O princípio da incerteza

O princípio da incerteza propõe, que em nível quântico, quanto maior a certeza na medida da posição de uma partícula, maior será a incerteza de seu momento linear e vice-versa. E isso resumia tudo, quanto mais eu pensava em ir embora, menos eu queria ir embora, e saber minha posição, me deixava na incerteza do caminho a seguir.

Como comandante devo dizer a minha tripulação o que fazer, ser a luz no fim do túnel. É como estar parado frente a uma bifurcação, um lado te leva ao final de sua jornada, o outro, te mantém em constante movimento. Seja lá qual caminho escolher, não haverá voltas.

Por quase uma hora, esperamos Gliatru aparecer, para enfim começar a tal reunião. Todos já estavam no salão branco, apenas a espera do Gnoriano.

— Desculpem, surgiram alguns problemas! Mas temos novas pistas sobre o possível traidor. — O Gnoriano diz enquanto se aproxima.

— Existe mesmo um traidor? — John pergunta.

— É possível — Gliatru parecia confuso.

— Neste caso acho que podemos chamá-lo de o traidor de schrödinger. Até abrirmos a caixa, pode haver, ou não, um traidor — Todos riem.

— Mas essa reunião tão urgente é para que mesmo?

— Igor vai embora! — Gleorio diz seco.

— COMO ASSIM, EMBORA? —Emilly John e Gliatru se surpreendem

—Tentem entender, aconteceu alguma coisa na terra, já estamos aqui sem quase dois meses. E nesse período, a TellStar fez o favor de sumir do mapa — Paro e respiro fundo — Quando acessamos a rede privada, não havia mais nada, todos os dados, backups e os arquivos importantes foram excluídos, Desapareceram.

— Você quer dizer que eles nos abandonaram aqui? — John diz indignado

— Exatamente! — Vivian responde — Só os arquivos da Lil tinham sobrado, a TellStar simplesmente não existe mais, assim como nenhuma rede de comunicação na terra funciona. Coincidência?

— Que merda, minhas pesquisas, eles roubaram tudo? — Emilly diz quase chorosa.

— Não sobrou nada!

— O trabalho de uma vida... — Seus olhos lacrimejaram

O clima pesou, Vivian tentava consolar Emilly, e Gliatru apenas me olhava, como se nunca mais fossemos nos ver.

— O que faremos comandante? — John se pronuncia

Todos esperavam uma resposta

Como dizer a eles, que eu não sei o que fazer? Como comandante, tenho deixado muito a desejar.

— Eu também acho que devemos voltar — Diz John receoso — Mas não agora, comandante, a terra sobrevive sem a gente. Mas a um planeta aqui, que precisa da nossa ajuda, e nós prometemos ajudar.

Suspiros pesado antes de falar

— Você está certo! Não somos mais necessários na terra, do que somos aqui.

— Todos ficam, resolvido! — Gliatru abre um grande sorriso — Que bom que vai ficar, não pense que vai fugir daquele assunto para sempre. — Fala me abraçando.

— Eu quero ir embora. — Sorrio

— Engraçadinho.

Com tudo decidido, todos podiam voltar a seus afazeres. Gleorio e eu retornamos com o Onitrans da Vivian, para a Oficina, colocar em prática a ideia de uma inteligência artificial super-poderosa. Só tinhamos que substituir a linguagem de programação da Lil, que estava em  Python, e reprogramá-la usando o Gatrix, que basicamente, funciona como a versão três mil do Python, desenvolvida exclusivamente pelo Gleorio, e utilizada em todas as inteligências artificiais aqui de Gnoria.

Minha parte nessa ideia havia acabado, Gleorio faria quase todo o trabalho, e graças a sua hiper inteligência, tenho certeza, que não demoraria nada. Só restará um problema agora; essa maldita porta, que não saía da minha cabeça.

Deixei que Gleorio pensasse em paz, pois havia mais um empecilho a ser resolvido. Gliatru não me deixaria em paz, até resolvermos o assunto do outro dia. Então com um Sag, voei a procura do mesmo, que provavelmente estava no quartel general. Automaticamente, voei para lá, inconscientemente, pensando no que falaria a ele. Como explicar, que saí correndo no meio da nossa primeira vez, porquê não sabia se o amava também, e porquê entrei em choque com tal revelação?

E lá estava ele, parado bem a frente de mais ou menos cinquenta Gnorianos, pronunciando algo incompreensível, ao lado daquela Gnoriana sem noção.

Apenas espero ele terminar seu discurso, e aceno em sua direção, fazendo ambos olharem.

— Que surpresa boa — Fala se aproximando — A que devo a honra dessa visitá?

—Acho que temos que conversar — minhas bochechas queimavam

— Eu também acho — Ele sorri — Pode começar

— É-é...

Que merda palavras, onde vocês estão, quando preciso de vocês?

— Aquele dia... eu fugi porquê... — suspiro pesado enquanto alisava minha nuca — PORQUÊ EU ENTREI EM PÂNICO — Grito apertando os olhos sem pensar

Ao perceber o que havia feito, levo a mão a boca em um movimento desesperado de vergonha, todos me olhavam confusos, e Gliatru apenas ria da minha vergonha.

— Não é só isso, eu também não sabia se o amava também.... — Seu semblante havia mudado —  Eu me perguntei muito isso.

—  Então você fugiu de mim todo esse tempo, porquê você não me ama, é isso? —  Ele parecia decepcionado — Se não queria, era só ter me dito, não precisava fugir.

—  Não, não é isso, não entenda errado. Eu fugi porquê eu tive medo, ta bom? Ninguém nunca me disse isso antes...

—  Sério? Foi sua primeira vez? —  Ele sorri malicioso

—  Não tem graça ta? Eu já estou muito envergonhado.

—  Do que você tem medo?

— Eu não sei, eu tenho medo de te amar, medo de tudo isso ser um sonho... e medo de no final, ter que te deixar...

Seus olhos marejados, se mantinham fixos em mim

— Eu sei que nossa relação provavelmente, está condenada ao fim, desde o começo...

—  Não está ajudando — O interrompo

—  Mas não importa o quanto dure, ou o quão longe você esteja de mim, você sempre será o meu grande amor, e que nosso destino seja eterno, mesmo que estejamos caminhando na corda bamba do tempo, cuja a contagem regressiva para o fim, fora iniciada. Eu ainda sim te amaria, mesmo que as barreiras da realidade estivessem ruindo, mesmo que tudo isso, não passe de um sonho. Eu escolheria o adormecer eterno, mil vezes, se isso me levasse aos seus braços, por apenas um segundo.

Se eu já não sabia o que falar, agora então, me sinto flutuar no espaço, a deriva, sem encontrar uma palavra se quer. Meus olhos lacrimejaram, e minhas ações automáticas entregaram tudo. Pulei em seus braços, sem dizer uma única sílaba, lágrimas rolavam pela minha face, descontroladas, meus lábios entreabriam, mas de lá não saía nada, apenas um sussurro, quase inaudível escapou das barreiras da incerteza.

—  Eu também te amo.

Então ele retribui o abraço, apertado e intenso, todos nos olhavam, mas isso já não era mais um problema. Já não haviam mais inseguranças, medos ou incertezas. Tudo isso se foi, dando lugar a melhor coisa que já aconteceu na minha vida, eu só não conseguia ver.

— Eu tenho que ir agora, mais tarde nós conversamos. — Ele diz ao nos separarmos

—  Tudo bem. Tchau.

—  Espera, não está esquecendo nada?— Pergunta sorrindo

O beijei sem enrolação, calmamente, e sem ligar para plateia nos assistindo. Suas mãos subiram até minha cintura, puxando meu corpo, para mais perto dele. Minhas mãos acariciavam a pele do seu rosto, e os sorrisos que ambos dávamos, entre o beijo, como se estivéssemos vendo a alma um do outro, e tendo plena certeza de que nos pertenciamos.

Logo ele voltou a seus afazeres, e eu voltei a Oficina de Gleorio, com um sorriso bobo, imensamente grande, que de longe poderia se visto. O Gnoriano estava concentrado mexendo no computador, nas três telas em simultâneo, mas ao me ver entrar, ele para e me olha.

— Que foi? — Pergunto sorrindo para o nada

—  Pelo tamanho do seu sorriso, vou chutar que vocês finalmente se entenderam, acertei?

—  Sim —  sorrio ainda mais

—  Que bom, eu fico fiz por vocês.

— Obrigada. Então, como está indo a Lil?

—  Esta tudo bem. É um pouco mais complicado do que eu imaginei, mas acho que término em duas semanas, e começo a trabalhar no corpo.

— Legal. Na parte do corpo eu posso te ajudar

O tempo passou rapidamente, era incrível ver Gleorio trabalhando, mas estava ficando tarde e infelizmente, eu tive que ir. Me despedi do Gnoriano, e voei de volta a meu apartamento. Chegando lá, Gliatru já me esperava.

—  Chegou tarde.

—  Eu sei, desculpa, estava olhando Gleorio trabalhar e perdi a noção de tempo.

— Por que você não me olha trabalhar? — Ele diz me abraçando

— Seu trabalho é chato —  Ambos sorrimos

— Está com fome? Eu fiz sua comida. É gruifak frito.

— Um! Adoro!

Ambos fomos até a cozinha, onde ele me serviu, e juntos comemos o gruifak frito, que era um inseto gigante avermelhado, aparentemente nojento, mas uma verdadeira delícia, ficaria ótimo com pimenta.

Após o término da refeição, ficamos um tempo no sofá, apenas conversando.

—  Sabe, eu quero te perguntar uma coisa

—  O que quiser.

—  Você já foi na Oficina do Gleorio?

— Não, por quê?

— Que pena, eu queria saber o que ele esconde atrás daquela porta. — Digo frustrado

—  Espera, você disse porta?

—  Sim.

— Uma porta preta com uma fechadura digital?

—  Como você sabe, se nunca foi lá? —  Estranhei.

— Merda Gleorio, o que você fez. — Ele sussurra consigo mesmo.

—  Como assim?

—  Lembra quando eu te falei que tinha pistas do possível traidor.

—  Não! Não, não impossível. De onde você tirou esse ideia?

— Eu sei, eu também não quero acreditar, preciso investigar mais. Mas você acabou de confirmar as denúncias

—  Denúncias? No plural

— Sim, eu recebi três denúncias anônimas, sobre uma porta muito suspeita na Oficina do Gleorio, que esconde todo o trabalho que ele faz para os Mulionianos.

— ISSO É IMPOSSÍVEL! O Gleorio jamais faria isso. Deve haver uma explicação lógica para aquela porta. Eu tenho certeza. Fale com ele.

—  Eu não posso, ele vai negar tudo.

—  Ele diz calmamente

—  Por que você está tão calmo com isso? Eu não acredito que confia mais em uma denúncia anônima do que seu próprio irmão

Eu estava indignado com a calmaria que o Gnoriano a minha frente, levava toda essa confusa situação.

—  Eu sei o que está pensando, meu amor, mas eu sou general, é meu dever investigar, mesmo que pareça um absurdo.

— Ele não é um traidor, você vai ver.

— Eu sei, eu também confio no meu irmão.

Gliatru se mantinha estranhamente calmo, levava toda a situação na maior naturalidade. Seu semblante frio, denunciava que o Gnoriano tinha muita experiência no assunto, como se no fundo ele realmente acreditasse nas denúncias; e sem demonstrar uma reação, ele se manteve pelo resto da noite, e isso me irritava; eu não sei porquê, mas só o menor pensar em Gleorio sendo um traidor, já me tira totalmente a paz

Mas isso não é possível certo? A milhares de explicações possíveis e perfeitamente aceitáveis, para a existência daquela porta misteriosa. Ele não é um traidor, e não trabalha com os Mulionianos, não é? Mesmo que no fundo isso faça algum sentido. Explicaria tudo, como os Mulionianos sempre sabiam o que fazer, aonde ir, e como Damag sabia que estávamos indo resgatar Gliatru.

Mas não, isso é impossível, pode ser qualquer coisa, uma plantação de milho, um zoológico ilegal de  gruifaks, ele pode estar mantendo alguém em cativeiro, ou até mesmo fazendo pesquisa com Mulionianos vivos. Pode ser isso, não pode?

É o lance do traidor de schrödinger de novo.

Eu não quero abrir a caixa...

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