Capítulo 11. Realidade

Frederico

Quando vi minha fêmea encolhida, confusa e envergonhada, quis confortá-la, mas ela se levantou e voltou para o lugar onde estava e embora eu quisesse ir atrás, Dimas não deixou. Ele ouviu a explicação que dei a Lari e voltou ao corpo humano. Os dois se adaptaram bem melhor do que eu esperava.

— Como se sente, Dimas?

— Péssimo, e não é por causa da dor, é pela humilhação.

— O quê, do que você está falando? Você foi traído, estava morrendo e eu te salvei.

— Eu me lembro muito bem de ver essa sua cara feia, me perguntando se eu queria morrer ou viver, nenhum ser humano que preza a vida quer morrer, pois considera o desejar a morte uma covardia.

— Pra começar, eu não sou feio. Diz então, o que fez você se sentir humilhado. 

— Presta atenção no que vou dizer. Minha filha e eu fomos transformados em criaturas que nem sabíamos que existe, mas há apenas alguns minutos atrás, nós éramos humanos. Aí você traz a minha filha aqui para me ver e ela fica nua na frente desse monte de macho e você não teve a dignidade de cobri-la decentemente. Eu que sou homem, estou me sentindo incomodado de estar nu, imagine ela. Os humanos não andam nus, por considerar isso vergonhoso, ao contrário de vocês, que já nascem com esta Liberdade. 

— Desculpe, você tem razão, eu não pensei nisso, a nudez para nós é tão natural que realmente não me passou pela cabeça que fosse tão desagradável para vocês.

— Minha filha não fica nua na frente de ninguém, criei ela recatada e pura. Eu, como pai, nunca vi seus seios e de repente, ela fica nua em um lugar como esse. Não nos trate como um de vocês, só por que nos transformou, continuamos pensando e agindo como humanos, até que aprendamos a ser como vocês.

— Entendo, obrigado por explicar. Tem algo que você deve saber. Nossa raça acasala com uma única fêmea e não serve qualquer uma, para procriarmos, tem que ser a que é compattivel conosco.

— Como reconhecem?

— Pelo olfato, o cheiro dela é único para seu companheiro. Pode ser que você encontre a sua, mas a minha eu já encontrei, é a sua filha.

Dimas não falou nada, balançou a cabeça e foi sentar no fundo da cela, a luz do luar incindiu sobre ele e ele se transformou novamente. Rosnou de dor, mas dessa vez foi mais suave. Quando terminou, ele falou com voz cavernosa:

— Ela precisa comer e não toque nela sem permissão.

Virou para a parede, deitado e ficou ali, parado.

Ele tem razão, não prestei a mínima atenção em como eles se sentem com tudo isso, chega me dói, lembrar dela protegendo a nudez. Um sinal de recato e vergonha e eu fiquei parado, admirando minha fêmea, ao invez de protegê-lo. Olhei para o lobisomen encolhido na cela, a humanidade dele fez toda a diferença na transformação. 

Me leva a pensar que estou deixando nossos filhotes crescerem sem a educação certa. Terei que rever isso. Também tenho a meu favor, que nunca havia transformado  ninguém e de repente, tenho pai e filha sobre minha responsabilidade.

— Aí, Dimas, desculpe, é a primeira vez em tudo para mim. Nunca transformei ninguém, vocês foram os primeiros e também nunca tive uma companheira para proteger, sempre cuidei da Alcateia como um todo e com vocês aqui, me dei conta de que estou falhando. Me desculpe. Quando amanhecer, vamos para minha casa.

Ele não se virou, apenas disse:

— Quero ir atrás daquele estrume que me atacou e ver como estão os outros.

— O Karl fugiu e os outros, mandei levar os que sobreviveram para minha casa. Disseram que tiveram que acalmar um tal de Joel. Você verá eles lá. Descanse, vou ver os outros.

— Alimente minha filha.

— Já avisei a Kate.

— Kate é a que tem cheiro bom?

— Não sei, é bom o cheiro dela?

— Sim, muito bom.

— Você nasceu de bunda pra lua, homem? Mal chegou e já conseguiu a coisa mais difícil…

Saí dali, coçando a cabeça e me transformei para ver os outros. Conforme encontrava com meus guardas e com os famiiares dos que se transformaram, recebia os comprimidos pela companheira linda e forte que encontrei. Agradeci, sorridente,mas envergonhado por não tê-la protegido da visão deles.

Estavam todos bem, falei com todos, para que reconhecessem minha liderança e disse que logo eles não sentiriam a dor da transformação e que assim que amanhecesse, todos voltarão ao normal. Cheguei ao nicho de Ester e Almir estava com ela. Ela ainda estava arredia, mas Almir estava próximo e seu cheiro ajudaria a novata a se acostumar com a transformação.

Segui para o nicho de minha companheira e ela dormia, mas tinha se transformado em lobisomem.

— Como ela está, Kate?

— Melhorou depois que comeu e dormiu, a transformação ocorreu tranquila.

— Encontrou seu companheiro, Kate?

Ela me olhou assustada, pelo jeito não queria que eu soubesse.

— Como descobriu?

— Ele disse que seu cheiro é muito bom.

— Óh, eu fiquei com medo, não queria ser rejeitada, além dele ser um humano, claro.

— Não mais, Kate, agora eles são como nós. — falei, olhando pata minha fêmea. Ela é branca, também na forma de lobisomem.

— Ela é rara, Alfa. Diz as escrituras, que uma loba branca é Alfa e tem o poder de curar sua Alcateia dos traumas e aquietar os ânimos com sua presença.

— Será que é ela que está acalmando este lugar? — perguntei.

— É capaz, nunca assisti uma transformação tão tranquila. — Kate tem razão, está tudo bem tranquilo.

— Minha Luna chegou chegando e o melhor é que nos conhecemos quando ela ainda era humana.

— Como assim, você já tinha encontrado ela?

— Sim, há alguns dias, no clube. Ela me correspondeu, então, estou feliz, creio que dará tudo certo.

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