Capítulo 2

— A sua garota está cada dia mais bonita, Nadine. Se parece muito com você. —  Tobias disse, um sorriso cheio de dentes a encarando. Eca.

— Não acho. — Anastasia respondeu antes que a mãe tivesse a chance. — Sou o retrato exato do papai. Bem, exceto os olhos. E o cabelo.

Anastasia não se parecia nada com o seu pai, e ela sabia disso. Mas a ideia de ter algo em comum com sua mãe a irritava, malditos genes. Nadine era uma mulher nascida na Índia, e muito bonita. Ela tinha uma pele bronzeada e rebeldes cabelos pretos cacheados, e a cereja do bolo? Seus olhos eram dourados. Isso chamava a atenção de todos. Annie herdou tanto os olhos quanto todo o resto.

— Bobagem, Anastasia. A única coisa que você herdou dele foi a personalidade. — A voz de Nadine estava carregada de desdém.

Um sorriso se alargou no rosto da garota, ela amava seu pai. A mãe da garota pode ter falado isso como um insulto, mas para Anastasia era um elogio. Silas Rutherford era um grande homem, o maior exemplo para Anastasia. Ele tinha um grande coração, e era muito inteligente. Quando criança, ela o considerava o homem mais inteligente do mundo. Ninguém conseguia ganhar um diálogo contra ele. Por isso, ele foi um ótimo advogado. Silas defendeu inúmeras empresas e nomes importantes na indústria, e nunca perdeu um caso. Alguns costumavam falar que ele manipulava a verdade a sua própria vontade. Ele era amado por muitos e odiado por invejosos. E agora? O consideram louco. Falam que sua inteligência era demais para um ser humano e o enlouqueceu. Bobões. Estúpidos pomposos, todos eles. Até sua mãe, que aproveitou a glória e agora tinha dispensado o marido como um par de sapatos.

Silas não era maluco, as pessoas apenas eram extremamente ignorantes para entender a grandiosidade de sua mente.

— Pobrezinha. Espero que não siga o mesmo destino que o seu pai.

— Qual? Me tornar uma advogada de prestígio? Sim, seria um absurdo. Estudar mato marinho me parece uma ideia melhor.

Tobias sorriu, sem perceber a ironia. Ou preferindo ignorar. Sua mãe, por outro lado, a lançou um olhar ameaçador, claramente irritada.

— Querida, se chama algas marinhas. — Tobias respondeu. — Mas é bom ver que você pensa assim, Nadine finalmente conseguiu convencê-la.

Nem morta. Não havia nada no mundo que a faria estudar o mar. Absolutamente nada.

— Com licença, Sr. Tobias. Vou a...

Ela se retirou antes de terminar a frase, não sendo rápida o suficiente para criar uma desculpa. Sua mãe não encheria o seu saco agora, ela já tinha interagido e cessado qualquer rumor que poderia vir a existir de que estava enlouquecendo como o pai.

Quando percebeu, Anastasia estava no convés. Ela se virou, preparada para dar meia volta e sair dali, sem chances da garota estar tão perto da proa do navio durante a noite, toda aquela água agora em um tom escuro... Algo chamou sua atenção.

Havia um homem ali, em uma posição nada segura para sua vida. Pelo amor de Deus, ele planeava pular?

— Ahn... Moço? — Sua voz tremeu, provavelmente pelo fato de Anastasia estar prestes a fazer xixi nas calças. Ela puxou uma lufada de ar e tentou novamente. — Moço, não acredito que seja uma boa ideia.

Ele não se mexeu, nem demonstrou sinais de que a tinha ouvido. Maldição, ele nem parecia estar respirando de tão imóvel que seu corpo se encontrava. O pobre rapaz estava em um ângulo estranho, metade do corpo para fora, meio pendurado na grade e seus pés mal tocavam o chão. Um vento forte seria o suficiente para derruba-lo no oceano. As mãos de Anastasia começaram a tremer, sua cabeça traçando rotas para resolver essa situação. Ela não podia gritar por socorro, temia que isso fosse assustar o rapaz. Ah não ser que... Ele não poderia estar morto, poderia?

— Moço? — Ela o chamou, a voz cheia de medo. — Você está... Vivo? Tudo bem, é uma pergunta besta, os mortos nao respondem. Você não responderia se estivesse morto. O que você não está, certo? Veja bem, peço que reconsidere sua decisão. Isso não me parece uma morte agradável. Você vai se afogar, o que é uma situação terrível, acredite em mim, sei do que estou falando. E se for livrado disso, provavelmente será destroçado pelo motor do navio. E sinceramente? Deixar seu espírito confinado no fundo escuro do oceano é um destino terrível, tenho calafrios apenas de pensar.

Ela não planejava fazer todo um monólogo, mas estava preocupada e assustada! E tudo que ela falou eram coisas válidas.

— Os mortos respondem.

A respiração da garota trancou. Ele tinha respondido. Graças a deus, ele ainda estava vivo. Ela foi impelida a dar um passo em direção ao rapaz, se para garantir que nada o acontecesse ou atraída por algo, ela não sabia.

— Isso significa que você está morto?

— Depende da sua perspectiva.

— Ou você está morto ou não está. É bem simples. — Anastasia disse como se fosse uma resposta óbvia.

— Nossas almas são imortais, Anastasia. Então, tecnicamente, não moremos. Mas veja bem, nosso corpo morre. Nosso espírito pode morrer. A coisa mais frágil a existir, nosso coração? Ele também pode morrer.

Primeiro, ele sabia o nome dela. Segundo, sua saúde mental não parecia nada boa. Provavelmente tinham partido o coração do garoto. Mas o que a surpreendeu foi a voz do rapaz, tão profunda. Era como ouvir algo ecoando, aquelas vozes que acordam você de seus pesadelos em filmes de romance. A sensação de colocar o ouvido em uma concha. Ela deu outro passo em sua direção.

— Você sabe meu nome. Quem é você? Qual seu nome?

Ele permaneceu em silêncio por alguns minutos. Então, saiu da grade e se espreguiçou, parecendo um gato que se sentia o dono do local. Bom Deus, ele realmente estava em forma. Anastasia tinha percebido suas costas largas antes e os músculos por baixo da blusa, mas isso? Seu corpo parecia esculpido por deuses. Ou talvez fosse a queda dela por homens usando roupa social falando mais alto.   E nesse momento, ele vestia calça e uma camisa social que não fazia muito para esconder todos os músculos. Anastasia desviou o olhar, sem querer ser pega encarando descaradamente seu corpo. Ele não parecia sofrer do mesmo sentimento, já que a estudava atentamente sem nenhuma vontade de disfarçar. Novamente, ele parecia um gato, julgando todos os pecados da garota com um olhar.

— É difícil de encontrá-la. — Ele disse, novamente naquele tom. Deus, mulheres deveriam fazer loucuras por esse cara.

— Eu? — Anastasia perguntou, ainda sem o encarar.

— Sim.

— Mas... Eu o encontrei. Não ao contrário.

— Foi? — Ele parecia divertido.

Finalmente, Anastasia o encarou. Agora focando em seu rosto para tentar ver se ele estava brincando. Não tinha nenhum vestígio do que o garoto estava pensando. Seus olhares se encontraram e mais uma vez a respiração de Anastasia falhou. Seus olhos eram de um tom tão forte de azul, que lembrava ao oceano, e pela primeira vez Anastasia viu algo de atraente no oceano. O encarar era como se perder em ondas agitadas e tempestuosas do mar, e era assustador o fato disso parecer uma ideia extremamente atraente. Ele era muito bonito para o seu próprio bem. E mesmo que estivesse de cabeça para baixo a apenas segundos atrás, seu cabelo castanho estava perfeitamente penteado, sem um fio fora do lugar.

— Você não me disse seu nome.

— James.

Uma sensação estranha passou pelo peito de Annie, como um sentimento de nostalgia. Ela provavelmente gostava desse nome.

— É um nome bonito.

Seus lábios se curvaram em um sorriso quase imperceptível. E isso o deixou tão mais atraente, talvez tudo sobre ele fosse atraente.

— Por que você estava de cabeça para baixo, James? — Ele piscou, parecendo sentir dor. Anastasia ficou tensa, estava invadindo sua privacidade? — Não é da minha conta...

— Procurando respostas.

As sobrancelhas de Anastasia se franziram.

— No oceano?

— Sim. O oceano pode lhe responder, se suas vontades forem tão cristalinas quanto a água. Mas ele estava se sentindo ranzinza hoje e decidiu zombar com a minha cara.

— Certo... E que respostas você procurava, James?

— Você continua repetindo meu nome. Me sinto em um interrogatório.

— Sério, James?

Ele riu.

— Sim, Anastasia.

— Como você sabe meu nome?

— Você é a filha da mulher que organizou essa viagem toda. Seria bem difícil não saber seu nome.

Anastasia acenou com a cabeça, ele estava certo. Embora fosse mais divertido imaginar que estava em um romance histórico, e o rapaz nutria uma obsessão pela garota, sabendo cada pequeno detalhe sobre ela mesma que nem ela sabia. Ele podia ter aproveitado para entrar de penetra no barco, usando essa chance para tomá-la para si e conquistar seu afeto.

— Anastasia?

Ela levantou o olhar para ele, voltando ao mundo real. Besta, o rapaz aqui não era o mesmo que ela fantasiava em suas histórias diárias antes de ir para  cama ou via em sonhos. Era apenas um estranho que ela por acaso conversou e nunca mais veria na vida. E sinceramente, parecia uma traição ao senhor Sem Rosto fantasiar com outro cara. Estupida.

— Sim?

— Acho que tem alguém chamando por você.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!