CAPÍTULO 16

Era uma manhã sombria, onde o céu cinzento contrastava com a falta de brilho do sol.

Firme, segurava em minhas mãos o papel com o endereço enquanto caminhava pela estreita calçada. Não havia vida nas ruas desertas, nem casas a serem vistas ao longo do caminho.

Vestia uma calça jeans justa, um simples top branco e uma bota de couro preta. Meu cabelo estava preso em um coque despretensioso, desprovido dos adornos luxuosos que costumava ostentar.

Informei a Emma que iria a uma lanchonete próxima, uma desculpa para afastá-la e me envolver sozinha naquilo que estava prestes a enfrentar.

Enfim, parei diante do suposto local, uma casa abandonada de cerca de 400 metros quadrados. Janelas quebradas, um quintal envolto por uma leve neblina e grades de ferro enferrujadas.

A porta da frente estava aberta, como um convite para adentrar o desconhecido.

— Uma lanchonete hein, não é o que diz o papel — murmurei para mim mesma, sentindo meu coração palpitar com intensidade.

Embora a ideia de ir sozinha para aquele endereço incerto parecesse temerária, eu estava determinada a enfrentar essa situação, pois era algo que precisava fazer por conta própria.

Com um gesto nervoso, mordi meu lábio inferior, sentindo a ansiedade percorrer meu corpo.

Caminhei com hesitação sobre as pedras irregulares de paralelepípedos que formavam uma estreita trilha até a imponente porta de madeira.

Mantive certa distância, evitando me aproximar demais daquela entrada intimidante.

Com a respiração acelerada, ergui a mão e bati palmas, numa tentativa ingênua de chamar a atenção de alguém, mesmo sabendo, no fundo, que ninguém viria em meu socorro.

Minutos se passaram, e meu chamado não obteve resposta, confirmando meus temores.

A solidão ecoava ao meu redor, como um eco vazio, enquanto eu permanecia ali, diante daquela porta impenetrável, enfrentando a dura realidade de estar completamente sozinha.

Com uma voz sussurrante e hesitante, murmurei para mim mesma:

— Acho que vir sozinha não foi uma boa ideia —

Aproximei-me lentamente da porta e, com um movimento cauteloso, girei a maçaneta. A porta rangeu ao se abrir, revelando um cenário desolado.

A sala estava mergulhada na escuridão, iluminada apenas pela luz pálida que adentrava pelas janelas empoeiradas.

Teias de aranha adornavam os cantos, e uma fina camada de poeira cobria cada superfície. Apesar da tentação de fugir dali, sabia que já era tarde demais para recuar.

Com passos decididos, adentrei o lugar abandonado.

Apesar do abandono e da decadência, havia uma beleza intrigante se olhada por outro ângulo.

Corredores amplos se estendiam diante de mim, com paredes de madeira antiga que contavam histórias silenciosas.

No entanto, o que realmente capturou minha atenção foi a imponente escadaria, que parecia surpreendentemente bem conservada em meio ao caos ao redor.

Com um misto de curiosidade e apreensão, coloquei o pé no primeiro degrau, que rangeu sob meu peso, mas continuei a subir, determinada a chegar ao andar de cima.

Com passos cautelosos sobre o piso de mármore da ala principal, deparei-me com uma porta entreaberta.

Era evidente que aquele cômodo havia sido deixado sem trancas por semanas, talvez até meses.

Mesmo temendo o desconhecido, uma pontada de curiosidade pulsava dentro de mim. Em contraste com os outros espaços abandonados, aquele recinto estava surpreendentemente limpo e arrumado.

Meus olhos se fixaram em uma estante repleta de livros cuidadosamente alinhados, uma escrivaninha impecavelmente organizada e, no centro da sala, um quadro chamou minha atenção.

Não se tratava de uma fotografia, mas sim de um desenho peculiar. Nele, uma criança com longos cabelos negros usava um delicado vestido rosa, assemelhando-se a uma princesa encantada.

Em sua mãozinha, segurava uma pequena boneca. Uma pinta abaixo dos lábios realçava sua beleza singular.

Um arrepio percorreu minha espinha ao perceber a verdade que se revelava diante de mim.

"Essa sou eu?", questionei a mim mesma em pensamentos.

Embora houvesse algumas diferenças marcantes em relação à minha aparência atual, era inegável que a figura retratada no desenho era eu, de algum modo.

Reunindo coragem, dei alguns passos em direção à mesa, que se encontrava a alguns metros de distância. Sobre ela, revelava-se um diário, cuja presença despertava em mim uma mistura de curiosidade e apreensão.

Suas páginas eram preenchidas por uma caligrafia impecável, cada traço cuidadosamente desenhado, como se o autor dedicasse um cuidado especial às palavras ali registradas.

A exibia algumas marcas de desgaste, indicando que havia sido folheado inúmeras vezes ao longo dos anos.

Com um nó na garganta, respirei fundo e decidi enfrentar meus medos ao desvendar os segredos que se ocultavam naquele registro íntimo. Com as mãos levemente trêmulas, abri o diário, permitindo que suas páginas revelassem as memórias e os pensamentos mais profundos de quem o escrevera.

TEXTO ESCRITO

Querido diário,

Hoje, sinto a necessidade de registrar os detalhes do nosso trabalho neste projeto extraordinário. Eve, a jovem que está no centro de nossos experimentos, é um verdadeiro prodígio genético. Ela é o resultado da combinação cuidadosa de genes, manipulações genéticas e técnicas avançadas de engenharia genética.

Desde tenra idade, Eve foi submetida a uma série de procedimentos e terapias para aprimorar sua aparência física. Seus pais, pessoas obcecadas por sua própria imagem e status social, estavam dispostos a fazer qualquer coisa para transformá-la em uma beldade perfeita. Acreditavam que seu sucesso e influência seriam ainda maiores se tivessem uma filha de beleza incomparável.

Além dos experimentos genéticos, também implementamos um treinamento especial para Eve. Ela foi submetida a uma série de exercícios para aprimorar sua inteligência, agilidade mental e habilidades sociais. Queríamos transformá-la em uma máquina perfeita, capaz de encantar e manipular as pessoas ao seu redor.

No entanto, o que mais me intriga é a menção feita pelos pais de Eve sobre alguém que estava interessado nas ações de sua empresa. Eles insinuaram que alguém ambicioso estava disposto a fazer qualquer coisa para obtê-las, incluindo a manipulação de nossa pesquisa. Não tivemos escolha senão avançar rapidamente com nossos experimentos para garantir a segurança de Eve e proteger as informações valiosas que possuíamos.

Infelizmente, tudo mudou com a trágica morte dos pais de Eve. O acidente repentino interrompeu nossos planos e jogou nosso projeto em um estado de incerteza. Perdemos nossos principais apoiadores e protetores, e agora temo pela segurança dessa garota. Acredito que alguém está tentando controlar o destino deles, usando-a como peão em um jogo de poder.

É minha responsabilidade, como cientista e protetor de Eve, descobrir a verdade por trás desses eventos sombrios. Continuarei nossas pesquisas em segredo, em honra à memória dos pais dela e na esperança de que ela encontre um caminho para a verdade e para o seu próprio destino.

Assinado,

[Dr. Alexander Fischer]

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Comments

Iara Drimel

Iara Drimel

Quantas surpresas na vida de Eve. Então ela é um projeto genérico, por isso dela ser tão linda , esperta e inteligente. Mas, como ela recebeu essa informação de procurar essa casa e, ainda mais importante como essa informação ajudará Eve em sua vingança ?

2023-08-09

2

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