Capítulo 05

Eu estava sentado ao redor da mesa de jantar, Renata me serviu, comecei a comer enquanto eu conversava com o chefe da cozinha. Javier é responsável pela equipe de cozinheiros, e estava me ensinando algumas receitas ótimas, não parece, mas em minhas horas vagas, eu cozinho para mim mesmo, embora eu não goste muito de comer o que eu faço, mas não faço a desfeita para mim mesmo.

Javier tagarelava o tempo inteiro, com tantas conversas, daria até para eu fazer um livro de receitas, com 200 páginas e mais alguns exemplares. Eu já havia me distraído bastante, pensando em todo esse acontecimento, o qual levou meu irmão a sumir em uma tempestade inesperada, meu sobrinho que agora está cada dia mais irritado, por ficar longe dos pais por tanto tempo.

Eu sei como ele se sente, porque mesmo tendo meus pais próximos a mim, eu sempre me sentia sozinho, é um sentimento ruim que eu sentia, e que não desejo a ninguém. Por muitos anos, tentei preencher esse vazio que senti, mas vi que é muito profundo, esse vazio que tentei preencher com meu trabalho, com minhas conquistas, não há nada que possa me curar desse maldito sentimento.

Tentei passar um sentimento de conforto e segurança a Arthur, porque foi exatamente de uma vida vazia, que eu vim, porém fiquei desconcertado, quando eu vejo que ele prefere mais a babá, do que a mim que sou o tio dele, juro que não consigo entender como ele vê as pessoas, que o rodeiam. Por ele ser um Armstrong, deveria procurar conforto nos braços da família do que nos braços de uma completa estranha, porque era isso que eu achava de Katrina. Uma estranha, mesmo trabalhando aqui por três anos.

— Senhor Armstrong... — chamou Javier, me fazendo olhar para ele. — O senhor não tocou mais na comida, se perdeu no tempo?

— Não Javier, nem percebi que havia deixado de comer, são tantos os problemas, que não percebi, perdão, pode retirar o prato. Por favor, passou a fome. — me retirei da mesa.

Minha mente estava enredada em várias confusões e pensamentos inapropriados sobre a Babá de Arthur, que me dava raiva em pensar naquela criatura pequena, nem sequer eu conseguia pensar com clareza. Caminhei até a sacada, me sentei sobre a cadeira de descanso, e fitei o céu escuro.

— Daniel, tá tudo bem? — uma mão macia toca meu braço, me fazendo sair dos meus pensamentos.

— Está sim Laura, não se preocupe. — falei pensando se eu deveria me livrar daqueles toques ou aceitar sua boa oferta.

— Que ótimo, eu espero que esteja bem mesmo. — Laura me mostrou um sorriso. — Se precisar de alguma coisa ou uma companhia, saiba que estou disponível. — disse beijando meu rosto, e logo em seguida saiu dali.

Eu me atrasei bastante ficando aqui, mas por ordens do Doutor que acompanha Arthur, tive que ficar, por bem dele somente, eu não tive outra saída. Mas estou ansioso para retornar, e começar a mexer os pauzinhos, e fazer o que tiver ou não, ao meu alcance pra trazer meu irmão Andrei e sua esposa de volta. Eu saí da sacada indo em direção ao meu quarto, quando passei pelo corredor, ouvi o choro de Arthur, imediatamente abri a porta e caminhei até ele que chorava no colo de Laura. Ele estava inquieto.

— Você não tinha ido pro seu quarto? — perguntei olhando pra mulher à minha frente.

— É que Arthur acordou, começou a chorar e agora não quer mais dormir. — disse ela quase chorando também.

— Katina...— Arthur chorava chamando o nome da Babá.

— Arthur chama por ela a todo o momento, eu não sei mais o que fazer. — disse Laura impaciente.

— Mas por acaso, não foi ela quem o colocou pra dormir? porque eu pedi para que ela cuidasse dele. — Cerrei os punhos.

—  Não!!! Ela me pediu para fazê-lo dormir, porque sentia-se muito cansada. — Disse Laura. — Ela sempre me pede, quando está indisposta, quem a olha acha que se importa com Arthur.

Eu sabia que eu iria passar por muitas dores de cabeça com essa mulher, não serve nem pra ser babá, não sei o que meu irmão achou nela. Como pode ela descansar, e deixar Arthur de lado? Eu tentei me aproximar de Arthur, pegar ele no colo, mas o garoto só me empurrava para longe.

— Katina, eu quelo katina .... — disse, chorando mas ainda.

Meu desespero em não saber cuidar de criança, me assolou. Tive que revirar a casa inteira, pra saber onde Katrina estava, e trazê-la até Arthur, que não parava de chorar e chamar seu nome. Agora na frente da porta do quarto da mulher, eu nem imaginava como poderia chamá-la naquela hora ou de qual maneira falar com ela, para dizer que sou tão incapaz de cuidar de meu próprio sobrinho. Bati na porta, chamei pelo nome dela várias vezes, mas ela não me atendeu, eu abri a porta com cuidado, e pude observá-la dormir.

Estava esticada sobre a cama, seus cabelos loiros estavam espalhados sobre a cama, suas coxas brancas que não pegavam sol, estavam à mostra, seu peito subia e descia em uma respiração totalmente calma, a luz do abajur clareava seu rosto pálido e seus cílios longos,  prestei atenção em sua boca avermelhada e bem desenhada, eu não queria reconhecer isso, mas Katrina é uma mulher perfeita e linda, eu terei que investigar mais sobre ela.

— Katrina... — chamei vendo ela se mover sobre a cama. — Desculpe-me incomodar, mas preciso que venha comigo.

Ela se ajeitou sobre a cama, me olhou e cobriu-se com um lençol, já que estava somente de camisola bem decotada.

— Senhor Armstrong. — falou, parece que naquele instante em que lhe caiu a ficha.

— O próprio. — falei calmamente.

— O que houve? — perguntou.

— Arthur acordou e chamou por você. Não sei o que fazer. Se troque e venha até o quarto dele, por favor.

Eu saí dali, deixando-a à vontade para se trocar, mas acredite, o quarto de Katrina era o último lugar que eu queria estar. As pessoas falam que sou frio e calculista, mas tenho meus motivos para ser assim.

Porém, eu não me importo com os comentários maldosos sobre mim, porque sempre terão aqueles que falaram bem e aqueles que falaram  mal por inveja.

Sou feliz do meu modo, sendo calculista ou não, sou feliz e acabou.

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