Minutos se passaram em um silêncio tenso enquanto os garçons trajados elegantemente se aproximavam com a bandeja. Eles colocaram-na delicadamente na mesa, revelando dois pratos cobertos por um cloche de prata reluzente. Meus olhos estavam fixos em Henry, observando sua expressão enquanto o serviço era realizado. Percebi que sua postura de autoridade havia desaparecido, substituída por uma curiosidade ansiosa.
Um sorriso curvou meus lábios, mas logo desapareceu quando meus olhos se voltaram para o prato à minha frente.
Paella, uma iguaria de origem espanhola com raízes que remontam ao Oriente Médio. O aroma exótico pairava no ar, mas meu coração afundou quando percebi a seleção de frutos do mar delicadamente disposta sobre o arroz dourado. Engoli em seco, segurando o garfo com certa hesitação.
A realidade me atingiu como uma onda gelada. Eu era alérgica, uma informação que, obviamente, Henry não tinha conhecimento. Meu corpo ansiava pela deliciosa refeição, mas minha mente alertava sobre as consequências desastrosas que poderiam se seguir.
Eu olhei para o prato de paella à minha frente, ciente dos riscos que corria. A alergia aos frutos do mar era uma realidade que não podia ser ignorada, mas a escuridão que habitava meu ser estava faminta por poder e controle. Eu estava disposta a me destruir lentamente se isso significasse tê-lo aos meus pés.
Peguei o garfo com uma mão trêmula e, mais uma vez, aproximei a deliciosa iguaria dos meus lábios. Enquanto o aroma sedutor invadia minhas narinas, meu olhar encontrou o dele em um instante de tensão. Era como se uma sinfonia sombria tocasse em nossa volta, cada nota ecoando os segredos que compartilhávamos.
Com o coração acelerado, levei uma garfada da tentação proibida à minha boca. O sabor exótico dos frutos do mar se misturou com a doçura amarga do meu próprio engano. Cada mastigada era um ato de autodestruição consciente, um passo adiante na trama intricada que eu estava tecendo.
Os olhares intensos que trocávamos, carregados de anseio e perigo, deixavam claro que algo sinistro estava em curso. Era um jogo perigoso de sedução e manipulação, e eu estava disposta a arriscar tudo para obter o que queria. A cada mordida, eu alimentava tanto meu desejo ardente quanto minha sede insaciável de vingança.
No entanto, à medida que a comida descia pela minha garganta, uma reação inevitável começou a se manifestar. Uma ardência tomou conta de meu corpo, e meus músculos começaram a se contorcer involuntariamente. As consequências de meu plano nefasto se tornaram palpáveis, e eu me debati entre o prazer de ver Henry preocupado e o sofrimento que eu mesma estava infligindo.
Enquanto o veneno se espalhava em meu sistema, uma vertigem tomou conta de mim. Cada batida de meu coração era um lembrete doloroso de minha própria destruição iminente. Mas, mesmo em meio à agonia, eu não me arrependia. Enquanto pudesse fazê-lo se apaixonar, eu aceitaria qualquer consequência.
Os olhares dele se transformaram em desespero e confusão quando ele percebeu que algo estava errado. Ele se aproximou rapidamente, seus braços envolvendo meu corpo trêmulo. Minhas feições distorcidas pelo sofrimento, meu corpo lutando contra a própria escuridão que eu havia invocado.
Ainda que minha pele queimasse e meus pulmões anunciassem o sufocamento iminente, eu sorri, mesmo que fosse um sorriso tingido de dor.
Enquanto a agonia se intensificava dentro de mim, senti meus joelhos cederem, a força abandonando meu corpo trêmulo. Como se estivesse presenciando tudo em câmera lenta, comecei a cair em direção ao chão.
O tempo parecia esticar-se enquanto eu mergulhava no abismo, cada segundo prolongado como uma eternidade de tormento. Meu corpo parecia flutuar no ar por um instante fugaz, até que a gravidade impiedosa se fez presente e me puxou com força.
Aquele impacto foi abrupto e violento. O chão gelado acolheu meu corpo frágil, causando um estrondo surdo que reverberou pelos cantos do restaurante. A dor irradiava de cada célula, pulsando em cada fibra do meu ser.
Os sons ao meu redor se misturavam em um eco distante. O murmúrio preocupado das vozes, o tilintar dos talheres e copos, tudo parecia desvanecer-se em meio ao turbilhão de sensações que tomavam conta de mim. O ambiente se desfocava e as cores se mesclavam, criando um cenário difuso e onírico.
O destino parecia rir cruelmente de mim naquele momento. Enquanto sentia meu corpo colapsar no chão, a dor aguda se misturava com uma estranha satisfação. Eu sabia que estava arriscando tudo, inclusive minha própria vida, ao comer a paella proibida, mas não havia arrependimento em meu coração. Nada me deteria enquanto eu estivesse disposta a desencadear um turbilhão de emoções naquele homem autoritário.
Meus olhos encontraram os dele enquanto a visão se tornava turva. Havia confusão em seu rosto, uma mistura de pavor e perplexidade ao me ver tão vulnerável. Era nesse momento que eu me perguntava se a destruição que eu buscava causar incluía também a minha própria ruína.
Enquanto a dor ardia em cada fibra do meu ser, uma voz sombria ecoava em minha mente. "Você está disposta a sacrificar tudo, até mesmo a si mesma, para fazê-lo se apaixonar". Essas palavras ecoavam como um eco incessante, lembrando-me das cicatrizes que carregava desde o dia em que perdi tudo o que mais amava.
Enquanto lutava contra a escuridão que ameaçava me consumir, uma verdade emergia em meio ao caos. Eu não me arrependeria de nada, não importava quão profundo fosse o abismo no qual eu estava prestes a me lançar. Enquanto eu tivesse a capacidade de fazer Henry se apaixonar, de moldar seus sentimentos como um artesão desesperado, cada sacrifício valeria a pena.
Com uma expressão de tristeza e confusão, questionou com voz trêmula:
— Por que você comeu a paella se você é alérgica? —
— Eu comi, porque parecia ser algo especial para você... e eu queria fazer parte desse momento, mesmo que fosse apenas por um instante. — respondi baixinho, olhando em seus olhos tristes.
— Você é uma idiota, Eve. Não posso permitir que você coloque sua própria vida em risco dessa maneira. Não quero te perder. Por favor, prometa que nunca mais fará algo assim. —
As lágrimas começaram a deslizar pelas bochechas de Henry, revelando sua vulnerabilidade em um momento de profunda emoção. Seus olhos, normalmente firmes e seguros, agora estavam marejados, refletindo a tristeza e a preocupação que transbordavam em seu coração. Fiquei surpresa ao presenciar aquela cena, pois nunca havia imaginado vê-lo chorar. A ternura em seu rosto era inegável, e seu choro silencioso era um testemunho do medo que ele sentia por mim.
— Não gosto de te ver chorar — sussurrei com voz suave, deixando transparecer a verdade em minhas palavras. — Eu gosto de você, Henry. Mais do que eu deveria.
Num instante, tudo se tornou uma névoa confusa ao meu redor. As palavras que havia acabado de dizer pairavam no ar, enquanto eu lutava para decifrar a expressão dele.
Em meio àquela confusão, senti a pressão firme de seus braços ao redor do meu corpo, como se ele estivesse se preparando para me levantar. Mas meus sentidos estavam tão enfraquecidos que não pude mais distinguir se aquilo era um gesto de amparo ou um último ato de afastamento. Tudo desapareceu diante de mim, enquanto eu me entregava à escuridão que me envolvia
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Iara Drimel
Eve é muito fria e calculista, se auto envenenar para seduzir Henry? Parece que eles tem uma ligação muito forte, por acaso já se conheciam? É o que dá a entender. Com isso mudam os planos dela, ou só o reforça ainda mais?
2023-08-04
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