, só odeia o fato dela ser forte.— Selene diz com convicção.

Xingo baixinho em grego e em troca levo um cascudo da minha irmã.

— Não azeda o meu humor garota, Caterina é insignificante para mim, fiz isso por você, mas logo você verá que ela não é tão boazinha, é dando oportunidade para o ladrão que sabemos se ele vai nos roubar ou não, logo ela vai acostumar com a vida boa e mostrar as garras.— Respondo irritado.

— O seu orgulho vai te deixar igual ao nosso pai, você fez algo bom para alguém bom, não se justifique e nem tente parecer um vilão, estou orgulhosa de você irmão. — Selene levanta e me abraça

— Obrigada. — Ela beija o meu rosto e sai.

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Comments

Marly Matias

Marly Matias

Que maravilha, encontrou um jeito de ajudar a Cate.

2024-07-24

0

Maria Izabel

Maria Izabel

como vc falou Autora eles são como água e óleo , não se misturam mais mesmo assim Eros encontrou uma maneira de ajudar Cate kkkk afinal os opostos se atraem 😍😍❤️❤️👏👏👏👏👏

2023-08-23

3

Gih

Gih

são tão diferentes num ponto e no outro totalmente iguais 🤣

2023-08-03

1

Ver todos
Capítulos
1 Prólogo
2 Capítulo 1
3 Capítulo 2
4 Capítulo 3
5 Capítulo 4
6 Capítulo 5
7 Capítulo 6
8 Capítulo 7
9 Capítulo 8
10 Capítulo 9
11 Capítulo 10
12 Capítulo 11
13 Capítulo 12
14 Capítulo 13
15 Capítulo 14
16 Capítulo 15
17 Capítulo 16
18 Capítulo 17
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29 Capítulo 28
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31 Capítulo 30
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33 Capítulo 32
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57 Capítulo 56
58 Capítulo 57
59 Capítulo 58
60 Capítulo 59
61 Capítulo 60
62 Capítulo 61
63 Capítulo 62
64 Capítulo 63
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71 Capítulo 70
72 Capítulo 71
73 Capítulo 72
74 Capítulo 73
75 Capítulo 74
76 Capítulo 75
77 Capítulo 76
78 Capítulo 77
Capítulos

Atualizado até capítulo 78

1
Prólogo
2
Capítulo 1
3
Capítulo 2
4
Capítulo 3
5
Capítulo 4
6
Capítulo 5
7
Capítulo 6
8
Capítulo 7
9
Capítulo 8
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Capítulo 9
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Capítulo 10
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Capítulo 11
13
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Capítulo 75
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Capítulo 76
78
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