Annie não ficou surpresa ao notar que ele também vestia roupas estranhas. Sua blusa branca de linho tinha tantos babados na manga que ele parecia uma debutante, a calça preta era bonita, tinha alguns detalhes dourado no bolso, mas estava completamente fora de moda. O colete preto o fazia parecer um pirata.
— Você é um pirata? — Annie falou antes que pudesse se conter. Idiota, é claro que ele não é um pirata, isso sequer ainda existe?
Ele levantou a sobrancelha, a encarando como se não soubesse o que fazer em seguida. Bem, ele não era o único. Annie ainda estava considerando a ideia de se jogar no chão e chorar, talvez ficassem com pena dela.
— Um pirata? Já fui chamado de coisa pior. — Sua voz era grossa, e por um momento a garota pensou que iria ecoar no espaço.
— Ser chamado de pirata não é um insulto. — Novamente, sua boca agiu antes de seus pensamentos.
— Não mesmo. — Ele parecia estar se divertindo com a situação.
— E então?
— O que?
— Você é um pirata ou não?
— Bom ver que você já não está mais preocupada com a sua ida. Ou a falta dela. E não, não sou um pirata.
— Ele é um criminoso, então da na mesma. —Atlas soltou em um tom entediado.
A garganta de Annie secou. Merda. Criminoso? Sua cabeça encheu com todo tipo de situação, e em nenhuma delas a garota se dava bem, a maioria terminava com ela servindo de almoço para os peixes. Ela era a pior pessoa para acabar em uma situação como essa, Anastasia sempre teve certeza de que seria a primeira a morrer em um filme de terror.
— Veja bem, se você estava planejando algum tipo de resgate, minha mãe não dá a mínima.
Se sua partida dependesse da mãe, Anastasia estava ferrada. Sua mãe, era uma narcisista que só ligava para si mesma e não bagunçaria um fio de cabelo pela filha.
— Resgate? — Ele levou a mão até as costas e depois surgiu com uma adaga em mãos. Puta merda. Ta de brincadeira? Ele tem a porra de uma adaga? A feição no rosto de Annie deve ter o divertido, pois um brilho surgiu no olhar dele. Não um sorriso, um brilho que crianças tinham quando ganhavam doce ou um assassino após destroçar sua vítima. — Não costumo pedir resgate pelos meus convidados. Não é muito educado.
— Eu não sou uma convidada. Estou aqui contra a minha vontade. Quero ir embora, agora.
Ele ignorou seu pedido, balançando a cabeça em desgosto como se ela tivesse feito algo errado. Idiota desagradável, inúmeros pensamentos assassinos rondaram a cabeça da garota.
— James? Você obrigou a pobre garota a pular no oceano? Ela diz que está aqui contra a vontade dela. — Novamente, ele balançou a cabeça em negativa. — Que brutamontes sem modos. Garanto que se eu estivesse no seu lugar, ela iria querer. Implorar até
Um sorriso felino se formou nos lábios dele, o desgraçado estava se divertindo fazendo insinuações. Ela encarou os outros, talvez conseguisse os convencer a deixar ela ir. Mas Atlas parecia estar em outro mundo, desatento a qualquer coisa que estava acontecendo na sala. E Cecily? Seu olhar estava preso na parede, ela parecia estar em conflito consigo mesma, como se quisesse bater a própria cabeça na parede ou a de todos naquela sala.
— Oceano? — Anastasia murmurou confusa. — Mas eu não pulei no oceano.
— Não? — O rapaz perguntou, e por algum motivo o tom de voz dele fez ela questionar todas as suas memórias, até mesmo seu próprio nome.
— Cale a boca, Gustav. — Disse James. Ele deu um passo em direção a Anastasia, escondendo a garota atrás de suas costas. O que era algo ridículo, a garota nem mesmo sabia se ainda podia confiar nele, mas não iria desperdiçar qualquer aliado possível. — Nao estamos a sequestrando, ela pode ir embora no momento que quiser. Controle esses instintos sociopatas.
Anastasia quase suspirou aliviada, sua mão coçando para dar tapinhas na cabeça de James e dizer "Bom garoto".
— Ele nem deve saber o que esse termo significa. — Réplica Atlas, que deve ter voltado ao mundo real. O que é bom, porque ele acabou de dar fim a um concurso de encaradas entre Gustav e James, homens são tão ridículos. — Aliás, como você sabe? O termo ainda não se popularizou.
— Essa palavra existe a anos. Em quem mundo você vive? — Anastasia estava quase soltando suspiros exasperados como sua mae. Eles eram bons atores, mas estavam levando a sério demais. Isso com certeza não era saudável.
— Atlantis. — Atlas respondeu como se estivesse ensinando para uma criança que um mais um é igual a dois.
— Lost Atlantis. — Cecily entrou na conversa, parecendo muito ansiosa para corrigir o erro.
— Da no mesmo. — Atlas deu de ombros.
— Você acha que vive em uma ilha mitológica que foi engolida no oceano a séculos, depois de atraírem a fúria de Poseidon? — Ela estaria divertida, realmente estaria, Anastasia sempre foi muito fantasiosa, principalmente com coisas históricas, mas isso era loucura.
— Não foi Poseidon. O velho não dava a mínima. Pelo menos não até Hera, tudo culpa daquela velha rabugenta.
— Atlas. — Cecily o repreendeu. — Tenha mais respeito com os Deuses.
— Hera?
— Ela ficou com ciúmes. Atlantis era muito mais civilizada que o próprio Olimpo. Talvez até mais avançada, em questão de poder e inteligência. O que era um afronte, certo? Meros mortais superiores a Deuses. Tudo que aconteceu? Foi Hera que incitou.
— Você fala como se tivesse presenciado a história.
— Eu li livros. — Seu tom parecia dizer "Viver a história? Que coisa ultrapassada, eu posso ver em livros", é isso quase a fez rir
— Anastasia. — Era Gustav. A voz dele um comando tão claro, que a garota se virou automaticamente em sua direção.
— Sim?
Em alguns passos, ele se aproximou dela. A garota estava tão hipnotizada por seus movimentos, que nem prestou atenção na carranca de James e o olhar que Cecily a lançou, um olhar que em outro momento teria arrepiado até a sua alma. Ela também não percebeu Gustav levantando a mão com a adaga, não até que fosse tarde demais.
— Está na hora de acordar. — Ele disse, então Anastasia arregalou os olhos e sentiu o cabo da adaga contra sua testa.
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Atualizado até capítulo 37
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