A vida aqui em baixo seguia um rumo diferente, era calma e pacífica apesar da solidão. Havia tanto para ver, muito à fazer, mas Gliatru não me permitiu vasculhar as velhas ruínas Gnorianas, haveria um tempo para isso, e não séria agora.
— Esse é um de meus lugares favoritos, é para cá que eu venho quando quero fugir dos problemas lá de cima.
Me sentia extremamente honrado por estar em um de seus lugares favoritos, mas apesar de toda a beleza, ele me fez prometer não voltar aqui sozinho.
— Eu quero que me prometa, que aja o que houver, não vai descer aqui sem mim! É muito perigoso, você não sabe o que vive aqui. Me prometa?
— Ta, tudo bem, eu prometo!
Essas revelações e proibições só me deixavam mais curioso, o que haveria aqui de tão perigoso assim? Mesmo que não fosse a hora de descobertas, o clima não podia estar mais perfeito, conforme a noite passava, tudo ficava mais escuro, e a luz da floresta se intensificava ainda mais, então nos deitamos em uma parte vazia do solo, sob a sombra de uma das árvores, e ficamos por um tempo, apenas observando a névoa que pairava sobre nossas cabeças, a paz era gigantesca, e som do silêncio inquietante daqui de baixo fez Gliatru adormecer com rapidez.
Sorrindo com tal imagem, me viro totalmente em sua direção e contínuo a observá-lo dormir, sua expressão serena e tranquila era a coisa mais linda de se ver, eu não queria fechar meus olhos nenhum instante se quer, pois se for tudo um sonho, por favor me deixe ser feliz por mais um segundo.
— Pare de me olhar desse jeito! — Ele diz se virando para mim — Como eu posso só dormir, com você me olhando assim? — Sorri
Aquilo me fez corar, como assim, só dormir?
— M-me desculpa!
Mais uma vez ele adormece sorrindo. Sua imagem tão serena, bem à minha frente, me fazia querer tocá-lo. E por um segundo, estendo minha mão em sua direção, mas decido não fazê-lo. Então apenas fecho meus olhos também.
Alguns segundo haviam se passado quando meus sonhos foram interrompidos pela realidade, seu comunicador havia tocado, o fazendo despertar.
— Kejak! Nak Mulioniak infarak uak kreak dak prijak buoriak.
— Oak trutivak! — Ele responde — Vamos, temos que ir.
— O que aconteceu?
— Mulionianos tentando atravessar a primeira barreira. Eu tenho que ir — Diz se levantando.
Nós voltamos para onde estava o hexágono flutuante que precisa urgentemente de um nome melhor, e começamos a subir. Gliatru estava visivelmente preocupado, então resolveu acelerar ainda mais; e com a mão em minha cintura, ele colar nossos corpos, e aperta o único botão que havia ali, fazendo-o ir a toda velocidade.
— Segure firme e não solte! — Fala olhando em meus olhos.
Chegamos mais rápido do que fomos, e assim que eu desci, Gliatru seguiu mais rápido ainda.
— Espera...
— Comandante? O que aconteceu? —John fala aparecendo bem atrás de mim.
— Está acontecendo alguma coisa, Gliatru disse que tem Mulionianos tentando invadir.
— Uma invasão alienígena de verdade, que da hora cara! — Ele se anima.
— Isso não é legal John! E se eles entrarem?
— Bom, aí a gente mata os desgraçados!
— Infelizmente, não é assim tão fácil meu caro amigo humano! — Gleorio aparece do nada — Os Mulionianos são uma raça muito superior, sua única fraqueza era o gelo, mas eu duvido que ainda seja.
Gleorio explicava o quão poderosos os Mulionianos são, e conforme absorvem mais Gnorianos, mais poderosos ficam. Por isso duas barreiras, e por isso existem tão pouco Gnorianos agora.
E sem perceber Gnoria se tornou um paraíso ameaçado, se equilibrando em um corda bamba com o mostro da extinção esperando para devorá-los a qualquer momento. Monstros que evoluíram do próprio magna, com cascos de pedra e pele que queimava como o inferno. Os Mulionianos eram como os deuses de Gnoria, o planeta que órbita um outro planeta, fora criado como fonte de alimento infinito para os Mulionianos adquirirem cada vez mais poder.
Tendo isso em mente, desde o nascimento do planeta, eras de escravidão e morte foram vividas incessantemente, até adquirirem a tão sonhada liberdade recente, liberdade essa que pode estar sob o fio da navalha uma vez mais.
Um barulho estrondoso vinha do céu e ecoava por todo o planeta. Parecia que tudo seria destruído junto com aquela barreira. Havia Gnorianos por toda parte, correndo de lá para cá, o tempo era precioso, e a cada segundo perdido, mais os Mulionianos adentravam a primeira barreira. Precisavam ser detidos o mais rápido possível, pois se chegassem a segunda barreira, uma guerra começaria bem diante de nossos olhos.
Mas dessa vez tivemos, sorte, acho que podemos chamar assim, apenas dois Mulionianos vieram com a nave. Mas quem pensou que por ser só dois as coisas seriam mais fáceis, pensou muito errado.
Rapidamente os barulhos pararam, Gnoria entrou em uma quietação agonizante. Um segundo, foi preciso apenas um segundo, para que os destroços das barreiras destruídas caíssem, e sumisse na neblina. Uma nave entrou, Preta, uma esfera que girava as duas partes para lá e para cá, com fogo que saia dos lados. Rapidamente pousaram sobre aquela praça, quebrando algumas coisas que haviam lá, e duas criaturas apavorantes surgiram.
Eram exatamente como a descrição, não possuíam olhos, sua pele era cascuda e queimava. Eles pareciam se mover apenas pelo som, como toupeiras, ou como morcegos que usam ecolocalização para perseguir suas presas a noite. Pois eles pareciam saber exatamente aonde ir.
Corriam tão rápido, e matavam quem estava a sua frente. Logo o exército de Gliatru aparece, com armas estranhas na mão, tinham cerca de trinta Gnorianos para enfrentar apenas dois Mulionianos. Eles faziam um ruído estranho e logo atacavam, como algum tipo de comunicação interna deles.
Não só apenas matavam, mais destruíam tudo a sua frente, como se só fazer o que vieram fazer, não fosse o suficiente, eles precisavam construir um cenário de completo desespero. Eu e minha tripulação, observamos tudo da sala branca, sem poder fazer nada, aquilo era terrível, a sensação de impotência era matadora, ver uma espécie independente se é alienígenas ou humano morrer bem a sua frente e você não fazer nada, é terrível.
Foi então que aconteceu. Gliatru, estava a lutar com um dos Mulionianos sozinho, sua arma que disparava gelo fora ineficaz, como Gleorio disse, sua única fraqueza conhecida havia sido superada, o que tornava a segunda barreira totalmente inútil, eu estava tão inquieto o vendo lutar sozinho. No segundo seguinte ele estava no chão, seu braço queimava, e em meio a todo aquele caos, eu pude ouvir seus gritos. Eu não podia mais ficar parado, vê-lo se machucar, não era agradável, eu tive que ir ajudá-lo. Então pulei em um hexágono e corri, mesmo com minha tripulação dizendo o contrário, eu voei com todas as minha forças até ele.
— Não! Igor não! Sai daqui — Ele grita de longe.
Como eu poderia? Como poderia ficar escondido como um inválido, enquanto, enquanto eles morrem?
— Fica quieto e me deixa te ajudar! Você consegue se levantar?
Ele apenas me olha.
Quando o ajudei a levantar, ele me empurra e fala.
— Volte! — Ele diz com dificuldade
— Não é hora para isso. Você está muito machucado.
— Eu sou o general, como eu posso voltar e ficar a salvo, enquanto lutam por mim?
Ele me encarava com olhos de medo. E por mais que eu quisesse o proteger, eu o entendi, Gliatru era orgulhoso demais pra fugir assim, mesmo que estivesse correndo risco de vida. E não havia tempo para discutir, o Mulioniano ainda estava a nos perseguir.
— Vá! Eu vou distraí-lo — Diz correndo para o lado oposto.
— Não! Gritei.
Não adiantou. Ele correu, pulando de hexágono em hexágono, como um profissional do parkour na primeira oportunidade, em direção ao outro Mulioniano, que estava chegando no armazém de tecnologia. Aparentemente queriam algo de lá. O que eu deveria fazer? Voltar e esperar, ou ajudá-lo?
— Seja qual for a sua escolha, comandante, eu vou com o senhor! —John diz já ao meu lado.
Isso me deu forças.
Nós corremos, pulamos em outro hexágono e voamos para lá, ou tentamos pelo menos, seguir em direção ao caos, sem pensar no que faríamos quando chegássemos lá. No caminho, eu só conseguia pensar no que queriam naquele armazém. E quando chegamos, Gliatru estava escondido, em silêncio para não chamar a atenção deles, então resolvi tirá-los de lá.
— Ei! Gritei atraindo a atenção deles.
— Comandante eles estão vindo para cá — John alerta — Qual é o plano?
— Preparar manobra 237.
— O senhor é foda, comandante — Ele sorri
Assim que eles se aproximaram, com hexágono roubados, eu fui para direita e John para esquerda, separando ambos. A manobra 237 consistia em evasão e ataque, era a terceira manobra ensinada no treinamento para comandante da TellStar. Mas não tínhamos como atacar, então apenas os tiramos de perto de Gliatru para que ele pudesse tomar alguma providência.
— Que Merda! Ele não some não.
O Mulioniano ainda estava atrás de mim, e eu já não sabia para onde ir, foi então que tive a ideia. Comecei a descer a neblina, apesar de ter prometido, era o cenário perfeito para me esconder, fui desviando das ruínas e tentando dar um perdido nele, para então poder fugir, e por sorte eles eram cegos.
Mais a frente estava uma casa, os restos dela pelo menos, entrei e tentei fazer o máximo de silêncio possível, até minha respiração tentei abaixar. E ele estava a minha frente, rondando e grunindo baixo a minha procura. Virava a cabeça e se contorcia, nenhum canto passava despercebido, e eu achei que esse era meu fim.
Com a mão na boca, tentando fazer silêncio, olhos arregalados e coração disparado, ele se aproximava, como se pudesse ouvir o som das batidas frenéticas do meu coração, e conforme fazia, eu entrava mais em choque. Então àquilo apareceu. Pulou em cima do Mulioniano e o destroçou, como se ele não fosse nada, engoliu suas partes e de seu nariz saiu fumaça, o fogo que queimava o corpo dos Mulionianos não era nada para ele.
E em minutos o que parecia impossível, foi feito com a maior facilidade por aquela criatura. Quando terminou, levantou sua enorme cabeça, e rosnou virando em minha direção, passo a passo, lentamente se aproximava o meu fim...
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Atualizado até capítulo 23
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