Passei os dedos trêmulos sobre a capa desgastada do diário, sentindo o arrepio percorrer minha espinha.
Quando finalmente cheguei na última parte escrita, meu coração quase parou. Havia uma mancha vermelha, agora seca, na página.
Sangue…
Soltei o diário, deixando-o cair no chão com um baque surdo. Meus olhos se arregalaram em choque e incredulidade diante do que acabara de ler.
Sem perder tempo, peguei meu celular no bolso de trás da calça jeans e disquei o número de Emma.
O telefone chamou algumas vezes até que ela atendeu, sua voz carregada de preocupação.
— Emma, você ainda está com o carro, certo? Pode vir me buscar? — minha voz saiu trêmula e urgente.
Ela imediatamente perguntou o que havia acontecido, mas eu, incapaz de articular as palavras naquele momento, respondi apenas com um breve:
— Não foi nada, te passarei a localização por mensagem —
Desliguei o telefone, sentindo meu corpo todo tremer de medo e agitação.
Olhei ao redor do ambiente em que me encontrava, buscando qualquer evidência mínima que pudesse fazer alguma diferença, qualquer pista que me ajudasse a entender o que estava acontecendo.
Vasculhei as gavetas do escritório, derrubando pastas e documentos em um frenesi desesperado.
A ordem meticulosa havia sido substituída pelo caos, como se um furacão tivesse passado por ali. Nada fazia sentido.
E então, meus olhos se fixaram em uma pasta preta, com meu nome discretamente escrito no canto inferior.
Meu coração acelerou enquanto eu a abria, revelando uma série de folhas contendo informações detalhadas sobre mim.
Características físicas, modificações corporais, descrição dos equipamentos utilizados. Meu corpo estremeceu diante das revelações, a sensação de que tudo o que eu acreditava ser real estava sendo desmoronado.
Coloquei as folhas de volta na pasta, segurando-a contra o peito como se fosse um escudo contra a verdade avassaladora que se apresentava diante de mim.
Eu era uma criação, um produto de experimentos e manipulações genéticas. Nada daquilo era verdadeiramente meu.
A sensação de vazio e de ser uma mera marionete invadiu minha alma.
O diário sangrento no chão chamou novamente minha atenção. Com uma hesitação dolorosa, me agachei e peguei o objeto proibido em minhas mãos.
As últimas páginas estavam manchadas de sangue, indicando algo terrível que havia acontecido. Meus olhos correram pelas palavras escritas, tentando assimilar a enxurrada de informações e revelações.
Uma buzina estridente soou do lado de fora, interrompendo meus pensamentos. Olhei pela janela e vi Emma em seu carro prateado, olhando ansiosamente para mim.
Ela indicou com a mão para que eu me apressasse, corri em direção ao carro.
Emma me olhava com uma expressão curiosa e preocupada. Entrei rapidamente no veículo, fechando a porta atrás de mim.
O interior parecia pequeno e sufocante naquele momento, contrastando com o turbilhão de emoções que tomava conta de mim.
Emma não conseguia esconder sua inquietação.
— Você não ia para uma lanchonete próxima? O que aconteceu? — indagou, sua voz carregada de preocupação genuína.
A verdade estava prestes a ser revelada, não havia mais como esconder a tormenta que assolava minha mente e minha vida.
Entreguei a ela o documento e o diário manchado de sangue que segurava em minhas mãos trêmulas.
— Pode ler, é quase inacreditável o que está escrito aqui — consegui dizer, minha voz saindo mais fraca do que eu gostaria.
Emma pegou os itens com cuidado, sua expressão se transformando de curiosidade para choque ao examiná-los. Ela começou a ler, seus olhos percorrendo as palavras escritas enquanto uma mistura de confusão e preocupação se espalhava em seu rosto.
O silêncio pesado pairou no carro por alguns momentos, interrompido apenas pelo som abafado dos pneus se movendo pela estrada.
A revelação estava ali, exposta diante de nós, e agora tínhamos que enfrentar a realidade sombria que se escondia por trás das aparências.
Enquanto Emma continuava a ler, senti a enxurrada de emoções tomar conta de mim novamente. Raiva, tristeza, desespero, tudo se misturava em um turbilhão dentro de mim.
As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, a dor e a sensação de ter sido enganada me consumindo por completo.
O carro seguia pela estrada, meu olhar se perdia além das janelas, perdido em memórias confusas e contraditórias.
As lembranças de meus pais, que antes eram tão vívidas e reconfortantes, agora se misturavam com as palavras escritas no diário e as revelações que abalaram minha existência.
Eu me lembrava de momentos felizes, de risadas e abraços calorosos. Lembro-me de como meus pais me elogiavam, me chamavam de sua preciosidade.
Parecia impossível reconciliar essas lembranças com a ideia de que eles estavam dispostos a me transformar em um experimento, a me moldar em busca de sua própria perfeição.
— Isso é uma prova, Eve. Aqui diz explicitamente que alguém estava atrás de seus pais, podemos fazer uma denúncia com isso. — disse com uma voz firme.
Em meio à tristeza que me consumia, uma vontade quase irônica de rir surgiu dentro de mim pela ingenuidade dela. Acreditava mesmo que aquelas meras palavras escritas em um velho diário teriam algum peso diante de toda essa situação?
Com lágrimas ainda escorrendo pelo meu rosto, limpei-as rapidamente e respondi, tentando explicar minha perspectiva a Emma, olhando diretamente em seus olhos, transmitindo toda a complexidade e desesperança que eu sentia naquele momento.
— Entendo o seu desejo de fazer algo com base nessas informações, mas precisamos ser realistas. Se o que está escrito aqui for verdade, significa que essas pessoas têm influência e conexões poderosas. Denunciar simplesmente com base em um diário antigo não será o suficiente para acabar com toda essa conspiração. —
Embora eu não soubesse exatamente como me sentia em relação aos meus pais naquele momento turbulento, uma coisa era certa: não iria recuar. Por mais provas que tivéssemos em mãos, sabia que a justiça tradicional não resolveria nada. O máximo que poderia acontecer era algum bode expiatório ser preso, enquanto os verdadeiros culpados permaneceriam impunes, rindo de nós.
O que eu realmente queria era fazer justiça com as minhas próprias mãos. Queria que aqueles que agrediram e traíram meus pais sentissem toda a minha ira e sofressem as consequências de seus atos.
Não queria apenas vingança, queria eliminar o mal diretamente, independentemente de quem fosse. Não me importava se eram pessoas poderosas ou se estavam além do alcance da lei.
Eu estava disposta a ir até as últimas consequências para fazer justiça.
Essa determinação ardente queimava dentro de mim, alimentando minha coragem e alimentando a sede de vingança.
Eu sabia que não seria fácil, que teria que enfrentar desafios e perigos desconhecidos, mas eu estava disposta a arriscar tudo.
Nada mais importava além de trazer justiça aos que haviam causado tanto sofrimento à minha família.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Michelle Amaral
tenho quase certeza que a prima tbm passou por esses esperimentos
2023-08-15
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Iara Drimel
Pobre Eve, tudo o que imaginava foi se esvaindo de sua vida. Essa descoberta do diário e da pasta com suas informações só a encorajaram ainda mais em sua vingança Acho que agora começaram a aparecer muita gente suspeita e culpada pela tragédia na vida de Eve.
2023-08-10
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