Sussurros no escuro: Mulion vs Gnoria

No horizonte o céu contemplava os primeiro raios de sol. Nascia o  amanhã escarlate, aquela terra fria logo se tornaria vermelha, e a vida insustentável. Um grito de guerra fora ouvido pelos quatro cantos de Gnoria, com lentidão o exército de Gliatru se aproximava, cercando a velha mansão dos Gílios.

E lá dentro, Damag se preparava. Sentado no que agora era sua poltrona, ele esperava pacientemente a invasão, com as pernas cruzadas na velha poltrona de seu pai. Na sala escura, cujo a única iluminação vinha da lareira acesa, o Gílio, sentado confortávelmente e com a mão apoiada em seu rosto, cantarolava uma típica canção Gíliana, canção proibida na língua dos deuses, trazida por Boru do Reino dos Kirin, mas é claro que ele não acreditava. Em sua mente, alguém com certeza inventou esta canção, mas não Boru.

— "[...] Nary kinury ikion lagry, iry urmari vemari ti mary.

Niary kim noua iryão, ki tiori bolai ibaliam, xina ve are dotai vek yo neuri xilino xillai [...]

(...Na escuridão ele está, de braços abertos a te esperar.

Segura em sua mão, e juntos vocês irão, caçar as almas daqueles que o seu caminho cruzar...)

Fora a única estrofe da música que dera tempo de cantar, pois já nos portões centrais, o exército de Gliatru se encontrava, entoando o grito de guerra Gnoriano.

— "Tuak swiak dropak swtrak jiferiak" — Eles gritavam repetidas vezes.

— Espera! Gleorio espera! — Igor interrompe a história — O que significa esse grito de guerra?

— "Todo sangue derramado será justificado".

— Nossa...

— Continuando...

A invasão a mansão Gíliana já havia começado. Com cautela, Gliatru dividira o exército em três partes, uma guardaria os portões centrais, outra se posicionaria nos fundo da mansão, e por último a terceira parte, entraria com Gliatru atrás de Damag.

— Inteligente! — John comenta brevemente.

Eram cerca de mil e duzentos Gnorianos para enfrentar um único Gílio. Gílio que nas atuais circunstâncias, poderia matar todos sozinho, graças ao massacre a sua família, que lhe dera oitenta por cento do seu poder atual. Gliatru caminhou por entre os corredores daquela mansão escura, com cerca de quatrocentos Gnorianos ao teu lado, dividindo-os mais uma vez, uma parte fora ao andar de cima, outros vasculham a cozinha e sala principal, e o resto caminhava com Gliatru rumo a última sala do corredor, o salão de música onde Damag o esperava.

Quando ele finalmente se aproximou, titubeou por um breve momento, colocando a mão na maçaneta da  porta, e a abrindo lentamente, revelando Damag, sentado de costas para a porta, e assim que o Gílio notou que havia companhia, soube exatamente quem era.

— Então você veio! — Ele diz ainda de costa. — Grak vojak areriak!

— Ak qwak refrak deak cuak pliak? —Gliatru estranha aquele comentário repentino.

Damag apenas riu da expressão de surpresa de Gliatru. E com apenas um balançar de sua mão direita, o Gílio mandou todo o exército de Gliatru para longe, deixando apenas ele ali sozinho, e agora trancado junto a Damag.

— O que acha de nos conhecermos um pouquinho? — Ele diz sorrindo.

— Ak qwak grak pliak? TREAK NYAK WJERAK! — Gliatru se descontrola.

— Ah! — Ele faz bico — Você não me entende, não é? É uma pena — Damag finge tristeza — Então, vamos acabar logo com isso!

Gradativamente a sala fora se iluminando, e irradiando-se por todo corpo de Damag surgiu um brilho amarelado, como algum tipo de armadura protetora hiper raduativa. Gliatru estava encurralado, a radiação que emanava do corpo do Gílio estava começando o afetar aos poucos.

Do outro lado da porta, o exército buscava uma forma de o ajudar a sair. Quando sem que ninguém esperasse, atravessando de uma vez só, partindo a mesma em dois pedaços, saiu Gliatru, jogado com toda a força através da porta. O Gnoriano caira em alguns soldados, que rapidamente o ajudaram a levantar. Damag caminhava lentamente, sem dificuldade alguma, ele se aproximava de seus inimigos assobiando a mesma música de antes.

Conforme ia se aproximando, flores murchavam, e tudo ao seu redor morria. Ele apenas ergueu sua mão, e Gliatru voou de volta pra ele, agora preso pelo pescoço, e suspenso no ar. Todos olhavam a cena inconformados, Damag estava mais forte do que nunca. O que seria preciso fazer para vencê-lo? Como derrotar o poder radioativo e o controle da matéria? Gliatru não sabia, nunca se atinou em nenhuma das minhas explicações sobre ciências, embora eu ainda fosse criança.

A batalha era totalmente injusta, ninguém conseguia chegar se quer a um quilômetro de Damag. Alguma coisa precisava ser feita, talvez prendê-lo em algum lugar, até descobrirem como acabar com ele, talvez funcionasse. Mas para isso, era preciso que alguém se arriscasse, servisse de isca, para atraí-lo até o local escolhido, que precisava ser escolhido depressa.

— Então estava Gliatru, e mais mil e duzentos Gnorianos,  para enfrentar esse tal Damag? Sozinho? — Igor interrompe uma vez mais.

— Exatamente! Eu sei o que parece, mas é a mais pura verdade.

Como o Gíliano demonstrou um interesse a mais em Gliatru, o mesmo servira como isca, mesmo sem saber, pois ainda estava mercê de Damag. Só havia um lugar, em toda Gnoria, que talvez poderia aguentar Damag por alguns minutos, e esse lugar era a velha sala de segurança, do nosso antigo Centro hospitalar. "Nosso", não, apenas para a família Gíliana.

Assim que o plano se espalhou, todo a população quisera ajudar. Todos estavam dispostos a morrer, para que Damag não governasse mais. Mas para isso, primeiro precisavam salvar Gliatru. O Gnoriano, tentava de todas as formas sair do controle de Damag, mas sempre que conseguia uma brecha, era arrastado de volta ao Gílio, e apanhava sempre que tentava fugir, era como se Damag o quisesses prender, tê-lo para ele.

— COMO AGORA! — Igor grita o interrompendo de novo — Desculpa!

Então, todos juntos, avançaram em direção ao Gílio, que estava a brincar com Gliatru, o jogava para lá e para cá, como um gato que corre atrás de sua bolinha. Depois ele o ergue novamente pelo pescoço, o mantendo suspenso a sua frente.

— Eu realmente não queria fazer isso! Mas que escolha eu tenho — Ele comenta sorrindo.

Gliatru estava a sufocar, apenas se debatendo e balbuciando algo inaudível. Quando num impulso repentino, Gliatru chuta Damag com os dois pés, caindo ambos ao chão, o Gnoriano se arrastava com dificuldade para longe dali, enquanto o Gílio se levantava, e apenas caminhava devagar, enquanto observava Gliatru tentar fugir, e sorria vendo seu desespero. Eu tinha apenas um utak quando isso aconteceu. Eu corri, mesmo sendo criança, corri o mais rápido possível, quando vi meu irmão jogado no chão, daquele jeito.

— Ojak! — Gritei desesperado.

— Nuak! Maliak! — Ele grita quando me vê — MAALIIIAAAK! ALIAK DAOAK!

Quando ele viu que eu estava tentando salvá-lo, sua expressão era de medo, seus olhos estavam arregalados em minha direção. Então ele se levantou, não sei como ele fez aquilo, mas se levantou e correu, tão rápido, eu nunca o vi daquele jeito antes. Até Damag se surpreendeu, e não teve chances de pegá-lo de volta.

Então ele toma uma decisão fria, desesperadora e egoista. A decisão que tiraria a vida de mais da metade dos Gnorianos.

— Se eu não vou governar esse planeta, então ninguém vai! — Damag diz indo em direção ao teto de sua mansão.

Já no exterior da casa, Damag no telhado, se preparava, fechou os olhos e concentrou todo o seu poder, que antes cobria seu corpo, nascendo uma bola amarela de energia radioativa, que crescia cada vez mais.

—  Lak qwak etak iak? — Todos olhavam curiosos e se perguntavam.

De repente do interior da mansão, saí Gliatru, correndo comigo em seus braços, e quando viu a cena no telhado, ordenou que todos. 

— Maliak! — Ele sussurra assustado — MALIAK, MALIAK! — Começa a gritar a todos.

E rapidamente, todos tentaram correr, abandonaram tudo e correram. Gliatru estava comigo, e correu em direção a nossa casa, mas não ia dar tempo de chegarmos lá, então ele teve que fazer uma escolha, uma escolha terrível. Ou ele corria e rezava para dar tempo de chegar a casa, e pegar nossos pais, ou corria para mais longe possível, e salvava nossas vidas.

Eu apenas o olhava, não entendia o que estava acontecendo. Nem porquê meu irmão estava tão assustado daquele jeito, seu olhar estava perdido e já marejados em lágrimas.

Foi então que ele toma sua decisão,  e começou a correr, virou para o lado e correu, na direção da floresta, que antes não era iluminada como é hoje, correu, e correu, chorando, e sem olhar para trás. No telhado, Damag já estava preparado, e sem a menor compaixão, direcionou toda aquela energia ao solo de Gnoria. Fugindo do planeta logo em seguida. Gliatru tentava fugir e subir o mais alto possível.

A explosão do poder de Damag matou tudo ao seu redor, éramos quase sete mil Gnorianos antes disso, mais da metade morreu, inclusive nossos pais. Gliatru não parou um segundo, continuou correndo, mesmo machucado, e cansado, correu como se não houvesse amanhã, e de fato não haveria se ele parasse, correu quase a noite inteira. Quando chegamos ao monte Etaliak, que agora fica ao norte do armazém, já estava amanhecendo. E só quando ele sentiu que estávamos seguros, ele se permitiu descansar, me colocou no chão, e caiu ali mesmo. Não estávamos tão longe do chão, apenas a uns 150 metros, e a visão que aquele monte nos proporcionava, era aterradora, tudo morto, escuro, seco e frio, não fora uma guerra, fora um massacre.

E eu fiquei lá, desesperado achando que meu irmão havia morrido

— Ojak! Ojak! — Eu chorava e balançava seu corpo adormecido.

Eu esperei pacientemente, o dia inteiro, até que ele acordasse. Logo após o seu despertar, fomos em busca dos sobreviventes, e todos nós nos juntamos, e entendemos que para podermos sobreviver, precisávamos subir de nível. Mas não foi fácil, para chegarmos ao nível que estamos agora, foram mais de 780 anos.

— O QUE? — Todos se espantam em simultâneo — Quantos anos você tem?

— Isso é irrelevante aqui Igor, não limitamos nosso tempo.

— Incrível! — O humano dá um sorriso largo.

—  E essa é a história de Mulion e Gnoria, o resto são apenas detalhes  — Disse para finalizar — Demorou muito até Gliatru superar a morte de nossos pais, mas eu sei que ele se culpa até hoje.

— Ele fez a escolha certa! Eu tenho certeza que era exatamente o que seus pais iam querer.

— Eu sei! Mas Gliatru não entende isso.

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Incrível! Gnoria tem uma história impressionante. Mas muitas questões ficaram no ar. Por exemplo, porquê Damag demonstrou um interesse a mais em Gliatru desde o começo? Era o que precisávamos descobrir, se quiséssemos salvar Gliatru.

A missão de resgate agora já poderia começar, já sabíamos com quem estávamos lidando, e só nos restava criar um plano.  Mas o mesmo pode ser resolvido no caminho, eu não quero esperar mais nem um segundo. Não sabemos como Gliatru está agora, nem o que aquele maluco está fazendo com ele.

Fora apenas mais algumas palavras e logo partimos, para a missão que eu chamei de...

Entrando no inferno.

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