A noite se desvelava delicadamente, como uma fumaça escura a envolver a cena.
A Porsche prateada desacelerou com suavidade diante da majestosa mansão, onde dois seguranças elegantemente vestidos guardavam a entrada. Um mar de carros esportivos e luxuosos decorava o entorno, testemunhas silenciosas do requinte do evento. No interior do veículo, encontrava-me acompanhada por Emma, uma presença tranquilizadora em meio à iminência do desconhecido.
Contemplei, com atenção, um casal descer de uma das limousines recentemente chegadas, caminhando com graciosidade em direção à residência. Segurando o convite preto entre meus dedos, senti a pulsação acelerar, uma antecipação vibrante que percorria meu corpo.
Com um toque afetuoso no meu ombro, Emma sorriu de forma encorajadora.
— Hoje, sua sorte é que eu tenho carteira de habilitação. —
Um sorriso grato brotou em meus lábios ao abraçá-la com ternura.
— Amiga, você alugou esse carro deslumbrante por 1500 dólares. Não encontro palavras para expressar o quanto sou grata por tudo que faz por mim. —
Ela retribuiu o sorriso, emanando confiança com cada traço de seu rosto.
— Tudo o que faço é um investimento. Acredito plenamente que você alcançará o sucesso em seus planos. —
Saí do veículo e, com um aceno breve para Emma, agradeci por sua companhia constante.
Meus olhos se fixaram no edifício, onde outrora moramos, minha mãe e eu. Uma onda de lembranças inundou minha mente, trazendo à tona a imagem dela, sua risada calorosa ecoando pelos corredores. Agora, aquela mesma residência era o lar daqueles que me expulsaram, que me humilharam impiedosamente. Enquanto eles desfrutavam de sua alegria familiar, eu era banida, deixada à mercê das adversidades.
Os meus pensamentos foram interrompidos por um fio cortante de vento frio que acariciou minha pele descoberta. Mas nada se comparava à dor de tudo que me foi negado durante toda minha adolescência.
No silêncio que me envolvia, sentia-me imóvel, ciente de que ao atravessar as portas daquele evento, mergulharia em um turbilhão de fofocas e olhares pretensiosos.
No entanto, sabia que não havia mais espaço para recuos ou hesitações.
Meu olhar refletia uma determinação inabalável, enquanto minha postura era enaltecida pela elegância contida em cada movimento.
Um coque primorosamente amarrado adornava meu cabelo, acentuando a delicadeza do meu rosto. Uma presilha dourada, pequena e singela, sustentava a impecabilidade do penteado.
O vestido preto que eu usava, cuidadosamente ajustado, abraçava minha cintura de forma perfeita, delineando a curva dos meus seios com uma ousadia sutil.
Cada detalhe da minha indumentária foi escolhida com precisão, emanando uma aura de confiança e poder.
Em meu pescoço, repousava um colar de diamantes, uma das poucas joias que me restaram da minha mãe. Aquela peça guardava um valor inestimável, um elo entre passado e presente.
Por muito tempo, recusei-me a usá-lo, pois carregava consigo as lembranças dolorosas do dia em que fui cruelmente expulsa da minha própria residência, traída pelas empregadas que foram seduzidas pelas promessas de meu tio.
Contudo, naquela noite, decidi dar um novo significado àquela joia, transformando-a em um símbolo de sorte.
Passo a passo, avancei em direção aos seguranças, entregando-lhes o convite com uma confiança invejável. Sem qualquer obstáculo, adentrei o ambiente que se estendia diante de mim.
O corredor de entrada era forrado por um tapete vermelho, símbolo de grandiosidade e prestígio.
Cada detalhe da decoração exalava luxo e requinte, como se cada objeto ali presente desejasse reafirmar o poderio financeiro do meu tio.
“Parece que esse velho está cheio da grana ultimamente” Uma risada discreta escapou dos meus lábios, um sussurro de ironia diante daquele cenário extravagante.
O fulgor do lustre grandioso pendurado no teto espalhava sua radiância dourada pelos salões, iluminando o ambiente com uma aura imponente e majestosa.
As mesas meticulosamente organizadas exibiam arranjos florais exuberantes, enquanto taças reluzentes transbordavam de vinho refinado, criando uma atmosfera de opulência e requinte.
No canto da sala, reminiscências despertaram em minha mente quando observei o espaço que antes abrigava um aquário esplêndido. As cores vivas dos corais e a dança graciosa dos peixes haviam sido substituídas por uma decoração menos marcante, deixando-me com um sentimento nostálgico.
Era como se meu passado e minha presença tivessem sido apagados, substituídos por uma estética mais genérica e desprovida de personalidade.
Movendo-me com elegância pelo salão, sentia os olhares curiosos sobre mim, atraídos pela minha beleza cativante. Cada indivíduo presente parecia hipnotizado, indagando-se sobre a origem de tamanha fascinação. Meus traços refinados e minha postura confiante despertavam suspiros e sussurros em meio à multidão.
Uma mão delicada se entrelaçou entre meus braços, provocando um estremecimento de surpresa em meu corpo.
Reconheci imediatamente a voz suave e familiar que ecoou em meus ouvidos:
— Irmã, você realmente veio — disse Sophia com uma gentileza calculada.
Os sussurros e os olhares curiosos das pessoas ao redor confirmaram que sua presença não passara despercebida.
Uma onda de raiva cresceu em meu peito, ansiando por uma resposta impetuosa, porém, optei por um sorriso falso em vez disso.
— Claro que eu vim, achou mesmo que eu perderia um evento tão importante depois de você me implorar pessoalmente para comparecer? — indaguei, dissimulando minha indignação enquanto secretamente me afastava dela.
Sophia ostentava um vestido branco com delicados desenhos de hortênsias, seu cabelo loiro adornado por uma tiara de pérolas.
Tudo em sua aparência transmitia uma imagem de pureza e inocência, uma tentativa clara de conquistar a simpatia daquelas pessoas influentes ao nosso redor.
Ousadamente, ela se referiu a mim como irmã após tantos anos de afastamento, como se o tempo e as circunstâncias pudessem ser facilmente esquecidos. No entanto, a verdade era clara em minha mente: eu não a considerava mais como minha irmã, apenas como uma prima distante, alguém com quem compartilhava o mesmo sangue, mas nada mais.
— Estou realmente muito feliz — proclamou com uma expressão radiante. — Vamos brindar a este momento especial.
Uma de suas empregadas pessoais se aproximou de nós com duas taças de espumante.
Sophia tomou uma delas e entregou-me a outra, com um olhar desprovido de suspeitas.
Enquanto a encarava, uma determinação feroz tomou conta de mim. Naquele momento, uma verdade inegável se escancarava em minha mente: eu iria destruí-la, desmantelar tudo o que construiu e revelar sua verdadeira face perante aqueles que a admiravam.
A serva bateu propositalmente em meu ombro, fazendo com que a taça caísse das minhas mãos e se espatifasse violentamente no chão de mármore. Os estilhaços brilhantes se espalharam, e alguns respingos do líquido atingiram o imaculado vestido branco da loira.
— Sinto muito, olha o quão desastrada eu sou — retruquei, tentando disfarçar o sorriso de satisfação que queria escapar. A empregada ao lado ajoelhou-se no chão, recolhendo os pequenos pedaços de vidro com os dedos.
— Tudo bem, foi apenas um acidente, certo? Como você poderia saber que o espumante iria manchar meu vestido com qualquer gota? — disse com lágrimas nos olhos, como se insinuasse que eu tivesse agido de forma proposital.
Com um olhar frio, peguei a taça que estava pela metade nas mãos da empregada.
— Como você mesma disse. É apenas espumante, certo? — respondi com um sorriso astuto.
Ergui o objeto de vidro em minha mão e, sem hesitar, virei sobre a minha própria cabeça.
Uma chuva de líquido frio e borbulhante se espalhou sobre mim, atingindo meu vestido e meu cabelo. Gotas brilhantes caíam no chão, criando pequenas poças refletindo a luz dos lustres. Enquanto as pessoas ao redor observavam com surpresa.
— Eve, o que está fazendo? — questionou, com uma expressão incrédula em seu rosto.
— Está vendo, irmã? Não há motivos para tanto — afirmei, encarando-a com determinação.
Era evidente que ela não esperava que eu reagisse à situação de forma tão assertiva. Sophia achava que eu iria deixar levar pela culpa e me sentir desconfortável diante de todos.
Enquanto a observava, uma certeza se solidificava em minha mente: não importava o quão tirana ela pudesse ser, eu era capaz de fazer pior.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
eliza arouche
amando a Eve 🥰👏🥰👏
2023-08-31
0
Iara Drimel
Eve é muito calculista, ir à um banquete onde muitos inimigos estariam presentes, soa como mostrasse que ela é superior. Tem algo em Eve que me incomoda. Não consegui ainda identificar o que seja, mas também não consigo imaginar o que ela tanto sofreu e sofre, dá para entender que perdeu os pais e foi arrancada de sua vida. Espero que ela não se machuque mais do que já está. Derramar espumante em si mesma? Será um golpe de Mestre para aniquilar sua prima?
2023-08-08
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