Sussurros no escuro

A escuridão dominava o que antes era luz, as chamas ardiam nas sombras, o caos surgia e nos obrigava a encarar a realidade. Em um piscar de olhos ele se foi, e eu fiquei parado sem reação, meu peito doía, minha respiração descompassava e intensificava a dor cada vez mais. Minhas pernas não me obedeciam. Eu queria correr, queria fugir, queria lutar e ajudar, mas não sai nem do lugar.

Imagens desconexas e embaçadas surgiam no meio do caos, ninguém parecia notar além de mim. Os gritos daquele que assombrava meus pensamentos desde que conheci Gliatru, me atingiram como um tiro. Em minha direção ele corria, desesperado, como se quisesse me salvar de algo; repentinamente sua sombra atravessou meu ser, e parado, de braços abertos ele se jogou a minha frente, no segundo seguinte, estava ele prostrado ao chão, seu sangue escorria em direção aos meus pés; catatônico eu me mantive a observar o corpo desfalecido daquele que embaralhava meus sentimento, meu peito doeu como nunca antes, minha respiração descompassou a níveis exacerbados mas...

Um ataque que desintegrou um Gnoriano ao meu lado me despertou para a realidade, Gliatru não estava mais ao meu lado, minha tripulação estava a lutar e eu estava paralisado, com medo. Não era a primeira vez, já lutamos com Mulionianos antes, mas dessa vez é diferente, eu quase morri recentemente, e talvez isso tenha me traumatizado um pouco, pois agora eu não consigo nem decidir o que fazer, não sou mais dono do meu corpo.

— COMANDANTE! — John grita bem a minha frente com as mãos em meu ombro. — Está tudo bem! Estamos com o senhor.

Apenas assenti com a cabeça num estado automático e fomos, corremos em direção onde Gleorio estava, graças ao ultimo ataque, Gleorio fez melhorias na cidade, deixou um compartimento secreto aqui na Praça, um armário de armas para facilitar caso houvesse outro ataque. E houve.

Pegamos um Gunak-2x, que era basicamente igual a 3x mas de gelo, e totalmente ineficaz, é, estávamos perdidos. Mesmo sabendo que era inútil lutar com ela, os Gnorianos se defendiam e lutavam até o fim, a cada segundo que passava, menos deles sobravam, o que fazia parecer que dobrava o número de Mulionianos. Nos corremos, na direção do caos, Vivian já estava lá, fora a primeira a reagir, lutando e protegendo Emilly ao mesmo tempo.

— Aqui, Emilly pegue e vá! Se proteja— Disse a colocando em um Sag.

Emilly não é uma lutadora, é uma cientista, e precisamos dela, então melhor que fique a salvo. Apenas disse isso é logo ela partiu, nos dando total liberdade para lutar, os Mulionianos tratavam de destruir o que acabara de ser reconstruído, e concentravam seus ataques onde estava o exército de Gliatru.

Corremos para lá imediatamente, Gliatru estava do lado esquerdo da Praça Central de tamanho exacerbado. Tentávamos parar alguns cascudos no caminho, mais de fato a arma era inútil, o gelo se derretia em instantâneo, o jeito era tentar recuperar ao menos uma das 3x roubadas para facilitar nossa vida, mas como? Poderíamos atraí-los até aquele oásis distante, e tentar jogar ao menos um na água, e recuperar a arma. Mas funcionaria?

Não pensei muito, o jeito é descobrir na marra. Com um Sag atrai dois Mulionianos em minha direção, voando com meu corpo virado para trás, sem ver onde estava indo, atirando rajadas de gelo neles e desviando de seus ataques. De longe ouço Gleorio gritar meu nome, mas não vou lhe dar ouvidos, não é hora de ficar parado.

Como eram de se esperar, voar de costas não deu em nada de bom, pois acabei batendo em um dos prédios que não consegui desviar a tempo, caindo bem na sacada de um apartamento. E ainda tinham dois cascudos no meu pé. O Sag em que eu estava fora danificado e caiu, desaparecendo na neblina. Como grilos os Mulionianos saltaram de uma vez até a sacada onde eu estava, caminhando lentamente em minha direção, no apartamento haviam dois Gnorianos, que logo sumiram pela porta, me deixando ali. Mais uma vez não ver para onde eu estava indo me atrapalhou, caminhei de costas até me deparar com uma parede, sem saída, totalmente encurralado como um rato. Foi então que eu vi, um vislumbre de esperanças, bem na cômoda ao meu lado, estava o Goliun, um líquido que todo Gnoriano usava para manter limpo os cabos presos ao seus corpos. De uma vez só peguei a garrafinha com um botão que saia o líquido, e apertei, derramando tudo nos cascudos, fumaça começava a sair de seus corpos em chamas, e com eles atordoados por segundos, consegui fugir e correr até o elevador transparente, que também era hexagonal, descendo o mais rápido possível.

Mas com meu Sag destruído, não havia como eu sair dali voando; só me restava correr, entre os Sags móveis que seguiam uma linha e se arrastavam até o Sag mais próximo. Com toda sua lentidão, o Sag se moveu até o outro, os cascudos já haviam se recuperado, e voavam de volta pra mim, não sei como, mas pareciam mais bravos do que nunca, talvez por acidente eu tenha descoberto algo, mas depois falamos sobre isso, eu estou meio ocupado agora.

Seus grunhidos ficaram mais autos, como se estivessem a discutir entre si, talvez sobre como me devorar; e eu preso nesse Sag que mais parece uma tartaruga. Então com toda minha coragem e morrendo de medo, em um impulso impensado pulei até o próximo Sag, que não estava tão longe, e graças a Deus deu certo, assim eu fui, pulando igual pulga de Sag em Sag, de volta para a Praça. Os Mulionianos tentavam acabar com meu caminho, desintegrando os Sags antes que eu pulasse neles.

Eu estava totalmente ilhado agora, com a Praça bem a minha frente, eu tenho a visão de Gliatru e os outros lutando com todo o resto, e você achando que eu que estava sofrendo com só dois.

Agora era meu fim, não tinha mais pra onde correr, era morrer desintegrado, me arriscar a pular nessa distância até a Praça, ou cair, lá em baixo e rezar para bater em algo fofo. O que você faria?

Em um último segundo, um instante antes de tomar minha decisão, meus olhos se arregalaram e foram de encontro aos de Gliatru, como se o tempo tivesse parado, apenas para nos despidirmos. No segundo seguinte, lá estava eu pulando e me arrependendo, Gliatru sendo capturado, e absolutamente tudo dando errado...

Eu não devia ter tentado pular até a Praça, tentando salvá-lo, porquê que fui cair? Agora ele se foi, de verdade dessa vez. Mas por quê? Pra que precisam dele? Enquanto eu caía, pode ouvir minha tripulação chamar por mim. Quantas vezes eu vou quase morrer nesse planeta? Quando finalmente cheguei ao chão, bati com tudo no telhado de uma velha casa, que se quebrou e caiu junto comigo. Me prendendo aos destroços.

De costas eu estava, desmaiado, com destroços em cima do meu peito e pernas. E tudo que eu conseguia pensar era em Gliatru, me estendendo a mão, me pedindo ajuda, e eu aqui, caindo. Ele se foi, e eu nem disse a ele, nem pedi desculpas por ter sido um idiota.  O que vamos fazer agora? Gliatru era general e a alma daquele exército, temos que salvá-lo, não importa como.

Quando acordei, senti uma dor de cabeça terrível, meu ferimento do peito havia aberto outra vez, sangrando e manchando minha blusa nova, vê se pode? Minhas pernas doíam, tudo doía, e eu não conseguia me mover, me jogar foi uma péssima ideia, porquê você me mandou pular, em? Será que tem alguma alma caridosa, aqui em baixo, para me ajudar com esses destroços, está machucando? Rápido, antes que aquele bicho resolva terminar o que começou. E as coisas lá em cima? Será que os cascudos já foram? Era só o Gliatru que queriam dessa vez? Eu não aguentei, e desmaiei com a dor no peito, e o rosto tão familiar e desconhecido em minha mente uma vez mais

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Despertei uma vez mais, nessa sala fria e branca, Gleorio estava a terminar os curativos, e minha tripulação ao redor.

— Finalmente você acordou! — Gleorio é quem diz — É um humano muito imprudente. O que eu te falei sobre tomar cuidado? — Ele diz Bravo.

— Me desculpa! Eu não pensei na hora — Digo com dificuldade.

— "Nao pensei na hora"— Ele repete — Humanos e seus miolos moles. Vocês são todos assim? Eu estou ficando cansado de te costurar.

— Vou tomar cuidado da próxima vez! Prometo — Tentei sorrir.

— Acho bom mesmo, porquê quando salvarmos Gliatru ele vai brigar comigo por ter te deixado fazer essa sandice!

— Gliatru! — Me assustei e levantei com rapidez.

Ele apenas negou com a cabeça, haviam levado ele mesmo, e não fora imaginação minha.

— O que vamos fazer?

— Você vai calar a boca e descansar. Está muito ferido, seu ferimento do peito abril de novo, se não cuidar, vai infeccionar. DAQUI VOCÊ NÃO SAÍ! Entendeu?

Misericórdia, ele é mesmo assustador bravo.

— Sim senhor! — Acenti com olhos arregalados

Gleorio apenas sorriu, e logo se foi, para a sala do lado pegar alguns remédios.

— Parece que o senhor é popular entre os alienígenas comandante —John sussurra.

— Do que está falando? — Estranhei.

— Nada! Só pensei alto! — Ele tenta disfarçar.

— Então trate de guardar seus pensamentos só pra você!

— Sim senhor! — Ele diz em tom irônico.

Era só o que me faltava, o maluco das fanfic criando historinhas na mente doída dele. Não demorou muito, até Gleorio voltar, com seu treco transparente que administrava os remédios. Fazendo os mesmo processos de antes. Dessa vez, eu não voltaria para casa, teria que ficar internado nessa sala chata.

— Gleorio? — Chamei sua atenção.

— Sim!

— Hoje quando eu estava com os dois Mulionianos, aconteceu algo estranho, que me fez pensar, eu achava que como seres que evoluíram do magma, eram diferentes, mais resistentes, mas seguem a mesma premissa de todo fogo.

— Do que você está falando?— Ele estranha.

— Como assim comandante? — John diz

— Mesmo que por alguns segundos, eu consegui apagar um pouco da chamas deles! Do lado esquerdo do rosto, apagou e saiu fumaça, mas logo voltou.

— COMO ASSIM? COMO VOCÊ FEZ ISSO? — Gleorio estava impressionado

— Eu não sei direito, foi muito rápido, mas eu usei aquele Goliun, derramei tudo neles.

— Você está brincando comigo, né? O Goliun? Nosso higienizador? Conseguiu apagar eles?

— É verdade! Acredite em mim! Talvez se você puder estudar a composição dele e intensificar o poder, de pra apagá-los totalmente!

— O senhor é foda comandante! — John sorri e bate em minhas costas.

— AI! — Choraminguei com a dor.

— Me desculpa! — Ele se afasta — Eu esqueci.

Ambos sorrimos

— Talvez! Talvez você esteja certo, mas como saber se funciona se não temos como testar antes!

— Você cria as armas, e nós testamos! Quando formos salvar Gliatru!

— É isso ai comandante! — Todos concordam.

— Tem certeza? Vai ser muito perigoso! Mulion é um planeta traiçoeiro, se não souber onde pisar, você já era! E além de tudo, vocês não conhecem nada sobre o planeta, como vai achar Gliatru lá? — Ele para e pensa — Eu vou ter que ir com vocês!

— Beleza!

— Então vou começar agora mesmo! — Ele sorri animado.

Gleorio mostrava sempre o mesmo sorriso fácil e seus olhinhos brilhantes toda vez que tinha algo novo a fazer. Logo ele saiu em disparado, nos deixando lá. E o resto dos dias passaram sem maiores problemas, eu ficava no salão branco, minha tripulação vinha me visitar, e a noite voltavam as suas casas. Gleorio só aparecia para administrar os remédios e limpar os curativos, depois se enfiava em sua oficina novamente.

Assim se passaram quase uma semana, todos estavam ansiosos pelo dia da missão de resgate, Gleorio estava fazendo o maior mistério com as armas recém criadas, ele dizia, que não podíamos ir sem antes saber onde estávamos nos metendo, mas que só iria contar quando acabasse tudo. Dois dias depois ele apareceu, com um Sag cheio de caixas em cima.

— Eu consegui! Minha mais nova criação está bem aqui! Mas antes, um detalhe muito importante.

— O que? O que é tão importante que você comentou a semana inteira? —Disse curioso.

— Ora! Não seja tão apressado meu amigo humano, a perfeição leva tempo.

— Desimbucha de uma vez! — Aumentei o tom de voz.

Me desculpa falar assim, mas eu sou muito curioso, não me aguento.

— Ta! Ta bom, vou contar, antes que você resolva me matar — Ele sorri — Sabe, não dá para se enfiar num planeta hostil como Mulion, sem antes saber de sua história, conhecer seus pontos fortes e fracos, e pensando nisso, meus amiguinhos coloridos, eu resolvi lhes contar uma histórinha

— Uma história? Agora? — Todos comentam juntos

— Sim, eu não vou deixá-los sair em uma missão desse nível ao léu — Então fecham a boca, se acomodem que eu vou lhes contar a história de Mulion e Gnoria...

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