Catleia segurou com força o pulso da fêmea e com firmeza, disse:
— Continue, Luna, vamos ver o que tem aí. — fez questão de chamá-la pelo título, para que não ousassem mais desrespeitá-la.
June continuou e as raízes foram se mostrando e conforme se elevavam, traziam junto um embrulho de tecido roto e sujo, formando um pacotinho, que devia estar enterrado ali há muitos anos. Catleia soltou a mulher a empurrando para longe e o beta a segurou. Se aproximou das raízes, que estenderam o pacote e ela o pegou.
Se afastou e, à luz do fogo, abriu o pacote com cuidado e viu o que restava de um filhote, com um pequeno punhal enfiado no peito e a cabecinha, separada do corpo. Pela cor que se distinguia no tecido velho, era uma menina. Catleia elevou o rosto aos céus e gritou e logo em seguida, sua loba veio a superfície e uivou alto seu lamento de dor.
— Rude, envolva novamente o corpinho, devolva para as raízes e tire sua mãe daí.
Ele não questionou e fez o que ela disse e as raízes receberam o pacote e ergueram e o fogo se expandiu e queimou os restos mortais, quando viraram pó, uma brisa levou e nada ficou. O fogo se estendeu até a fêmea do beta, parou em frente a ela e June perguntou:
— O que você fez?
— Sua bruxa maldita, quem pensa que é? — gritou a mulher, fora de si.
— Responda, o quê você fez? — perguntou June, novamente.
O fogo chegou bem perto e o beta, entendendo que aquilo não era bom, se afastou, puxando a filha, deixando a fêmea caída de joelhos no chão.
— Ela mereceu, nunca deveria ter se colocado em nosso caminho. — respondeu gritando.
— Você, só você é a culpada por esse crime. Conte logo o que fez! — insistiu June.
— BRUUUUXXAAA!
O fogo chamuscou a fêmea e ela resolveu falar.
— Eu fazia os partos naquela época e ela teve gêmeos, apesar de toda beberagem que lhe dei para matar os filhotes, eles nasceram. Então fiz a bruxaria com a filhote fêmea e deixei viver o macho, pois só funcionaria com uma filhote fêmea.
— Mas o que foi que fez, para quê? — perguntou Rude soltando sua dominância, cansado daquela embromação.
— Era para a separação dos companheiros, Ramón e Catleia e para que Rude nunca fosse reconhecido como filho. Agora pareeeemm — pediu desesperada.
O fogo não resistiu mais e pegou a mulher que se contorceu ao queimar e de dentro dela saiu uma fumaça negra, que se desfez no ar e o corpo se desfez em cinzas e a terra a tragou.
June recolheu o fogo e foi até Catleia, abraçando-a. Conseguia sentir a dor da mãe que perdeu seu filho de forma tão drástica. Já tinha visto isso na casa de La Cruz, quando as adolescentes davam a luz e o bebê não resistia.
— Sinto muito, Catleia. — disse June.
— Obrigada, querida, você nos libertou de um grande mau. — respondeu Catleia, sendo amparada por Rude.
— Vamos entrar? — olhou Rude para todos que estavam ali — obrigado a todos e sinto muito, beta Julius.
Foi se retirando, amparando a mãe e June ficou olhando eles irem e ele, mais uma vez, se esqueceu dela. Deixou sua loba sair, assustando a todos pela força e tamanho e correu para a floresta, precisava de um tempo sozinha.
Catleia percebeu e olhando para o filho, falou:
— Foi assim que seu pai me perdeu, vai deixar acontecer de novo.
Ele olhou para a direção em que foi a loba e respondeu:
— Deixa ela ficar um pouco sozinha, daqui a pouco, eu vou.
A mãe ficou triste por ele, mas não disse mais nada e entrou com ele na casa, soltou-o e foi até a área dos fundos, despiu-se e deixou sua loba sair, seguindo o cheiro da loba da Luna. Correu até alcançá-la, bateu seu corpo na lateral dela e ela parou, olhando aquela que seria sua sogra.
Uma fêmea tão sofrida, mas que ainda tinha em si, misericórdia suficiente, para ir até ela e solidarizar-se. Se lobo risse, diria que sorriram uma para a outra e juntas, correram, caçaram, tomaram banho de rio e deitaram, lado a lado, na margem, dormindo.
Rude viu que sua mãe fez o que ele devia fazer e repreendeu a si mesmo. Ouviu alguém chamá-lo e foi atender. Era seu segundo no comando, o beta Gomes.
— Oi, Gomes.
— Desculpe vir atrás de você, neste momento, mas preciso me inteirar do que foi tudo isso e saber que atitudes tomar.
— Sim, sente-se e vou lhe contar os últimos acontecimentos.
Rude narrou seus passos desde que saiu da Alcateia, até o presente momento e a expressão de Gomes era de puro horror.
— Você parece estar chateado e confuso, por quê?
— Ela, com esses poderes, está parecendo mais forte que eu e até mandou em mim, no caminho , dizendo que é ela quem me protege e não eu a ela.
Galvão riu com gosto e disse:
— Você não seria o macho Alfa que é, se não se sentisse assim. Com o tempo, vocês se entendem, são jovens, inexperientes, precisam passar mais tempo juntos.
— Minha mãe disse que foi assim que ela perdeu meu pai, ela correu e ele não foi atrás.
— Acho que não foi assim que aconteceu, você entrou e deixou sua fêmea lá sozinha, sem sequer chamá-la para entrar em sua casa, que agora é dela também.
— Fui um babaca, não é?
— Mais ou menos, te dou um crédito, por não ter experiência, mas vai ter que adquirir rápido ou essa Luna vai tomar o teu lugar. — Galvão continuou rindo.
Lembrou como foi difícil conquistar sua fêmea, pois quanto mais importante o cargo do macho, mais forte era a fêmea. Ramón era muito forte, apesar de novo e já derrotou vários Alfas, unificando as Alcateias, formando uma só, grande e poderosa, só podia ter uma Luna a Altura.
— Minha mãe foi atrás dela.
— Então deixa as duas se entenderem. Vá tomar um banho, comer, descansar, que eu vou por ordem na casa. Tudo vai se resolver, principalmente agora, com duas Lunas poderosas na Alcateia.
Rude conseguiu sorrir, seu beta era mais velho e experiente que ele e tinha esse efeito de fazê-lo confiar que daria tudo certo.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 61
Comments
Angela Valentim Amv
Nossa que coisa mais triste como as mulheres sofrem né ?
2024-11-09
1
Joelma Oliveira
muita maldade... queima ela logo!
2025-01-10
1
Joelma Oliveira
foi ela quem fez ou pediu o feitiço
2025-01-10
1