Conforme o tempo passava, ficava mais frio e mais escuro aqui embaixo, tudo o que se via eram as luzes dos nossos Onitrans. Emilly pesquisava e tirava amostras do solo, atrás da amostra perfeita para entregar junto com os relatórios a TellStar, mas não podíamos ficar mais. Anoitecia, o frio chegava, e as criaturas saíam de suas tocas, minha maior preocupação era encontrar outra daquela criatura horrenda.
As coisas também iam bem lá em cima, Gleorio acabava de cuidar dos feridos, e Gliatru já havia cessado suas atividades e foi até o salão branco falar com seu irmão.
— Luak griak grak? — Diz entrando no salão branco.
— Ak Myak Rouak! Grak apuouak truak griak, nyak grak? — Gleorio sorri
— Nyak swak ioak! Retyak!
— Nyak riak luak griak grak adreak, muak grieak itriak nak esdriak oak quiak.
Rapidamente Gliatru pegou seu transporte e saiu, em direção a estação de rádio para nus procurar, chegando lá, viu que não havia mais ninguém, então parou e pensou por um estante, e rezou para suas ideias estarem erradas, mas antes decidiu procurar nos arredores.
Passou por alguns prédios e perguntou a alguns Gnorianos que estavam no local, constatando como verdadeiros os seus pensamentos.
— Qwak xeak Igor!
Abaixo da neblina, nós já havíamos decidido parar, voltaríamos ao amanhecer, pois ficava cada vez mais escuro e perigoso. Mas antes que pudéssemos dar um passo, meus piores pensamentos ganharam vida. Lá estava ele novamente, a criatura, rosnando, e seus olhos com um brilho amarelo em meio a escuridão. Fora a coisa mais assustadora que eu já vi.
— Ninguém se mexe! — Digo dando um passo para trás.
— É essa criatura? — John sussurra.
— A própria.
Logo ela saiu das sombras, revelando sua aparência monstruosa, sua boca era maior que nossas cabeças, possuía quatro olhos, uma longa orelha pontuda, patas gigantes com garras afiadas e em suas costas havia espinhos, espalhados por toda sua extensão até a ponta de seu rabo, que era como uma bola espinhosa.
Ela continuou rosnando, e caminhando sorrateiramente em nossa direção, até dar um pulo repentino de ataque, para nos salvar, saltamos cada um para um lado, logo a fera se virou rapidamente, e foi na direção de John correndo com velocidade; Vivian em seu insistindo pega uma pedra e começa a atirar, para desviar a atenção da criatura. Funciona, agora ela vai em sua direção, a ruiva corre para o lado oposto que estavam os hexágonos, para tirará-la de perto da gente gritando no caminho.
— Vão logo! Eu vou distraí-la. Só fujam.
— Não! Vivian não faz isso.
— Vá logo comandante, está tudo bem.
— Não.
Logo ela some de nossas vistas.
— O que vamos fazer comandante? — Emilly pergunta assustada.
— Nós vamos atrás dela. Não vamos deixar ela se arriscar sozinha.
— É isso ai comandante! — John se alegra.
Então juntos corremos na direção em que Vivian estava, os rugidos da fera se ouviam de longe. Vivian pulava e saltava entre as pedras e troncos das árvores para se esquivar.
— Vivian! — Gritei.
— Que! Que Merda comandante. O que está fazendo aqui?
— Ninguém fica para trás.
Ela sorri.
Precisava pensar em algo, como se livrar desse mostro? Ou pelo menos como sumir das vistas dele? Um galho estava a minha frente, pensando rápido, dou uma olhada no ambiente ao meu redor e me abaixo para pegá-lo, mais a frente subo em uma pedra grande que tinha umas plantas luminosas no topo, então com o galho, pulo de uma vez só no pescoço do animal.
— Wow! Comandante, é assim que se faz — John grita.
Rapidamente, furo um dos olhos direitos do animal com toda minha força, logo ele começa a se debater, e chacoalhar a cabeça para me derrubar, e eu caiu no chão com força, a criatura vem em minha direção, então Vivian e John pulam a minha frente para me proteger.
— Levanta comandante — Ele fala estendendo a mão.
Estávamos nós quatro, encurralados, sem perceber, corremos para um beco sem saída, não exatamente, se você souber voar ou escalar, tem saída, pois era uma montanha; que falta fazem os hexágonos agora. Então de lá de cima ele surge, como da última vez, mas agora sem armas, Gliatru desce desviando a atenção do animal.
— É o Gliatru? — Emilly pergunta.
— É ele mesmo!
Não ia o deixar sozinho, então começo a correr mais uma vez, com a intenção de o ajudar. Gliatru voava, e que assim me viu correndo em sua direção, ele para, e volta.
— Não, saia daqui, vá, pegue seus amigos e vá.
— Nunca! Eu não vou te abandonar aqui.
Com uma manobra no ar, ele dá um mortal sobre as costas da fera, e para bem na minha frente, de costas para a criatura; um ato impensado para me ajudar que gerou consequência. A criatura se vira, ergue sua pata dianteira, com suas garras a mostra, ela iria acertar Gliatru, então, sem pensar, num impulso, o empurro para o lado, o fazendo cair no chão, as garras da criatura rasgaram minha roupa junto a pele do meu peito.
Cai de joelhos, meu peito sangrava, e ardia muito, logo senti meu corpo ficar dormente, meu FlO² estava destroçado, apenas sua carcaça, permanecia grudado em mim, todo o resto fora destruído. Meu corpo padeceu, eu não sentia mais nada, era como estar sedado, Gliatru balbuciava alguma coisa que não pude compreender, só via os seus lábios se mexendo turvamente, não havia som. Então eu cai, de barriga para baixo, naquele solo seco, quente e agora manchado com meu sangue.
Só pude ver John e os outros me virando, eles choravam e diziam algo sem ser entendido, virei a minha cabeça com muita dificuldade em busca de Gliatru, com minhas últimas forças, o vi arrancar a cabeça daquela criatura, como? Eu não sei como pode ser possível, mas foi o que aconteceu, depois disso, ele corre até mim, com suas mãos sujas pelo sangue do animal. Sua expressão era de extrema preocupação, como se de fato eu fosse morrer e não houvesse mais saída. Eu não tinha mais força alguma para mover um dedo e logo eu desmaiei.
Imagens desconexas passavam pela minha cabeça; novamente as mesmas pessoas; eu o olhava, aqueles eram os meus olhos, presos a outro corpo. O garoto deitado na cama abaixo de mim, permanecia fixo em cada palavra minha; tão familiar. E logo sua voz ecoou em meus ouvidos como música, a mais doce e mais familiar melodia.
— C-confiar em você? — Ele perguntava-me.
Sua face logo ganhou uma expressão de dúvida é entre sussurros inadiáveis de minha própria boca, apenas uma frase fora compreendida.
— [...] Eu irei morrer mesmo [...]
Meus olhos se abriam com dificuldade vez ou outra, a iluminação era branca e vivida, uma correria pelos lados podia ser observada, mas nada, nada de som, eu não compreendia e nem conseguia me mover, sentia todo o meu corpo perder os sentidos pouco a pouco, era só questão de minutos para o meu fim, e tudo o que eu conseguia pensar era no dia em que meu pai morreu, eu não estava lá, não estava com ele, eu o deixei sozinho, para resolver um bug da Lil, o erro 302 ficou muito conhecido na TellStar, demorou mais de duas horas para a Lil voltar a operar, eu trabalhava, enquanto meu pai morria, e esse é meu maior arrependimento.
— Igor, Igor não dorme! — Gleorio tenta dizer. — Você foi envenenado. O veneno de um Guliak é extremamente mortal, você precisa resistir — Ele grita. — Eu estou acabando o antídoto, mas você precisa ficar comigo. Por favor. Eí! FICA COMIGO. — Gliatru, fala com ele, mantém ele acordado até eu terminar.
— Você não pode pensar em me deixar agora! — Ele diz a colocar a mão em meu rosto. — Você disse que não me abandonaria, então cumpra sua promessa. Eu te pedi, pedi para não descer lá sem mim — Ele chora. — Então por favor fica comigo, para que eu possa brigar com você por isso.
Eu não sei o que estavam a dizer, mas eu não queria morrer assim, dói muito, eu nem consegui ajudar esse planeta, não consegui cumprir a promessa que fiz a Gliatru, não consegui ajudar minha tripulação, nem consegui chegar a tempo para me despedir do meu pai. Não consegui fazer nada. É isso que eu vou deixar para trás? Um grande legado de nada? E toda a vez que os meus olhos repousavam em escuridão novamente, a face daquele garoto se fixava em meus pensamentos, mas ao abri-los, Gliatru, era Gliatru que estava lá.
— NÃO DESISTE! — Gliatru grita. — GLEORIO RÁPIDO.
— TERMINEI, TERMINEI — Ele corre em minha direção
Senti alguma coisa adentrar a minha pele, duas agulhas, logo um líquido percorreu o meu corpo pelas minhas veias. Meu peito ainda ardia, e o sangue ainda escorria, o salão que antes era branco, estava manchado de vermelho. E depois nada, eu adormeci novamente.
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3 dias depois
Eu queria muito abrir os olhos, mas não conseguia, depois de muito tentar, meus olhos começaram a se abrir, piscava e depois fechava, a iluminação era forte, e doía. Meus dedos lentamente voltavam a se mexer, e de longe ouço uma voz familiar.
— Graças a Deus comandante! O senhor acordou — John quem diz.
— O-o que, o que a-aconteceu? — Digo sussurrando
— Não se lembra? — Emilly diz. — O senhor foi atacado.
— Ah! É v-verdade — Tento me levantar. — Ai! Merda.
— Calma comandante, não tente se mover, descanse mais um pouco, eu vou avisar Gleorio que acordou. —Vivian diz e logo saí
— O senhor foi muito corajoso comandante, salvou a vida do Gliatru, não que ele precisasse. O senhor tinha ver, depois que foi acertado por aquela coisa, ele ficou tão bravo, foi sinistro. Acho que ele gosta mesmo do senhor.
Eu me lembro, lembro de ver ele arrancando a cabeça da criatura.
— Como? Como vocês se livraram da fera?
— A gente não — Emilly comenta. — ELE! Arrancou a cabeça daquela maldita fera, ele pulou e grudou no pescoço dela, apertou, apertou com uma força descomunal, até que a cabeça rolou pelo chão — Ela fala fazendo os gestos. — Foi incrível.
— Nossa!
Ele fez isso mesmo? O quão forte ele é? Me perdi nesses pensamentos, até ver Gliatru, Gleorio e Vivian entrarem na sala.
— Que bom que acordou, como se sente? — Gleorio diz.
— Eu estou bem! — Falo tentando me levantar mais uma vez. — Ai! AI!
— Não, não, não, não, não, sem mover um músculo! — Ambos falam me colocando de volta.
— Você sabe como teve sorte? Ainda bem que conseguimos te salvar antes do veneno chegar ao seu coração.
— Veneno?
— Sim, Guliaks são muito venenosos. Mas ainda bem que deu tudo certo, e não se preocupe com isso agora, apenas descanse mais, eu vou verificar seu estado.
— Tudo bem, obrigada.
Gliatru apenas me olhava, com um olhar distante, um clima pesado rondava entre nós, enquanto Gleorio checava meu estado de saúde, com seu treco transparente, ele escaneava todo meu corpo, em busca de resquícios do veneno, e para ver o andamento da cicatrização dos cortes em meu peito. Que foram muito profundo.
Todos podiam sentir o clima pesado que se estabeleceu naquela sala, e antes de saírem Gleorio disse algo para Gliatru.
— Nyak bryoak ceak griak!
Ele sai logo em seguida levando todos consigo, Gliatru não respondeu, apenas olhou bravo, com certeza ele brigaria comigo por ter descumprindo nossa promessa duas vezes.
— É... — Ele suspira pesado. — Como você está?
— Estou bem.
— Mesmo? Você dormiu por três dias, eu achei... — Ele para.
— Três dias? — Fico surpreso.
— Sim, mas que bom que está bem. Eu fico aliviado.
— E você? Como você está?
— Eu estou bem, graças a você — Ele titubeia antes de falar. — Não precisava ter feito aquilo, não se arrisque por mim, eu não quero perder...
— Perder o que?
Ele me olha profundamente, seus olhos estavam confusos, suas expressões eram fáceis de ler, Gliatru não sabia esconder seus sentimentos, por mais que tentasse sustentar a pose de general frio, ainda era muito transparente.
— Eu não quero perder você — Ele fala virando para o outro lado
— Você não vai! Eu ainda estou aqui. — Sorri. — Você fica fofo com vergonha.
— Eu não to com vergonha! — Fala bravo.
Apenas sorriu mais.
— É sério! Não volte a se arriscar assim por mim, tudo bem se eu me machucar, eu sou resistente, mas não posso ver você daquele jeito de novo. — Diz se aproximando.
— Eu fiz o que tinha que ser feito. Mas tudo bem, eu vou tomar cuidado, prometo!
— Você promete muitas coisas — Ele sorri. — Eu vou cobrar!
— Não se preocupe. Vai ficar tudo bem.
— Você. Diz passando a mão em meu rosto. — É tão pequeno. Mas faz um estrago enorme na minha vida.
— Me desculpa por isso.
— Não se desculpe! Eu já não lembro mais da minha vida antes de você. Parece que você sempre esteve aqui.
Eu não sabia o que dizer, Gliatru tinha o enorme talento de me deixar sem palavras, eu não conseguia parar de sorrir, feito um bobo, um adolescente que acabara de conhecer o amor. Permaneci perdido em seus olhos, já falei que adoro o reflexo da luz naqueles olhos brancos?
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Atualizado até capítulo 23
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