...*Caterina*...
...8 anos atrás.........
Observo o meu rosto no espelho e abro um sorriso enorme, finalmente terminei o meu tratamento odontológico e o detestável aparelho metálico cheio de borrachinhas foi para o lixo, só de pensar no quanto vamos economizar agora, me dá vontade de chorar, sem falar que para uma menina de 16 anos como eu, aquela coisa feia não ajudava, a contenção para que os dentes permaneçam alinhados é muito mais econômica e discreta, não precisarei fazer manutenções regulares, serão centenas de dólares que irão sobrar mensalmente.
Começo a fazer os cálculos na minha agenda surrada.
Anoto o valor do aluguel, eletricidade, água, aquecimento, manutenção geral do apartamento, valor gasto em alimentação, produtos de higiene e limpeza para o mês, contas como farmácia, medicamentos, valor das consultas com os médicos particulares, transporte, as parcelas exorbitantes de empréstimos e a fatura do cartão de crédito.
Céus, mesmo com a redução no valor do dentista esse mês não sobrará quase nada.
Vou pé por pé do meu quarto até a sala, os meus pais estão fazendo mais um aniversário de casamento hoje, juntei algumas economias, comprei pizza, refrigerante e uma caixa de bombom para eles, depois fui para o meu quarto mesmo com os dois insistindo em passar a noite em família.
Agora estou escondida no corredor assistindo os dois dançarem apaixonadamente uma música clássica italiana, o meu pai olha para minha mãe com tanta ternura, os olhos da minha mãe brilham completamente apaixonada e como a manteiga derretida que sou, estou chorando com a cena mais linda de todas.
Eles se amam muito, mesmo após 16 anos juntos e uma vida extremamente difícil.
Essa cena seria o momento épico de um filme clichê, se não fosse pelo fato deles estarem dançando sem sair do lugar, apenas embalando os seus troncos com calma.
O meu pai vive sob uma cadeira de rodas, com muita ajuda ele consegue ficar de pé por um determinado tempo, mas não muito.
O fato dele estar se esforçando tanto para estar dançando abraçado na minha mãe, junto ao fato dela também estar sustentando metade do peso dele com os braços, para mim, faz com que esse momento se torne ainda mais lindo e especial.
Um sempre fez tudo pelo outro, quando o meu pai começou a adoecer as coisas mudaram, mas o amor, carinho, dedicação e parceria deles, só aumentou.
Os meus pais são minha referência, a história de amor mais linda que já vi, não há livro de romance que se compare presenciar esse cuidado diariamente, eles são minha maior inspiração para vida e todos os tipos de reações que estabeleço.
A minha mãe se chama Anna e ela é estadunidense, se apaixonou perdidamente pelo meu pai em uma viagem de passeio para a Sicília.
Meu pai chamado Antônio, era um homem simples de família tradicional italiana, acostumado a trabalhar nas videiras desde muito jovem, nunca foi apegado a bens materiais e riquezas.
Anna o conheceu na cidade de Palermo, era época de vindima, o período do término da colheita das uvas e o início da produção do vinho, todos os anos a vindima é celebrada com enormes festas e foi em uma dessas festas que os dois se conheceram.
Jovens e apaixonados, meus pais aproveitaram todos os dias que a minha mãe passou na Itália, mas ela voltou para os Estados Unidos com um presente inesperado..............Eu.
Os meus avós maternos a abandonaram assim que souberam da gravidez, a minha mãe vinha de uma enorme e rica família, cuja ela faz questão até os dias de hoje de não ter contato.
A sua irmã mais velha, tia Luiza, foi a única que a apoiou, ajudou a encontrar o meu pai e contar sobre a gravidez, ele ficou muito feliz e não pensou duas vezes em largar tudo para vir morar com ela.
Anna cursava faculdade de gastronomia em Harvard, Antônio fez questão que ela continuasse com os seus estudos e usou toda a sua reserva de dinheiro para isso, ele conseguiu emprego na época e assim, os dois seguiram as suas vidas aqui.
A minha mãe não conseguiu continuar na faculdade depois do meu nascimento, então eles se mudaram com o dinheiro que sobrou na busca de trabalho e oportunidades melhores, o meu pai não tinha concluído seus estudos na Itália então todos os trabalhos que ele conseguia nessa época exigiam muito do seu corpo, minha tia Luiza ajudou sempre como pode, nunca faltou nada na nossa casa, principalmente afeto.
Fui criada falando os dois idiomas, aprendendo ambas culturas, mesmo sem conhecer a Itália.
Sempre estudei em boa escola, tive tudo o que precisei e quis, com muito esforço dos dois, mas quando fiz os meus 13 anos, meu pai adoeceu e os nossos dias se tornaram mais difíceis.
Uma forte infecção na coluna o deixou de cama, meu pai era daqueles homens que só ia ao médico quando estava no limite, por isso, foi muito difícil reverter o caso.
Na época eu não entendia direito o problema que ele tinha, vi a minha mãe trabalhar pelos dois e se exaurir, vi o meu pai chorar escondido por não conseguir trabalhar e ajudar com as contas.
As coisas não chegaram a faltar, mesmo assim eu não medi esforços para tentar ajudar, a dor deles era minha, sempre foi e eu queria ser o que eles eram para mim...... Segurança.
Aprendi tudo na cozinha com a minha mãe, fiz o que pude, mesmo com os dois sendo contra.
Eu nunca precisei ter grandes responsabilidades com dinheiro, eles sempre me proporcionavam o melhor que podiam e queriam que eu fosse focada apenas nos meus estudos, mas eu bati o pé, queria ajudar, o meu pai precisava de remédios caros e tratamento para ficar bom, então eles aceitaram a minha ajuda depois de muita insistência.
O meu pai mesmo em uma cadeira de rodas, me ensinou tudo o que sabia sobre sobremesas e salgados italianos, aparentemente, a minha ''nonna'' (avó) era uma ótima cozinheira e tudo foi passado para mim por ele.
A minha mãe sendo quase uma chefe formada, cozinhava com a gente e também trabalhava em um restaurante, meu pai e eu durante as tardes saíamos para rua vendendo cada guloseima que preparavamos, até mesmo na escola eu fazia um bom dinheiro com isso, na verdade, ainda faço.
Essa era a nossa renda, minha mãe e o meu pai faziam questão que eu estudasse, mas minha mentalidade sempre foi conseguir dinheiro e ajudar a minha família, isso me fez virar uma maluca por números, um pouco gananciosa e também muquirana.
Sempre tivemos o principal....Amor.....fui cercada de muito amor desde sempre, mesmo com todas as dificuldades.
Eu tinha o sonho e objetivo de ver o meu pai saindo daquela cadeira, mas em menos de um ano o seu estado só piorou.
O problema não era mais só a sua coluna, percebemos que a infecção não podia deixá-lo por tantos meses daquela forma e com muito esforço, pagamos todos os médicos e exames que ele precisava.
Então a bomba veio uma semana antes dos meus 14 anos.
Esclerose Lateral Amiotrófica foram as palavras do médico, uma doença degenerativa do sistema nervoso, que acarreta paralisia motora progressiva e irreversível.
Os neurônios se desgastam ou morrem e não conseguem mandar mensagens aos músculos.
O estágio do meu pai era avançado, prefiro não relembrar essa época de desespero, ele sentia dores insuportáveis ao caminhar e usava a cadeira de rodas por ordem médica até então, ele movimentava todo o corpo, caminhava em casa com ajuda das muletas, mas aos poucos as pernas ficaram mais fracas e ele já não conseguia dar mais de três ou quatro passos, começou a afetar os dedos das mãos e foi dai para pior sem o tratamento caro, que obviamente, não tínhamos condições de pagar.
Nós três aprendemos a lidar com a doença, amor e paciência sempre são o melhor remédio para tudo.
Passamos anos difíceis, com pouco dinheiro, como agora, onde contei alguns trocados para eles terem uma noite legal comendo uma pizza, mas cada segundo vivendo com dificuldades vale a pena porque estamos juntos.
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Me formei com honras e em primeiro lugar na escola com apenas 16 anos, dois anos antes que todos os meus colegas, melhor aluna, melhores notas, tudo para orgulhar eles dois e poder dar a eles conforto no futuro.
Os meus pais choraram ao ver eu me formar, eu chorei de felicidade por tê-los aqui comigo.
Todos esses anos eu estudei e segui sempre trabalhando, nunca parei, mesmo sendo uma adolescente, nada de formaturas, vestidos os gastos bobos, eu estava sempre vendendo os meus doces e salgados, fazendo algumas faxinas, ficando de babá, cuidando de animais domésticos e qualquer coisa que aparecesse, mesmo que escondida deles.
Não foi fácil, mas eu consegui ajudar.
Assim que me formei nos mudamos para Cambridge, essa foi a cidade onde nasci, a minha mãe foi chamada para trabalhar em uma das cantinas de Harvard, ela tinha muitos amigos professores da época em que estudou e assim que abriu uma vaga boa, a minha tia ligou e não foi difícil da minha mãe ser contratada, o salário era bom e tinha um plano de saúde que cobria parte dos medicamentos do meu pai.
Eu não tinha intenção nenhuma de entrar em qualquer faculdade, no máximo fazer um cursinho, eu precisava de um trabalho com urgência, mas meus pais me obrigaram a fazer todos os processos seletivos para diversas universidades incluindo Harvard.
E foi nesse meio tempo que conheci o meu atormentado melhor amigo, Eros Arvenitis.
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Atualizado até capítulo 78
Comments
Marly Matias
Estou curiosa. No início parece que aconteceu um acidente. Meu pensamento está lá naquele estrada.
2024-07-24
0
Maria Izabel
Autora já gostei da temática e da história parabéns 👏👏👏😍❤️
2023-08-23
4
Gih
já adorei ela 😍 esforçada e guerreira
2023-08-03
2