Capítulo 19

Eu me senti triste, destruída por tudo o que estava acontecendo. Andrei era como um irmão para mim, e sua esposa Adriana era minha melhor amiga. Me ajudaram bastante quando eu mais precisei. E agora eles se foram, sem ao menos eu dizer o quanto eu estava grata por suas ajudas.

Muitos carros vinham chegando, lá do lado de fora do portão. Havia muita gente, muitos fotógrafos e jornalistas, querendo saber mais um pouco de tudo o que aconteceu. Eu sei que é dever deles, mas eles deveriam respeitar a dor alheia, porque esse momento não está sendo fácil para os familiares, e eles sempre tocam em perguntas que não ajudam muito nesse momento.

Quando chegamos na mansão, instalamos logo o senhor Edward, que acabou passando muito mal na viagem. É compreensível, o que ele está passando não é fácil. Fui cuidar de Arthur, dei banho, uma comida e depois descemos para a sala, montamos o quebra-cabeça favorito dele.

Eu estava conversando com Daniel, enquanto Arthur estava brincando com seus brinquedos. E durante nossa conversa, Daniel me explicou que não poderíamos mais fazer o que estávamos fazendo. Eu respeitei sua decisão, sempre é assim, e depois ele mesmo me procura, está se tornando muito doloroso tudo isso. Mas resolvi deixar como ele quer.

Daniel caminhou até a janela de vidro, observou mais alguns carros que vinham chegando, e rapidamente ele voltou para onde eu estava. Daniel inclinou-se na minha direção e sussurrou baixinho:

— Vamos encontrar muitas pessoas aqui, Katrina, parentes e amigos. Elas podem ficar chateadas e não prestar atenção no que vão falar. Por favor, tome bastante cuidado. — avisou.

— Farei o meu melhor, não se preocupe. — prometi, sentindo seu perfume masculino. — Daniel, como faremos para contar a Arthur? Está chegando gente, seu pai ainda não acordou. — falei baixinho.

— Tarde demais para mudar as coisas agora. Vamos somente nos certificar de que ele ficará bem. — ele me olha.

Eu guardei a sensação que estava sentindo, por ter Daniel tão próximo a mim, e segui ele até a porta, onde pessoas foram chegando. Daniel recebeu todos, alguns também me cumprimentaram, pois chegaram a me ver aqui por muitas vezes, e já outros eu nunca tinha visto ou conhecido, mas Daniel já. De hora em hora, eu olhava para onde Arthur estava brincando, estava tão distraído que não percebeu que eu estava na porta. Se não, já teria vindo até mim.

— Senhor Armstrong, seu pai já acordou. — avisou Alex, o mordomo, chamando a atenção de Daniel para si.

Ele estava com os olhos vermelhos e inchados, e eu sei que ele estava chorando. Andrei nunca tratou um deles mal, sempre tratava de igual para igual, e por isso, todos eles sentem por Andrei e a esposa.

Caminhei até Arthur, peguei ele no colo, enquanto Daniel estava esperando no topo da escada, que leva para os quartos. O acompanhei, e assim que chegamos no quarto onde o senhor Edward estava descansando, Daniel abriu a porta e adentramos o amplo espaço.

— Daniel. — Um brilho surgiu nos olhos de Edward, o homem se levantou para abraçar o filho. Os dois se abraçaram e falaram algo, enquanto choravam juntos. Porém não deu para eu escutar, porque as palavras saíam abafadas.

Lágrimas ameaçaram cair dos meus olhos, enquanto minha garganta apertava, parecia que se formou um nó ali. Eu estava saindo, para esperar do lado de fora, assim os dois poderiam conversar calmamente.

— Chão, Katina. — Arthur pediu agitando-se.

— Traga-o aqui, Katrina, por favor. — pediu Daniel. Caminhei até a cama, e assim que Arthur viu o avô, estendeu os braços para ele.

— Vovô Edward. — chamou Arthur.

Arthur estava no colo do avô, seus bracinhos pequenos estavam em volta do seu pescoço, o homem de cabelos grisalhos o abraçou com tanta força que Arthur tentou se libertar de seus apertos.

O senhor Edward colocou Arthur no colo, enquanto Daniel sentou-se sobre a beira da cama e prestava atenção nas duas pessoas à sua frente.

— O que você fez esses dias, hein? — perguntou o homem para o bisneto.

— Viajei com a Katina e o tio Daniel, e depois brincamos de bola, ele perdeu. — disse ele do modo dele de falar, fazendo eles sorrirem. Até eu sorri do que Arthur falou.

— Mas foi porque ele trapaceou, campeão. — completou Daniel.

— Não acredito que Daniel perdeu pra você? — perguntou Edward fingindo estar surpreso.

— Pedeu, as bolinhas passaram por debaixo de suas penas. — Daniel sorriu ao ver Arthur falar de suas pernas de modo errado. — E meu presente vovô?

— Gisa tem um presente para você, está no outro quarto. — disse Edward. Uma mulher então desconhecida pegou nas mãos de Arthur, e o guiou pelo corredor.

Enquanto Arthur estava na companhia da cuidadora de Edward, eu aproveitei para me aproximar dele e o cumprimentar, e prestar minhas sinceras condolências.

— Senhor Edward, minhas sinceras condolências. — falei, vendo o senhor Edward estender suas mãos para pegar as minhas.

— Senhorita Vicente, obrigado. — Ele segurou minhas mãos e em seguida deu-lhe um tapinha. — Agradeço muito pela sua ajuda com Arthur, ele é uma criança doce e inteligente. — elogiou.

— Não tem de quê, amo aquele garoto como um filho, e durante esse tempo todo, cuidando dele, me apeguei. — expliquei, sentindo o olhar de Daniel queimar em mim.

— Você é uma mulher incrível, senhorita Vicente. Quem tem você, tem ouro. Se souber aproveitar, será feliz. — minhas bochechas arderam como brasa pela timidez. Daniel limpou a garganta, sentiu-se incomodado.

— Senhorita Vicente, pode descansar, deixe Arthur conosco. — disse Daniel. Eu apenas assenti e fui saindo dali.

Meu coração apertava no peito, cada vez que eu me afastava dos dois homens que eu amo. Sim, Arthur me conquistou com seu jeitinho de criança, e tenho um amor incondicional por ele, como se ele fosse um filho meu. E Daniel, eu nutri um sentimento que eu não deveria ter nutrido. Eu quero sempre estar perto dele, sempre me envolver em seus braços, em seus beijos quentes e desesperados. Mas tem algo que nos separa, não só no momento em que estamos quase nos entregando, quando sempre surge algo para atrapalhar, mas na troca de um sentimento recíproco.

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