O luar azul refletia pela vidraça da sala, iluminando nossas mãos entrelaçadas. Corações palpitantes e respirações ofegantes, as ações silenciosas tomadas naquela sala floresciam como girassol na Primavera, mandando embora toda a escuridão que jazia em nossas mentes.
Sua mão fria e áspera deslizava sobre a pele da minha bochecha, seus olhos surfavam nos detalhes de minha face, com seu polegar ele desenhava o contorno de meus lábios. Seu rosto se aproximava do meu, cada vez mais, estávamos em um estado automático, nossos corpos falavam e tomavam suas próprias atitudes, buscavam o que queriam com todo fervor.
Meu coração gritava por ele, mas minha mente se recusava a ouvir. O que eu estava fazendo da minha vida? Como fui me apaixonar por um alienígena? Como isso pode acontecer? Tais pensamentos rondava minha cabeça incontrolavelmente, e eu entrei em um estado de pânico, porquê? Por que justo agora?
Sua boca estava a um centímetro da minha, e meu coração queria muito finalizar essa distância entre nós, mas minha mente não permitiu, se afastou dele num impulso repentino. Eu andei para o meio da sala, evitando o olhar, permaneci de costas para ele, não sabia o que fazer, nem porquê eu me afastei assim bem na hora, mas a verdade é que eu estou em pânico com tudo isso.
Eu podia ouvir seus passos se aproximando de mim, lentamente. Logo pude sentir sua mãos deslizar sobre meus braço e se entrelaçar na minha, com a outra em minha cintura ele me abraça por trás, nossas mãos unidas, então ele sussurra em meu ouvido.
— Por que está fugindo da gente? Eu sei que quer isso tanto quanto eu. Não tenha medo.
—V-você, você já pensou no que estamos fazendo? — Minha respiração estava descompassada. — Isso nunca vai dar certo! — Falei me afastado dele abruptamente. — Você já parou para pensar que eu vou embora um dia? Se eu me apaixonar por você, o que eu faço depois? Como eu vou poder viver sem você?
— Eu sei! Eu sei de tudo isso Igor, eu também tenho medo e não quero te perder, mas o que você quer que eu faça? — Ele responde calmamente.
— EU NÃO SEI, TA BOM? — Gritei. — Eu não sei o que fazer. Só pare de me torturar assim...
Eu nem havia terminado de falar, quando ele simplesmente calou minha boca com a sua, um beijo tão repentino, que fez meus olhos arregalarem, meu coração saltou, e eu entrei em pânico por alguns segundos, mas logo meu corpo cedeu, eu não enganava ninguém, queria isso tanto quanto ou mais do que ele. E nosso primeiro beijo aconteceu ali, no meio da sala, com todo o lado leste do prédio de testemunhas. Já sentiu o tempo parar? Aquela sensação tão esmagadora na sua barriga, quando você beija aquele alguém? Como se não desse mais, não desse mais para esperar, e nada antes daquilo faz sentido, porquê você começa a imaginar como pode viver tanto tempo sem.
Mais junto com a luz sempre vem a escuridão, meus olhos lacrimejaram em meio ao beijo, minhas mãos o empurraram para longe de mim, meu coração me odiou por isso, e minha mente já não sabia mais o que era aqui ou ali, tudo estava confuso, eu, eu, eu não podia, não posso permitir que isso aconteça, porquê se ele der mais um olhar em minha direção, não vou mais conseguir viver sem ele. E eu não posso ficar, preciso partir, mais cedo ou mais tarde, teremos que ir embora de Gnoria. e de alguma forma, toda essa situação, estava familiar de mais para mim
— Vá embora! — Sussurro em meio ao choro. — Vá EMBORA GLIATRU! Por favor.
— Espera, espera Igor, vamos conversar — Ele tenta se aproximar.
— Não! Vá embora, VÁ! — Grito o empurrando.
Então ele me olha, com aqueles malditos olhos brancos, olhos que eu tanto amo, eu podia ver suas lágrimas tão claras quanto a luz do dia, sua pele pálida refletia a luz da vidraça e deixava suas lágrimas brilhantes, e isso me quebrava. Logo ele se foi, assim como eu havia pedido, mas porquê? Por que mesmo dizendo vá eu quero que ele fique? Mesmo falando não, meu coração diz sim?
Por que? Por que? Por que? Por que? Eu estava lá, sentado no chão de frente para a vidraça, com tanta gente na terra, porquê meu destino tinha que estar justo aqui, em outra galáxia, por quê? E porquê eu não posso simplesmente curtir o momento, porquê tenho que complicar tanto? você pode me responder?
Sabe, eu nunca liguei para esse tipo de coisa antes, sempre aconteceram tantas coisas na minha vida, em curtos períodos de tempo, quando eu não estava trabalhando, eu estava estudando, nunca parei para pensar se eu era gay ou hétero, não era uma preocupação, mas cá estou eu, aos vinte e quatro anos de idade, apaixonado por extraterrestres. Um extraterrestre homem, como é possível?
O que você faria se, se apaixonasse por um alienígena, para no final tiver que deixá-lo?
Me arrastei de volta para o quarto, e me joguei naquela cama imensa e fria. Era tarde da noite, e eu chorei, na cama até adormecer.
Acordei com o escândalo da minha tripulação batendo e chamando meu nome do corredor, certamente acordaram o andar inteiro.
— Que merda vocês estão fazendo aqui a essa hora da manhã? — Abri a porta com cara de poucos amigos.
— Nossa! Bom dia para o senhor também comandante! — John quem diz. — Por que esse mal humor tão cedo?
— Talvez seja porquê eu fui acordado escandalosamente pois três malucos?
— Que horror comandante! — Emilly e Vivian falam juntas e depois riem.
— O que deu no senhor? Caiu da cama? Brigou com o bonitão? — Emilly pergunta.
Não respondi, apenas dou as costas, os ignorando.
— VOCÊS BRIGARAM! POR QUÊ? — Ela grita após entrar.
— Não quer gritar mais alto não? —Fecho a cara.
— Nossa a coisa foi séria — John sussurra.
— Não aconteceu "coisa" nenhuma! Ta bom? Parem de encher o saco. Respondo fazendo aspas com os dedos.
— Você sabe que pode falar com a gente comandante! Desabafa — John diz se aproximando.
— NÃO ACONTECEU NADA! E NEM VAI — Digo pausadamente
— Não adianta tentar se enganar comandante, você sabe que não é isso que quer!
— Já chega! Vão embora — Falo arrastando todos para fora.
— VOCÊ TEM QUE FALAR COM ELE COMANDANTE! FALA COM ELE — Eles ainda gritam do corredor.
Aff! Eu não quero falar com ele, não quero ver ele, eu só quero ficar intocado no meu quarto até o fim do mundo, sem falar com mais ninguém. Mas não é possível, logo Gleorio apareceria também, para dar meus remédios, e finalmente desligar esse treco gigante de mim. Depois de ter meu FlO² outra vez, vou poder focar na missão, e sair desse planeta o mais rápido possível.
Andando de um lado para o outro, olhando aquela vidraça e lembrando do que aconteceu noite passada, logo paraliso, permaneço fixo em um ponto do chão, e a memória de seu rosto sob a luz da lua, sua respiração e seus toques tão perto de mim vieram a tona. E aquele beijo, aquele maldito beijo. Que merda, como isso me irrita.
Mas porquê? Eu estou muito irritado agora, só o menor pensar na noite de ontem, já me deixa assim, por quê?
Aff, se concentra Igor, foco na missão, sobre o que era a missão mesmo? Ah! Eu me esqueci, tudo culpa do Gliatru! É tudo culpa do Gliatru.
— Por que o Gleorio não chega logo pra desligar isso, que merda também Gleorio. É tudo culpa do Gliatru!
Voltei a andar de um lado para o outro, tão inquieto, e eu já nem lembro quando foi a última vez que eu tomei um banho! Aqui não tem chuveiro, e o Lago mais próximo fica naquela floresta abaixo da neblina. Por que eu estou falando de banho agora? Quem liga para isso. É tudo culpa do Gliatru.
Que saudades de comer pão. Acho que você já percebeu que eu estou falando qualquer merda, e para me distrair, e evitar pensar em você sabe quem. Não! Não é esse você sabe quem, é o Gliatru. Viu? Até você está confusa. É tudo culpa do Gliatru.
Graças a Deus, não terei que ficar mais tempo com isso, Gleorio havia acabado de chegar. Então me direciono até a porta e a abro, o dando passagem.
— Animado para se livrar disso? — Ele fala segurando uma caixinha na mão.
— Muito!
Em seguida ele vai até o aparelho que eu carregava para todos os lados, retira o cateter de mim, e o desliga. Depois abre a caixa em sua mão, e tira de lá o FlO², nunca pensei que ia sentir tanta falta disso. Depois de tudo instalado, era hora dos remédios, os mesmos de antes, mas dessa vez seria o último para o veneno.
— Você já está totalmente curado! Pode voltar a suas tarefas. Mas com cuidado, seu peito ainda está em processos de cicatrização.
— Obrigada Gleorio!
Eu não sei dizer o motivo, mas ter Gleorio aqui me acalma, sua presença me dá paz, acho que é porquê ele está falando de qualquer outra coisa e não me enchendo de perguntas como todo mundo.
— Vamos sair um pouco? — Ele pergunta com um sorriso.
— Vamos! Mas onde?
— É segredo! Vai entender quando chegar.
Não enrolamos mais, logo saímos do prédio, e com Gleorio, subimos no Sag.
— Venha! Segure-se em mim!
Atrás dele, com as mãos apoiadas em seus braços, me mantive assim durante toda a viagem. Ele voava um pouco rápido de mais, e as rajadas de vento faziam meu peito doer um pouco.
— Me perdoe! Eu vou desacelerar.
E assim ele fez. Demorou setenta anos para chegarmos lá, esse tal lugar era mais longe do que o imaginado. Mas quando avistamos ele, Gleorio tinha toda razão. Era incrível, nem parecia que fazia parte desse planeta azul. Um grande Lago rosa bioluminescente, localizado entre grandes montanhas, que atravessavam a neblina, o Lago ficava bem no meio dela, não pertencia nem a nova nem a velha Gnoria. Chegando mais perto, ao adentrar a neblina, pairando sobre a água, tinha criaturinhas transparentes, pareciam uma mistura de água viva com fada, e algumas árvores de tonalidade rosa e roxa ao redor do Lago. Era lindo, tudo combinava, o brilho desse lugar era mágico. E ficava bem distante da cidade. Em seus arredores não havia muita coisa, apenas montanhas e um grande deserto de areia rosa e roxa entre elas. Uma maravilha mortal, pois a areia era venenosa.
Da pra acreditar, que um oásis desse assista?
Quando descemos, eu queria poder tocá-la e sentir sua temperatura, mas devido a sua tonalidade posso chutar que era quente, diferente da floresta abaixo da neblina que em sua tonalidade predominava o verde e o azul. Ele voou ao meu lado até o Lago, pegou em minha mão, e me fez sentir a água. A temperatura diferia da temperatura da areia, era fria, e tão gostosa de sentir. Em seguida sentamos nas pedras as margens do Lago e com os pés para dentro da água, nós ficamos, por um bom tempo, apenas conversando e admirando o céu.
— O que aconteceu entre você é meu irmão? — Ele pergunta repentinamente — Hoje ele está tão distraído, e irritado. Mais que o normal. Vocês brigaram?
Por que quanto mais eu tento fugir desse assunto, mas ele me persegue?
— Eu não quero falar sobre isso! —Abaixei a cabeça.
— Tudo bem! Mas saiba que meu irmão gosta mesmo de você. Eu nunca o vi desse jeito antes, desde que você chegou, ele mudou muito.
— Eu não sei o que pensar sobre isso.
— Apenas converse com ele! Resolva as coisas. Seja lá o que tiver prendendo você, se livre disso, a vida é curta Igor, e a distância entre vocês é longa, não complique mais as coisas.
Eu apenas o olhei, Gleorio tinha uma sabedoria imensa, e pelo jeito, ele não era apenas de exatas, mas de humanas também. O conselho de Gleorio fora direto e eu entendi exatamente o que quis dizer, mas, fazer é outra história não é mesmo?
— Talvez você esteja certo! E talvez eu tenha exagerado um pouquinho.
— Sabe onde ele está! Ainda da tempo de resolver.
— Mas e você?
— Não se preocupe comigo, meu amigo de pele rosa. Eu sempre ando prevenido — Ele diz mostrando uma pulseira em seu pulso.
— E o que isso faz?
— É um controle! Significa que posso chamar um hexágono daqui.
— Uau! Que demais! Um Sag táxi
— Sag? — Ele estranha.
— É! Sorri. — Eu apelidei esse hexágonos de Sag, pra ficar mais fácil de falar.
— Gostei! É muito esperto pequeno Zinho.
— Do que me chamou? — Me assustei
— Pequeno Zinho! — Ele estranha. — Por quê?
— N-nada... E-eu vou indo então!
— Boa sorte! — Sorri
Eu havia me esquecido totalmente disso, que Gleorio havia escaneado meus conhecimentos, então é óbvio que ele sabe desse apelido. Meu pai, apenas meu pai me chamava assim, na época eu detestava, achava coisa de criança. Mas agora ouvir isso de novo, é triste.
Enquanto eu voltava, tentava imaginar o que fazer, como agir e o que falar a Gliatru, eu nunca estive em uma situação dessas antes. O que você falaria?
Pela hora do dia, Gleorio só poderia estar em um lugar, e vou direto para lá o mais rápido possível, ignorando a dor em meu peito.
Ao chegar perto do quartel general, desci do Sag ali mesmo nas redondezas, e fui direto a procurá dele. Eu já tinha uma certa ideia de por onde começar a puxar o assunto...
Espera....
Quem é aquela? E porquê estão tão perto assim?
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Atualizado até capítulo 23
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