Capítulo 1

— O que você está desenhando?

A voz de Evie atingiu os sentidos de Anastasia, tirando a da névoa confusa de seus pensamentos. Ela ainda tentava compreender seu sonho, o que exatamente tinha acontecido. Era um sinal do universo? Ou algo bobo e trivial, como uma cena que ela viu ou assistiu e não se lembrava? Provavelmente, era isso. O universo não mandava sinais. Embora Anastasia fosse do tipo sonhadora, aquela que acreditava que até mesmo a forma como o clima estava tal dia fosse uma mensagem. Ela pegava qualquer coisa pequena e transformava em algo grande com sua imaginação. Talvez fosse por causa do tédio, a falta de experiências em sua vida. Será que ela estava enlouquecendo? Parecia algo bom, se uma cabeça "louca" fosse assim, tão longe da realidade. Quem gosta da realidade, pelo amor de deus?

— Eu, desenhando? — Ela bufou, se lembrando de que precisava responder. — Não conseguiria tal ato nem se minha vida dependesse disso.

Evie riu, a cabeça enfiada no guarda-roupa de Anastasia. A moça estava procurando um vestido apresentável para Anastasia usar a noite, já que a mãe não confiava no gosto de Anastasia. Quem saia perdendo eram todos eles, a garota tinha um senso de moda impecável.

— Se parece com um desenho, Annie. — Respondeu Evie.

Anastasia concentrou o olhar no papel, observando o desastre que tinha criado. Como ela não sabia desenhar, costumava rabiscar no papel para distrair a mente, era movida totalmente por impulso, um tique para se manter em movimento, provavelmente uma condição que os psicólogos pudessem dar um diagnóstico, talvez ansiedade. O fato é, os desenhos nunca ficavam coerentes, e hoje não foi diferente. Mas bem, se ela olhasse por ângulos...

— É uma constelação? — Evie perguntou, agora atrás de Anastasia. O rosto inclinado para observar o desenho.

— Parece uma, né? Ou a teoria das cordas.

— Teoria das cordas? Você tem tendências bdsm, Anastasia?

— Não seja boba. É a teoria que diz que o universo está conectado por filamentos de energia, que são essas cordas. Se você se aventurar e for pelo lado fictício, é basicamente que várias dimensões estão conectadas por cordas.

— Acho que meus neurônios fritaram.

Anastasia riu, voltando a observar o desenho. Era basicamente uma linha não muito complexa que se inclinava e dava a volta em si mesma várias vezes. A primeira vista todos os padrões eram iguais e repetidos, mas se você parasse para olhar notaria que um tem uma pequena diferença do outro, quase imperceptível. Uma linha torta, uma inclinação maior, a volta da linha para o lado oposto ou até mesmo uma parte que conectava a outra embaçada. Mas tinha um padrão que chamava atenção do resto, estava borrado e não se conectava com o resto da linha.

— Qual vestido você escolheu? — Ela perguntou, fechando o caderno e se virando para Eveline, o desenho agora esquecido.

O rosto de Evie se iluminou enquanto a garota caminhava animada até a cama, onde pousava o vestido.

— Esse, ele é lindo.

— Ele é azul. — Disse Anastasia.

Evie franziu as sobrancelhas.

— Você tem algum problema com azul?

— No momento? Eu tenho todos os problemas do mundo contra o azul.

— Não seja tão amargurada, garota. Desse jeito, logo você terá rugas.

— Eveline, eu estou no meio do maldito...

— A língua, Anastasia. A língua.

—... Oceano atlântico. Eu não preciso de mais azul.

Evie enrugou o nariz, olhando para o vestido com pesar. Ela estava claramente insatisfeita com a escolha de Anastasia. Veja bem, Anastasia odiava o oceano. Em um quadro geral, ela odiava qualquer coisa semelhante a isso, praias, piscinas, lagos. Nada iria mudar a cabeça dela em relação ao assunto, o oceano era assustador. Escuro. Sem vida. Imenso. Estar onde ela estava agora? Era uma tortura. Um castigo.

Ela tinha 21 ano e mesmo assim sua mãe ainda agia como se Anastasia fosse uma criança. Nadine ficou furiosa quando a filha decidiu fazer faculdade de história, aparentemente era algo inútil e sem futuro. Como se observar mato marinho fosse muito diferente.

Nadine era uma bióloga marinha de prestígio, até ganhou alguns prêmios por descobrir uma coisa ou outra sobre mato marinho — traduz-se, algas — ela também ganhou dinheiro, muito dinheiro. Junte isso ao fato da garota ter 21 anos e estar sem planos para o futuro, quão terrível, certo? Aos 16 todos devem estar com a vida traçada até os seus suspiros finais. Velha pomposa. Ela achou que seria uma boa ideia trancafiar a garota em uma caixa no meio do oceano, como se ela fosse criar algum gosto por biologia marinha. Sem chances. Anastasia não procurava o dinheiro em uma carreira, ela procurava algo que faria valer a pena levantar cedo, faça chuva ou sol, pois ela odiava acordar cedo. E ela não queria uma vida no centro das atenções como sua mãe, só de pensar nisso a garota ficava com preguiça. Anastasia viveria em algum lugar esquecido por todos e com uma casa extremamente antiga, para que ela pudesse passar sua vida desvendando todos os mistérios e criando teorias sobre os antigos moradores. Parece incrível, certo? A garota já podia sentir a brisa do lugar imaginado batendo em seu rosto, junto ao cheiro de várias flores silvestres e a grama. Se sobrasse tempo, ela encontraria o amor. Mas isso estava em último plano. Se parecia com um ótimo plano para o futuro, embora Nadine se recusasse a concordar.

— Acho que você deve usar o vestido, é bonito e vai acentuar suas curvas. — Evie balançou as sobrancelhas de modo insinuador. — Henry vai gostar.

— Sim! — Anastasia falou em uma voz exageradamente empolgada. — Então ele vai me prometer o mundo e pedir a minha mão para mamãe, iremos para faculdade estudar mato marinho juntos. Tão romântico, certo? Nos casaremos aos 22 anos, e aos 30, eu serei uma esposa rica às custas do dinheiro herdado do meu sogro, mas é claro que meu marido irá se vangloriar do seu sucesso como se tivesse conquistado tudo sozinho. Iremos morar em uma casa antiga em um bairro caro e ele vai ter inúmeras amantes com idade para ser suas filhas, e eu nem irei me importar pois já não vamos pra cama a anos, e gastar o dinheiro dele com balé e garotos enquanto nado em piscinas de champanhe parece mais interessante. Quando ele morrer prematuramente por seu vício em álcool e tudo o mais que não faz bem, serei considerada a esposa louca que matou seu marido por o estressar demais. Talvez eu até me apaixone pelo jardineiro gostoso e sombrio com passado difícil.

— Você é dramática. Deve convencer sua mãe a deixá-la estudar teatro.

— Perdão, eu ouvi recentemente the last great american dynasty.

— Taylor Swift não faz bem para a sua saúde mental.

— Não mesmo. Mas iremos ignorar o fato de você saber que a música é dela, certo? E fingir que a sua saúde mental está melhor que a minha.

Eveline riu.

— Isso mesmo.

Anastasia se levantou de onde estava sentada, em frente a sua escrivaninha, e caminhou até a cama para pegar o vestido. Era um vestido de cetim azul, com uma abertura na lateral. Simples e elegante.

— Tudo bem, vou usar.

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