cap 17

Henry

Os dias passam, e os curativos são trocados diariamente pelo cirurgião plástico, sempre dando alguns retoques para que ela não tenha nenhuma marca da sua agressão.

E, quando tudo está perfeito, fico em frente à sua cama. O médico falou que ela já poderia acordar, que os ferimentos dela, fora a mão que dói perfurada, foram todos superficiais, foram somente na pele, nenhum órgão ou artéria foi atingido.

Chego bem pertinho do seu ouvido e digo:

— Acorde, docinho, já está na hora de acordar.

Não sabia que minhas palavras iam causar esse efeito. Ela se desperta em desespero e eu a seguro para que ela se acalme.

E quando ela abre os olhos, eu me afasto, colocando a mão no bolso da minha calça e a observo.

Nossa conversa foi um pouco confusa. Em nenhum momento eu deixei que ela me visse quando eu fui para o Brasil. Não sei como a mente dela projetou a minha aparência na sua cabeça.

Mas percebo que ela ainda está atordoada, talvez pelos medicamentos que ela tomou, que não a tenham trazido totalmente de volta à realidade. Mas vou aguardar o efeito passar.

E espero que ela se recupere logo e me conte mais sobre tudo. Ela ainda não me falou como foi lá dentro do galpão e só ela falando que vou poder ajudá-la de verdade.

Preciso ver também se ela é aquela mulher mole, ou se eu sou aquele que anseia pela vingança, assim como eu.

Saio do quarto. Agora, nossa conversa só ficará mais confusa.

Peço para a Dulce levar algo para ela comer e, se possível, ajudar ela com tudo que ela precisar, até trocar o curativo.

Porém, eu já mandei chamar uma enfermeira para cuidar dela. Só está demorando porque não é qualquer pessoa que entra na minha casa. Precisa passar por alguns testes antes e três já foram reprovadas.

Preciso voltar a cuidar das coisas da máfia. Há 23 dias que eu só vejo por cima tudo o que está acontecendo. E já vou aproveitar para ligar para o senhor Silva.

Chego na sede e todos já ficam em posição de respeito. Vou passando por eles e entro na minha sala, onde meu irmão já está.

— Oi, e aí, como está a bela adormecida?

— Acordou, meio grogue. Não sei se fiz o certo levando ela para minha casa. Era melhor ter levado ela para o manicômio.

— Por quê?

— A mulher é maluca. Disse que me viu no sonho dela e eu dava conselhos, sendo que nem cheguei perto dela no Brasil.

Ele começa a rir e conforme vou contando tudo o que a Bianca falou para mim, ele ri ainda mais.

— O bom é que como ela já te projetou na mente dela, vai ficar apaixonada por você, se já não estiver.

Balanço a cabeça negando e vou me sentando na minha mesa.

— Acho que não. E se fosse ela, nem faria isso, já que ela não está ali para ser minha mulher, e sim para trazer o pai dela aqui.

Ele dá risada e diz que não é assim que as coisas funcionam, mas que vai aguardar as cenas dos próximos capítulos da minha vida e vai olhar nos meus olhos e dizer "eu avisei".

Mando ele ir trabalhar e começamos a ver as coisas sobre os contrabandos que estamos mandando para o Brasil.

Daqui da Bolívia, é mais fácil mandar pelo Mato Grosso, e de lá são transportados para os outros estados.

Vendemos de tudo, desde armas a drogas. Tudo isso passa fácil. Alguns precisamos apenas molhar a mão dos policiais, e de resto, está tudo certo.

Depois de ver que está tudo certinho, vejo que meu irmão está indo muito bem sem mim. Já pego o telefone para colocar o resto do meu plano em prática.

Vou começar a atormentar o senhor Silva. Quero que ele saiba que sua filhinha já está comigo.

Ligo para ele do meu celular que não pode ser rastreado nem reconhecido o número.

Usamos ele para ameaçar algumas pessoas, só para botar medo ou para fazer cobranças daquelas pessoas que estão desafiando o perigo.

O celular começa a chamar.

— Alô — atende rápido.

— Olá, senhor Silva. Como está a sua saúde?

— Quem está falando?

— Quem mais seria? Ah, agora você se lembra de mim, não é?

Dou uma gargalhada estilo Coringa e ele já percebe que sou eu. Foi incrível ele não ter reconhecido a minha voz, mas a minha gargalhada, ninguém esquece.

— Vá à merda. Eu não tenho tempo para perder com você. Estou ocupado no momento.

— Está procurando a sua filha?

A linha fica muda por um tempo. Chamo o seu nome várias vezes até que ele responde um "sim", tremendo a voz.

— Se quiser ela de volta, terá que vir até aqui. Vai vir ou vou poder acabar com ela, mais do que o seu genro e amiga dela fizeram com ela?

— O que? Você pegou a minha filha?

— Peguei, peguei emprestada. Prometo devolvê-la assim que você vier aqui.

Outra vez a linha fica muda, até que ele interrompe a ligação e desliga na minha cara.

Pego o celular e mando uma mensagem para ele. Na mensagem, conto o estado em que eu a encontrei no galpão.

Espero por aquela resposta que não vem. Mas finalizo a mensagem, mandando uma foto para ele e digo que foi daquele jeito que a encontrei, mas que agora, ela já estava recuperada e sem nenhuma marquinha da tortura.

Ele visualiza, mas não me responde, e isso me preocupa, pois achei que ele ficaria mais abalado com a história, mas parece que ele nem deu tanta importância assim.

Vejo que não vamos ligar mais. Amanhã eu tento de novo.

Me despeço do Lincoln e vou para casa ver como está a "docinho", já que é assim que ela disse que eu a chamava no sonho.

Quando chego em casa, escuto os gritos dela e corro para lá...

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