Vislumbre de um amanhecer azul

O crepúsculo em tons azulados invadia o quarto, era uma das coisas mais linda deste planeta, sozinho eu me encontrava uma vez mais; apenas meus próprios pensamentos me faziam companhia, o som dos aparelhos ligados ao meu corpo, ecoava pelo salão branco, denunciando que não havia mais ninguém ali. Com lentidão a noite mandava embora o alvorecer azulado, a cidade ganhava um tom mais escuro, as luzes dos prédios se acendiam, os hexágonos ganhavam sua iluminação, marcando seu caminho, e o que aparentava, era que Gnoria, ganhava uma outra vida, uma outra atmosfera.

Da minha cama, preso aos aparelhos que controlavam meu estado, observo os Gnorianos, tão tranquilos, vivendo suas vidas em paz, eles conversavam e riam juntos, todos que passavam se juntavam, não havia separação por classes, gênero ou raça aqui. Todos seguiam um mesmo caminho, de mãos dadas, abraçavam a vida que lhes fora dada. E eu não deixo de pensar como alguém pode querer fazer mal para tão gentis criaturas?

Minha solidão não durou muito, pois Gliatru apareceu, com um sorriso no rosto, um olhar otimista, como quem teve um ótimo dia.

— Gleorio permitiu! — Ele fala ao entrar.

— O que? Permitiu o que? — Digo sorrindo ao vê-lo tão feliz.

— Bom, antes de você resolver se enfiar abaixo da neblina sozinho, lembra quando eu te falei das suas novas casas?

— Sim! Sim, eu me lembro — Respondi animado.

— Pois bem! Chegou a hora, já levei seus outros humanos, a suas casas, só falta você. Gleorio disse que ficará mais confortável lá, e não vai passar muito tempo sozinho como aqui. Ah! E não se preocupe com os aparelhos, já levamos tudo o que vai precisar. Só ficará sem por um estante.

— Uau! Isso sim que é uma boa notícia — Sorri animado.

— Só espere Gleorio vir para desligar esses, e nós vamos.

Durante o tempo que esperávamos, não fora dito muita coisa, Gliatru estava sentado a me olhar ao pé da cama. Somente olhava e sorria, não dizia nada.

— Por que está me olhando assim? — Sinto o rubro de minhas bochechas queimarem.

— Só estou te admirando — Ele se aproxima e segura minha mão — Você não imagina o quanto estou feliz que esteja bem. Esses últimos acontecimentos me fizeram pensar.

— Pensar? — Arregalo olhos — P-pensar no que? — Corei.

— Em você, na forma em que veio, e tomou conta de toda a minha vida. Vai se responsabilizar por isso?

Meu coração acelerou, o monitor cardíaco denúncia meu estado de puro nervosismo, minha respiração descompassou, e minhas mãos tremiam. O que eu respondo? O que eu respondo?

— É...e-eu...

— Ei! Por que está chatiando meu paciente? — Gleorio diz cortando o clima.

Logo Gliatru levanta e solta minha mão, a falta da sensação das mãos dele nas minhas, e uma coisa que irei desaprovar pela eternidade.

— Está tudo bem! — Sorri — Não exagere.

— Mesmo? Olha seus batimentos como estão acelerados — Diz apontando para o monitor — Se continuar assim, vou ter que adiar sua saída.

Gliatru apenas ria de minha situação.

— Eu estou bem! Mesmo — Enfatizei o mesmo.

— Tudo bem então. Tente não se mover enquanto eu desconecto os aparelhos.

Gleorio apenas tirou aquele monte de fiasão, e as agulhas que levavam o remédio para minhas veias. Depois perguntou mais cinquenta vezes se eu estava bem, e com muito cuidado me levantaram da cama. Andamos com lentidão até o hexágono...

Espera, eu juro que vou dar um nome para isso, ter que ficar falando hexágono toda hora, que preguiça.

Sag, vamos chamar de Sag.

Então Gliatru subiu no Sag, e apoiando suas mãos em minha cintura, me ajudou a subir. Continuou apoiado nela durante a viagem. Ele me abraçava por trás, e voava com todo cuidado, Gleorio vinha logo atrás. Demorou uma eternidade para chegarmos no prédio, graças a nossa vagaresa. O edifício alto circular, preto e azul ficava ao oeste do salão branco, ao norte ficava a Praça Central, e a leste ficava o armazém de tecnologia, e também ficava uma espécie de quartel general onde Gliatru trabalhava.

Quando entramos parecia aqueles prédios de luxo da terra, mas cem vezes mais tecnológico. Seu interior era predominante o branco e o azul claro. Fomos direto para o décimo andar, na porta do apartamento estava escrito titchuak, o que significa? Pergunte ao Gleorio. As fechaduras daqui não levavam chave ou algum tipo de cartão de acesso, se abriam com um escaner de retina, que eu tinha que cadastrar agora.

— Fique aqui e não se mecha — Gliatru é quem diz apertando um botão.

Reatruak oak twiak vopieak.

Pseak apyak twiak.

Uma voz surgiu do escaner, falando em Gnoriano, e logo Gliatru posiciona sua mão em minha nuca, aproximando um de meus olhos do pequeno círculo bem no meio do escaner.

Reatruakiak....

Reatruak xuopliak. Bhuak vieak Igor Jones.

— Wow! Ela sabe meu nome — Sorri feito criança.

Eles apenas riram da minha cara, e logo a porta se abriu em automático. O interior do apartamento era incrível, com uma grande vidraça bem ao lado da sala, que dava passagem para uma sacada lateral, todo o inteiro fora reproduzido de acordo com nossas moradias na terra, tinha dois quartos, sala, banheiro e cozinha, para cozinharmos, eu não sei se disse antes, mas, a comida Gnoriana não era nada mau.

— Incrível! É lindo — Digo com um largo sorriso.

— Que bom que gostou, aquele é seu quarto. — fala apontando para o cômodo no final do corredor.

Quando fomos até lá, o quarto era maior do que o necessário apenas para mim, a cama era grande e ao lado estavam os aparelhos que eu iria precisar.

— Vem, vamos ti ligar o mais rápido possível.

Os aparelhos consistiam, em uma versão grande e móvel do FlO², com o tubo bem maior para eu poder andar, um daqueles monitore, que monitorava meus batimentos cardíacos, o fluxo de oxigênio, o estado dos meu pulmões, assim como meu cérebro e outras partes do corpo, mas esse monitor ficava guardado dentro de um armário de vidro, que se abria com o escaner da palma da mão, nele também estava guardado nossos uniformes da TellStar.

— Esse monitor funciona com um detector de movimento, enquanto você estiver no quarto, vai poder ver seu estado de saúde. Eu voltarei duas vezes por dia para administrar sua medicação. Entendeu?

— Sim senhor! — Sorri.

Ele só terminou de arrumar tudo e saiu, com a desculpa de ter algo para resolver, e não querer nos atrapalhar. Só ficamos eu e Gliatru, sozinhos, naquele apartamento imenso.

— Sente-se um pouco — Ele apoia a mão em minha costa. — tente descansar, e não se esforce muito.

— Você não precisa ser tão cuidadosos! Eu estou bem.

— Mas eu quero cuidar de você — Ele me olha e então sorri.

Permaneciamos sentados naquela cama, seus olhos brancos fixos em mim eram hipnotizante, me fazia querer olhà-lo para sempre. Sua mão ainda estava em minha costa, e a outra veio em direção a minha, que antes repousava em minha perna. Ele me olhava, intensamente, tive a sensação de parar no tempo, como se nada mais existisse além de nós, e aquele momento. Logo sua mão que antes segurava a minha, subiu até meu rosto, acariciando minha pele, e novamente sem dizer uma palavra.

Meu coração estava acelerado, e um frio na barriga podia ser sentido, como eu nunca senti antes, tudo era perfeito, mais do que qualquer sonho ou devaneio que eu tive com tais momentos. Mas nada dura para sempre, infelizmente ouço algo me chamar na porta, era John, querendo algo no momento mais inoportuno.

— Comandante! O senhor já está em casa? — Ele cantarola da porta.

— É... é m-melhor eu ir ver o que ele quer — Digo constrangido.

Ele ficou lá da cama, me vendo sair arrastando o FlO 2.0, eu sei, eu sou ótimo com nomes. Fui até a entrada, e abri para John, ele parecia realmente feliz.

— Ai sim comandante! Seu apartamento é maior que o meu. O senhor merece.

— Depois eu volto para ver como você está — Gliatru aparece indo em direção a saída.

Logo ele sai, desaparecendo de nossas vistas.

— Atrapalhei alguma coisa comandante? — John do confuso.

— Não, tudo bem, relaxa! — Digo rindo de sua expressão.

— Comandante, sabe aquela série que o senhor gosta?

— Qual delas?

— Aquela que tem um cachorro que se chama fadinha?

— Ah! Sei! é uma das minhas séries favoritas.

— Eu sei! De tanto o senhor falar, eu decidi assistir com minha filha mês passado.

— Jura? E o que acharam?

— Minha filha adorou! Ela shipa muito os principais! Eu não entendi direito, mas gostei.

— Ela é das minhas então! — Ambos rimos.

— Então, como vai?

— O que?

— Qual é comandante — Ele ri. — O que o senhor tem de inteligência tem de lerdeza.

—  Por que dessas ofensas gratuitas? Posso saber?

— Abre o olho comandante! O que está rolando entre você é o alienígena bonitão?

— Que? N-não ta rolando nada, vocês estão vendo demais.

— Só o senhor não vê o que está bem diante dos seus olhos.

Eu não sei o que pensar sobre isso, nunca daria certo, afinal, não moramos nem na mesma galáxia. Relacionamento a distância que fala né? No caso, anos luz de distância, e você achando que a sua vida amorosa que era difícil.

John e eu continuamos conversando, quase a tarde inteira, já estava anoitecendo quando ele se foi. E de novo eu me encontrei sozinho, pensando se Gliatru iria aparecer, e ao mesmo tempo, querendo que ele não venha. Eu não sei o que sinto por ele, adoro seu sorriso, seus olhos, sua companhia me deixa mais leve, sempre que ele aparece me dá um frio na barriga, mas é normal né? Deve ser só deslumbre de encontrar uma raça alienígena tão incrível quanto os Gnorianos.

Apenas cinco minutos se passaram, e ele estava aqui, batendo em minha porta.

— Como foi o seu dia?— Ele sorri ao entrar

— Até que foi bom, e o seu? — Sorriu de volta

— O meu foi cheio, não temos nenhuma pista do traidor ainda — Ele diz frustrado.

— Você vai encontrar não se preocupe! — Dou o sorriso mais amigável que consigo.

— Se você diz, eu acredito.

Por que eu fico tão retardado perto dele? Nunca sei o que falar.

— É...— Levo a mão até minha nuca. — O que vai fazer agora? — Desvio o olhar

— Vou ficar com você.

Que merda! Como eu posso agir como uma pessoa normal, com ele falando desse jeito?

— Você vai... vai.. vai passar a noite aqui? — Falo surpreso.

— Sim! Por que? Não posso?

— C-claro, c-claro que pode.

Para de gaguejar Igor.

— Vem, eu vou te dar seus remédios Gleorio me disse o que fazer!

Não respondi, apenas o segui, de volta pra o quarto, arrastando esse treco para tudo que é lado. Eram apenas dois remédios, um para o machucado em meu peito, e o outro para garantir que não houvesse nenhum resquício do veneno em meu organismo. Assim que acabou, tudo voltou a um silêncio constrangedor, ambos não sabíamos o que fazer. Não havia TV ou filmes para assistir aqui, tudo o que nos restava era tentar conversar para passar o tempo. Mas como? Como conversar se eu mal consigo respirar direito perto dele.

— Como era na terra? — Ele diz quebrando o gelo. — Quando inseri seus conhecimentos, vi muitas coisas horriveis, muitas guerras, tudo isso, aconteceu de verdade?

— Infelizmente! A terra não é como aqui, somos um planeta hostil. Nós matamos uns aos outros, e o planeta junto!

— Mas por quê?

— Eu não sei, chamamos de natureza humana! Mas nem todos são assim, existem muitas pessoas boas.

—  Você é uma delas!

— Obrigada!

—  A terra parece um lugar incrível!

— É, de fato é.

Durante o assunto sobre a terra, Gliatru foi se aproximando cada vez mais, estavamos de pé em frente a vidraça da sala, que dava visão do que tinha a oeste do prédio. A noite caía, e eu começava a ter um vislumbre do azul refletindo em seus olhos brancos, o deixava com um ar misterioso, sua expressão sempre seria, embora um sorriso apareça vez ou outra colaborava para isso. Gliatru cada dia mais se tornava meu fascínio. A baixa iluminação do cômodo se tornava mais visível, sua presença sumia na escuridão, e a atmosfera até que era romântica.

Ele estava a um passo de mim, nus encaravamos incansavelmente, a distância ficava cada vez menor automaticamente, podia sentir sua pele encostar na minha, sua respiração quente batia sobre mim, e seus olhos, ah, esses olhos, eu não me canso de falar deles, me davam um vislumbre do amanhecer azul, a esperança de que tudo iria ficar bem.

Quando finalmente ficamos a um centímetro um do outro, sua testa colada na minha, eu podia senti-lo, como se nós fossemos um só, como se tudo tivesse sido orquestrado pelo destinos, todas as coisas cooperaram para este momento, o momento em que finalmente teríamos nossa prova, a prova de que estávamos realmente destinados.

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