cap 5

Bianca,

Ele sai de dentro de mim e deita-se ao meu lado, e eu fico me perguntando: onde está aquele momento especial?

Pensei que nossa lua de mel seria incrível, que teríamos várias coisas diferentes para fazer, mas não aconteceu isso.

Foi o mesmo de sempre, e... Deixa pra lá.

Será que a culpa foi minha? Será que eu que não soube fazer a coisa certa também, e por isso ele ficou do mesmo jeito de sempre?

Me senti derrotada com a nossa noite de núpcias, acho que poderia ter sido mais especial.

Talvez porque ele tenha bebido muito, não tenha dado certo, quem sabe na próxima.

Bom, na próxima, quando ele acordar, né? Porque ele já está capotado e dormindo aqui.

Me levanto, vou ao banheiro, ligo o chuveiro e começo a me lavar. A água quente batendo nas minhas costas me faz relaxar, é uma sensação tão gostosa.

Termino o banho, me sinto um pouco melhor, vou para a cama dormir, e ele já está até roncando.

Coloco o travesseiro no meu ouvido, nunca reparei que ele roncava tanto, e nem é um ronquinho, é um ronco que acordaria qualquer um. Com um pouco de dificuldade, eu consigo pegar no sono.

Acordo suada, mas dessa vez não me lembro do sonho, no entanto, tenho a impressão de que nem sequer dormi, pois estou mais cansada do que quando me deitei.

Passo a mão no colchão e não sinto ele ao meu lado. Me levanto e o vejo na varanda, de costas para a porta do quarto, que está fechada, apoiado no parapeito.

Ele está no telefone, se vira e rapidamente desliga o celular, me deixando curiosa para saber com quem ele estava falando.

— Quem era?

— O cliente. Teremos que voltar hoje, tudo bem para você?

— Mas é a nossa lua de mel, Heitor. Não teremos outra chance. Isso pode esperar até a semana passar. Eu planejei tudo para essa viagem.

— Vamos voltar e, assim que tudo se resolver, faremos outra viagem, pode ser?

Fico triste. Além da lua de núpcias frustrada, agora o resto da semana também será prejudicado. É algo para deixar qualquer um triste.

— Prometo que voltaremos logo. Se eu não resolver esse caso, posso até ser processado, e isso não será bom para a minha carreira.

Não respondo, apenas viro as costas e entro novamente no quarto, me sentindo derrotada e decepcionada com ele.

Deixei todos os meus clientes cientes de que só voltaria em uma semana. Deixei tudo certo para estar aqui com ele, e ele não fez o mesmo.

Pego a mala e escolho uma roupa. O restante eu deixo guardado, já que vamos embora.

— Não fica assim. Depois voltaremos, eu prometo. Só preciso resolver essa questão com o cliente, Bia.

— Está bem, vou só tomar meu banho.

— Para com isso. Eu já disse que voltaremos depois.

Ele fala de maneira meio áspera comigo, e eu olho para ele sem entender seu comportamento.

— Não fala comigo assim. Se você tivesse deixado ele ciente de que é a nossa lua de mel, ele não estaria te incomodando.

— Mas eu deixei ele ciente disso. Ele me disse que não queria saber, que a única coisa que importava para ele era resolver o caso dele. E você, como advogada, deveria entender isso.

— Estou tentando, mas é impossível, já que serei eu a perder todo o passeio.

— Se quiser, pode ficar aqui, e eu vou embora sozinho, já que o passeio é tão importante para você.

Ele nunca foi assim comigo. Já o vi agir assim com outras pessoas, mas não comigo.

Então, me viro sem responder nada para ele, entro no banheiro, tomo meu banho e já me troco ali mesmo.

Que ódio desse ser. Quero matá-lo e ao seu tal cliente. E quando eu o ver, vou falar umas boas verdades. Isso não se faz, não se atrapalha a lua de mel dos outros.

Assim que saio do banho, ele está sentado na cama, com a mão no rosto e os cotovelos sobre os joelhos.

E quando me vê, levanta-se apressadamente e vem em minha direção com várias desculpas.

— Me desculpa, tá? Como eu disse, estou nervoso por causa desse cliente, mas assim que resolver com ele, teremos nossa lua de mel, eu juro para você.

— Não tem problema, já percebi que o trabalho é mais importante para você do que qualquer outra coisa.

— Não é isso, Bianca. Não quero responder a processo, entenda, por favor.

Apenas balanço a cabeça, confirmando, afinal perdi minha lua de mel por causa do trabalho. Eu não trouxe o trabalho aqui, mas ele trouxe e isso me deixa revoltada.

Depois que ele também toma banho e se troca, vamos para o aeroporto, voltando para São Paulo.

No caminho de volta, ele fica mais romântico, segurando minha mão e beijando-a, demonstrando todo o seu carinho.

De que adianta tudo isso?

Assim que o avião pousa em São Paulo, o celular dele começa a tocar. Ele se afasta um pouco e atende.

Me aproximo sem que ele perceba e escuto ele dizendo que chegará logo, que acabou de pousar em São Paulo e que só vai me deixar em casa para correr e resolver esse problema.

Ele se vira para trás e me vê bem atrás dele, dá um sorriso nervoso. Parece que está escondendo algo de mim, mas não quer falar.

— Pode pelo menos resolver essa questão amanhã?

— Tenho que ir hoje. Quanto mais rápido eu resolver, mais rápido me livro disso.

— Estou ficando cansada disso, Heitor. Isso não era para ser assim.

— O que você quer que eu faça?

— Assuma uma posição de homem, diga que não pode ir hoje e pronto. Você está sendo flexível, e ele vai montar em você sempre que quiser.

— Ele está pagando bem, o que você quer que eu faça?

— Que ponha um limite, que diga a ele que é amanhã e pronto.

Ele me olha furioso, e parece que essa discussão está apenas começando.

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