CAPÍTULO 10

Girei a maçaneta da porta grande e adentrei o local com passos firmes. Meus olhos foram imediatamente atraídos para a grande mesa de madeira maciça que dominava o centro do cômodo. Sobre ela, na ponta oposta, repousava uma tigela branca contendo uma porção de mingau com aveia e uma pitada de canela. Ao lado, uma colher pequena aguardava pacientemente para ser usada.

Meus lábios se curvaram levemente em um sorriso sutil ao notar Henry sentado na ponta da mesa, observando cada movimento meu com uma atenção penetrante. Seus olhos fixos em mim transmitiam uma mistura intrigante de curiosidade e expectativa. Era evidente que ele esperava algo de mim, talvez uma reação, uma resposta às nossas interações anteriores.

Caminhei com elegância em direção à mesa, consciente do impacto de cada passo que dava. Minha postura era impecável, meu olhar determinado. Eu não permitiria que nenhuma emoção ou fraqueza transparecesse em meu rosto.

Enquanto me posicionava diante da mesa, mantive minha expressão neutra, um semblante que não revelava nem um traço de vulnerabilidade. Henry podia observar cada detalhe, cada microexpressão em meu rosto, mas eu não lhe daria o prazer de me ver abalada.

As funcionárias, sem dúvida, haviam colocado a tigela de mingau exatamente naquela posição estratégica, tão próxima da cadeira em que o Sr Brixton estava sentado. Era evidente que ele havia dado a ordem para que o fizessem. Aquele gesto cuidadosamente planejado não passava despercebido por meus olhos perspicazes.

Enquanto meu olhar se fixava no mingau, minha mente vagueava pelos acontecimentos da noite anterior. A preocupação que demonstrou em relação a mim, seus cuidados e atenções, tudo aquilo me desconcertava de certa forma.

O silêncio que pairava na sala foi abruptamente interrompido por um leve ruído de papel sendo desdobrado. Meus olhos se fixaram naquela folha que ele colocou diante de mim, revelando uma licença de três dias. Henry explicou que aquilo significava que eu não precisaria me apresentar na empresa pelos próximos três dias, em decorrência da minha reação alérgica que ocorreu na noite anterior.

Por um instante, uma sensação de alívio percorreu meu corpo. A licença representava uma pausa em minhas atividades profissionais, permitindo-me dedicar um tempo para recuperar-me plenamente. Era uma concessão que eu não esperava, mas que era bem-vinda.

No entanto, aquela breve demonstração de preocupação foi efêmera. Assim como o vento que sopra e se dissipa, Henry voltou a ser frio, quase indiferente, como se a licença fosse apenas um protocolo a ser seguido.

O olhar gélido de Henry encontrou o meu, e uma pontada de frustração se manifestou em meu peito. Eu ansiava por mais do que gestos superficiais de preocupação. Mas eu sabia que não podia permitir que aquela brecha em minha armadura abalasse minha determinação.

Com os olhos fixos nele, peguei a pequena colher e coloquei um pouco do mingau na boca. A textura suave e reconfortante deslizou por minha língua, trazendo uma doce nostalgia. Era como se estivesse saboreando as lembranças de minha infância, quando minha mãe, em tempos mais felizes, preparava o mesmo tipo de mingau para mim antes de finalizar a noite.

Uma onda de emoção percorreu meu ser, e uma lágrima rebelde escapou sem querer, deslizando por minhas bochechas macias. A sensação agridoce invadiu meu coração, pois aquela simples colherada de mingau trouxe à tona memórias preciosas que estavam enterradas profundamente em minha mente.

Henry, agora visivelmente agitado, perdeu um pouco de sua compostura. Ele limpou a garganta, seus olhos transmitindo um misto de curiosidade e distância cautelosa.

— Eve, você está bem? Parece um pouco abatida — Seu tom de voz carregava um leve toque de preocupação, como se quisesse manter uma aparência de cuidado, mas com uma certa distância.

Som de passos firmes e decididos ecoou pelo ambiente, interrompendo o meu silêncio. A porta foi aberta com força, revelando a figura de Alice. Seus cabelos platinados caíam em cascata pelos ombros, contrastando com sua expressão raivosa. Ela exalava confiança e beleza, vestindo um curto vestido estampado em jeans, complementado por uma pequena bolsa de couro da Gucci pendurada em seu ombro.

Alice era minha rival declarada, a noiva metida e irritante que insistia em se manter entre mim e Henry. Naquele momento, desejei profundamente eliminá-la de uma vez por todas. No entanto, para minha surpresa, o homem permaneceu imperturbável, sem demonstrar qualquer reação à sua entrada explosiva. Ele simplesmente limpou os lábios com o guardanapo, sinalizando o término de sua refeição, que coincidentemente era idêntica à minha.

A modelo, visivelmente enfurecida, soltou sua pergunta com um tom de desafio:

— O que essa vadia está fazendo aqui, na sua casa? —

— Oh, querida, não precisa se preocupar. Estou apenas desfrutando da hospitalidade do Henry. Ele foi gentil o suficiente para me convidar ontem de noite. — respondi, ignorando a carga venenosa de suas palavras.

Alice empalideceu e seus olhos se encheram de fúria. Ela avançou em minha direção, suas palavras carregadas de autoridade:

— Você acha que pode se intrometer na minha vida, seduzir meu noivo e sair impune? Não vou permitir que isso aconteça! —

— Chega, Alice! Não vou tolerar que você trate minha convidada dessa maneira. Tenha respeito. — A voz do Sr Brixton ressoou com firmeza e autoridade, cortando o ar tenso.

Alice vacilou por um momento, surpresa com a defesa de seu noivo. Mas logo seu rosto se contorceu em raiva, seus olhos faiscando de ira. Ela saiu da sala furiosa, deixando para trás um rastro de tensão.

Enquanto se aproximava de mim, seu olhar refletia uma mistura de preocupação e compreensão. Ele me olhou nos olhos e disse suavemente:

— Desculpe por tudo isso, Eve. Não deixe que as palavras de Alice te abalem. Ela está apenas passando por um momento difícil. —

Ao receber a explicação dele em defesa de sua noiva, um sorriso irônico se formou em meus lábios. Por um momento, questionei se realmente tinha sentimentos genuínos por ela, ou se suas palavras eram apenas uma forma de amenizar a situação. Afinal, como poderia alguém como eu, tão superior a qualquer mulher, ser ameaçada por uma simples vadia mimada?

Com um movimento suave, levei minha mão em direção ao peito de Henry, sentindo o ritmo acelerado de seu coração pulsando sob meus dedos. Um sorriso provocador dançou em meus lábios, enquanto meus olhos se encontraram com os dele, buscando qualquer sinal de ansiedade.

Em um sussurro sedutor, deixei escapar uma frase que ecoaria em sua mente: "Quando a coragem finalmente tocar seu coração, estarei aqui, pronta para ouvir dos seus próprios lábios a verdade que você tanto teme confrontar."

Percebendo o leve desconcerto em seus olhos, eu sabia que havia plantado a semente da dúvida em seu interior. Seria ele capaz de admitir que havia sentimentos reais entre nós, ou continuaria se escondendo atrás das convenções sociais e de um casamento arranjado?

Sem esperar por sua resposta, ergui-me com graça e disse com determinação:

— Preciso partir agora, Henry. Assuntos importantes demandam minha atenção. —

Com um último olhar carregado de mistério, dei as costas a ele e sai da sala de jantar, deixando-o com suas dúvidas e questionamentos. Sabia que o impacto de minhas palavras o assombraria, obrigando-o a confrontar seus próprios sentimentos.

Caminhei pelo corredor com a confiança de uma mulher que sabe exatamente o que quer e como conseguir. Meu coração era de gelo, incapaz de se apegar completamente a qualquer tipo de emoção verdadeira.

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Iara Drimel

Iara Drimel

Eve é muito confiante e arrogante, deixando qualquer um desconfortável com sua presença. Ela por acaso foi de alguma família nobre? Porque carrega em si a soberbia e a prepotência maculada por sentimentos vingativos e egoístas. Fico pensando no Henry, será que ele realmente merece uma mulher como Eve?

2023-08-06

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